Ricardo Galuppo
O governo ganhará muito se desistir,
enquanto ainda há tempo, da mania de achar que a improvisação e as criticas à
oposição são os únicos caminhos para chegar em segurança ao dia 31 de dezembro
de 2018. Se tais hábitos forem substituídos por um pouco (um pouquinho só) de
profissionalismo, a presidente Dilma Rousseff pode ter algum sossego e talvez
até recupere um naco da popularidade que deixou escapar entre os dedos.
Infelizmente, para ela e para o Brasil, nada indica que isso acontecerá. Muito
pelo contrário: os movimentos mais recentes levam a crer que o Planalto
insistirá nas notas desafinadas que, até aqui, têm sido as responsáveis pela falta
de melodia, ritmo e harmonia da atual administração.
A semana especialmente rica em tiros
no pé começou com o anúncio da intenção de podar uma dezena na penca de 39
ministérios pendurada na Esplanada de Brasília. Em seguida, veio a atabalhoada
entrada em cena do debate sobre a volta da CPMF — o velho imposto dos cheques.
Para citar um último exemplo de falta de bom senso, basta mencionar o discurso
da presidente na quinta-feira, durante a cerimônia em homenagem aos atletas que
representaram o Brasil nos jogos Panamericanos de Toronto. Numa solenidade em
que poderia ter demonstrado grandeza, ela voltou a se apequenar ao acusar os
adversários de desrespeitar o resultado das eleições.
Distorções impensáveis
O que cada uma dessas situações tem a
ver com a outra? São partes que integram o todo das trapalhadas e da falta de
rumo político do governo. Veja o caso dos ministérios. Até o mais parvo dos
cidadãos sabe que, no Brasil, a quantidade de pasta é inversamente proporcional
à eficiência na administração pública. E que esse número absurdo de 39 surgiu
apenas para sossegar os partidos da “base aliada” com cargos que lhes permitam
nomear amigos e liberar verbas a torto e a direito. O resultado da farra gerada
por esse modelo se traduz na gestão sofrível e gera distorções impensáveis em
qualquer país sério.
Veja, por exemplo, o caso do
agronegócio, único braço da economia que ainda tem alguma capacidade de
produzir novidades positivas — e que agora também começa a andar para trás. Ele
está sujeito à fiscalização e à interferência de pelo menos três ministérios
distintos: o da Agricultura, o do Desenvolvimento Agrário, o do Meio Ambiente.
Uma pitada de ordem nessa bagunça seria desejável e necessária — e, nesse
ponto, Dilma tem até razão ao falar em reduzir a quantidade de ministérios. Mas
por que dez? Com que critério ela chegou a esse número? Por que não nove? Ou
doze? Quais pastas sobreviverão e quais deixarão de existir?
Por tudo o que se vê, a presidente
precisa por ordem no próprio terreiro antes de procurar na oposição os culpados
pelos dissabores que enfrenta. No Brasil de Dilma Rousseff, o governo é o pior
adversário do governo.
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