sábado, 27 de junho de 2015

LEI E ATITUDES



  

José Eutáquio de Oliveira




Tinha eu 12 anos de idade quando comecei a trabalhar de contínuo, fichado na Usiminas, no tempo da carteira de trabalho “de menor”. Deste então, trabalhar é o que me sustenta. Sou de família muito pobre e pertenço a uma geração que sempre encarou o batente para ajudar nas despesas de casa e para dar conta de sua própria vida. Nem por isso deixei de curtir a infância e juventude correndo atrás da bola nos campos da várzea e nas quadras de futsal, basquete e vôlei, soltando papagaios em disputas de laçadas – fazendo serenatas para as garotas do Santo Antônio e arredores.

É o que explica meu desempenho escolar pouco brilhante, mas posso dizer, sem modéstia, que do ginásio em diante, o senhor Chichico, meu pai, nunca teve que enfiar a mão no bolso para sustentar meus estudos, farras e vícios. Até porque, grana ele não tinha. Não posso me queixar da vida. Não sou o único da minha geração que enfrentou a barra que descrevi. Tanto no meu bairro quanto na Vila Estrela, onde tive vários companheiros de briga, bola, barra e samba.

As coisas mudaram na maneira como atualmente a sociedade trata a infância e a juventude. O trabalho infantil agora é crime (com o que concordo, com ressalvas) e o do adolescente é quase uma contravenção – com o que não concordo. Criamos o Estatuto da Criança e do Adolescente (um avanço) e situações legais que obrigam as famílias a colocarem seus filhos nas escolas, o que acho positivo – de “primeiro mundo”. Na contramão dos avanços inventamos um tipo de educação (nas casas e nas escolas) que retira de guris e jovens quase toda a responsabilidade sobre que fazem com suas vidas e com as dos demais. Resultado: estamos infantilizando a galera e a galerinha.

Para piorar, não dotamos o país de escolas decentes em tempo integral e tampouco criamos uma sociedade capaz de oferecer para todos, igualdade de oportunidades de trabalho, saúde, acesso à habitação, saneamento básico, transporte público e, sobretudo, segurança pública de boa qualidade. A direita porque é egoísta, corrupta e reacionária. E a esquerda, porque é egoísta, reacionária, desonesta... e populista. Entre uns e outros, mais do mesmo.

Como tudo que é ruim pode piorar, a criminalidade no Brasil tornou-se endêmica. A guerra civil tomou conta das cidades. Ironia: parte dos “terroristas” são menores de idade que não têm escola de qualidade para frequentar, trabalho digno para encarar. A saída proposta para o imbróglio? A diminuição da maioridade penal para 16 anos. Um prato cheio para populistas de todos os matizes ideológicos e religiosos perpetuarem suas eternas disputas pelo poder, sem se comprometerem com propostas sérias para passar o país a limpo. “Progressistas” são contra a proposta; “conservadores”, a favor.

Pelo que vivi, penso que um jovem de 16 anos já é dono do seu nariz e pode muito bem ser responsabilizado pelos seus atos. Mas o problema não passa pela lei e sim por atitudes. A culpa das nossas mazelas é dos que estão no poder – no executivo, do legislativo e no judiciário. Eles quebraram o Estado, não cumprem suas obrigações, não nos prestam contas de nada. Roubam. Mas a culpa (e responsabilidade) é nossa também. Que não os pressionamos, que não agimos como cidadãos, que votamos em corruptos e incompetentes. Não teria passado da hora de nos tornarmos uma sociedade madura e responsável?

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