terça-feira, 22 de dezembro de 2015

É POSSÍVEL FAZER MÁGICA NA ECONÔMIA?



  

Márcio Doti



Sabemos que o poder embriaga. Mas não parecia possível que embriagasse tanto. Que tipo de mágica imagina que vai fazer o novo ministro da Fazenda, Nelson Barbosa, vindo da pasta do Planejamento que lhe permitiu perceber a dificuldade em praticar de verdade qualquer medida de ajuste fiscal. Mesmo divergindo do colega que se despede, Joaquim Levy, não deve ter sido nada difícil para Barbosa concluir que precisará estar sempre disposto a abanar a cabeça para quando os caciques do PT e dos palácios de Brasília entenderem que o ajuste terá que esperar porque é preciso abrir torneiras para amenizar uma crise, agradar um grupinho ou apagar um incêndio sempre possível de acontecer. Ainda que das torneiras vá sair uma água tomada emprestada de alguém ou que se vai dever aos cofres já combalidos da República e que vai esfriar os ânimos da luta contra a crise econômica.
O mágico Nelson Barbosa é apenas mais um. Entre os tantos que o Brasil experimentou durante muitos anos até chegar ao Plano Real. Mas agora não tem nenhum empacado chamado Itamar Franco para segurar as rédeas e as pontas e fazer valer essa firmeza para gerar credibilidade para um plano que poderia ser apenas mais um entre os tantos aplicados em meio ao sofrimento dos brasileiros. Ao contrário, agora o que temos é uma presidente fazendo de tudo para se equilibrar, para se manter no cargo, enquanto vê se aproximar um dia cada vez mais duro do que o outro, numa sequência que pega pela frente um mês de férias que será só um tempo de ver chegarem o IPVA, o IPTU, o material escolar, a conta de energia elétrica, os preços subindo e o dinheiro descendo. E com tudo assim tão pior como estarão os indicadores do impeachment? Tudo isto depois de festas de fim de ano anunciadas pelo vazio das lojas, mesmo levando-se em conta que Natal e Ano Novo não são feitos só de comércio, ao contrário, seja no abraço das famílias que se reúnem, seja no otimismo e até na teimosia de pisar o ano que chega, essas festas são do coração que consegue sobreviver até mesmo aos rigores de um tempo que já se sabe o quanto será difícil.
Mesmo imediatista e muito dado à imprevidência, o brasileiro já descobriu que a tal da crise ou as tais das crises moral, econômica e política não são de brincadeira e nem de mentirinha. Ano passado, entre a esperança de um ano que ia chegar embalado pelas promessas de campanhas eleitorais e a realidade vivida logo nos primeiros meses, foi possível e, tristemente, foi preciso experimentar o gosto amargo de decepções e desilusões. Qual é a expectativa para o ano que se aproxima? Os palanques tão otimistas? O que se dirá aos que cobram cidades melhores, serviços melhores? Que promessas encontrarão guarida nos corações desconfiados e decepcionados? Precisamos descobrir em que forças se apoia o professor Nelson Barbosa para trocar de gabinete com um discurso de lealdade ao ajuste fiscal. Depois de assistir da janela o grande drama de seu colega Levy, que ficou rouco de tanto pregar, rogar, argumentar que economia não admite mágicas, se pratica aquele joguinho simples de mais, de menos e de saldo para garantir a roda da economia, o trabalho ou tudo se complica.

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