Paulo Haddad
As decisões de política econômica
normalmente não têm repercussão imediata. Quando o Banco Central eleva a taxa
básica de juros, por exemplo, há um período de alguns meses de defasagem antes
que os impactos dessa decisão afetem as despesas de consumo e de investimento.
Nesse caso, a repercussão mais imediata ocorre principalmente no jogo
especulativo dos mercados financeiros de moedas, de títulos, de ações e de
derivativos. Na verdade, esses mercados procuram precificar antecipadamente nos
valores de seus produtos e serviços até mesmo as expectativas racionais sobre o
que pode ocorrer com os macro preços no futuro.
Do lado real da economia - o lado que
analisa os impactos das decisões das políticas econômicas sobre os níveis da
renda e do emprego das famílias – há que considerar a interação do
multiplicador com o acelerador. O multiplicador ocorre por causa da
interdependência estrutural da economia. Os setores produtivos estão
interligados por relações de compras e vendas nos mercados de insumos, produtos
e serviços de fatores. Assim, quando as exportações da indústria
automobilística caem, esta diminui a demanda de insumos (aço, energia elétrica,
vidros, tintas, etc.) de vários setores produtivos, os quais acabam por
diminuir também a demanda dos insumos que necessitam (minérios, produtos
químicos, carvão vegetal, etc.) e assim por diante. Toda economia acaba por se
transformar num sistema de vasos comunicantes.
Quando esses setores percebem que a
queda da demanda é persistente porque ela é resultante de uma política de
ajuste fiscal que objetiva reduzir a demanda agregada da economia (corte dos
gastos públicos, diminuição dos salários, subsídios e transferências de renda,
etc.) para controlar a inflação, as empresas põem em marcha o desemprego de sua
mão de obra excedente. Usualmente, tomam essa decisão a contragosto pois estão
dispensando o seu capital humano formado através de muito treinamento e de
muita experiência acumulada. Os desempregados diminuem a sua procura nos
mercados de bens e serviços de consumo, aprofundando a insuficiência da demanda
agregada da economia, configurando-se, assim, o início de uma recessão.
O quadro recessivo se agrava por causa
do efeito acelerador, o qual ocorre quando os empresários percebem que há
capacidade ociosa de produção nas suas instalações, máquinas e equipamentos. A
partir daí, decidem postergar ou cancelar os projetos de investimento, o que
repercute adversamente sobre as indústrias de bens de capital e de construção
civil bem como sobre as empresas de engenharia e de consultoria de projetos e,
finalmente, sobre os mercados de trabalho. Como resultado, dá-se mais um
empurrão na economia ladeira abaixo.
Esse processo de interação entre os
efeitos perversos do multiplicador e do acelerador ainda se encontra numa
primeira fase na atual conjuntura econômica do país, que passa por uma
experiência de ajuste fiscal tecnicamente mal concebida e politicamente
inviável. Espera-se que a taxa de crescimento do PIB venha a cair para um
negativo de três por cento e a taxa oficial de desemprego ultrapasse brevemente
um positivo de dez por cento.
Essa combinação de taxas contrapostas
impõe sacrifícios socialmente dramáticos para a nossa população. E nossa
experiência histórica mostra que um período prolongado de uma combinação de
retrocesso econômico, com desemprego elevado e com as desigualdades sociais e a
corrupção epidêmica se aguçando é um dos caminhos mais prováveis para a
ocorrência de profundas convulsões sociais e políticas em nossos centros
metropolitanos.

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