José Antônio Bicalho
A agência de risco Fitch rebaixou
nessa quinta a nota do Brasil, mas manteve o país na categoria de bom pagador.
O estrago foi bem maior no mês passado, quando a Standard & Poor’s cortou a
nota do país para grau especulativo.
De qualquer modo, é só uma questão de
tempo. Na próxima revisão pela Fitch, o Brasil, que está no último degrau de
bom pagador, será inevitavelmente rebaixado. O mesmo acontecerá na revisão da
Moody’s.
Fitch, Standard & Poor’s e Moody’s
são as três grandes empresas mundiais de classificação de risco. Elas avaliam a
saúde da economia, das finanças públicas e a qualidade da política econômica
para atribuir notas de crédito aos países. Fundos globais costumam tomar essa
classificação como base para definir o destino de seus investimentos.
Na prática, os rebaixamentos servirão
de pretexto para que bancos e investidores pressionem o Tesouro Nacional a
aumentar juros pagos para a rolagem da dívida. O raciocínio é simples: se o
risco-país aumenta é preciso pagar mais prêmio para manter o interesse pelos
títulos da dívida brasileira.
Lógica invertida
É simples, mas não necessariamente
lógico. Os juros pagos pelo Brasil já são os mais altos do mundo. Pagamos mais
juros do que países envolvidos em conflitos armados ou com notas de risco
piores que a nossa.
Os títulos da dívida brasileira com
vencimento em 10 anos estão pagando 15,98% ao ano (leilão do última
terça-feira, 13). Em 10 anos, esse juro consegue transformar uma dívida de R$
100 em R$ 259.
A título de comparação, os Estados
Unidos, que são considerados o país mais seguro do mundo, pagam atualmente
1,97% de juros para seus títulos. E a China, segunda potência econômica
mundial, 3,26%.
Já a Rússia, país envolvido em dois
conflitos armados (Ucrânia e Síria) e classificado no grau especulativo, paga
10,52%. A Turquia, também envolvida em conflitos e nota pior que a brasileira,
paga 10,18%. E a Venezuela, que apresenta os piores indicadores econômicos da
América do Sul e é classificada como “extremamente especulativo” pelas agências
de risco, paga 10,31%.
Ganho fácil
Pagamos mais do que países mais
inseguros porque viciamos o mercado financeiro no ganho fácil. Nenhum país do
mundo pratica uma taxa básica de juro tão alta quanto a brasileira, atualmente
em 14,25%. Este é o piso para o raciocínio de ganho com papéis da dívida
brasileira.
Não é verdade a justificativa de que
estrangeiros amedrontados pressionam os juros da dívida em momentos de crise. A
participação destes na composição da dívida pública brasileira é de apenas
19,6% (o equivalente a R$ 484,1 bilhões)
A maior fatia da dívida está
contratada com os bancos, com 26% (R$ 642 bilhões), e fundos de investimentos,
com outros 19,8% (R$ 491,2 bilhões). É o apetite insaciável destes que faz a
diferença nos pregões de títulos públicos.

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