quarta-feira, 30 de agosto de 2023

POR QUESTÕES POLÍTICAS A MUDANÇA NA META NÃO INTERESSA AO GOVERNO QUE INSISTE EM MANTER O DÉFICIT ZERO

 

Meta fiscal cumpre função importante na estratégia da equipe econômica de aprovar novas medidas de arrecadação

Por Silvio Cascione – Jornal Estadão

A mudança na meta fiscal não interessa neste momento ao governo. Mesmo em meio à descrença de políticos e empresários, o objetivo de zerar o déficit primário em 2024 provavelmente será mantido pelo resto do ano. Afinal, ele cumpre uma função importante na estratégia da equipe econômica de convencer o Congresso a aprovar novas medidas de arrecadação.

O aumento de impostos é a única maneira de fechar as contas, dado o crescimento dos gastos incorporado no novo arcabouço fiscal. Nesta semana, a equipe econômica enviou novas propostas para taxação de fundos offshore e fundos exclusivos, usados por investidores de altíssima renda. Novas regras para o pagamento de acionistas via juro sobre capital próprio (JCP) também devem ser encaminhadas em breve. Todas elas precisam de aprovação do Congresso.

Fernando Haddad tem insistido em manter a meta de zerar o déficit em 2024, apesar dos recados de que será difícil manter a promessa de pé.
Fernando Haddad tem insistido em manter a meta de zerar o déficit em 2024, apesar dos recados de que será difícil manter a promessa de pé. Foto: Wilton Junior/Estadão

Uma das frases mais batidas de Brasília é a de que o Congresso não aceita aumento de impostos. É uma meia-verdade; dependendo da proposta, políticos podem, sim, cobrar mais de setores específicos, desde que o aumento – ou o fim de um benefício – possa ser descrito como a solução para uma injustiça. Do ponto de vista eleitoral, um aumento de imposto pode ser justificado dessa forma. Todas as propostas encaminhadas pelo governo estão sendo enquadradas dessa maneira.

Mas, mesmo com um marketing mais inteligente, as resistências ainda serão grandes. Aumentar impostos não chega a ser impossível, mas certamente é difícil. E é por isso que a meta fiscal ambiciosa é importante para a equipe econômica. Ela impõe um dilema ao Congresso: sem mais receitas, os gastos terão que ser cortados. Isso não afeta apenas os planos de Lula e do PT, mas também os gastos de todos os ministérios sob controle dos outros partidos. Aliviar a meta reduziria sim o risco de corte ou contingenciamento de gastos; mas, em contrapartida, reduziria a urgência pela aprovação de aumento de receitas.

Há, por fim, mais um motivo para a insistência: o efeito que uma mudança teria sobre toda a economia. Alterar a meta neste momento, ainda no inicio da implementação do novo regime fiscal, seria o mesmo que jogar a toalha antes mesmo de tentar. Isso teria um impacto sobre as expectativas do mercado sobre a capacidade de controle da dívida, podendo aumentar o nível de risco e reduzindo o apetite por investimentos. Mudar a meta no ano que vem, depois de ter feito um esforço real pelo equilíbrio orçamentário, poderia ser diferente. Até mesmo a magnitude da mudança pode ser melhor calibrada.

Haddad, portanto, tende a insistir em zerar o déficit em 2024. Apesar do fogo amigo.

Ministros acham déficit zero irreal e vão propor a Haddad meta entre 0,5% e 0,75% do PIB para 2024

Nova queda de braço no governo opõe Costa, Tebet e Dweck, que pressionam o titular da Fazenda a mudar de ideia

Por Vera Rosa – Jornal Estadão

Há uma nova queda de braço no governo, que terá de ser arbitrada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, como a reforma ministerial. Os ministros Rui Costa (Casa Civil), Esther Dweck (Gestão) e Simone Tebet (Planejamento) decidiram apoiar um déficit primário entre 0,5% e 0,75% do Produto Interno Bruto (PIB) para o governo central (Tesouro, Previdência e BC), em 2024, e levarão a ideia para a reunião da Junta Orçamentária, ainda nesta terça-feira, 29.

A proposta pode provocar o descumprimento da regra aprovada recentemente pelo Congresso. Motivo: o arcabouço que substituiu o teto de gastos prevê justamente déficit primário zero no ano que vem, mas essa equação depende do aumento da arrecadação federal em pelo menos R$ 130 bilhões.

Haddad é contra aumentar o déficit primário
Haddad é contra aumentar o déficit primário  Foto: André Borges/EFE

Os três ministros vão se reunir com o titular da Fazenda, Fernando Haddad, ainda nesta terça-feira, 29, e tentar convencê-lo a apoiar déficit maior por considerarem irreal a meta fixada. Tebet, por exemplo, já havia dito que era preciso algo mais ambicioso.

Não vai ser, porém, uma batalha fácil. Até agora, Haddad tem se mostrado contrário à ideia de flexibilizar a regra para aumentar os gastos em 2024, um ano eleitoral.

Sabe-se, porém, que quem vai decidir a nova disputa é mesmo Lula. O governo envia a proposta de Orçamento de 2024 ao Congresso nesta quinta-feira, 31. Na prática, economistas já vinham dizendo que será muito difícil conseguir zerar o déficit no ano que vem, principalmente às vésperas das corridas municipais.

A DEMANDA POR PETRÓLEO BATEU RECORDE EM JUNHO E O MUNDO FERVE COMO NUNCA

 

O mundo ferve como nunca antes. Recordes de temperaturas vão para o espaço na Europa, Ásia, Antártica, e mesmo América do Sul. A água dos oceanos nunca esteve tão quente, do mesmo modo, o gelo marinho da Antártica encolheu em 2023 a ponto de preocupar cientistas. Para não falar nos incêndios e inundações mundo afora. Enquanto isso, o único ator internacional lúcido parece ser o isolado secretário-geral da ONU que se esmera na escolha de frases que possam acordar os demais. A última de António Guterres foi: ‘A era da fervura global começou’. Simultaneamente, a demanda por petróleo bateu recorde em junho. Alguma coisa deve estar errada.

Extração de petróleo.
Imagem, www.aa.com.tr.

Demanda atinge recorde histórico

Financial Times, ícone do jornalismo internacional, comentou: ‘Agência Internacional de Energia disse que a demanda atingiu um recorde histórico de 103 milhões de barris por dia em junho. Ela foi impulsionada pelo crescimento econômico melhor do que o esperado nos países da OCDE, incremento nas viagens aéreas no verão e aumento do consumo de petróleo na China, principalmente para a produção petroquímica.’

