José Antônio Bicalho
Vamos tratar do PIB brasileiro. Um
pouco tarde, já que uma viagem me impediu de escrever a coluna nos últimos
dias, mas que também me permitiu um novo olhar para o baixo astral da economia
brasileira.
Ao contrário da imprensa brasileira,
os jornais do México (onde estou) não olham unicamente para o próprio umbigo. O
principal periódico de economia do país, o ‘El Financeiro’, deu grande espaço
para a notícia da queda de 4,5% do PIB brasileiro no terceiro trimestre. Com
direito a matéria de página inteira e análise.
No El Financeiro, somente a notícia do
ajuste do prognóstico de crescimento da economia mexicana ganhou mais destaque.
Isso porque, pela primeira vez nos últimos dois anos, a pesquisa do Banco de
México apontou uma melhora na expectativa para o fechamento de 2015, para uma
elevação do PIB de 2,44%.
Apesar de muito semelhantes em vários
aspectos, as economias brasileira e mexicana vivem momentos opostos. Nos
últimos dois anos, o México passou por uma curva suave de desaceleração
econômica (do crescimento de 4,11% em 2014 para 2,29% em 12 meses contados até
outubro deste ano). Esse movimento acaba de bater no piso para voltar a apontar
para cima. Já para a economia brasileira não há como se falar em curva de
desaceleração, já que se trata de queda livre.
Com os empresários e acadêmicos com
quem conversei, uma opinião é unânime: o mercado interno e o incentivo do
governo aos investimentos privados em infraestrutura foram as principais
variáveis para amortecer a curva de desaceleração econômica e pela retomada de
agora.
Mas, antes de apontar as iniciativas
bem sucedidas do México, é preciso lembrar um fato que torna a experiência
econômica mexicana absolutamente original: a proximidade e a abertura comercial
com os Estados Unidos. De fato, é a paulatina recuperação da economia
norte-americana o real responsável pelo otimismo dos mexicanos.
Mas, posta esta enorme diferença entre
o México e o Brasil, vamos a algumas semelhanças que permitem que as estratégias
mexicanas bem sucedidas possam ser olhadas como exemplos: as duas economias
dependem vitalmente da exportação de commodities, a indústria pesada
(mineração, siderurgia e cimento) é muito significativa, assim como a produção
de automóveis e bens de capital.
Ao contrário do Brasil, quando da
depressão dos preços das commodities (o petróleo sempre foi o principal produto
de exportação do México), o governo mexicano já havia embarcado num grande
programa de fomento de investimentos em infraestrutura e concessões em
transporte e energia. O grande ingresso de capital no país pelos investimentos
de empresas estrangeiras, somado ao crédito para as empresas de construção
(civil e pesada), e ainda para o consumo de bens duráveis, se não blindou a
economia mexicana da crise internacional, serviu como um filtro que atenuou os
efeitos do tombo dos EUA e da queda do preço do petróleo e do aço no mercado
internacional.
Já o Brasil faz o contrário. Ao mirar
unicamente o controle do déficit, o governo simplesmente abriu mão de seu papel
como agente indutor do crescimento da economia. E o resultado é que o esforço
de economia se tornou inútil frente à depressão econômica e à queda da
arrecadação. O país diminui e o déficit aumenta. Para mudar, o México poderia
ser uma boa referência. Mas, para tal, teríamos que olhar para além do nosso
umbigo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário