terça-feira, 8 de dezembro de 2015

A LAMA DE BRASÍLIA É MAIS COMPLEXA




Délio Malheiro



Retornei do exterior recentemente e fiquei preocupado: só falam do lamaçal que jorra no Brasil. Uma parte no leito do quase morto Rio Doce e outra, de maior monta, nos corredores do Poder. A do Rio Doce incontestavelmente é um acidente sem precedentes no país. Devastou o meio ambiente e criou um drama social para milhares de pessoas. Agora é hora de deixar a vaidade de lado e montar uma força tarefa organizada para administrar a crise e buscar soluções concretas como forma de dar um mínimo de dignidade aos atingidos. E, de imediato, começar a recuperação – do pouco que é possível – do meio ambiente.
Acredito que será este o maior processo de todos os tempos no Poder Judiciário. Serão, com certeza, milhares de ações indenizatórias ajuizadas. E com certeza vão levar mais de 20 anos até O julgamento final. Conheço bem essa história.
É tanta vaidade com efeito midiático nessa hora que a confusão processual será generalizada, o que pode até ajudar ao infrator. Basta lembrar que um juiz mandou parar a lama no rio e o outro abrir caminho para ela chegar até o mar. É hora, portanto, de ter foco, organização e muita prudência. Da mesma forma que a(s) empresa(s) são inteiramente responsáveis e devem indenizar integralmente todos os atingidos (incluindo pessoas físicas, jurídicas, proprietários de terras, municípios, etc). Há que se tomar cuidado para não sufocar a empresa a ponto de levá-la a falência. Seria um outro desastre para milhares de empregos e para as já cambaleantes finanças do Estado e dos Municípios.
Já a lama de Brasília é mais complexa. Para onde escoá-la? O depósito da Polícia Federal já está lotado. Ela já cobriu a Praça dos Três Poderes e seus efeitos são sentidos em todo o território nacional: o desemprego é crescente; a economia está em franca recessão; a inflação beira os dois dígitos; metas fiscais foram para o beleléu; enfim, o país quebrou. E o governo faz cara de paisagem, como se não fosse com ele. Ou como se não fosse ele o responsável pelo acúmulo e rompimento da barragem dessa sujeira. Como bem disse outro articulista, está a presidente Dilma comandando um transatlântico desgovernado e ao invés de corrigir sua trajetória continua oferecendo camarote de luxo para passageiros privilegiados.
Assim o governo está em busca de um culpado, pois essa é a maneira mais conveniente de permanecer na zona de conforto.
Essas duas lamas têm deixado o país com uma imagem muito ruim no exterior. É preciso mudar esse cenário. Precisamos o mais rápido possível encontrar uma solução política. O país não aguenta sangrar por tanto tempo. Não há crise lá fora e investidores estão ávidos por investir em nosso país, basta recuperar a credibilidade. E tudo passa por uma solução política que, sem outro precedente, contaminou a economia. Já a lama que sangra o Rio Doce deve ser tratada de maneira mais responsável. Menos midiática. Senão ambas terão para as próximas gerações um efeito ainda mais perverso. Quem sabe a turma de Brasília vai para Mariana dar um curso intensivo de sobrevivência na lama aos atingidos pela mineração. Seria uma boa medida.

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