‘Os dados mostram que os esforços globais para reduzir as emissões de carbono ainda não interromperam completamente o aumento da demanda por petróleo, mesmo com temperaturas recordes e incêndios florestais, simultaneamente com graves inundações, atingindo o mundo.’

‘A AIE disse que a demanda pode atingir outro pico neste mês e está a caminho de uma média de 102,2 milhões de barris por dia em 2023. Se acontecer, será o nível anual mais alto de todos os tempos. Isso significa que a demanda terá aumentado 2,2 milhões de barris por dia ao longo do ano, com 70% do crescimento vindo da China.’

Le Monde também repercutiu a novidade. Para o jornal francês, ‘A pausa da Covid-19 definitivamente acabou. A pandemia fez com que o consumo caísse em 2020, antes de se recuperar em 2021 em 2022.

O jornal ouviu um perito em aquecimento, Antoine Eyl-Mazzega, diretor do Centro de Energia e Clima do Instituto Francês de Relações Internacionais (IFRI). Para ele, “Esta espiral ascendente na demanda mostra a impressionante inércia do sistema. Ainda estamos na era dos hidrocarbonetos.”

Aquecimento global, uma luta inglória

Como os historiadores do futuro analisarão esta época doida e incoerente que vivemos?  Taí algo que gostaria de saber. Enquanto isso, ganham os países produtores de petróleo. Inclusive o Brasil.

Segundo matéria de Luiz Guilherme Gerbelli, em O Estado de S. Paulo (13/08/2023), ‘No ano passado, as exportações de óleos brutos de petróleo alcançaram US$ 42,5 bilhões – um valor recorde – e representaram 12,7% de tudo o que o Brasil negociou para o exterior. Foi o segundo principal item vendido pelo País, atrás somente da soja (US$ 46,5 bilhões).’

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Gerbelli ouviu Adriano Pires, diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE): “Eu diria que o setor de petróleo é um dos que mais vão contribuir daqui para frente para o saldo da balança comercial brasileira.”

Bom para o País, entrada de divisas é sempre positiva para investimentos mas, e o aquecimento do planeta, como fica com este aumento de consumo?

Perguntamos ao oráculo Google, como o mundo ficaria com este aumento de consumo. O www.chathamhouse.org respondeu: ‘O histórico Acordo de Paris deu origem a um consenso internacional para manter o aquecimento global bem abaixo de 2°C acima dos níveis pré-industriais, enquanto busca esforços para limitar o aumento da temperatura a 1,5°C.

‘Contudo, o lançamento do relatório de síntese AR6 do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) esta semana expõe em termos nítidos o quão perto o mundo está de atingir a meta de 1,5°C, o que isso significa para a sociedade e o que ainda pode ser feito para evitá-lo.’

‘O aquecimento acima de 1,5°C será desastroso para mais de 3 bilhões de pessoas que vivem em lugares altamente vulneráveis às mudanças climáticas. Entretanto, isso não quer dizer que limitar o aquecimento a 1,5°C não seja mais possível.’

Ainda é possível permanecer abaixo de 1,5ºC

‘O relatório do IPCC destaca que muitas das tecnologias necessárias para permanecer abaixo de 1,5°C existem e, em muitos casos, são mais baratas do que o uso de combustíveis fósseis. O que falta é vontade política, que até agora não foi suficiente para permitir uma descarbonização profunda e transformadora.’

Perguntamos, então, ao oráculo do século 21: Como seria o mundo com mais 2,5ºC? Encontramos uma resposta da revista Economist, considerando uma temperatura de 3ºC maior. É de arrepiar. Toda a matéria tem apenas um parágrafo, que segue abaixo, e uma animação que mostra os resultados.

‘Aumento de 3°C nas temperaturas globais acima dos níveis pré-industriais até 2100 seria desastroso. Seus efeitos seriam sentidos de forma diferente em todo o mundo, mas nenhum lugar seria imune. Ondas de calor prolongadas, secas e eventos climáticos extremos podem se tornar cada vez mais comuns e severos. O preocupante é que o progresso lento dos governos no corte de emissões torna esse cenário desconfortavelmente plausível. Este filme mostra como seria esse mundo.’

E, então, você acha que alguma coisa está errada?

Para aonde vão os preços do petróleo após novo acordo da Opep?

Foto Notícia

O saldo da reunião da Organização dos Países Exportadores de Petróleo e aliados (Opep ), deste domingo (4/6), reforça a percepção, entre analistas do mercado, de que os preços do barril podem interromper, no segundo semestre, a trajetória de desvalorização desta primeira metade do ano — influenciada, em parte, pelos sinais de desaceleração da economia global.

A expectativa é de que o petróleo seguirá próximo aos US$ 80 o barril, ou até acima desse patamar, caso não ocorram grandes choques globais — como foram a pandemia e a invasão russa à Ucrânia, nos últimos anos. Em 2023, a média da cotação, até o momento, é de US$ 80.

Nesta segunda (5/6), após o anúncio da decisão da Opep, o barril do tipo Brent subiu 0,76%, a US$ 76,7 o barril. O chefe da Agência Internacional de Energia (IEA, na sigla em inglês), Fatih Birol, disse que a chance de preços mais altos aumentou acentuadamente.

Em 2023, a commodity acumula uma desvalorização de 10,8% até agora. No mercado de derivados, a tempestade perfeita passou e as margens do refino voltaram às tendências de longo prazo, de acordo com a Wood Mackenzie.

A Opep, no entanto, tem demonstrado que buscará manter o preço do barril num patamar próximo aos US$ 80. Déficits no suprimento global podem ajudar a pressionar os preços.

A cotação da commodity, no segundo semestre, será ditada por dois principais fatores:

os temores sobre uma recessão econômica global

e os esforços da Opep em manter preços confortáveis para seus membros

Por aqui, embora a Petrobras tenha anunciado o fim do alinhamento do preço de paridade de importação (PPI), a companhia não pretende desvincular seus preços domésticos do comportamento do mercado global.

Entenda, a seguir, como a oferta e demanda podem pressionar os preços do petróleo nos próximos meses:

Oferta

No começo de abril, a Opep anunciou uma redução voluntária da produção de seus principais membros, de 1,66 milhão de barris/dia até o fim de 2023.

