Polícia
Federal usa Lava Jato para buscar autonomia
Na trilha da
Operação Lava Jato, delegados da Polícia Federal preparam ofensiva na Câmara
dos Deputados para tentar aprovar a PEC da Autonomia - Proposta de Emenda à
Constituição 412 que garante a independência administrativa da instituição e
lhe confere poderes para elaborar o próprio orçamento.
Na segunda-feira
passada, durante evento do Dia da Polícia Federal, órgão que completou 71 anos,
o delegado Roberto Ciciliati Troncon Filho, superintendente regional da PF em
São Paulo, disse que a instituição construiu "uma cultura dogmática de que
deve agir da mesma maneira na investigação criminal, não importa quão humilde
ou poderoso seja o investigado".
"A sociedade
brasileira espera muito da Polícia Federal e a reconhece sobretudo pelos seus
valores morais, especialmente em tempos de Operação Lava Jato", disse
Troncon, em alusão à investigação sobre esquema de corrupção na Petrobras que
aponta envolvimento de 53 políticos, pelo menos, entre deputados, senadores e
até governadores.
Mobilização
Dois dias depois,
dezenas de delegados de PF reuniram-se em almoço de Páscoa em São Paulo e ali
deflagraram a estratégia para convencer os deputados a acolher a PEC da
Autonomia.
"Precisamos nos
mobilizar pelo apoio a mais autonomia da Polícia Federal, é disso que
precisamos. A PEC 412 precisa do nosso apoio e do apoio de toda a
sociedade", conclamou o delegado Edson Fábio Garutti Moreira, que integra
a Delegacia de Combate a Ilícitos Financeiros (Delefin) da PF.
"A Polícia
Federal existe não é para defender governante, não é para defender oposição, é
para defender o Estado, para defender a sociedade e para defender o
direito", disse Garutti.
"Essa é a nossa
função. A PEC 412 é uma batalha a ser travada, que merece o nosso engajamento
juntamente com o sindicato e com a associação. Chamamos a todos para que juntos
batalhemos mais pela PEC 412."
Apresentação
A PEC da Autonomia
foi apresentada em 2009, mas tornou-se refém do desinteresse de parlamentares e
do governo todos esses anos. Agora, em meio à visibilidade que conquistou por
causa do êxito das operações contra malfeitos na administração pública, a PF
quer aproveitar o espaço para dar um ritmo acelerado ao projeto.
Os delegados acreditam
que é este o momento para alcançar a antiga aspiração de não depender
exclusivamente do Executivo. Eles trabalham com o cenário favorável à
corporação para sensibilizar o Congresso.
A PEC 412 ganhou em
março um relator na Comissão de Constituição e Justiça, deputado João Campos
(PSDB-GO), delegado de Polícia Civil de profissão.
A autonomia é uma
antiga aspiração dos delegados federais. Eles não pedem a desvinculação do
Ministério da Justiça, nem pretendem pressionar a pasta, mas querem, a exemplo
de outras instituições de Estado, a prerrogativa de definir sua meta financeira
e projeção de despesas.
Dados da Associação
Nacional dos Delegados da PF indicam que no ano em que a operação Lava Jato foi
revelada, 2014, a PF reduziu tanto os investimentos (obras e aquisição de
equipamentos) quanto as despesas totais.
Até 22 de dezembro,
informa a entidade máxima dos delegados, a PF investiu R$ 137,1 milhões, cerca
de R$ 51 milhões a menos do que em 2013. Já as despesas gerais, que incluem os
salários de funcionário, por exemplo, somaram R$ 4,4 bilhões. Em 2013, os
gastos foram de R$ 4,6 bilhões.
Fortalecimento
O texto da PEC 412
prevê que lei complementar vai organizar a PF e definir normas para a sua
autonomia funcional e administrativa, além de incluir a iniciativa da própria
corporação de elaborar proposta orçamentária nos limites da Lei de Diretrizes
Orçamentárias.
"A PEC da
Autonomia é fundamental para o fortalecimento da Polícia Federal", avalia
a delegada Tania Fernanda Prado Pereira, vice-presidente do Sindicato dos
Delegados em São Paulo.
"O órgão não
dispõe de nenhum programa específico para o combate à corrupção. No modelo
atual, a PF vê seu orçamento ser diminuído tanto pelo Ministério da Justiça,
como pelo Ministério do Planejamento e pelo Ministério da Fazenda, cujas
prioridades são outras, antes que o projeto chegue ao Congresso. Depois que o
orçamento é aprovado pelo Congresso, sofre mais contingenciamento pelo Poder
Executivo."
Tania destaca que
com a PEC, "a PF poderá propor seu orçamento, conforme suas necessidades e
prioridades, e o Congresso, por sua área econômica, decidirá o que é possível
ser aprovado, conforme a Lei de Diretrizes Orçamentárias e a Lei Orçamentária
Anual."
"Atualmente, a
Polícia Federal é um mero departamento dentro do Ministério da Justiça e com um
status menor que o das agências reguladoras, o do Banco Central e da Defensoria
Pública da União", ela ressalta. "A autonomia financeira é
fundamental para que a PF não sofra com frequentes cortes e contingenciamento de
verbas." As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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