Malco Camargos
Todo e qualquer governo terá o dever
de fazer o bem e fazer o mal. Administrar qualquer orçamento é fazer escolhas e
elencar prioridades. É nesta hora que governos se distinguem uns dos outros,
justamente ao fazer o bem e fazer o mal.
Democracia, para os mais otimistas, é
sinônimo de governar para todos. É como se fosse possível um governo agradar a
todos simultaneamente ou como se houvesse uma política pública perfeita, sem
nenhum prejuízo aos cidadãos ou a parte deles, sem os chamados efeitos
perversos.
Na realidade, a tarefa de um
administrador público é fazer escolhas e estas sempre vão beneficiar ou
prejudicar alguém. É assim que os partidos se diferenciam na política. Ao fazer
escolhas, ao eleger prioridades, um governante vai priorizar determinado grupo
de cidadãos, em detrimento de outros.
Neste momento, o governo Dilma tem que
refazer seus cálculos e examinar suas prioridades. O que os números da economia
revelam é que escolhas, no passado, não foram bem feitas. Houve erros nas políticas
econômicas ou de inclusão nas políticas sociais, sem falar no desperdício de
dinheiro público com a manutenção do Estado ou mesmo com a corrupção, e tudo
isso levou à necessidade de escolhas mais difíceis no presente. Quanto maior a
escassez de recursos, mais a competência do governo é colocada em cheque na
hora de elencar prioridades.
Não é verdade a máxima que tem sido
bradada por alguns que “se o povo elegeu, o povo tem o direito de tirar”, ou
mesmo a frase dita pelo vice-presidente Michel Temer, ao se referir à baixa
popularidade do governo atualmente: “Hoje, realmente, o índice é muito baixo.
Ninguém vai resistir três anos e meio com esse índice baixo.”
Aqueles que vão na onda de apostar na
troca do governo como consequência da baixa popularidade esquecem que remédios
amargos deverão ser aplicados por todo e qualquer administrador e que nenhum
governo eleito pode ficar refém da sua popularidade. Aqueles que estão acusando
o governo hoje terão, caso a presidente da República deixe o cargo, de tomar
medidas que certamente deixarão um grupo ou outro insatisfeito. E também esses
não poderão ficar reféns da popularidade.
Agora, não há dúvidas que o pior
caminho é a ausência de medidas administrativas e orçamentárias para conter a
crise. Cabe ao governo eleito fazer os cortes e, se necessário, gerar receitas
para que a vida econômica do país possa voltar aos eixos. E nesta hora é bom
lembrar do velho Maquiavel: “Quando fizer o bem, faça-o aos poucos. Quando for
praticar o mal, fazê-lo de uma vez só”. Dilma ou quem quer que seja que esteja
no comando do país deve, neste momento, tomar decisões e priorizar as escolhas,
caso contrário não haverá saída para a crise.
A bem da verdade, democracia nunca
será um governo de todos e nem para todos. Teremos sempre governos
representativos e a marca de um bom governante será sua capacidade de fazer
boas escolhas diante dos recursos escassos.
Doutor em Ciência Política, professor
da PUC Minas e diretor do Instituto Ver

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