Na reunião deste domingo, o corte foi estendido até dezembro de 2024. E a Arábia Saudita anunciou um corte unilateral adicional de 1 milhão de barris/dia em julho.

O movimento da Opep amplia as pressões para aumentos de preços nas próximas semanas, acredita a Rystad Energy. A possibilidade de extensão do corte saudita para além de julho dificulta a queda nos preços nos próximos meses, na visão da consultoria.

Para o Goldman Sachs, antes de a Opep se posicionar, já havia sinais de que o déficit no suprimento mundial de petróleo poderia se aprofundar no segundo semestre, diante da possibilidade de quedas no suprimento de países como Venezuela, Rússia e Irã.

Depois da reunião da Opep, o banco reforçou a visão de que é ainda mais improvável uma queda nos preços na segunda metade do ano.

O Goldman Sachs aponta que o baixo investimento no aumento do suprimento global de petróleo para além da Opep tem feito o grupo ter maior poder de ditar os rumos dos preços do barril.

Fora do cartel, o crescimento da oferta global este ano deve vir, sobretudo, dos Estados Unidos, Noruega, Canadá e Brasil. Esse suprimento deve atender principalmente às regiões que aderiram às sanções contra a Rússia, como Europa e EUA.

“A Europa achou alternativa ao óleo russo e a América Latina teve um papel importante nesse processo. Daqui pra frente, esse cenário deve continuar, mas precisamos ficar atentos aos custos de frete e à mudança na ?´dieta?´ [tipo de petróleo processado] das refinarias”, apontou a gerente de comércio de petróleo bruto da Repsol Trading, Mónica Martínez, em evento no Rio de Janeiro em maio.

Demanda

A possibilidade de uma recessão econômica é um dos fatores que ajuda a puxar os preços para baixo. As incertezas sobre a economia global penalizaram os preços do barril nas últimas semanas.

A Rystad aponta, entretanto, que as menores cotações em maio também refletiram fatores sazonais, como a manutenção das refinarias e a redução do consumo das famílias antes das férias de verão no Hemisfério Norte, período de alta demanda por combustíveis líquidos.

“Sinais fracos de demanda agora não significam necessariamente preços menores durante a temporada de alto consumo”, disse a consultoria em relatório divulgado este mês.

O cenário se torna ainda mais incerto, pois a forte relação entre o Produto Interno Bruto (PIB) global e a demanda de petróleo teve uma dissociação depois da pandemia, devido a questões como mudanças nos hábitos de consumo, segundo a Rystad. Com isso, fica mais difícil prever os impactos de uma eventual crise sobre os preços.

Apesar dos temores de uma possível recessão econômica global — o que levaria à queda da demanda por petróleo bruto e a uma consequente redução nos preços — o Goldman aponta que o consumo segue em linha com as expectativas.

Por enquanto, segundo o banco, a possibilidade de desaceleração da economia é sentida sobretudo na demanda petroquímica, enquanto o consumo de combustíveis de aviação e gasolina tem crescido, ainda no embalo da reabertura pós-covid e dos altos níveis de emprego globais.

A recuperação chinesa com a reabertura da economia pós-pandemia é outro ponto de atenção. O consumo de petróleo no segundo semestre vai ser puxado principalmente pela China e Índia, dizem especialistas.

“Mas nunca foi tão difícil prever o crescimento da demanda chinesa”, disse o economista sênior do Departamento de Energia dos Estados Unidos, Sean Hill, que participou de uma conferência da Argus no Rio.

Segundo Adhemar Mineiro, pesquisador do Instituto de Estudos Estratégicos de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (Ineep), outros fatores que geram incertezas sobre o consumo de petróleo no mundo são os impactos do aumento das taxas de juros nos EUA e Europa, assim como um possível aprofundamento da crise financeira.

Mineiro lembra ainda que mudanças no cenário geopolítico podem mudar os patamares dos preços do petróleo este ano, como ocorreu com a guerra da Ucrânia em fevereiro de 2022.

“Isso não está descartado. O cenário internacional não é tranquilo, pode haver surpresas”, afirmou.

Fonte: Agência epbr

O QUE SUDUZIU ZANIN E TANTOS OUTROS A ACEITAR O CONVITE PARA SER MINISTRO DO STF

Laura Gandra Laudares Fonseca e Guilherme Gandra Martins – Advogados

Imagine você, caro leitor, que estivesse estudando para ser bacharel em Direito e, mesmo em um mercado bastante competitivo e saturado e com mais de um milhão de profissionais registrados no País, consegue se formar, se tornar qualificado, ganhar notoriedade e construir um renomado escritório, tornando-se um dos maiores especialistas em crimes financeiros do Brasil. No desenvolvimento da carreira, ganha influência e notabilidade, conquistando prosperidade financeira. Diante desse cenário, faria sentido aceitar um emprego em que o salário é consideravelmente menor?

O panorama serve para explicar o percurso de Cristiano Zanin, advogado que tomou posse no Supremo Tribunal Federal. O questionamento foi levantado pelo jornalista Alexandre Garcia e merece reflexão. Quais são os benefícios que um advogado milionário, com honorários altíssimos, enxerga em um cargo no qual a remuneração será extremamente aquém daquilo que está acostumado a receber? O objetivo desta reflexão é entender o que seduziu Zanin e tantos outros a aceitar o convite para ser ministro no STF.

É evidente que se apresentar como guardião da Constituição, por si só, já é algo sedutor, mas o questionamento precisa permear o seguinte ponto: o que o texto constitucional carrega em sua forma para ampliar este atrativo? No âmbito da teoria da Constituição, vários juristas conceituam o tema, como Celso Ribeiro Bastos, que trouxe à tona diferentes conceitos da Lei Maior e citou que a Constituição trata da “composição de uma estrutura que define os direitos fundamentais dos cidadãos, instituindo a maneira pela qual as coisas devem ser, e não descrever a real maneira de ser das coisas”.

Por outro lado, há também o sentido material de Constituição, referente às normas constitutivas da sociedade, ou seja, trata-se de um texto que contém as forças de diferentes cunhos necessárias para informar as leis inferiores e instituições jurídicas que irão organizar o desenho do Estado. Esses aspectos, tradicionalmente, estão contidos na Constituição formal. Ocorre, no entanto, que nem sempre o conteúdo desta corresponde ao daquela. No caso brasileiro, a Constituição Republicana excede os aspectos organizativos usualmente abordados neste tipo de documento, descendo aos pormenores das relações jurídicas e da organização estatal. Observa-se uma concentração desmedida de poderes e competências na mão dos representantes dessa Corte.

