sábado, 4 de abril de 2015

POLÍCIA FEDERAL BUSCA AUTONOMIA



Polícia Federal usa Lava Jato para buscar autonomia

Na trilha da Operação Lava Jato, delegados da Polícia Federal preparam ofensiva na Câmara dos Deputados para tentar aprovar a PEC da Autonomia - Proposta de Emenda à Constituição 412 que garante a independência administrativa da instituição e lhe confere poderes para elaborar o próprio orçamento.
Na segunda-feira passada, durante evento do Dia da Polícia Federal, órgão que completou 71 anos, o delegado Roberto Ciciliati Troncon Filho, superintendente regional da PF em São Paulo, disse que a instituição construiu "uma cultura dogmática de que deve agir da mesma maneira na investigação criminal, não importa quão humilde ou poderoso seja o investigado".
"A sociedade brasileira espera muito da Polícia Federal e a reconhece sobretudo pelos seus valores morais, especialmente em tempos de Operação Lava Jato", disse Troncon, em alusão à investigação sobre esquema de corrupção na Petrobras que aponta envolvimento de 53 políticos, pelo menos, entre deputados, senadores e até governadores.
Mobilização
Dois dias depois, dezenas de delegados de PF reuniram-se em almoço de Páscoa em São Paulo e ali deflagraram a estratégia para convencer os deputados a acolher a PEC da Autonomia.
"Precisamos nos mobilizar pelo apoio a mais autonomia da Polícia Federal, é disso que precisamos. A PEC 412 precisa do nosso apoio e do apoio de toda a sociedade", conclamou o delegado Edson Fábio Garutti Moreira, que integra a Delegacia de Combate a Ilícitos Financeiros (Delefin) da PF.
"A Polícia Federal existe não é para defender governante, não é para defender oposição, é para defender o Estado, para defender a sociedade e para defender o direito", disse Garutti.
"Essa é a nossa função. A PEC 412 é uma batalha a ser travada, que merece o nosso engajamento juntamente com o sindicato e com a associação. Chamamos a todos para que juntos batalhemos mais pela PEC 412."
Apresentação
A PEC da Autonomia foi apresentada em 2009, mas tornou-se refém do desinteresse de parlamentares e do governo todos esses anos. Agora, em meio à visibilidade que conquistou por causa do êxito das operações contra malfeitos na administração pública, a PF quer aproveitar o espaço para dar um ritmo acelerado ao projeto.
Os delegados acreditam que é este o momento para alcançar a antiga aspiração de não depender exclusivamente do Executivo. Eles trabalham com o cenário favorável à corporação para sensibilizar o Congresso.
A PEC 412 ganhou em março um relator na Comissão de Constituição e Justiça, deputado João Campos (PSDB-GO), delegado de Polícia Civil de profissão.
A autonomia é uma antiga aspiração dos delegados federais. Eles não pedem a desvinculação do Ministério da Justiça, nem pretendem pressionar a pasta, mas querem, a exemplo de outras instituições de Estado, a prerrogativa de definir sua meta financeira e projeção de despesas.
Dados da Associação Nacional dos Delegados da PF indicam que no ano em que a operação Lava Jato foi revelada, 2014, a PF reduziu tanto os investimentos (obras e aquisição de equipamentos) quanto as despesas totais.
Até 22 de dezembro, informa a entidade máxima dos delegados, a PF investiu R$ 137,1 milhões, cerca de R$ 51 milhões a menos do que em 2013. Já as despesas gerais, que incluem os salários de funcionário, por exemplo, somaram R$ 4,4 bilhões. Em 2013, os gastos foram de R$ 4,6 bilhões.
Fortalecimento
O texto da PEC 412 prevê que lei complementar vai organizar a PF e definir normas para a sua autonomia funcional e administrativa, além de incluir a iniciativa da própria corporação de elaborar proposta orçamentária nos limites da Lei de Diretrizes Orçamentárias.
"A PEC da Autonomia é fundamental para o fortalecimento da Polícia Federal", avalia a delegada Tania Fernanda Prado Pereira, vice-presidente do Sindicato dos Delegados em São Paulo.
"O órgão não dispõe de nenhum programa específico para o combate à corrupção. No modelo atual, a PF vê seu orçamento ser diminuído tanto pelo Ministério da Justiça, como pelo Ministério do Planejamento e pelo Ministério da Fazenda, cujas prioridades são outras, antes que o projeto chegue ao Congresso. Depois que o orçamento é aprovado pelo Congresso, sofre mais contingenciamento pelo Poder Executivo."
Tania destaca que com a PEC, "a PF poderá propor seu orçamento, conforme suas necessidades e prioridades, e o Congresso, por sua área econômica, decidirá o que é possível ser aprovado, conforme a Lei de Diretrizes Orçamentárias e a Lei Orçamentária Anual."
"Atualmente, a Polícia Federal é um mero departamento dentro do Ministério da Justiça e com um status menor que o das agências reguladoras, o do Banco Central e da Defensoria Pública da União", ela ressalta. "A autonomia financeira é fundamental para que a PF não sofra com frequentes cortes e contingenciamento de verbas." As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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