Editorial Jornal Hoje em Dia
Após diversas protelações, o governo
finalmente anunciou seu propalado pacote de cortes nos gastos públicos para
tentar reverter a situação de crise que vive o país. E de pronto já se percebe
um ingrediente explosivo: o adiamento para agosto de 2016 dos reajustes
salariais para o funcionalismo. Como o servidor dificilmente é punido por fazer
greve, é de se esperar uma enxurrada de movimentos de paralisação. Como já vem
ocorrendo com os funcionários da Previdência Social, parados há dois meses, com
nefastas consequências para os trabalhadores.
Outra questão que certamente gerará
manifestações de revolta é a ressuscitação da CPMF, o “imposto do cheque”, já
rechaçada pela sociedade e pelo Congresso quando de sua primeira menção pelo
governo. O “czar” da economia, Joaquim Levy, ministro da Fazenda, disse que os
recursos com essa arrecadação serão destinados à Previdência e que o imposto
vigorará “apenas” por quatro anos. Quando a CPMF foi criada, nos anos 90, sua
destinação era a saúde. Com o passar do tempo, acabou virando reforço de caixa
do governo.
Um fato singular foi o valor que
pretende-se economizar com os cortes nos ministérios, que renderão somente R$
200 milhões. Vê-se que o valor é pequeno quando se observa o montante total que
o governo espera obter com o pacote, de R$ 64,5 bilhões. Representa menos de
meio por cento.
Empresários mineiros ouvidos pelo Hoje
em Dia já deram o alerta de que o pacote corta investimentos em infraestrutura,
o que pode se tornar uma pá de cal nos esforços para recuperação da economia.
Um desses casos é o Programa de Aceleração do Crescimento, o PAC, que perderá
R$ 3,8 bilhões. Para a Fiemg, por exemplo, o que tem que diminuir é a máquina
pública, as despesas de custeio.
Para a CDL, o retorno da CPMF não
representará aumento da arrecadação, pois afetará diretamente a cadeia
produtiva, reduzindo a base tributária. Outro corte que afetará a economia é o
do Minha Casa, Minha Vida, programa de unidades residenciais que ajuda a
movimentar o mercado da construção. Perderá R$ 4,8 bilhões, o que também foi
lamentado pelo Sinduscon, sindicato do setor.
Enfim, o governo insiste em não cortar
na própria carne, jogando a tarefa para a população e os empresários.

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