Observamos uma hipertrofia do poder do STF. Esse fenômeno, constatado por estudiosos e analistas, possui reflexos práticos, como o crescente movimento de judicialização da política. Nossa Constituição, em seu Artigo 102, elencou as atribuições do STF, classificando-o como seu principal intérprete. A ideia de um poder independente é tão latente que aos seus componentes é concedido um mandato vitalício, visando a afastar seus representantes das pressões populares. Mas isso não pode ser confundido com a ideia de um STF livre para atropelar a letra constitucional, muitas vezes, sob o disfarce de uma “função iluminista”. Seu caráter técnico deve ser preservado.

A cada vaga que surge no STF, o candidato indicado enfrenta dois questionamentos: o primeiro, referente ao caráter político que muitas vezes permeia sua seleção; o segundo, quanto ao seu notório saber jurídico. No entanto, perde-se de vista uma leitura mais ampla do fato concreto. A análise deveria focar não na competência do indicado, mas sim em um problema sistêmico em nossa Corte. Diante de tal hipertrofia, não seria caso de se questionar se haveria, em nossa República, ser humano capaz de lidar com tamanho poder?

 

A BARBIE ILUSTRA A COMPLEXIDADE DO REPOSICIONAMENTO DA MARCA E SUPERAÇÃO DE OBSTÁCULOS

 

Patricia Artoni, professora da FIA Business School

O caso da Barbie ilustra a complexidade do reposicionamento de marca, que envolve superar obstáculos internos e externos e mudança na cultura organizacional

A marca Barbie trilha sua jornada há mais de 60 anos, repleta de tentativas, acertos e erros, na busca contínua por posicionar a marca e mantê-la ocupando um lugar diferenciado na mente do público e consumidores.

Sua presença global é inegável, sempre sendo impulsionada a se adaptar às mudanças de mercado e capturar a atenção de novos públicos. O filme recém-lançado sobre a boneca Barbie, comercializada pela Mattel, traz à tona a discussão sobre as dores e sabores do processo de reposicionamento que a marca tem feito para se manter relevante.

Sob o ponto de vista mercadológico, entre outros aspectos, a jornada da Barbie ilustra os dilemas do reposicionamento de marca. No filme, vemos que a transformação da Barbie é um testemunho dos percalços de uma marca na busca por rejuvenescer e continuar a conquistar gerações de consumidores.

Através da análise do desconforto humano, da ampliação da diversidade étnica, da inclusão de diferentes tipos de corpo e da exploração de novas carreiras, a Barbie se humaniza e consegue, a sua medida, se conectar a um público mais amplo, que se sentiu mais representado e valorizado.

Observa-se que na busca por exploração de novos mercados, a Mattel alcançou novos segmentos de mercado, com acertos e erros, no intuito de construir uma imagem mais contemporânea e inclusiva. A mudança de tom não acontece de maneira aleatória, a marca se viu pressionada a ouvir os desejos dos consumidores, seus elogios e reclamações, e de seu corpo diretivo, por meio de da pressão por resultados ascendentes.

Quando há o reposicionamento de marca, aceita-se o risco de alienar os consumidores mais antigos e leais à marca. Aqueles que tinham uma ligação emocional com a Barbie original normalmente sentem resistência diante das mudanças drásticas.

A decisão envolve investimento significativo em pesquisa, desenvolvimento de produtos e marketing. Há sempre uma incerteza associada a essa abordagem, pois o retorno sobre o investimento nem sempre é garantido, especialmente a curto prazo.

O caso da Barbie ilustra a complexidade do reposicionamento de marca. Implementar com sucesso um reposicionamento de marca envolve superar obstáculos internos e externos. Mudanças na cultura organizacional, na produção e na distribuição podem ser complexas e exigir um alto nível de coordenação.

A transformação traz uma série de benefícios, mas o sucesso desse processo de reposicionamento está intrinsecamente ligado à capacidade da empresa de compreender profundamente o mercado, ouvir o feedback dos consumidores e planejar cuidadosamente cada etapa.

A evolução da Barbie da Mattel serve como um lembrete de que, embora os riscos sejam reais, a capacidade de uma marca se adaptar e se renovar pode resultar em benefícios, criando um vínculo mais forte e autêntico com os consumidores, que são, afinal, a base de qualquer marca de sucesso.

Por que você está ignorando a ferramenta de vendas mais poderosa do mundo?

Guilherme Dias – Diretor de Comunicação e Marketing da Associação Comercial, Empresarial e Industrial de Ponta Grossa (ACIPG)

Eu vejo todos os dias o anunciante separando seus R$ 10.000,00 pra fazer uma campanha no rádio, R$ 3.000,00 para sair em uma revista local, pelo menos R$ 9.000,00 para fazer uns 3 pontos de mídia exterior, mas na hora de tirar o escorpião do bolso pra comprar mídia online, qualquer “milão” é “caro demais”.

Eu sinceramente não sei de onde veio este mito de que fazer anúncios na internet merece menos atenção financeira do que outros meios. A lógica deveria ser justamente a inversa.

Nenhum outro tipo de mídia retém tanta atenção do público comprador como na internet.

O Brasil é o terceiro país do mundo onde as pessoas mais ficam conectadas, passando mais de 10 horas por dia online (DEZ HORAS POR DIA!).

Ficamos atrás apenas de África do Sul e Filipinas.

Qual outra mídia prende a atenção das pessoas por DEZ HORAS?

Qual outra mídia pode colocar sua marca literalmente na mão do seu cliente ideal?

Qual outra mídia pode colocar sua marca na mão do seu cliente no EXATO momento que ele está propenso a fazer uma compra?

Qual outra mídia pode rastrear, seguir o seu cliente de acordo com os hábitos de consumo dele?

Qual outra mídia pode segmentar um anúncio de acordo com os interesses, medos, desejos, ações, intenções…

Qual outra mídia pode oferecer um contato com seu cliente ideal 24 horas por dia, 7 dias por semana?

Absolutamente nenhuma além da internet.

E agora, me conta…qual o motivo da internet receber menos investimento comparado à mídia tradicional?

Marketing Digital é barato, mas não é de graça.

Vamos fazer uma conta de padaria:

Quanto custa imprimir 1.000 flyers (folhetos) e distribuir no sinal?

