quinta-feira, 26 de novembro de 2015

ESTAMOS A CAMINHO DE QUE?



  

Márcio Doti


Mais importante do que a própria recuperação da economia e da normalização política, importa saber se os acontecimentos inéditos que estamos vivendo representam avanço na direção de outro ambiente que não seja este vivido desde os episódios do mensalão. Os desdobramentos da prisão do senador Delcídio do Amaral vão durar um pouco mais, haverá interpretações de toda espécie, alegando independência dos poderes, temperado com corporativismos, partidarismos e outros “ismos” que devem ser dispensados numa análise bem crua dessa situação. Na verdade, um senador que é líder do governo foi apanhado oferecendo uma “mesada” de pelo menos R$50 mil à família do réu da Lava Jato, Nestor Cerveró, para que ele desistisse da delação premiada além de garantir a sua fuga para outro país, talvez a Espanha.
Os detalhes já foram por demais esmiuçados, interessa que um detentor de mandato de senador e, ainda mais, representante do governo no plenário legislativo mais alto do país foi flagrado em gravação, durante reunião com o advogado Edson Ribeiro, defensor de Cerveró, e o filho do ex-diretor da estatal, Bernardo Cerveró, oferecendo uma polpuda importância para que Cerveró não fizesse a delação. Com a prisão do banqueiro André Esteves, do BTG Pactual, detido também nesta quarta sob a mesma alegação que Delcídio, e do amigo do ex-presidente Lula, José Carlos Bumlai, os fatos dos últimos dias colocam diante da opinião pública, e ao mesmo tempo diante das pessoas responsáveis do país, um quadro que revelará nas atitudes mais recentes e nas próximas, o caminho que o país está tomando, seja na direção das correções e do acerto e consequentemente na valorização das instituições. Ou de outra forma, a outra vertente seria o ajeitamento de situações, as composições que levariam à impunidade e manutenção da insuportável crise moral que se põe acima das crises econômica e política que dominam o Brasil dos nossos dias.
Há um caminho claro para que as instituições brasileiras enveredem pelo rumo do acerto, tal é a evidência de fatos que estão a exigir um enfrentamento e como exemplo é importante citar a atitude do relator da Lava Jato no Supremo, o ministro Teori Zavascki, e de seus pares aos quais consultou informalmente antes de dar sinal verde para a operação que prendeu o senador Delcídio do Amaral. Por mais que seja esta uma estrada dura para vários segmentos da sociedade brasileira, por mais que tire pedaços em estruturas e atinja setores, se prevalecer o pensamento dos homens de bem, da sociedade madura diante de um terrível pesadelo que é ícone de um tempo, o desafio é assumir as correções, apoiá-las e contribuir com o possível para que a empreitada tenha êxito.
Outro caminho, certamente, servirá apenas para agravar ainda mais o quadro já tenebroso que se põe diante do cidadão brasileiro. Com alicerces enfraquecidos pela presença de partes podres, não se construirá o ambiente indispensável para a prática da política saudável, verdadeiramente democrática, assim como não haverá confiança bastante para alimentar investimentos, investidores e resultados para os brasileiros.

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