segunda-feira, 14 de setembro de 2015

DESCONTROLE DAS FINANÇAS PÚBLICAS



  

Paulo Haddad

O governo federal está prevendo a normalização da economia brasileira para os próximos meses. A necessidade de corrigir os preços controlados da energia elétrica, dos derivados do petróleo e das tarifas públicas já estaria superada e a inflação tenderia a ficar no intervalo da meta. E os efeitos dos ajustes sendo realizados nas contas públicas traria de volta a confiança de consumidores e investidores que voltariam a reanimar a economia com seus gastos em 2016. Como sempre, o discurso oficial é da máxima “tudo bem no ano que vem”.

Não creio que essa trajetória otimista irá se realizar. O mais provável é uma taxa de inflação sob controle mas ainda muito elevada e o alongamento do processo recessivo sem, contudo, caminhar para uma depressão econômica. A depressão é um estado mais grave da recessão econômica que se manifesta pela elevação vertiginosa das taxas de desemprego e pela falência generalizada de empresas. Os casos de depressão econômica mais destacados na história da economia mundial mais recente foram os de 1873 e 1929.

A economia brasileira está atualmente mais diversificada e mais diferenciada de tal forma que, apesar da recessão, está indo bem em alguns setores produtivos mais competitivos globalmente. Destaca-se a geração de renda e emprego no agronegócio em diversas regiões do país para atender a demanda de uma economia mundial ávida de proteína animal e de proteína vegetal. Por outro lado, a taxa de câmbio mais elevada estimula exportações e a substituição de importações de bens e serviços (como é o caso do turismo interno). Trata-se de divisórias econômicas potenciais que impedem a transição de um estágio de recessão para um processo de depressão.

O que torna as perspectivas da economia brasileira menos favoráveis para os próximos longos meses, contudo, é o inequívoco descontrole das finanças públicas, particularmente no governo federal e em alguns estados e municípios. Não se trata apenas de um descuido ocasional do equilíbrio fiscal que ocorreu em função do comportamento populista dos governos que passaram a gastar mais do que arrecadavam nos últimos anos. O déficit do setor público consolidado é predominantemente de natureza estrutural.

Enquanto persistir a atual estrutura da Previdência Social com as suas regras de atribuir direitos ao cidadão brasileiro (idade de aposentadorias, benefícios de pensões e transferências, etc.) sem cobertura de financiamento adequado, o seu déficit anual irá caminhar autonomamente para mais de cem bilhões de reais. Enquanto persistir a atual estrutura da máquina administrativa do setor público hiperdimensionada, ineficiente e vulnerável às práticas de corrupção, os déficits públicos tendem a se tornar recorrentemente crônicos.

Acuados pela carga tributária elevada e injusta, pela má qualidade dos serviços públicos pela evolução epidêmica da corrupção administrativa e pelas incertezas, os investimentos empresariais se retraem e o consumo das famílias se desestabiliza. Os tempos atuais pedem, pois, reformas estruturais ou de base na nossa economia as quais vêm sendo postergadas pelo despreparo de nossas lideranças em regime de subdesenvolvimento político. De outra forma, permaneceremos desalentados numa economia que irá nos oferecer tão somente resultados medíocres e socialmente dramáticos.

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