Papel couchè brilho 90g 4×4 cores, em gráfica de internet (qualidade bem meia boca), com frete sai em torno de R$ 250,00.

Para a distribuição, você não vai encontrar quem faça por menos de R$ 70 a diária.

Você não tem a garantia de entrega. Já ví muito “panfleteiro” jogando metade do material no bueiro, ou entregando 2 de uma vez só em cada carro. Mas vamos tirar essa margem da conta.

Estamos falando de R$ 320 para 1 mil impactos.

Hoje estava otimizando uma campanha de Instagram, da minha conta pessoal, e o meu CPM (custo por mil impressões) estava girando em torno de R$ 5,51.

Ou seja cerca de 1,72% do valor de uma ação de rua com flyer.

Essa lógica pode ser aplicada a qualquer meio de comunicação tradicional, seja rádio, tv, outdoor, busdoor…

E a conta também deve ser levada em consideração além dos anúncios de Google, LinekedIN, Facebook, Instagram e TikTok.

Banners em portais e publieditoriais, este último ainda pouco explorado por pequenos e médios anunciantes, também apresentam números disparados na frente do marketing tradicional.

Então, quando você se perguntar se está tendo ou não resultados com mídia online, pense nessa continha.

Marketing digital, em comparação, é barato sim, mas será que você deveria deixar a menor faixa de verba do seu orçamento de marketing para o meio de vendas MAIS PODEROSO QUE EXISTE?

Deixo a reflexão.

Preferências de Publicidade e Propaganda

Moysés Peruhype Carlech – Fábio Maciel – Mercado Pago

Você empresário, quando pensa e necessita de fazer algum anúncio para divulgar a sua empresa, um produto ou fazer uma promoção, qual ou quais veículos de propaganda você tem preferência?

Na minha região do Vale do Aço, percebo que a grande preferência das empresas para as suas propagandas é preferencialmente o rádio e outros meios como outdoors, jornais e revistas de pouca procura.

Vantagens da Propaganda no Rádio Offline

Em tempos de internet é normal se perguntar se propaganda em rádio funciona, mas por mais curioso que isso possa parecer para você, essa ainda é uma ferramenta de publicidade eficaz para alguns públicos.

É claro que não se escuta rádio como há alguns anos atrás, mas ainda existe sim um grande público fiel a esse setor. Se o seu serviço ou produto tiver como alvo essas pessoas, fazer uma propaganda em rádio funciona bem demais!

De nada adianta fazer um comercial e esperar que no dia seguinte suas vendas tripliquem. Você precisa ter um objetivo bem definido e entender que este é um processo de médio e longo prazo. Ou seja, você precisará entrar na mente das pessoas de forma positiva para, depois sim, concretizar suas vendas.

Desvantagens da Propaganda no Rádio Offline

Ao contrário da televisão, não há elementos visuais no rádio, o que costuma ser considerado uma das maiores desvantagens da propaganda no rádio. Frequentemente, os rádios também são usados ​​como ruído de fundo, e os ouvintes nem sempre prestam atenção aos anúncios. Eles também podem mudar de estação quando houver anúncios. Além disso, o ouvinte geralmente não consegue voltar a um anúncio de rádio e ouvi-lo quando quiser. Certos intervalos de tempo também são mais eficazes ao usar publicidade de rádio, mas normalmente há um número limitado,

A propaganda na rádio pode variar muito de rádio para rádio e cidade para cidade. Na minha cidade de Ipatinga por exemplo uma campanha de marketing que dure o mês todo pode custar em média 3-4 mil reais por mês.

Vantagens da Propaganda Online

Em pleno século XXI, em que a maioria dos usuários tem perfis nas mídias sociais e a maior parte das pessoas está conectada 24 horas por dia pelos smartphones, ainda existem empresários que não investem em mídia digital.

Quando comparada às mídias tradicionais, a propaganda online é claramente mais em conta. Na internet, é possível anunciar com pouco dinheiro. Além disso, com a segmentação mais eficaz, o seu retorno é mais alto, o que faz com que o investimento por conversão saia ainda mais barato.

Diferentemente da mídia tradicional, no online, é possível modificar uma campanha a qualquer momento. Se você quiser trocar seu anúncio em uma data festiva, basta entrar na plataforma e realizar a mudança, voltando para o original quando for conveniente.

Outra vantagem da propaganda online é poder acompanhar em tempo real tudo o que acontece com o seu anúncio. Desde o momento em que a campanha é colocada no ar, já é possível ver o número de cliques, de visualizações e de comentários que a ela recebeu.

A mídia online possibilita que o seu consumidor se engaje com o material postado. Diferentemente da mídia tradicional, em que não é possível acompanhar as reações do público, com a internet, você pode ver se a sua mensagem está agradando ou não a sua audiência.

Outra possibilidade é a comunicação de via dupla. Um anúncio publicado em um jornal, por exemplo, apenas envia a mensagem, não permitindo uma maior interação entre cliente e marca. Já no meio digital, você consegue conversar com o consumidor, saber os rastros que ele deixa e responder em tempo real, criando uma proximidade com a empresa.

Com as vantagens da propaganda online, você pode expandir ainda mais o seu negócio. É possível anunciar para qualquer pessoa onde quer que ela esteja, não precisando se ater apenas à sua cidade.

Uma das principais vantagens da publicidade online, é que a mesma permite-lhe mostrar os seus anúncios às pessoas que provavelmente estão interessadas nos seus produtos ou serviços, e excluir aquelas que não estão.

Além de tudo, é possível monitorizar se essas pessoas clicaram ou não nos seus anúncios, e quais as respostas aos mesmos.

A publicidade online oferece-lhe também a oportunidade de alcançar potenciais clientes à medida que estes utilizam vários dispositivos: computadores, portáteis, tablets e smartphones.

Vantagens do Marketplace Valeon

Uma das maiores vantagens do marketplace é a redução dos gastos com publicidade e marketing. Afinal, a plataforma oferece um espaço para as marcas exporem seus produtos e receberem acessos.

Justamente por reunir uma vasta gama de produtos de diferentes segmentos, o marketplace Valeon atrai uma grande diversidade e volume de público. Isso proporciona ao lojista um aumento de visibilidade e novos consumidores que ainda não conhecem a marca e acabam tendo um primeiro contato por meio dessa vitrine virtual. 

