terça-feira, 8 de dezembro de 2015

O GOVERNO DEVERIA SER O AGENTE INDUTOR DO CRESCIMENTO DA ECONOMIA



  

José Antônio Bicalho



Vamos tratar do PIB brasileiro. Um pouco tarde, já que uma viagem me impediu de escrever a coluna nos últimos dias, mas que também me permitiu um novo olhar para o baixo astral da economia brasileira.
Ao contrário da imprensa brasileira, os jornais do México (onde estou) não olham unicamente para o próprio umbigo. O principal periódico de economia do país, o ‘El Financeiro’, deu grande espaço para a notícia da queda de 4,5% do PIB brasileiro no terceiro trimestre. Com direito a matéria de página inteira e análise.
No El Financeiro, somente a notícia do ajuste do prognóstico de crescimento da economia mexicana ganhou mais destaque. Isso porque, pela primeira vez nos últimos dois anos, a pesquisa do Banco de México apontou uma melhora na expectativa para o fechamento de 2015, para uma elevação do PIB de 2,44%.
Apesar de muito semelhantes em vários aspectos, as economias brasileira e mexicana vivem momentos opostos. Nos últimos dois anos, o México passou por uma curva suave de desaceleração econômica (do crescimento de 4,11% em 2014 para 2,29% em 12 meses contados até outubro deste ano). Esse movimento acaba de bater no piso para voltar a apontar para cima. Já para a economia brasileira não há como se falar em curva de desaceleração, já que se trata de queda livre.
Com os empresários e acadêmicos com quem conversei, uma opinião é unânime: o mercado interno e o incentivo do governo aos investimentos privados em infraestrutura foram as principais variáveis para amortecer a curva de desaceleração econômica e pela retomada de agora.
Mas, antes de apontar as iniciativas bem sucedidas do México, é preciso lembrar um fato que torna a experiência econômica mexicana absolutamente original: a proximidade e a abertura comercial com os Estados Unidos. De fato, é a paulatina recuperação da economia norte-americana o real responsável pelo otimismo dos mexicanos.
Mas, posta esta enorme diferença entre o México e o Brasil, vamos a algumas semelhanças que permitem que as estratégias mexicanas bem sucedidas possam ser olhadas como exemplos: as duas economias dependem vitalmente da exportação de commodities, a indústria pesada (mineração, siderurgia e cimento) é muito significativa, assim como a produção de automóveis e bens de capital.
Ao contrário do Brasil, quando da depressão dos preços das commodities (o petróleo sempre foi o principal produto de exportação do México), o governo mexicano já havia embarcado num grande programa de fomento de investimentos em infraestrutura e concessões em transporte e energia. O grande ingresso de capital no país pelos investimentos de empresas estrangeiras, somado ao crédito para as empresas de construção (civil e pesada), e ainda para o consumo de bens duráveis, se não blindou a economia mexicana da crise internacional, serviu como um filtro que atenuou os efeitos do tombo dos EUA e da queda do preço do petróleo e do aço no mercado internacional.
Já o Brasil faz o contrário. Ao mirar unicamente o controle do déficit, o governo simplesmente abriu mão de seu papel como agente indutor do crescimento da economia. E o resultado é que o esforço de economia se tornou inútil frente à depressão econômica e à queda da arrecadação. O país diminui e o déficit aumenta. Para mudar, o México poderia ser uma boa referência. Mas, para tal, teríamos que olhar para além do nosso umbigo.

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