terça-feira, 15 de setembro de 2015

REMÉDIO AMARGO PARA O POVO



  

José Antônio Bicalho


E nesta segunda-feira (14) chegou a pancada aguardada desde a posse de Joaquim Levy como ministro da Fazenda. Não foi surpresa nem poderia ser diferente, levando-se em conta a ortodoxia professada pelo ministro. Solenemente foram anunciados cortes radicais nas despesas e aumento extremado de impostos.

“Isso foi feito na Inglaterra, que mais rapidamente voltou a crescer, na Espanha e nos outros países”, disse Levy. Esqueceu de dizer que a Espanha e os ‘outros países’, que são a Europa sob o tacão da Tróica, patinam na crise há sete anos, com recessão, desemprego e deterioração fiscal continuada.

Mas vamos a uma avaliação das medidas propostas já que elas apresentam diferentes graus de qualidade ou perversidade. Os cortes são de dois tipos: na máquina e nos investimentos. Os primeiros podem ser positivos, já que a tesoura será passada numa gastança estéril do governo. Já os investimentos, quando cortados, geram o efeito colateral de desacelerar a economia.

Dos R$ 26 bilhões de corte adicional no orçamento para o próximo ano, R$ 12,5 bilhões serão na máquina e R$ 13,5 bilhões nos investimentos.

Na máquina, estamos falando do adiamento do reajuste dos servidores, da suspensão de concursos, da aplicação real do teto remuneratório do serviço público e da redução de gastos de custeio. É dinheiro que deixará de irrigar a economia, mas que não possuem o efeito multiplicador dos investimentos diretos.

Já os cortes nos investimentos se darão, principalmente, no Minha Casa, Minha Vida, no Programa de Aceleração do Crescimento e na Saúde. Nos dois primeiros, segundo Levy, não será corte propriamente dito, mas mudança da fonte de recursos do Tesouro para o FGTS. De minha parte, duvido que se encontre uma equação que evite queda substancial nesses investimentos.

Na saúde, o corte será real. O que se realizará será apenas o investimento obrigatório constitucional.

Dependência

Como sabemos, a economia brasileira, pouco sofisticada, ainda tem nos gastos do governo seu principal motor. Quando a máquina pública coloca o pé no freio, principalmente nos investimentos, a onda recessiva contamina toda a economia. É o que já está acontecendo e é por isso que a arrecadação federal deverá retrair em quase R$ 6 bilhões neste ano, conforme informou ontem o próprio Levy. Com os cortes adicionais, a expectativa é de uma retração ainda mais forte em 2016. O governo precisará, então de fontes adicionais de receita, e essas foram detalhadas ontem por Levy.

A principal dela é a volta da CPMF de 0,2%, que sugará da economia R$ 32 bilhões. Mas há também aumento do Imposto de Renda sobre o ganho de capital das pessoas físicas nas operações de alienação de bens acima de R$ 1 milhão. E, ainda, propostas criativas, como a de avançar sobre 30% dos recursos do chamado Sistema S (Sesi, Senai, Senac, Senat, Sebrae e outros), financiado por desconto compulsório nas folhas de pagamento.

No final das contas, entre os cortes do orçamento e o aumento dos impostos, cerca de R$ 60 bilhões deixarão de circular no próximo ano. Se a recessão se aprofundar (o que seria uma consequência natural), mais cortes de orçamento e aumento de impostos serão necessários em 2016. E de que forma sairemos desse círculo vicioso? Isso Levy não explicou.

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