Tem grande variedade de ofertas também e faz com que os clientes queiram passar mais tempo no site e, inclusive, voltem com frequência pela grande diversidade de produtos e pela familiaridade com o ambiente. Afinal de contas, é muito mais prático e cômodo centralizar suas compras em uma só plataforma, do que efetuar diversos pedidos diferentes.

Inserir seus anúncios em um marketplace como o da Valeon significa abrir um novo “ponto de vendas”, além do e-commerce, que a maioria das pessoas frequenta com a intenção de comprar. Assim, angariar sua presença no principal marketplace Valeon do Vale do Aço amplia as chances de atrair um público interessado nos seus produtos. Em suma, proporciona ao lojista o crescimento do negócio como um todo.

Quando o assunto é e-commerce, os marketplaces são algumas das plataformas mais importantes. Eles funcionam como um verdadeiro shopping center virtual, atraindo os consumidores para comprar produtos dos mais diversos segmentos no mesmo ambiente. Por outro lado, também possibilitam que pequenos lojistas encontrem uma plataforma, semelhante a uma vitrine, para oferecer seus produtos e serviços, já contando com diversas ferramentas. Não é à toa que eles representaram 78% do faturamento no e-commerce brasileiro em 2020. 

Vender em marketplace como a da Valeon traz diversas vantagens que são extremamente importantes para quem busca desenvolver seu e-commerce e escalar suas vendas pela internet, pois através do nosso apoio, é possível expandir seu ticket médio e aumentar a visibilidade da sua marca.

VOCÊ CONHECE A ValeOn?

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terça-feira, 29 de agosto de 2023

E LULA E SUAS JOIAS PRESENTEADAS NO EXTERIOR

 

TCU examinou itens

História por AFP Brasil 

Com investigações em curso sobre supostos desvios de joias por parte do ex-mandatário Jair Bolsonaro (PL), uma entrevista na qual o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) fala que deixou a Presidência com 11 contêineres de presentes foi compartilhada mais de 90 mil vezes nas redes sociais em agosto de 2023 fora de contexto. A declaração em questão foi dada meses antes de um acórdão do Tribunal de Contas da União (TCU) fixar uma interpretação mais rígida sobre o acervo presidencial. Após a decisão, Lula devolveu os objetos e pagou por oito que não foram localizados.

“Será que quem reclama das joias do Bolsonaro vai reclamar dos 11 contêineres do Lula?”, questiona um vídeo compartilhado no Facebook. Conteúdo semelhante circula no Instagram, no TikTok, no Kwai, no YouTube e no X (antigo Twitter).

Captura de tela feita em 28 de agosto de 2023 de uma publicação no Facebook© Fornecido por AFP Fact Check

O conteúdo circula em meio a suspeitas de que pessoas do entorno de Jair Bolsonaro teriam agido para vender joias e outros presentes recebidos de países estrangeiros.

No vídeo viralizado, Lula é visto segurando um microfone e dizendo: “Você sabe o que é que é alguém sair da Presidência com 11 contêineres de acervo sem ter onde pôr? Você sabe o que é sair com cadeira, com trono, com papel, com tudo o que você possa imaginar? Porque se somar todos os presidentes da história desse país, desde Floriano Peixoto, eu fui o que mais ganhei presente. Porque viajei mais, porque trabalhei mais, porque viajei o mundo, eu tenho até trono da África. O que é que eu faço com isso?”.

O trecho, porém, circula sem o devido contexto. A entrevista de Lula foi realizada meses antes de o TCU estabelecer uma interpretação diferente do entendimento até então vigente para o acervo presidencial. 

Já no caso de Bolsonaro, a suspeita é de que os presentes recebidos pelo ex-mandatário tenham sido propositalmente omitidos dos órgãos públicos e vendidos para seu enriquecimento ilícito.

Entrevista de março de 2016

Buscas reversas por fragmentos do vídeo localizaram a entrevista original de Lula, concedida em 4 de março de 2016 após a 24ª fase da Operação Lava Jato.

A data, no caso, é relevante porque somente em agosto de 2016 — meses depois da entrevista de Lula — o Tribunal de Contas da União determinou a incorporação de todos os documentos e presentes recebidos pelos presidentes da República ao patrimônio da União. As exceções restringiam-se a itens “de natureza personalíssima ou de consumo próprio”. A decisão pode ser vista no Acórdão 2255/2016.

Até essa decisão, presentes recebidos por presidentes da República eram regidos, sobretudo, pelo Decreto nº 4.344/2002 — que, por sua vez, era uma regulamentação da legislação original sobre o tema, a Lei 8.394/1991.

Entretanto, o inciso II do decreto nº 4.344/2022 permitia a interpretação de que somente “documentos bibliográficos e museológicos recebidos em cerimônias de troca de presentes, nas audiências com chefes de Estado e de Governo por ocasião das ‘Visitas Oficiais’ ou ‘Viagens de Estado’ do presidente da República ao exterior” seriam patrimônio da União. Ou seja, bens recebidos fora de cerimônias de “trocas de presentes” poderiam ser considerados parte do acervo pessoal do chefe de Estado, de acordo com o entendimento vigente até então.

Foi esse ponto que o acórdão do TCU, em 2016, considerou uma “interpretação equivocada.

Nesse mesmo acórdão, o TCU determinava que, no prazo de 120 dias, fosse identificada a localização de 568 presentes recebidos por Lula de chefes de Estado ou Governo, em audiências no exterior ou em solo nacional.

11 contêineres e auditoria do TCU

Uma pesquisa no Google pelas palavras-chave “Lula 11 contêineres” trouxe como resultado uma matéria do veículo Poder360, que afirma: “O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) recebeu 9.037 itens nos seus primeiros 2 mandatos (2003-2010). Tudo foi retirado em 11 contêineres”.

O Instituto Lula, cuja equipe organiza e mantém o acervo presidencial do mandatário, afirma em seu site que o acervo do petista é composto por 9.039 objetos “como esculturas, medalhas, camisetas, bonés, quadros, honrarias, entre outros”

Além desses bens, compõem o acervo, segundo o instituto, mais de nove mil livros, mais de 400 mil correspondências, e mais de 12 mil itens audiovisuais, como fotos e álbuns.

O AFP Checamos entrou em contato com a assessoria de imprensa do Instituto Lula em 23 de agosto de 2023, que afirmou que o TCU teve acesso à lista completa de presentes recebidos por Lula e, destes, selecionou os 568 presentes mencionados inicialmente no acórdão. O TCU confirmou essa informação à AFP.

