quinta-feira, 26 de novembro de 2015

DÍVIDA PÚBLICA IMPAGÁVEL



  

José Antônio Bicalho



Nas duas últimas colunas tratei da deterioração dos principais indicadores econômicos do governo federal, sendo os dois principais a queda na arrecadação e o aumento do estoque da dívida pública federal (e de sua correspondência com o PIB). Trabalhei com dados de setembro, que eram os últimos publicados. Volto ao tema em função da divulgação pelo Tesouro Nacional dos dados de outubro.
Surpreendentemente, em outubro o estoque da dívida caiu pela primeira vez no ano, em 3,22%, para R$ 2,646 trilhões. Sinal de que o ajuste fiscal começa a apresentar resultado positivo? Que nada. Com um mercado volátil, avesso ao risco e cobrando juros mais altos para a compra de títulos públicos, o Tesouro Nacional começa a enfrentar problemas para vender seus papéis. Emitiu menos porque o mercado está mais medroso e guloso.
O recuo da dívida não é um movimento sustentado. O Tesouro trabalha com certa flexibilidade para acelerar ou frear as emissões, mas diante dos déficits recorrentes das contas públicas (de R$ 14,884 bilhões no acumulado até o mês passado) é inevitável que o estoque da dívida continue crescendo. O governo precisa financiar tal déficit e está forçado a emitir mais títulos do que os que resgata.
Atualizando a informação que publiquei nessa quarta, o estoque da dívida pública federal já subiu 15,2% em apenas 10 meses. Trata-se de um ritmo violento e muito perigoso.
Custo aumenta
Já o custo da rolagem da dívida aumentou e aqui não existe surpresa alguma. O somatório de recessão, crise política e rebaixamento da nota do Brasil pelas agências de rating, o mercado está mais exigente quanto ao retorno. O juro médio dos títulos emitidos em outubro foi de 16,15%. Só a título de comparação, no mesmo mês do ano passado o juro era de 11,63, quase cinco pontos percentuais a menos.
Esse juro nas alturas é uma bomba-relógio armada para explodir as contas públicas dentro de 4,7 anos, que é o prazo médio de vencimento dos títulos emitidos em outubro. Para cada milhão que entrou no caixa do Tesouro via emissão de títulos, o governo deverá pagar R$ 2,1 milhões ao vencimento. Trata-se, portanto, de juro com capacidade para dobrar a dívida contratada em outubro em menos de cinco anos.
Com o recuo da dívida, cai também a relação desta com o PIB. Seria uma boa notícia se sinalizasse para uma tendência, mas como já disse, trata-se apenas de um soluço.
Fiz uma pequena conta, levando em consideração a expectativa de queda do PIB em 3,15% (último Boletim Focus, do Banco Central), para R$ 5,347 trilhões. Isso significa que o estoque atual da dívida equivale a 49,5% do PIB projetado para este ano. Trata-se de uma relação ainda baixa quando comparada a outros países (Japão e Estados Unidos, por exemplo, possuem dívidas de mais de 100% de seus PIBs). Mas não para quem paga o maior juro do mundo.

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