Manoel Hygino
Aconteceu numa quinta-feira, pela
manhã, no cemitério São João Batista, em Uberaba. O túmulo do médium Chico
Xavier, que recebe mais de duas mil visitas em média, por semana, procedentes
de todo o país, foi atacado com pedaços de granito. O propósito era quebrar o
vidro de proteção, fabricado com material blindado, mas apenas o estilhaçou.
Foram arremessadas três pedras e o(s)
vândalo(s) usou (usaram) os pés para ter mais apoio e força, falhando em seu
desígnio. A polícia se esforça por identificar o ou os autores do crime, assim
como a causa, embora tudo permaneça inteiramente obscuro.
Em face do mundo vil e violento em que
nos achamos, parece um registro de menor importância. Nos Estados Unidos, a
mais poderosa nação do planeta, ainda se repetem assassinatos de negros por
brancos e, no norte da África, o grupo Boko Haram insiste numa incompreensível
campanha de aprisionamento de jovens de cor para objetivos inconfessáveis.
No outro lado do mundo mediterrâneo, o
Estado Islâmico quer impor pela força seu califado, ideia que se supunha
sepultado, definitivamente nas areias da história. As ruas do mundo são palco
de crimes e constrangimentos de toda espécie. Monumentos históricos de Palmira,
Oriente Médio, estão sob risco de destruição pelo EI, mesmo considerados
patrimônio da humanidade.
Mas danificar o túmulo de um pobre
homem de Minas, que viveu 92 anos e sempre serviu aos que o procuravam para
aconselhamento e amenizar suas angústias, parece estranhável. Que se pretendia
com a profanação? Teria caráter religioso? Ou seria um ato de vandalismo? Ou,
ainda, uma tentativa frustrada de furto de algum objeto preservado?
O professor Joaquim Cabral Netto,
advogado, ex-corregedor geral do Ministério Público, ex-presidente da
Associação Mineira do Ministério Público e da Confederação Nacional do
Ministério Público, editou – no ano passado – um livro sobre Chico Xavier,
lembrando facetas da vida do médium de Pedro Leopoldo.
Artur da Távola, jornalista, político,
escreveu sobre o médium: “A figura de comunicação de Francisco Cândido Xavier
ganha um significado profundo, duradouro, acima e além de paixões religiosas,
doutrinas científicas ou interpretações metafísicas. Aquele homem de fala
mansa, peruca, acentuado estrabismo, pessoa de humildade e tolerância, não
configura o tipo físico idealizado do líder religioso, do chefe de seita, do
místico impressionante”.
Conclui: “Além da aura de paz e
pacificação que parte dele, há outro elemento poderoso a explicar o fascínio e
a durabilidade da impressionante figura de comunicação de fé: a grande
seriedade pessoal do médium, a dedicação integral de sua vida aos que sofrem e
o desinteresse material absoluto”.
Chico nasceu em pobreza, sofreu com
duas deficiências físicas. Quando lhe foi perguntado se houve algo de que se
arrependesse, respondeu: “Ah, sim, arrependo-me de não ter amado mais, porque é
só o amor o que a gente deixa sobre este mundo. Mas não se pode esquecer que é
preciso amar sem esperar ser amado, e sem aguardar recompensa alguma”.
Sobre Deus, explicou-se: “Quem teria
colocado a vida e o perfume das flores, o azul do céu, o verde dos mares e a
luz das estrelas?”. Uma observação que legou: “Conheço gente tão pobre, tão
pobre, que só possui dinheiro”.
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