Paulo Paiva
O ano de 2015 chega ao seu final sem deixar saudades. Suas mazelas, seus problemas e suas crises, contudo, lhe sobreviverão.
Hoje, recordo entrevista publicada na
edição de 6/1/2014 do Hoje em Dia em cuja conclusão eu dizia que 2014 seria o
ano da fantasia e 2015, o da realidade. O Brasil teria que optar entre caminhar
mais para o lado da Argentina e Venezuela, ou retomar os ajustes que foram
feitos no governo FHC, reconstruindo tudo novamente.
A realidade foi mais dura do que eu
poderia antever. A retração da economia é bem mais profunda, o desemprego se
aproxima dos 10% e a inflação caminha para 11%.
No início de janeiro deste ano, no
artigo “O que Levy trouxe de Davos” (30/1), quando se imaginava que, mesmo
envergonhada, a presidente havia optado por refazer tudo na gestão econômica,
indaguei: “Terá a presidente Dilma convicção e capital político suficientes
para atravessar a turbulência que se avizinha?”
Após a agência Standard & Poors
retirar o grau de investimentos do Brasil, face ao descumprimento das metas
fiscais e do aumento acelerado da dívida pública, no artigo “O pecado Capital”
(31/7), observei que a equipe econômica havia se comprometido “com o
inatingível, quando tinha a oportunidade e a responsabilidade para mudar
efetivamente o rumo na gestão fiscal”.
No mês seguinte, no artigo “Foram-se
anéis e dedos de Levy” (28/8), registrei as derrotas seguidas do ministro da
Fazenda.
A gestão da política econômica em 2015
foi um fiasco total por duas razões.
Primeiro, pelos conflitos, públicos e
irreconciliáveis, entre os ministros da Fazenda e do Planejamento. De um lado,
Levy, solitário, buscava um ajuste fiscal para conter a escalada da dívida
pública e reconquistar a credibilidade do mercado e, de outro, Barbosa, com
apoio da presidente Dilma e do PT, resistia às mudanças, ancorado na velha
“nova matriz econômica” de cunho populista que levou a economia à estagflação.
Segundo, pela falta de competência no
uso das ferramentas de gestão, indecisões e ausência de coerência. As
constantes mudanças nas metas fiscais para 2015 são os exemplos dessa inépcia
do governo.
A última batalha foi mais uma vez
perdida. Levy defendia agora para 2016 um modesto e simbólico superávit
primário de 0,7% do PIB. O governo, seguindo a orientação de Barbosa, propôs
uma alternativa flexível de 0,5 a zero. A questão não seria tanto a meta em si,
se fosse parte de um programa crível e transparente. A questão são as
incertezas políticas, a gestão errática da economia e a ausência de rumo do
governo.
Por fim, a pá de cal. A agência Fitch
Ratings também retirou do Brasil o selo de bom pagador. Constrangido, o governo
voltou atrás, autorizando o Congresso a fixar em 0,5% do PIB o superávit
primário para 2016. Por que não os 0,7%? Em “Onde Levy está” (20/11),
perguntei: “Onde estará Levy na virada do ano?”
A racionalidade econômica foi
sepultada melancolicamente, sem flores e sem coroas.
*Professor da Fundação Dom Cabral, foi ministro do Trabalho e do Planejamento e Orçamento no governo FHC
(*) Descanse em Paz
*Professor da Fundação Dom Cabral, foi ministro do Trabalho e do Planejamento e Orçamento no governo FHC
(*) Descanse em Paz
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