segunda-feira, 18 de maio de 2015

RECESSÃO ECONÔMICA IMPOSTA AO POVO




  

Paulo Haddad
Depois da Segunda Grande Guerra, o Brasil vivenciou dois ciclos de expansão econômica: o primeiro, nos anos JK e, o segundo, durante o período do “milagre econômico” no regime militar. Um ciclo de expansão se caracteriza por um longo período (de cinco a dez anos) de crescimento econômico acelerado à la China, tanto global quanto setorial. É precedido normalmente de reformas econômicas e institucionais de natureza reestruturante, que contribuem para a eliminação de pontos de estrangulamento e de outros óbices à mobilização das potencialidades latentes de desenvolvimento. Num ciclo de expansão, o ambiente psicossocial da população é de confiança no progresso da nação e de euforia com o crescimento continuado da renda e da riqueza. Desde então, a experiência brasileira de crescimento econômico tem sido de stop and go: um passo para frente e dois para trás.
No período de 2002 a 2008, surgiram indicadores de desempenho da economia brasileira que sinalizaram a emergência do terceiro ciclo de expansão do pós-Guerra. O sinal mais sensível pode ser atribuído aos grandes projetos de investimento (de US$ 500 milhões a US$ 3 bilhões) que estavam sendo decididos para serem implantados no país ao longo dos anos seguintes. A descoberta do pré-sal e os seus investimentos consequentes seriam um gigantesco passo nessa direção.
Entretanto, tudo começou a se esvair desde que caracterizou-se a crise econômica mundial a partir do segundo semestre de 2008. No final do governo Lula e durante todo o primeiro mandato do governo Dilma, buscou-se manter o ritmo de crescimento da economia através de políticas anticíclicas de defesa de nível de renda e de emprego.
Incentivos fiscais e subsídios nas linhas de empréstimos nas instituições federais (BNDES, BB, CEF) foram manipulados “ad nauseam” provocando uma crise nas finanças públicas do país em nível desastroso. A esta crise se somou o controle de preços como artifício para manter a inflação dentro do espaço da meta, o que levou à desorganização das cadeias produtivas dos setores de energia elétrica, de petróleo e gás, sucroalcooleiro, etc.
Assim, desde o ano passado, o que se assiste é a configuração de um processo recessivo na economia brasileira tornando ficção a possibilidade de ocorrer o terceiro ciclo de expansão do pós Segunda Grande Guerra. Oficialmente, alguns países definem a recessão quando há dois trimestres seguidos de taxas negativas de crescimento do PIB. Mas, na verdade, o que mais interessa à população é a perda da renda real (medida pelo poder de compra) e do emprego, como já está acontecendo em ritmo acelerado.
É muito provável que esse processo recessivo venha a se aprofundar durante um longo período nos próximos meses, pois somente agora começam a se espraiar os impactos adversos para frente e para trás nas principais cadeias produtivas, o encurtamento da base tributável dos três níveis de governo e o postegarmento dos planos de investimento do setor privado. Por enquanto, as medidas fiscais e financeiras tomadas pelo governo federal são de intensidade limitada em seu escopo, difusas em seus impactos no tempo e sem capacidade de reverter as expectativas adversas sobre a evolução do ciclo recessivo que vai se delineando de forma cadenciada, mas irreversível e dramática.

 

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