Lava Jato pode tirar R$ 87 bilhões da economia do país neste ano, aponta
estudo
Sob o impacto da
operação Lava Jato, da Polícia Federal, o Produto Interno Bruto (PIB)
brasileiro pode "encolher" R$ 87 bilhões este ano, ao custo de 1
milhão de empregos. É o que aponta estudo elaborado pelo Grupo de Economia da
Infraestrutura & Soluções Ambientais da Fundação Getúlio Vargas e pelo
Centro de Estudos de Direito Econômico e Social (Cedes).
O trabalho considera
os efeitos da retração de gastos da Petrobrás sobre toda a cadeia de
fornecedores. Partindo de uma estimativa de redução de R$ 27,5 bilhões nos
investimentos da petroleira este ano, foram calculadas as perdas na produção,
nos empregos, nos salários e na geração de impostos.
Com as demissões
previstas, o pagamento de salários deverá encolher R$ 13,6 bilhões, com efeitos
negativos sobre o consumo de produtos, serviços e até produtos agrícolas. Além
disso, os cofres públicos de União, Estados e municípios deverão amargar uma
redução da ordem de R$ 5,7 bilhões em ingressos este ano.
O impacto mais forte
é visto nas grandes construtoras, que também são alvo dos investigadores que
apuram suspeitas de corrupção, desvio de recursos e lavagem de dinheiro. Só
nesse setor, a contribuição para o PIB deverá cair R$ 10 bilhões, com corte de
192 mil vagas, redução de R$ 1,7 bilhão nos salários pagos e recolhimentos
tributários R$ 652 milhões menores.
"Não é que não
deva haver punição", disse ao jornal O Estado de S.Paulo o coordenador do
grupo, Gesner Oliveira, que também é sócio da consultoria GO Associados.
"Se há cartel, ele deve ser punido, mas é preciso evitar custos além do
necessário." Ele se refere a consequências já sentidas no dia a dia das
empresas como, por exemplo, a retração do crédito. Os bancos, que deram
empréstimos volumosos à estatal do petróleo e também às grandes construtoras por
ela contratadas, agora tornaram-se mais exigentes na hora de conceder novos
empréstimos. Os efeitos da Lava Jato sobre o sistema financeiro vêm sendo
acompanhado com atenção pelo Banco Central.
Os empréstimos
tornaram-se mais difíceis mesmo para empresas e pessoas físicas que não têm
nenhuma relação com o escândalo. É isso que Gesner aponta como um custo
excessivo. Outro problema é o prejuízo à reputação de grupos econômicos
inteiros, que atuam em diversos setores e não só nos negócios investigados.
As construtoras têm
sentido mais diretamente os efeitos da retração do crédito e dos cortes nos
investimentos de uma cliente gigante, que é a Petrobrás. "Estima-se uma
queda de 5% para a indústria da construção", comentou. "Pode-se dizer
que o setor está em queda livre." Pior ainda, esse quadro se estabelece
num momento delicado para a economia brasileira, que enfrenta um risco de
retração. Do ponto de vista do governo, o ideal seria contar com investimentos,
sobretudo do setor privado para reaquecer a atividade econômica.
Cartel das
construtoras
Ex-presidente do
Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), órgão que tem entre suas
atribuições punir cartéis, Gesner avalia que a Lava Jato carece de mais estudos
técnicos. "Não é razoável ignorar o fato que há um monopsônio e que a
dinâmica de relacionamento entre as empresas tem de ser analisada em maior
profundidade." Ele se refere à Petrobrás e ao fato de ela, dado o tamanho
de seu orçamento, ter enorme poder de barganha com seus fornecedores. Numa
situação assim, ele acha questionável se um suposto cartel de construtoras
conseguiria impor seus preços à estatal.
Mais ainda porque
esse suposto cartel escapa ao figurino clássico dos arranjos para evitar a
concorrência. Num modelo clássico, há homogeneidade de produtos (o que não se
aplica aos serviços prestados pelas construtoras à Petrobrás) e geralmente os
fornecedores são poucos, o que facilita combinações prévias.
Porém, a própria
estatal listou 23 empresas suspeitas de participar do suposto cartel. "É
possível, sim, que o cartel tenha ocorrido", afirmou. "Mas essa é uma
história que tem de ser mais bem estudada." As consequências econômicas da
Lava Jato serão tema de um seminário que o Grupo de Economia da Infraestrutura
& Soluções Ambientais e o Cedes promovem na próxima segunda-feira, na
Fundação Getúlio Vargas. O evento contará com a participação de um especialista
internacional, Mark Warner, sócio fundador do escritório Maaw Law, que atua em
Ontário, Nova York e Bruxelas.
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