terça-feira, 29 de dezembro de 2015

INVÉS DE CRIAR SOLUÇÕES CRIAM-SE MAIS IMPOSTOS



  

Malco Camargos



Em 2015, a palavra que talvez tenha sido mais proferida foi “crise”. E não é sem motivo, pois convivemos durante o ano com uma crise política, uma crise econômica e uma crise de valores.

A primeira crise – a política – teve início assim que foi proclamado o resultado das eleições de 2014. Um país dividido, um candidato derrotado com um bom capital de votos e questionamentos sobre a lisura do processo deram início às críticas ao governo eleito. No campo legislativo, já na primeira semana de fevereiro, a eleição de Eduardo Cunha iniciou uma nova fase no processo político brasileiro em que a agenda do Legislativo não era a mesma e, em vários momentos, a antítese da agenda do Executivo.

O cenário de embate entre Executivo e Legislativo foi se agravando com o passar do tempo, com a apreciação de pautas contrárias aos interesses do governo com as chamadas pautas bombas, ou mesmo o veto constante a projetos do Executivo, praticamente levando o país a uma paralisia decisória.

A segunda crise – a econômica – já vinha se arrastando desde 2013, com a piora de indicadores macroe-conômicos gerados pela variação no cenário externo, queda no preço de commodities e uma política econômica errática do Executivo brasileiro.

Em 2014, o cenário se agravou, mas, em virtude do ano eleitoral, o governo forçou o ajuste de preços em áreas sobre as quais tinha controle, como o setor hidroenergético e de combustíveis, estrangulando a inflação. O resultado foi caótico em 2015, com a disparada de alguns preços durante o ano e, por conseguinte, aumento vertiginoso da inflação e diminuição do poder de compra das famílias. Somado à inflação, o desemprego aumentou consideravelmente durante o ano e passou a ser uma preocupação a mais para os brasileiros.

Nos bastidores da política, a crise foi constante. Para os políticos, foi um ano de crise, pois a contenção de gastos públicos levou ao adiamento de vários compromissos feitos durante as campanhas anteriores.

Com todo toma lá, dá cá realizado no Congresso, emendas parlamentares não foram pagas e repasses de convênios com estados e municípios foram suspensos durante o ano. Legisladores, prefeitos e governadores ficaram de pires na mão durante o ano, chegando inclusive a deflagrar greves na administração pública.

Mas a maior crise foi ética e de um imobilismo causado pela incerteza da extensão das operações da Polícia Federal. Uns dizem que nunca se roubou tanto no país, outros dizem que nunca se combateu tanto a corrupção.

Independentemente de quem tenha razão, se um lado, o outro, ou os dois, o fato é que nunca esquemas de desvio de dinheiro público foram tão bem desestruturados e, por consequência, jamais se prendeu tanta gente importante neste país.

Diz o ditado que em tempos de crise enquanto uns choram, outros vendem lenços. Neste 2015, enquanto o Legislativo e o Executivo choravam, o Judiciário vendeu seus lenços.

*Doutor em Ciência Política, professor da PUC Minas e diretor do Instituto Ver

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