quarta-feira, 14 de outubro de 2015

FUTURO INCERTO



  

Orion Teixeira


Na primeira das batalhas pelo e contra o impeachment da presidente Dilma Rousseff (PT), parte do governo comemorou ontem as liminares do Supremo Tribunal Federal (STF), que sustaram o rito do processo na Câmara dos Deputados. Outros ministros não se entusiasmaram tanto, porque sabem que liminar é algo precário e preliminar, e não é mérito. A batalha está apenas começando. O que é pior, se a decisão provisória suspendeu o formato adotado, não impede, no entanto, aquilo que já é previsto na Constituição, ou seja, o impeachment pode ser aceito e encaminhado pelo presidente da Câmara, no caso, o ‘homem-bomba’ da República chamado Eduardo Cunha (PMDB/RJ).
Em resumo, Cunha pode, se assim entender e quiser, abrir o processo contra Dilma, determinar a instalação de comissão especial para examiná-lo e que, depois, o submeteria ao plenário da Câmara. O que o STF fez foi apenas impedir a manobra pela qual Cunha se isentava de tomar a decisão (aceitar o impeachment), transferindo-a ao plenário, onde 257 parlamentares poderiam ou não abrir o processo. Agora, cabe somente a Cunha aceitar ou arquivar o pedido, é o que sinalizam as três liminares do Supremo. Pra onde vai Cunha, que, além de ‘homem-bomba’, vive, hoje, seus 15 minutos de o “mais poderoso da República”?
Sozinho, ele detém consigo a arma mais poderosa que pode derrubar uma presidente da República. Denunciado por vários malfeitos, como integrar o esquema de desvios na Petrobras, ainda assim, Cunha tem o poder de abrir processo contra Dilma antes que ele próprio seja julgado pela Câmara ou pelo Supremo. No primeiro caso, ele tem o que a presidente não possui mais, apoio político, votos aliados. No segundo caso, seu processo, se aceito no STF, demoraria seis meses, um ano ou mais. Se cair, sinaliza que não deixará pedra sobre pedra, já que boa parte dos deputados federais é financiada por ele em campanhas eleitorais. Daí sua fama de ‘homem-bomba’.
Assediado por governo e oposição
Enquanto decide o que fazer, o presidente da Câmara é assediado pelo governo e oposição. O primeiro quer evitar, naturalmente, que sua decisão seja pela aceitação do impeachment; o segundo, para evitar que ele arquive o processo. Nesse momento, não importa a ambos se Eduardo Cunha está sendo acusado de corrupção e de esconder contas milionárias em bancos suíços. Ambos disputam seu apoio nos bastidores. É a batalha sangrenta pelo poder, que deveria se dar apenas em tempos eleitorais, na disputa pelo voto de cada brasileiro ante a ausência de um fato juridicamente objetivo que criminalize o ato presidencial.
Se as pedaladas fiscais, as manobras contábeis para esconder déficits, eram irregulares, poderá haver procedimentos de ajustes administrativos antes de se adotar a pena capital (impeachment) para que o processo, como está, não seja chamado de golpe paraguaio ou assemelhado. Ao contrário do que pensam alguns, essa guerra não trará a paz institucional que o país precisa para enfrentar o que vem por aí, no rastro da crise econômica. E mais, espalhará insegurança jurídica por todo o país para aqueles que detêm algum cargo público, como governador e prefeito. Imaginem ainda como ficarão as ruas!

Nenhum comentário:

Postar um comentário

AS ARMADILHAS DA INTERNET E OS FOTÓGRAFOS NÃO NOS DEIXAM TRABALHAR

  Brasil e Mundo ...