Paulo Haddad
Depois da Segunda Grande Guerra, o
Brasil vivenciou dois ciclos de expansão econômica: o primeiro, nos anos JK e,
o segundo, durante o período do “milagre econômico” no regime militar. Um ciclo
de expansão se caracteriza por um longo período (de cinco a dez anos) de
crescimento econômico acelerado à la China, tanto global quanto setorial. É
precedido normalmente de reformas econômicas e institucionais de natureza
reestruturante, que contribuem para a eliminação de pontos de estrangulamento e
de outros óbices à mobilização das potencialidades latentes de desenvolvimento.
Num ciclo de expansão, o ambiente psicossocial da população é de confiança no
progresso da nação e de euforia com o crescimento continuado da renda e da
riqueza. Desde então, a experiência brasileira de crescimento econômico tem
sido de stop and go: um passo para frente e dois para trás.
No período de 2002 a 2008, surgiram
indicadores de desempenho da economia brasileira que sinalizaram a emergência
do terceiro ciclo de expansão do pós-Guerra. O sinal mais sensível pode ser
atribuído aos grandes projetos de investimento (de US$ 500 milhões a US$ 3
bilhões) que estavam sendo decididos para serem implantados no país ao longo
dos anos seguintes. A descoberta do pré-sal e os seus investimentos
consequentes seriam um gigantesco passo nessa direção.
Entretanto, tudo começou a se esvair
desde que caracterizou-se a crise econômica mundial a partir do segundo
semestre de 2008. No final do governo Lula e durante todo o primeiro mandato do
governo Dilma, buscou-se manter o ritmo de crescimento da economia através de
políticas anticíclicas de defesa de nível de renda e de emprego.
Incentivos fiscais e subsídios nas
linhas de empréstimos nas instituições federais (BNDES, BB, CEF) foram
manipulados “ad nauseam” provocando uma crise nas finanças públicas do país em
nível desastroso. A esta crise se somou o controle de preços como artifício
para manter a inflação dentro do espaço da meta, o que levou à desorganização
das cadeias produtivas dos setores de energia elétrica, de petróleo e gás,
sucroalcooleiro, etc.
Assim, desde o ano passado, o que se
assiste é a configuração de um processo recessivo na economia brasileira
tornando ficção a possibilidade de ocorrer o terceiro ciclo de expansão do pós
Segunda Grande Guerra. Oficialmente, alguns países definem a recessão quando há
dois trimestres seguidos de taxas negativas de crescimento do PIB. Mas, na
verdade, o que mais interessa à população é a perda da renda real (medida pelo
poder de compra) e do emprego, como já está acontecendo em ritmo acelerado.
É muito provável que esse processo
recessivo venha a se aprofundar durante um longo período nos próximos meses,
pois somente agora começam a se espraiar os impactos adversos para frente e
para trás nas principais cadeias produtivas, o encurtamento da base tributável
dos três níveis de governo e o postegarmento dos planos de investimento do
setor privado. Por enquanto, as medidas fiscais e financeiras tomadas pelo
governo federal são de intensidade limitada em seu escopo, difusas em seus
impactos no tempo e sem capacidade de reverter as expectativas adversas sobre a
evolução do ciclo recessivo que vai se delineando de forma cadenciada, mas
irreversível e dramática.
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