Após a determinação do TCU, em 2019, a Secretaria de Administração da Presidência da República informou ao Tribunal que havia instituído uma comissão especial para atender à decisão, e que, após uma análise da Diretoria de Documentação Histórica (DDH) do Gabinete Pessoal do Presidente da República, concluiu-se que o número final de bens de Lula a serem incorporados no acervo público da União era de 434, não de 568.

Nessa mesma resposta, a Secretaria indicou, desse total de 434 itens, a localização de 360 bens. Restava, portanto, localizar 74 itens.

“Posteriormente, o Ofício 2512/2019/SA/SG/SG/PR informa que, quanto ao presidente Lula, restaram apenas 8 bens a serem localizados, cujo valor alcança R$ 11.748,40”, indicou ao AFP Checamos a assessoria de imprensa do TCU em 15 de agosto de 2023.

Ainda segundo o Tribunal, esse valor total dos oito bens não localizados dispensa a instauração da chamada Tomada de Contas Especial (TCE), uma medida de exceção que tem como objetivo apurar se o investigado é responsável por dano à administração pública.

Dado que a TCE não era necessária, em 2020, o TCU considerou cumprida a determinação que inicialmente havia sido feita em 2016, de localização dos 568 presentes de Lula. 

Ainda segundo a resposta enviada pela equipe do TCU à AFP, Lula teria pago o valor dos itens não localizados em dez parcelas de R$ 1.174,84 — totalizando o valor de R$ 11.748,40 dos itens — de acordo com o informado no Ofício 358/2021/SA/SG/SG/PR. O AFP Checamos não teve acesso ao documento citado pelo tribunal.

O TCU também resumiu quais seriam os oito itens finais não localizados:

  1. Cuia e bomba para tomar chimarrão trabalhadas em prata e bronze;
  2. Peça com grupo de músicos (adultos e crianças) ao redor de uma mesa de madeira;
  3. Quadro (14,4×19,3 cm) tipo porta-retratos, emoldurando selo em ouro, com rosto de homem;
  4. Duas esculturas em madeira, em forma de pássaro (39×18 cm e 41×16 cm);
  5. Cartaz (84,5×56 cm) com fotografia impressa do Santo Sudário; 
  6. Garrafa (21 cm) para licor, em cristal, com tampa e gargalo em prata;
  7. Espada (112 cm) com punho e bainha confeccionados em madeira escura, e ornada com peças metálicas;
  8. Escultura (14x13x4 cm) confeccionada em bronze, fixada em base retangular representando mulher segurando buquê de flores vermelhas, apoiada em uma bicicleta.

Este conteúdo também foi verificado por Aos FatosUOL Confere e Projeto Comprova.

Referências

LULA AJUDA FINANCEIRAMENTE CANDIDATO GOVERNISTA DA ARGENTINA

 

História por RFI – Márcio Resende

Candidato governista à Presidência da Argentina recebe ajuda financeira do Brasil e apoio de Lula© MARIANA NEDELCU / REUTERS

O ministro da Economia da Argentina e candidato governista à Presidência, Sergio Massa, foi recebido nesta segunda-feira (28) em Brasília pelo próprio presidente Lula, que anunciou o financiamento às exportações brasileiras à Argentina, com garantia em yuans chineses. O crédito é crucial para a indústria argentina não parar na reta final da campanha eleitoral. A presença do argentino ao lado de Lula visa diferenciar Massa de Javier Milei, o candidato da extrema direita argentina, aliado de Jair Bolsonaro.

O ministro da Economia e candidato do Peronismo à Presidência, Sergio Massa, viajou na noite deste domingo a Brasília. Nesta segunda-feira, ele procurou capitalizar para a sua campanha eleitoral as ajudas do governo Lula.

O objetivo é que a Argentina se torne membro do Brics e, desta forma, o BNDES financie a construção do gasoduto argentino que levará gás ao Brasil . Outra meta é que o governo ofereça uma linha de crédito às exportações brasileiras à Argentina, cruciais para a economia vizinha não parar, apesar da escassez de dólares no Banco Central argentino.

“Sergio Massa precisa que a economia não colapse nesta reta final porque a sua candidatura depende da sua gestão. O candidato Massa depende do ministro Massa. A ajuda de Lula permite esse objetivo e também na prática, exibir ares de presidente com projeção internacional”, disse à RFI o analista político Sergio Berensztein.

Numa reunião com o chanceler brasileiro, Mauro Vieira, Sergio Massa agradeceu pela gestão do Brasil para que a Argentina se torne membro do bloco formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul (Brics).

O avanço do financiamento ao gasoduto e a nova linha de crédito do Banco do Brasil aos exportadores brasileiros serão tratados com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad. Os três assuntos foram anunciados pelo presidente Lula ao lado de Sergio Massa após reunião às 17h30 no Palácio do Planalto.

Para a reunião com o presidente Lula, a delegação argentina deveria ser liderada pelo presidente argentino, Alberto Fernández, atualmente um ex-presidente em exercício com poderes transferidos a Sergio Massa, protagonista do governo.

Espelho político brasileiro na Argentina

A foto com Lula é a que Massa procura em plena campanha eleitoral durante a qual, até as eleições de 22 de outubro, o ministro-candidato pretende polarizar com o candidato ultra liberal, Javier Milei, aliado de Bolsonaro.

“Lula pode ser um líder que gere consenso e simpatia no eleitorado governista, mas no restante do eleitorado não tem impacto e até pode ser um tiro pela culatra. Este Lula III, para os olhos do Ocidente, é diferente daquele que muitos esperavam. Tem questionado o papel dos Estados Unidos na guerra na Ucrânia e tem-se aproximado da China”, aponta Berensztein.

Ao contrário de Lula e em sintonia com a campanha de Bolsonaro em 2018, o libertário Milei já avisou que a sua política externa consistirá “num alinhamento total com os Estados Unidos e com Israel”, a ponto, inclusive, de transferir a Embaixada argentina em Tel Aviv a Jerusalém.

Milei também rejeita a entrada da Argentina no Brics porque “não faz acordos com comunistas”, incluindo nessa lista o próprio presidente Lula, motivo pelo qual também pretende romper com o Mercosul.

