sexta-feira, 18 de dezembro de 2015

EPITÁFIO



  
Paulo Paiva


O ano de 2015 chega ao seu final sem deixar saudades. Suas mazelas, seus problemas e suas crises, contudo, lhe sobreviverão.
Hoje, recordo entrevista publicada na edição de 6/1/2014 do Hoje em Dia em cuja conclusão eu dizia que 2014 seria o ano da fantasia e 2015, o da realidade. O Brasil teria que optar entre caminhar mais para o lado da Argentina e Venezuela, ou retomar os ajustes que foram feitos no governo FHC, reconstruindo tudo novamente.
A realidade foi mais dura do que eu poderia antever. A retração da economia é bem mais profunda, o desemprego se aproxima dos 10% e a inflação caminha para 11%.
No início de janeiro deste ano, no artigo “O que Levy trouxe de Davos” (30/1), quando se imaginava que, mesmo envergonhada, a presidente havia optado por refazer tudo na gestão econômica, indaguei: “Terá a presidente Dilma convicção e capital político suficientes para atravessar a turbulência que se avizinha?”
Após a agência Standard & Poors retirar o grau de investimentos do Brasil, face ao descumprimento das metas fiscais e do aumento acelerado da dívida pública, no artigo “O pecado Capital” (31/7), observei que a equipe econômica havia se comprometido “com o inatingível, quando tinha a oportunidade e a responsabilidade para mudar efetivamente o rumo na gestão fiscal”.
No mês seguinte, no artigo “Foram-se anéis e dedos de Levy” (28/8), registrei as derrotas seguidas do ministro da Fazenda.
A gestão da política econômica em 2015 foi um fiasco total por duas razões.
Primeiro, pelos conflitos, públicos e irreconciliáveis, entre os ministros da Fazenda e do Planejamento. De um lado, Levy, solitário, buscava um ajuste fiscal para conter a escalada da dívida pública e reconquistar a credibilidade do mercado e, de outro, Barbosa, com apoio da presidente Dilma e do PT, resistia às mudanças, ancorado na velha “nova matriz econômica” de cunho populista que levou a economia à estagflação.
Segundo, pela falta de competência no uso das ferramentas de gestão, indecisões e ausência de coerência. As constantes mudanças nas metas fiscais para 2015 são os exemplos dessa inépcia do governo.
A última batalha foi mais uma vez perdida. Levy defendia agora para 2016 um modesto e simbólico superávit primário de 0,7% do PIB. O governo, seguindo a orientação de Barbosa, propôs uma alternativa flexível de 0,5 a zero. A questão não seria tanto a meta em si, se fosse parte de um programa crível e transparente. A questão são as incertezas políticas, a gestão errática da economia e a ausência de rumo do governo.
Por fim, a pá de cal. A agência Fitch Ratings também retirou do Brasil o selo de bom pagador. Constrangido, o governo voltou atrás, autorizando o Congresso a fixar em 0,5% do PIB o superávit primário para 2016. Por que não os 0,7%? Em “Onde Levy está” (20/11), perguntei: “Onde estará Levy na virada do ano?”
A racionalidade econômica foi sepultada melancolicamente, sem flores e sem coroas.

*Professor da Fundação Dom Cabral, foi ministro do Trabalho e do Planejamento e Orçamento no governo FHC

(*) Descanse em Paz

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