terça-feira, 15 de setembro de 2015

O GOVERNO FAZ BEM PARA ELES E MAL PARA O POVO



  

Malco Camargos



Todo e qualquer governo terá o dever de fazer o bem e fazer o mal. Administrar qualquer orçamento é fazer escolhas e elencar prioridades. É nesta hora que governos se distinguem uns dos outros, justamente ao fazer o bem e fazer o mal.

Democracia, para os mais otimistas, é sinônimo de governar para todos. É como se fosse possível um governo agradar a todos simultaneamente ou como se houvesse uma política pública perfeita, sem nenhum prejuízo aos cidadãos ou a parte deles, sem os chamados efeitos perversos.

Na realidade, a tarefa de um administrador público é fazer escolhas e estas sempre vão beneficiar ou prejudicar alguém. É assim que os partidos se diferenciam na política. Ao fazer escolhas, ao eleger prioridades, um governante vai priorizar determinado grupo de cidadãos, em detrimento de outros.

Neste momento, o governo Dilma tem que refazer seus cálculos e examinar suas prioridades. O que os números da economia revelam é que escolhas, no passado, não foram bem feitas. Houve erros nas políticas econômicas ou de inclusão nas políticas sociais, sem falar no desperdício de dinheiro público com a manutenção do Estado ou mesmo com a corrupção, e tudo isso levou à necessidade de escolhas mais difíceis no presente. Quanto maior a escassez de recursos, mais a competência do governo é colocada em cheque na hora de elencar prioridades.

Não é verdade a máxima que tem sido bradada por alguns que “se o povo elegeu, o povo tem o direito de tirar”, ou mesmo a frase dita pelo vice-presidente Michel Temer, ao se referir à baixa popularidade do governo atualmente: “Hoje, realmente, o índice é muito baixo. Ninguém vai resistir três anos e meio com esse índice baixo.”

Aqueles que vão na onda de apostar na troca do governo como consequência da baixa popularidade esquecem que remédios amargos deverão ser aplicados por todo e qualquer administrador e que nenhum governo eleito pode ficar refém da sua popularidade. Aqueles que estão acusando o governo hoje terão, caso a presidente da República deixe o cargo, de tomar medidas que certamente deixarão um grupo ou outro insatisfeito. E também esses não poderão ficar reféns da popularidade.

Agora, não há dúvidas que o pior caminho é a ausência de medidas administrativas e orçamentárias para conter a crise. Cabe ao governo eleito fazer os cortes e, se necessário, gerar receitas para que a vida econômica do país possa voltar aos eixos. E nesta hora é bom lembrar do velho Maquiavel: “Quando fizer o bem, faça-o aos poucos. Quando for praticar o mal, fazê-lo de uma vez só”. Dilma ou quem quer que seja que esteja no comando do país deve, neste momento, tomar decisões e priorizar as escolhas, caso contrário não haverá saída para a crise.

A bem da verdade, democracia nunca será um governo de todos e nem para todos. Teremos sempre governos representativos e a marca de um bom governante será sua capacidade de fazer boas escolhas diante dos recursos escassos.

Doutor em Ciência Política, professor da PUC Minas e diretor do Instituto Ver

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