José Eutáquio de Oliveira
Tinha eu 12 anos de idade quando
comecei a trabalhar de contínuo, fichado na Usiminas, no tempo da carteira de
trabalho “de menor”. Deste então, trabalhar é o que me sustenta. Sou de família
muito pobre e pertenço a uma geração que sempre encarou o batente para ajudar
nas despesas de casa e para dar conta de sua própria vida. Nem por isso deixei
de curtir a infância e juventude correndo atrás da bola nos campos da várzea e
nas quadras de futsal, basquete e vôlei, soltando papagaios em disputas de
laçadas – fazendo serenatas para as garotas do Santo Antônio e arredores.
É o que explica meu desempenho escolar
pouco brilhante, mas posso dizer, sem modéstia, que do ginásio em diante, o
senhor Chichico, meu pai, nunca teve que enfiar a mão no bolso para sustentar
meus estudos, farras e vícios. Até porque, grana ele não tinha. Não posso me
queixar da vida. Não sou o único da minha geração que enfrentou a barra que
descrevi. Tanto no meu bairro quanto na Vila Estrela, onde tive vários
companheiros de briga, bola, barra e samba.
As coisas mudaram na maneira como
atualmente a sociedade trata a infância e a juventude. O trabalho infantil
agora é crime (com o que concordo, com ressalvas) e o do adolescente é quase
uma contravenção – com o que não concordo. Criamos o Estatuto da Criança e do
Adolescente (um avanço) e situações legais que obrigam as famílias a colocarem
seus filhos nas escolas, o que acho positivo – de “primeiro mundo”. Na
contramão dos avanços inventamos um tipo de educação (nas casas e nas escolas)
que retira de guris e jovens quase toda a responsabilidade sobre que fazem com
suas vidas e com as dos demais. Resultado: estamos infantilizando a galera e a
galerinha.
Para piorar, não dotamos o país de
escolas decentes em tempo integral e tampouco criamos uma sociedade capaz de
oferecer para todos, igualdade de oportunidades de trabalho, saúde, acesso à
habitação, saneamento básico, transporte público e, sobretudo, segurança
pública de boa qualidade. A direita porque é egoísta, corrupta e reacionária. E
a esquerda, porque é egoísta, reacionária, desonesta... e populista. Entre uns
e outros, mais do mesmo.
Como tudo que é ruim pode piorar, a
criminalidade no Brasil tornou-se endêmica. A guerra civil tomou conta das
cidades. Ironia: parte dos “terroristas” são menores de idade que não têm
escola de qualidade para frequentar, trabalho digno para encarar. A saída
proposta para o imbróglio? A diminuição da maioridade penal para 16 anos. Um
prato cheio para populistas de todos os matizes ideológicos e religiosos
perpetuarem suas eternas disputas pelo poder, sem se comprometerem com
propostas sérias para passar o país a limpo. “Progressistas” são contra a
proposta; “conservadores”, a favor.
Pelo que vivi, penso que um jovem de
16 anos já é dono do seu nariz e pode muito bem ser responsabilizado pelos seus
atos. Mas o problema não passa pela lei e sim por atitudes. A culpa das nossas
mazelas é dos que estão no poder – no executivo, do legislativo e no
judiciário. Eles quebraram o Estado, não cumprem suas obrigações, não nos
prestam contas de nada. Roubam. Mas a culpa (e responsabilidade) é nossa
também. Que não os pressionamos, que não agimos como cidadãos, que votamos em
corruptos e incompetentes. Não teria passado da hora de nos tornarmos uma
sociedade madura e responsável?
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