Paulo Adyr Dias do Amaral
Diário de bordo: data estelar
272201.5. Entendo o drama do capitão Kirk. Toda vez que se encontrava em
apuros, ou diante de algum enigma indecifrável, clamava por Spock. Não é sem
razão. O vulcano, primeiro oficial da Frota Estelar, era infalível. Com seu
raciocínio lógico, sua espetacular concatenação de ideias, sua cultura
fenomenal e extremo rigor científico, logo resolvia a questão com um pé nas
costas, desvencilhando a tripulação, com inigualável elegância e serenidade, de
todas as tormentas. O triunvirato formado pelo capitão James T. Kirk, o médico
Leonard McCoy e o oficial de Ciências Spock parecia mesmo invencível.
Agora Spock se foi. Quem doravante nos
ajudará a desvendar os enigmas do universo? Que nome invocaremos daqui por
diante? Tais perguntas calam fundo em nosso espírito, nestes tempos tão
sombrios. Isso porque o trio Kirk-McCoy-Spock ficaria perplexo se soubesse do
destino que nossa nave tomou. Bem distante de Star Trek, assumimos o roteiro de
Lost in Space (Perdidos no Espaço).
O posto de capitão, outrora ocupado
pela liderança perspicaz e corajosa de Kirk, está agora entregue a uma chefa,
que assim se denomina, obrigando todos a pronunciar de forma articulada o A
final, para destacar uma feminilidade que nunca teve. Muito distante dos
caminhos do desenvolvimento, conduziu-nos à estagnação e crescimento zero.
Spock jamais subestimou o inimigo.
Sabia do perigo que representava a expansão do Império Klingon. E não hesitava
em usar a força contra eles. Não é como a Grande Chefa, que nos coloca a
patética proposta de dialogar com os klingons, correndo o risco de retornar
decapitada (o que, aliás, seria uma bênção).
McCoy, notável médico-cientista, muito
se queixou da falta de estrutura dos hospitais, da falta de vagas para doentes
e feridos, da falta de leitos, equipamentos e medicamentos. Por vezes destacou
que faltavam até mesmo macas para o transporte dos enfermos. Evidenciou a falta
de investimento e o descaso para com a saúde. E protestou contra honorários
que, de tão miúdos, aviltavam a honrosa profissão que exercia com tanto
orgulho. Para sua sorte, faleceu em 1999. Teria sido humilhado hoje, ao
perceber a “solução” ofertada pela Granda Chefa: a importação de médicos
oriundos de um estranho planeta chamado Cuba. Só serviu para que outros
doutores (que nem sequer tiveram liberdade para escolher a profissão)
testemunhassem o descalabro que ocorre aqui.
Feijão com arroz
Finalmente, no posto de primeiro
oficial, foi colocado um engenheiro naval (premissa de naufrágio). Alguém disse
que seu nome é Levy, mas deve ser engano. Parece mais Levamos: Levamos Tinta,
Levamos Chumbo ou coisa parecida. O pretenso especialista nada mais fez, até
agora, que o trivial: mais tributos, crédito mais caro e corte de benefícios.
Feijão com arroz, qualquer um sabe fazer.
Spock teria feito muito melhor.
Conhecedor da matemática, da filosofia e das finanças, e tendo estudado as
melhores pesquisas de Bernard Appy, logo percebeu o tema no aspecto
microeconômico: internacionalizar é uma necessidade empresarial; ou o
empresário se torna um player na sociedade internacional ou logo será engolido
pela economia de escala. E também no plano macroeconômico: a
internacionalização das empresas está diretamente ligada ao tamanho do PIB. Por
isso, Spock jamais confundiu investimentos internacionais com sonegadores em
busca de paraísos fiscais.
Já a Granda Chefa incentiva: seja
pequeno. Encolha. E venha aderir ao Simples. Volta Spock! Aciona a dobra fator
9,65 (velocidade Warp) da Enterprise e tira-nos do pântano! Somente assim será
possível concretizar o lema que nos deixaste: Vida longa e próspera! E a
Federação Intergaláctica ainda há de reconhecer: bem melhor que importar
médicos de Cuba, será importar presidentes de Vulcano. Spock!
Professor de Direito Tributário do
Ibmec/MG
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