Petropesadelo
Vinicius Mota
SÃO PAULO - "Lula não é Chávez, e o PT não é bolivariano", ouviu-se ao
longo dos últimos 13 anos, enquanto o chavismo mergulhava no experimento
autoritário. O petismo, com sua larga roda de amizades na opinião pública,
difundiu a ideia de que vivíamos um progressismo responsável.
A propaganda estava errada. O furor intervencionista, as fraudes contra
o Orçamento e a prestação de contas, o conúbio do poder estatal com empresários
sedentos por privilégios (nossa "boliburguesia") e a sem-cerimônia de
alterar as regras do jogo econômico para moldá-las a apetites de ocasião
mostraram-se traços constitutivos do petismo no governo.
O PT aderiu com volúpia à vaga populista regional, encontrou parceiros
poderosos na política e na sociedade e contou com beneplácito na academia e na
imprensa. O estrago ao exaurir-se o ciclo não terá as proporções bolivarianas
porque o Brasil é mais desenvolvido que a Venezuela.
O petróleo e a Petrobras –núcleos do intervencionismo lulista– não
dominam a economia brasileira, à diferença do que ocorre na Venezuela. A
autonomia das instituições de controle do Poder Executivo também é mais elevada
no Brasil.
Ainda assim, a destruição em segmentos e regiões mais afetados pelo
petropopulismo será extensa e duradoura. O setor público do Rio de Janeiro está
quebrado, como temos visto, porque fiou-se na continuidade da bonança
petrolífera.
A crise, que priva a população fluminense de serviços básicos, está no
início. A Opep, dos países exportadores de petróleo, prevê que apenas em 2040 a
cotação do barril, hoje abaixo de US$ 40, retome os US$ 100 registrados no ano
passado.
Serão décadas de dificuldades para Estados e municípios dependentes dos
impostos sobre a atividade petrolífera. O sofrimento será mitigado porque o
Brasil não embarcou totalmente no petropesadelo e poderá socorrer governos em
apuros.
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