Márcio Doti
“Dilma fica, mas tem que mudar a
política econômica”. A frase é do presidente da CUT, Vagner Freitas, depois da
manifestação contra o impeachment na quarta-feira. E aí reside o grande drama.
Como trazer de volta os empregos sem enxugar gastos e arrumar a economia? É por
isto que os embates entre a presidente Dilma e seu ministro da Fazenda eram
esperados. O propósito do ministro era de assegurar algum número positivo,
ainda que muito pequeno, para tentar um equilíbrio da economia, mesmo que a
longo prazo. Mas, já àquela época se enxergava a grande dificuldade: o ano
político em cima de uma crise política e a necessidade de despejar dinheiro
para assegurar apoios, vitórias nos palanques municipais e, para completar, um
processo de impeachment. Só ao ministro Levy não ocorreu que o desespero
político levaria até mesmo ao suicídio econômico. Não será a primeira vez, foi
isso que aconteceu no ano passado, durante o processo eleitoral. Mentiras,
manobras, gastos infindáveis, além daqueles recursos que a polícia está agora
levantando as origens. Levy já entrava ali, naquele momento, antes mesmo da
troca do superávit por um déficit de R$ 120 bilhões, numa trajetória idêntica à
de inúmeros ministros de Fazenda que se sucederam durante as crises econômicas
que antecederam ao real. Entravam fortes, ditando regras, acabavam fracos e
vencidos. Eram uma espécie de treinador de futebol a quem se atribui vitórias,
mas, sobretudo, que pagam por derrotas nem sempre por eles provocadas.
A TEIMOSIA INCONSEQUENTE
A luta pelo poder passa por cima de
tudo, inclusive do bom senso. Contrariando o ministro, a presidente Dilma
estabelece um superávit primário de meio por cento, podendo cair a zero se a
situação assim exigir. Seria o caso de uma catástrofe ou de uma epidemia e, cá
entre nós, seria o caso de mais crises políticas e mais apetite eleitoreiro de
aliados. Neste caso, ainda que empurrando a economia para o abismo, vale até
abrir mão desses R$30 bilhões. Sem aprender as lições, a luta inconsequente por
eleitores é ilusória porque a cobrança acaba vindo. O que já se enxergava,
contudo, é que um governo às voltas com crises moral, política e econômica não
consegue pautar-se pelo que exigem as situações. E, sendo assim, ao atropelar
causas e consequências, os rombos vão gerando inflação, que produz retração,
que assusta o mercado, provoca desemprego, faz cair a arrecadação e afugenta
investidores, o que é sempre mais grave.
Se com dinheiro o governo consegue
alimentar o apetite por favores e apoiamentos, com economia fora de controle se
afasta o capital externo e os investimentos internos, sendo certo que tudo isso
produz efeito dominó, aumentando desemprego, subindo preços e com tudo isso
ampliando a crise política. Já não é pouco perceber que a ação das instituições
de estado, a Justiça, o Ministério Público e a Polícia têm se pautado pela
busca da restauração com o combate sistemático dos atos ilícitos e nocivos ao
patrimônio público. Não é possível perceber de que modo pretende o governo
atravessar o temporal e atingir a calmaria, contrariando regras básicas da
economia. Faltam coerência, lógica, bom senso e respeito.
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