Auditoria da Petrobras identifica US$ 23 mi superfaturados em contratos
de sondas
A auditoria interna da Petrobras identificou cerca de US$ 23 milhões em
superfaturamento nos contratos de construção e locação de dois navios-sonda,
intermediados em 2006 pelo delator Júlio Camargo. Os recursos teriam sido
usados para pagamento de propinas a partidos e políticos, entre eles o
presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB), que teria pedido US$ 5 milhões em
propinas, conforme depoimento de Camargo ao Ministério Público Federal (MPF).
A análise foi apresentada pela petroleira em relatório de auditoria
encaminhado ao MPF em maio. O documento relata encontros entre Camargo, o
ex-diretor da estatal Nestor Cerveró e o operador do PMDB Fernando Soares, o
Fernando Baiano, além de representantes das empresas responsáveis pela
construção das sondas. Baiano e Cerveró, ambos presos em Curitiba, se reuniram
pelo menos 72 vezes entre 2004 e 2008 na sede da Petrobras. Camargo esteve 18
vezes na sede em reuniões com Cerveró.
No depoimento em que acusou Cunha de cobrar propina, Camargo indicou que
os recursos teriam partido do contrato de construção das sondas, em 2006 e
2007. O lobista, que disse representar as empresas Toyo e Mitsui, indicou que
recebeu US$ 53 milhões em comissões, dos quais US$ 30 milhões teriam sido
distribuídos ao PMDB, via Baiano. Segundo o depoimento, parte dos recursos
seria destinado a Cunha.
O relatório da auditoria indica que a construção das sondas foi definida
por Cerveró, no comando da área internacional, "sem prévia
autorização" da diretoria executiva. Cerca de 15 dias após a aprovação dos
executivos à construção das sondas, o ex-diretor se reuniu com lobistas e
representantes das empresas, diz o relatório. O documento detalha também que,
um ano após a contratação, os termos do negócio foram revistos e o custo
ampliado em 5%, o equivalente a US$ 31,5 milhões, "sem qualquer
objeção" da área internacional ou explicação para a adição de itens no
escopo do contrato.
Camargo afirmou que, em encontro com o presidente da Câmara, foi cobrado
pelo pagamento de US$ 5 milhões referentes ao contrato. Cunha teria questionado
atraso nos repasses. O delator contou que, como forma de pressão, o deputado
teria elaborado requerimentos ao Tribunal de Contas da União (TCU) para apurar
irregularidades nos contratos da Mitsui com a Petrobras em 2011. O caso também
foi relatado por Alberto Youssef.
As sondas Petrobras 10000 e Vitoria 10000, usadas no Golfo do México,
foram construídas pela japonesa Mitsui e pelo estaleiro coreano Samsung Heavy
Industry. Após a construção, a Petrobras contratou a empresa Schahin para
operar a Vitoria por US$ 1,6 bilhões. A contratação também foi alvo de
auditoria, que apontou pagamento de bônus acima da média de mercado, com
prejuízos de US$ 79 milhões em dez anos.
A Schahin sustenta que os contratos foram fechados em "condições de
mercado". A empresa também é investigada pela Operação Lava Jato e foi
citada pelo ex-gerente executivo da Petrobras Pedro Barusco como integrante do
cartel de empresas que combinavam preços e resultados de licitações da estatal.
A Samsung Heavy Industry não foi localizada para comentar as denúncias.
A Mitsui confirma que teve "contatos legítimos" com representantes da
estatal e parceiros para "discutir oportunidades de negócios". A
empresa nega que tenha sido representada por Camargo ou que tenha pago propinas.

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