Saiba como funciona a
tornozeleira eletrônica que vigia réus da Lava Jato
Márcio Padrão
Do UOL, em São Paulo
Do UOL, em São Paulo
Modelo de tornozeleira usado para monitorar presos
Na terça-feira
(28), Ricardo Pessoa, dono da construtora UTC, e mais oito empreiteiros
que foram presos pela Polícia Federal por suspeita de participação na operação
Lava Jato receberam liberdade condicional por
decisão do STF (Supremo Tribunal Federal). Os réus passam a usar tornozeleiras
eletrônicas e cumprirão prisão domiciliar. Recente no Brasil, a tecnologia
é adotada como alternativa para frear o encarceramento em massa no país.
Seu uso se tornou
mais comum há cinco anos, a partir da lei 12.258/2010, que alterou a Lei de
Execução Penal (7.210/1984), para que o aparelho pudesse fiscalizar a
saída temporária e a prisão domiciliar de condenados que receberam tais
benefícios.
Posteriormente, a
lei 12.403/2011 alterou o Código de Processo Penal (Decreto-Lei 3.689/1941)
para incluir a monitoramento eletrônico como medida cautelar, em vez da prisão.
A estratégia visa reduzir a quantidade de réus que aguardam presos o julgamento
de seus processos --o equivalente a 41% da população carcerária nacional,
segundo dados do Conselho Nacional de Justiça.
São Paulo, Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro, Rondônia, Pernambuco, Mato Grosso do Sul, Distrito Federal, Alagoas, Bahia, Goiás, Paraíba, Maranhão, Minas Gerais, Espírito Santo, Tocantins e Santa Catarina estão entre as unidades
federativas que já usaram ou usam o equipamento. Em alguns deles, o
Departamento Penitenciário Nacional (Depen) do Ministério da Justiça repassa
recursos por meio de parcerias.
Funcionamento
Quando um réu deixa
a prisão e passa a usar a tornozeleira, os deslocamentos do vigiado são
acompanhados por uma central de monitoramento, que pode estar sob a
responsabilidade da Administração Penitenciária do respectivo Estado que cuida
do caso ou de uma vara de execução penal.
O aparelho utiliza o
sistema GPS para mostrar a exata localização do detento no mapa. Quando
ele sai da área de circulação imposta pelo juiz, o sistema emite um aviso e
agentes entram em contato com o preso pelo celular para saber o motivo.
Algumas
tornozeleiras possuem sistema de som, pelo qual a autoridade pode emitir
avisos. O dispositivo funciona com bateria, cuja autonomia é de 19 horas,
devendo ser carregado por duas horas.
Entre as medidas
cautelares está a proibição de o investigado frequentar lugares como bares,
casas noturnas e estabelecimentos congêneres. As tornozeleiras possuem sensores
que identificam a proximidade do objeto com a pele, além de outros, que alertam
para um eventual rompimento. Quando fica caracterizada a infração, o
detento pode regredir de regime.
Custos
Segundo o Depen, o
aparelho tem como vantagens evitar a superlotação de prisões e economizar
custos ao poder público. Enquanto um preso custa, em média, R$ 1.800 por mês, a
monitoração eletrônica de uma pessoa pode custar de R$ 200 a R$ 600 mensais,
dependendo dos termos contratuais da empresa fornecedora dos equipamentos.
Pessoas consideradas
em situação de vulnerabilidade dentro do sistema prisional, como gestantes,
portadores de doenças infectocontagiosas, condenados maiores de 70 anos de
idade, mulheres com filho menor e portadores de deficiência física ou mental,
também podem receber o aparelho.
No entanto, o
emprego mais amplo das tornozeleiras ainda esbarra em falta de verbas e
burocracia. Em março deste ano, os dois acusados de terem acendido o rojão que
matou o cinegrafista Santiago Andrade, da TV Bandeirantes, Fábio Raposo e Caio
Silva de Souza, não puderam deixar o presídio pela falta do equipamento.
O contrato com a empresa fornecedora das tornozeleiras está sem pagamento desde
junho por conta da crise fiscal no Rio de Janeiro.
O secretário da
Segurança Pública de São Paulo, Alexandre de Moraes, afirmou que o governador
Geraldo Alckmin (PSDB) já autorizou a compra de 20 mil tornozeleiras, mas ainda não tem data de quando elas
estarão disponíveis.
O Ministério da
Justiça e o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) firmaram uma parceria
no começo de abril para assegurar a compra de tornozeleiras eletrônicas.
Atualmente, há casos de presos que poderiam usar o equipamento, mas por causa
da ausência de tornozeleiras suficientes, permanecem na penitenciária. O
ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, não soube estimar quantos serão
comprados, mas o governo irá promover a compra em parceria com os Estados.
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