Geladeira eficiente consome
menos energia e pode esquentar água de chuveiro
Eduardo Schiavoni
O professor José Roberto Simões Moreira, coordenador do Laboratório de
Sistemas Energéticos Alternativos do Departamento de Engenharia Mecânica da
Poli-USP, liderou o estudo
Uma geladeira que
resfria os alimentos, esquenta a água do chuveiro e das torneiras e ainda gasta
menos energia em seu funcionamento. Parece magia, mas esse sistema já é real.
Ele foi desenvolvido e patenteado por pesquisadores da USP (Universidade
de São Paulo) e pode chegar ao mercado em breve.
"O calor gerado
pela geladeira vai para o ambiente e é dissipado. Com o sistema, esse calor
deixa de ser perdido e é utilizado para esquentar a água", comenta o
professor José Roberto Simões Moreira, coordenador do Laboratório de Sistemas
Energéticos Alternativos do Departamento de Engenharia Mecânica da Poli.
Para entender como
funciona o sistema, é preciso entender o funcionamento da geladeira: o processo
de circulação refrigerante é feito através de um gás, que é aspirado pelo
compressor e comprimido, o que resulta em aumento da pressão e temperatura do
gás. Esse gás prossegue para um condensador — uma espécie de serpentina que
fica na parte posterior da geladeira doméstica, onde o calor é dissipado, e
assim a geladeira é gelada.
A energia térmica
liberada pela geladeira pode chegar a 60°C. "Inserimos um tanque de água
entre o compressor e o condensador permitindo, assim, que o calor do gás quente
fosse transferido para a água em vez de ser dissipado para o ambiente em que se
encontra a geladeira", acrescenta.
O sistema deve
custar ao consumidor cerca de R$ 200, se houver fabricação industrial. De forma
artesanal, o custo estimado para a instalação seria de R$ 400. O uso pode ser
para geladeiras residenciais e comerciais.
Projeto
A pesquisa,
coordenada por Simões, durou oito meses e teve a parceria do aluno de graduação
Lucas Zuzarte. Segundo os pesquisadores, o invento pode, em teoria, ser
utilizado em todos os refrigeradores do país, número estimado em 50 milhões
pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
Nos testes em
laboratório, feitos com uma geladeira comercial de 565 litros e um tanque de 25
litros de água acoplado ao sistema, a temperatura final da água chegou a 55ºC,
com aumento médio de 5ºC por hora. Quanto mais o equipamento é utilizado, mais
rápido e intenso é o aquecimento. "Se formos levar em conta o custo para
aquecimento dessa quantidade de água por mês, a economia seria de
aproximadamente R$ 35 ao mês", disse.
Consumo
Outra vantagem do
sistema é que ele melhora o desempenho da geladeira e diminui o consumo de
energia elétrica. Nos testes, o coeficiente de performance do refrigerador, que
mensura sua eficiência energética, aumentou mais de 13%. Já o consumo de
energia do compressor caiu entre 7% e 18%.
"Além de
garantir água quente, a instalação do equipamento melhora o desempenho da
geladeira. Além disso, ele pode diminuir o consumo de ar-condicionado, já que o
calor que iria para o ambiente e aumentaria a temperatura do local onde a
geladeira está", garante.
Potência
Simões pondera que o
processo é mais eficiente em refrigeradores comerciais por causa da potência
dos aparelhos. "Creio que para restaurantes, lojas de conveniência de
postos combustíveis e outros pontos comerciais do gênero será uma inovação
muito bem-vinda, porque pode otimizar a economia de energia de fato, mas em
residências sua aplicação também é viabilizada."
Além disso, o
sistema tem como vantagem ser fácil e barato de instalar. "Pode ser
facilmente instalado por qualquer técnico de refrigeração", diz. Trata-se,
basicamente, de um tanque, que no caso dos testes foi feito em aço inox, mas
pode ser confeccionado com material mais barato, alguns tubos de cobre e de
PVC.
Mercado
Simões acredita que,
como a patente já foi concedida e as pesquisas demonstraram todo o potencial de
aplicação do sistema, é possível que a inovação chegue efetivamente ao mercado
em alguns meses. Segundo ele, a indústria levaria menos de três meses para
fazer as adaptações necessárias e o desenvolvimento final do produto.
"Em princípio,
a ideia é apresentar o sistema aos fabricantes de geladeiras, que teriam
condições de oferecê-lo como opcional na compra do aparelho", conta.
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