quinta-feira, 17 de dezembro de 2015

O GOVERNO NÃO FAZ MAIS O QUE QUER



  

Orion Teixeira


Mais do que o exame frio e desapaixonado sobre o devido processo legal, como deve ser, o voto do relator, ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal (STF), sobre o rito do impeachment se traduziu em frustração para os aliados da presidente Dilma Rousseff (PT), em especial o PCdoB, autor da representação. Como já escrevemos aqui, a maior perda para o governo Dilma seria a Suprema Corte avalizar o processo, ou seja, afirmando, como disse Fachin, que as regras estão dentro da lei, ainda que alterasse um ponto ou outro. Com isso, pode lhe dar a legalidade até então contestada pelos aliados, que comparam o pedido de impeachment a um golpe.

O julgamento, inconcluso, terminou sem os votos dos outros 10 ministros, adiados para esta quinta-feira (17), mas o parecer mais denso e, digamos, completo sempre é dado pelo relator, que pode ser seguido ou não pela Corte de ministros. Não pairam suspeições sobre o ministro, recém-indicado por Dilma e seu eleitor, como admitiu quando sabatinado pelo Senado para assumir o cargo. Os outros ministros são independentes para dar o voto, mas há uma tendência clara no STF de não interferir no mérito de um processo que, mais do que jurídico, é político.

Em seu voto, Fachin endossou todos os procedimentos adotados pelo presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB), inimigo declarado do governo e de sua presidente. Seu mérito foi o de desvincular a iniciativa da Câmara dos Deputados, cujo presidente é Eduardo Cunha, do processo de cassação do mandato do deputado Eduardo Cunha, no Conselho de Ética. A descontaminação de um processo do outro foi fundamental para que ele se concentrasse no rito instituído sobre o tema que estava em julgamento.

Diante disso, o ministro confirmou a iniciativa da Câmara de aceitar o pedido de impeachment, a votação secreta e a eleição da Comissão Especial do Impeachment, que irá avaliar se o processo deve ser aberto ou não. E mais, que a presidente Dilma não teria que ter apresentado defesa nessa fase e apontou o papel do Senado, que é posterior ao da Câmara e responsável pelo julgamento dos crimes dos quais a presidente é acusada e que poderiam provocar seu impedimento.

Tudo somado, houve, pelo menos, uma vitória da presidente quando o relator observou que a comissão processante terá que provar, fundamentar, os crimes que justifiquem o processo contra a presidente. Essa deverá ser a senha para que o processo do impeachment, seu mérito propriamente dito, seja judicializado no futuro. Ou seja, Dilma poderá recorrer à Suprema Corte caso as denúncias apontadas não configurem seu envolvimento em crime de responsabilidade.

Pane na cúpula do PMDB

No campo político da batalha pelo impeachment, houve estremecimento na cúpula do PMDB. O presidente do Senado, Renan Calheiros, acusou “coronelismo” na decisão partidária que proibiu, nesta quarta (16), novas filiações partidárias que favoreceriam o lado governista do partido. E mais, responsabilizou o presidente nacional do PMDB e vice-presidente da República, Michel Temer, pela instabilidade política no país. Temer rebateu Renan, ponto a ponto, e ainda zombou da gafe dele sobre o desaparecimento do ex-líder do partido, Ulysses Guimarães.


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