Tio Flávio *
Resolvi fazer este manifesto em favor da vida, das pessoas, da educação e do ensino, depois de ir acumulando exemplos que têm me angustiado demais.
Ao visitar uma escola estadual em BH,
percebi o quanto temos que fazer pelo ensino, que é tarefa da escola, mas o
buraco que existe na educação, que deveria vir de casa. Exemplos de jovens que
sofrem de tudo: desde abusos sexuais a discriminação e fome. Pessoas que se
sentem marginalizadas, que são colocadas e que se colocam à margem da
sociedade. Vidas que estão sendo impactadas por muita coisa ruim. Situações que
têm que ser repensadas.
Não adianta abrir escola. É preciso
acreditar na escola. Viver a escola, para que ela, ao menos, realize seu
importante papel de ser a referência positiva que falta a muitos jovens. Vejo
muitos meninos e meninas que nos enfrentam verbalmente, com palavras e gestos,
para assegurarem a sua própria segurança, para se defenderem de tudo. Muitos
que, por imaturidade, falam demais. Outros tantos que, por falta de limites e
exemplos, não têm respeito, não têm amor, pois parece que isso é algo
desconhecido para eles.
Fico olhando os professores, aqueles
que acreditam na educação, que se esforçam todos os dias, que enfrentam alunos
que os ameaçam, que são desacreditados pelos pais e pelo país, pelos
estudantes, pelos colegas, pela sociedade, mas persistem. Conheço todos os dias
educadores que estão cansados, que se sentem sozinhos, que parece que o seu
esforço não tem sido validado e acreditado e o que mais surge pela frente são
pedras, encontradas no caminho ou atiradas por quem está de fora.
Esse país tem que mudar o sistema de
governança para que o impacto em áreas primordiais, como saúde e educação, se
faça sentir. Mas enquanto essas mudanças não vêm, a prática não pode ser
desistir, fazer por fazer, pegar o dinheiro no fim do mês, torcer para a
aposentadoria chegar. Será que o negócio é desistir dessas pessoas, que nos
ameaçam, mas que não têm brilho nos olhos para vislumbrar dias melhores, que
acreditam que a pobreza vem no DNA e que nada pode ser feito para mudar?
Professores, por favor, não desistam.
Não se deixem abater. A cada pedra atirada adquiram forças para crescer, para
edificar. A solução desse problema não está próxima, mas se desistirmos será
muito difícil vislumbrar um novo país. E isso é sério. Lembro-me da dona Noemi,
professora, criadora do Salão do Encontro em Betim (MG), que fala que temos que
tirar afeto do barro. E quanto barro temos em nossas mãos…
O meu grande respeito a esses anjos da
educação, que vão além, que fazem o seu trabalho árduo suando, chorando,
refletindo e acreditando que nada disso será em vão. Se o sonho for destruído,
aí sim não veremos país algum.
Educação não é só escola, sabemos
disso. Educação é família, sociedade e escola, tudo junto, cada um com a sua
importância. Mas para mudar a educação devemos investir em valores. Aqui fica o
convite: vamos repensar nossos valores.
Professores, por favor, não desistam.
Não se deixem abater. A cada pedra atirada adquiram forças para crescer.
* Palestrante, professor, autor de livros e idealizador do Tio Flávio Cultural
* Palestrante, professor, autor de livros e idealizador do Tio Flávio Cultural

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