Luiz Fernando Rocha
lrocha@hojeemdia.com.br
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Um dia, e pode ser que esse dia nunca
chegue, o Supremo Tribunal Federal (STF) vai julgar se os denunciados no
escândalo do Petrolão tiveram culpa no cartório. Infelizmente, o STF não deve
julgar os principais culpados, que são muitos. Os ocupantes de cadeiras no
Congresso Nacional, nesta legislatura e nas anteriores, passam seus dias
ocupados em costurar negociatas políticas cercadas de nuances obscuras e afastadas
dos interesses da população que os elegeu. Mesmo aqueles (supostamente) mais
bem intencionados são omissos e coniventes. O mesmo se pode dizer do poder
Executivo. Governam preocupados unicamente em manter o ambiente político
favorável a seus projetos pessoais e partidários de poder e se esquecem de
investir em controle e fiscalização das próprias trincheiras. Mas crimes assim
não estão nas Leis que eles próprios criam e sancionam.
O resultado desse caldeirão de
fisiologismo irresponsável, que se tornou a relação entre poderes no Brasil é
uma enorme instabilidade institucional, uma relação tão frágil quanto a
confiança que o povo tem nos representantes que elege. As coisas só andam no
ritmo do quanto se dá ou se pede em troca.
No país do voto obrigatório, quem se
sente obrigado a votar raramente se obriga a acompanhar o resultado de seu
voto. Sofre diretamente as consequências, mas quase nunca se dá conta disso. Se
pensarmos na formação “moral e cívica” que tivemos ao longo das últimas décadas
fica mais fácil entender. Nossa geração aprendeu a ouvir o hino nacional como
imposição dos governos militares. Em contrapartida, por susto, bala ou vício,
negligenciávamos nossa própria cidadania. As informações não circulavam,
direitos civis eram luxo e tudo o que se lia nos jornais tinha carimbo
verde-oliva. A conta do prejuízo provocado por essa equação nefasta não tem
data para ser quitada.
Uma pontinha de esperança se acende
quando as redes sociais fazem seu papel e ampliam o debate de um lado e do
outro. Ainda que os argumentos à direita e à esquerda ainda pareçam tão
carentes de bom senso e verdade quanto há 40 anos, pelo menos estão postos à
mesa, pautando o debate nacional e metendo medo em quem tem o que temer. Uma
presidente do Partido dos Trabalhadores que não fala aos trabalhadores de sua
nação no dia dos trabalhadores é um sintoma e um efeito.
O panelaço anteontem, durante a
propaganda obrigatória em rede nacional do partido da presidente foi tratado
por uns como “manifestação espontânea de indignados” e, por outros, como
“manifestação orquestrada de inconformados”. Para uns foi “coisa do povo”. Para
outros, foi “protesto em panelas de luxo do alto das varandas gourmet da zona
Sul”. Para uns “choro de perdedor” e para outros, um “basta”. Seja o que for, foi
ensurdecedor.
Certo ou errado, justo ou forçado,
bairros inteiros ficaram longos minutos sob o som repetido de panelas, apitos,
fogos, buzinas, gritos, alarmes e assovios. Se eu fosse político, estaria
assustado, envergonhado e preocupado. Não sei se a maioria que –
democraticamente – deu poder a quem tem poder se sente hoje conformada com a
infindável sequência de escândalos e denúncias que assolam o país. Mas vejo que
há um sentimento muito concreto e consistente de indignação que, enfim, parece
estar ultrapassando as janelas de nossas casas.
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