Délio Malheiro
Retornei do exterior recentemente e
fiquei preocupado: só falam do lamaçal que jorra no Brasil. Uma parte no leito
do quase morto Rio Doce e outra, de maior monta, nos corredores do Poder. A do
Rio Doce incontestavelmente é um acidente sem precedentes no país. Devastou o
meio ambiente e criou um drama social para milhares de pessoas. Agora é hora de
deixar a vaidade de lado e montar uma força tarefa organizada para administrar
a crise e buscar soluções concretas como forma de dar um mínimo de dignidade
aos atingidos. E, de imediato, começar a recuperação – do pouco que é possível
– do meio ambiente.
Acredito que será este o maior processo de todos os tempos no Poder Judiciário. Serão, com certeza, milhares de ações indenizatórias ajuizadas. E com certeza vão levar mais de 20 anos até O julgamento final. Conheço bem essa história.
Acredito que será este o maior processo de todos os tempos no Poder Judiciário. Serão, com certeza, milhares de ações indenizatórias ajuizadas. E com certeza vão levar mais de 20 anos até O julgamento final. Conheço bem essa história.
É tanta vaidade com efeito midiático
nessa hora que a confusão processual será generalizada, o que pode até ajudar
ao infrator. Basta lembrar que um juiz mandou parar a lama no rio e o outro
abrir caminho para ela chegar até o mar. É hora, portanto, de ter foco,
organização e muita prudência. Da mesma forma que a(s) empresa(s) são
inteiramente responsáveis e devem indenizar integralmente todos os atingidos
(incluindo pessoas físicas, jurídicas, proprietários de terras, municípios,
etc). Há que se tomar cuidado para não sufocar a empresa a ponto de levá-la a
falência. Seria um outro desastre para milhares de empregos e para as já
cambaleantes finanças do Estado e dos Municípios.
Já a lama de Brasília é mais complexa.
Para onde escoá-la? O depósito da Polícia Federal já está lotado. Ela já cobriu
a Praça dos Três Poderes e seus efeitos são sentidos em todo o território
nacional: o desemprego é crescente; a economia está em franca recessão; a
inflação beira os dois dígitos; metas fiscais foram para o beleléu; enfim, o
país quebrou. E o governo faz cara de paisagem, como se não fosse com ele. Ou
como se não fosse ele o responsável pelo acúmulo e rompimento da barragem dessa
sujeira. Como bem disse outro articulista, está a presidente Dilma comandando
um transatlântico desgovernado e ao invés de corrigir sua trajetória continua
oferecendo camarote de luxo para passageiros privilegiados.
Assim o governo está em busca de um
culpado, pois essa é a maneira mais conveniente de permanecer na zona de
conforto.
Essas duas lamas têm deixado o país
com uma imagem muito ruim no exterior. É preciso mudar esse cenário. Precisamos
o mais rápido possível encontrar uma solução política. O país não aguenta
sangrar por tanto tempo. Não há crise lá fora e investidores estão ávidos por
investir em nosso país, basta recuperar a credibilidade. E tudo passa por uma
solução política que, sem outro precedente, contaminou a economia. Já a lama
que sangra o Rio Doce deve ser tratada de maneira mais responsável. Menos
midiática. Senão ambas terão para as próximas gerações um efeito ainda mais
perverso. Quem sabe a turma de Brasília vai para Mariana dar um curso intensivo
de sobrevivência na lama aos atingidos pela mineração. Seria uma boa medida.
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