Márcio Doti
Sabemos que o poder embriaga. Mas não
parecia possível que embriagasse tanto. Que tipo de mágica imagina que vai
fazer o novo ministro da Fazenda, Nelson Barbosa, vindo da pasta do
Planejamento que lhe permitiu perceber a dificuldade em praticar de verdade
qualquer medida de ajuste fiscal. Mesmo divergindo do colega que se despede,
Joaquim Levy, não deve ter sido nada difícil para Barbosa concluir que
precisará estar sempre disposto a abanar a cabeça para quando os caciques do PT
e dos palácios de Brasília entenderem que o ajuste terá que esperar porque é
preciso abrir torneiras para amenizar uma crise, agradar um grupinho ou apagar
um incêndio sempre possível de acontecer. Ainda que das torneiras vá sair uma
água tomada emprestada de alguém ou que se vai dever aos cofres já combalidos
da República e que vai esfriar os ânimos da luta contra a crise econômica.
O mágico Nelson Barbosa é apenas mais
um. Entre os tantos que o Brasil experimentou durante muitos anos até chegar ao
Plano Real. Mas agora não tem nenhum empacado chamado Itamar Franco para segurar
as rédeas e as pontas e fazer valer essa firmeza para gerar credibilidade para
um plano que poderia ser apenas mais um entre os tantos aplicados em meio ao
sofrimento dos brasileiros. Ao contrário, agora o que temos é uma presidente
fazendo de tudo para se equilibrar, para se manter no cargo, enquanto vê se
aproximar um dia cada vez mais duro do que o outro, numa sequência que pega
pela frente um mês de férias que será só um tempo de ver chegarem o IPVA, o
IPTU, o material escolar, a conta de energia elétrica, os preços subindo e o
dinheiro descendo. E com tudo assim tão pior como estarão os indicadores do
impeachment? Tudo isto depois de festas de fim de ano anunciadas pelo vazio das
lojas, mesmo levando-se em conta que Natal e Ano Novo não são feitos só de
comércio, ao contrário, seja no abraço das famílias que se reúnem, seja no
otimismo e até na teimosia de pisar o ano que chega, essas festas são do
coração que consegue sobreviver até mesmo aos rigores de um tempo que já se
sabe o quanto será difícil.
Mesmo imediatista e muito dado à
imprevidência, o brasileiro já descobriu que a tal da crise ou as tais das
crises moral, econômica e política não são de brincadeira e nem de mentirinha.
Ano passado, entre a esperança de um ano que ia chegar embalado pelas promessas
de campanhas eleitorais e a realidade vivida logo nos primeiros meses, foi
possível e, tristemente, foi preciso experimentar o gosto amargo de decepções e
desilusões. Qual é a expectativa para o ano que se aproxima? Os palanques tão
otimistas? O que se dirá aos que cobram cidades melhores, serviços melhores?
Que promessas encontrarão guarida nos corações desconfiados e decepcionados?
Precisamos descobrir em que forças se apoia o professor Nelson Barbosa para
trocar de gabinete com um discurso de lealdade ao ajuste fiscal. Depois de
assistir da janela o grande drama de seu colega Levy, que ficou rouco de tanto
pregar, rogar, argumentar que economia não admite mágicas, se pratica aquele
joguinho simples de mais, de menos e de saldo para garantir a roda da economia,
o trabalho ou tudo se complica.
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