Vídeo relacionado: Candidato de Fernández tem reunião com Lula e Haddad sobre adesão da Argentina ao Brics (Dailymotion)

Massa pretende traçar esse paralelismo, ficando do lado de Lula, numa advertência implícita ao eleitorado argentino sobre como termina esse discurso disruptivo extremista.

“Se rompermos com o Mercosul e com a China, a primeira coisa que devemos saber é que vamos romper com os nossos dois mercados mais importantes”, advertiu Sergio Massa, na quinta-feira (24) diante de 150 empresários, reunidos pelo Conselho das Américas em Buenos Aires.

A candidata da centro-direita, Patricia Bullrich, tem no Brasil o seu principal aliado, mas também rejeita a entrada da Argentina no BRICS por ter o bloco uma maioria de países sob regime autoritário, por ter a invasora Rússia sob comando de Vladimir Putin e, principalmente, pela entrada do Irã, acusado pelo Supremo Tribunal argentina de ser o autor intelectual de dois atentados terroristas em Buenos Aires, em 1992 e 1994.

Crédito brasileiro com garantia em moeda chinesa

O ponto mais urgente da viagem é a possibilidade de o Brasil continuar a exportar à Argentina sem que o Banco Central argentino, com reservas negativas, precise desembolsar dólares. Vários setores da economia argentina começam a parar por falta de componentes importados, necessários para o produto final na Argentina. É o caso da indústria automotiva argentina, dependente das autopeças brasileiras para a terminação de automóveis.

“Sergio Massa quer aliviar o efeito da falta de dólares na atividade econômica argentina porque há muitos setores, sobretudo o automotivo, que têm limitado as suas importações, freando fortemente a economia”, indica Berensztein.

O governo brasileiro vai abrir uma linha de crédito de até 700 milhões de reais através do Programa de Financiamento às Exportações (Proex) aos exportadores brasileiros que venderem à Argentina. O crédito terá como garantia os yuans de uma linha de crédito “swap” entre Argentina e China, disponíveis no Banco Central argentino. O crédito é um financiamento da China para que a Argentina compre os produtos chineses.

Os recursos serão convertidos de yuans a reais através do Banco do Brasil, que manterá a custódia do montante das operações e executará a garantia em caso de inadimplência por parte do importador argentino.

Atualmente, os importadores argentinos mantêm uma dívida superior a US$ 20 bilhões com exportadores estrangeiros sem que o Banco Central argentino libere esse dinheiro por absoluta falta de dólares. Cerca de 210 empresas exportadoras brasileiras têm tido atrasos superiores a 180 dias para receber os pagamentos.

Para o presidente Lula, a criatividade financeira desse crédito está em sintonia com o seu objetivo de substituir o dólar das transações comerciais entre terceiros países, optando por moedas locais. Para a China, é mais um passo para a internacionalização da sua moeda.

“É um procedimento para aliviar ainda mais o uso de reservas num momento no qual temos de cuidá-las”, indicou Sergio Massa, dias atrás quando o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, antecipou a proposta brasileira.

Interesse do Brasil pelo mercado argentino

Na quarta-feira passada (23), numa entrevista coletiva em Johanesburgo, à margem da reunião do Brics, Haddad revelou ter proposto uma linha de crédito à Argentina com garantia em yuans chineses.

Embora a Argentina seja o terceiro maior comprador da produção brasileira, atrás de China e Estados Unidos, o mercado argentino é o principal para as exportações brasileiras industrializadas, aquelas que mais empregos geram no Brasil.

Nos últimos tempos, justamente por não contar com um instrumento como a China, o Brasil perdeu parte do mercado argentino para os produtos chineses. A escassez de dólares no Banco Central argentino tem sido uma barreira para produtos importados na Argentina, com exceção dos chineses, financiados por esse crédito da China à Argentina.

No dia 2 de maio, o presidente Alberto Fernández viajou com Sergio Massa a Brasília com o objetivo de conseguir uma linha de crédito do BNDES, mas, diante da falta de uma garantia, o presidente argentino voltou com as mãos vazias.

No dia 4 de julho, durante a reunião de Cúpula do Mercosul, em Puerto Iguazú, Lula e Massa acertaram ter uma reunião em Brasília, quando fosse habilitado um mecanismo para financiar as exportações brasileiras à Argentina.

Gasoduto argentino ao Brasil

O ministro-candidato argentino também incluiu na agenda da reunião o financiamento do BNDES às exportações de bens e serviços brasileiros de um gasoduto entre a reserva patagônica de Vaca Muerta, a segunda maior jazida de gás de xisto e a quarta de petróleo não-convencional do mundo, até o Sul do Brasil. O gás argentino é suficiente para o Brasil substituir o da Bolívia cujas reservas têm caído anualmente.

O BNDES vai financiar os canos de aço para o gasoduto. Esses canos são produzidos no Brasil pela empresa argentina Techint.

O gasoduto também é uma forma de Sergio Massa capitalizar avanços concretos numa campanha que rema contra a corrente de uma economia em agonia, com uma inflação que em agosto deve superar os 12%, encerrando o ano acima de 150%.

SERVIDORES PÚBLICOS PAGAM MAIS IMPOSTO DE RENDA DO QUE OS MILIONÁRIOS

 

História por admin3 • IstoÉ Dinheiro

Votação: Qual porcentagem de alíquota efetiva de Imposto de Renda os milionários pagam no Brasil?

Beneficiados por brechas que permitem camuflar rendas pessoais como rendimentos empresariais, os milionários no Brasil pagam menos Imposto de Renda do que servidores públicos e outras categorias profissionais de renda média e alta. A conclusão consta de estudo inédito publicado pelo Sindicato Nacional dos Auditores-Fiscais da Receita Federal (Sindifisco Nacional).

Feito com base nos dados do Imposto de Renda Pessoa Física 2022 (ano-base 2021), o levantamento constatou que os contribuintes que declararam, em 2021, ganhos totais acima de 160 salários mínimos (R$ 176 mil por mês ou R$ 2,1 milhões anuais) pagaram, em média, 5,43% de alíquota efetiva de Imposto de Renda (IR). Formado por 89.168 pessoas, esse contingente responde por apenas 0,25% do total de 35.993.061 declarantes do Imposto de Renda Pessoa Física no ano passado.

Essa alíquota efetiva é inferior à de muitas categorias de profissionais. Médicos pagaram, em média, 9,42% de Imposto de Renda no ano passado. Os super-ricos também pagam menos que outras categorias, como professor de ensino médio (8,94%), policiais militares (8,87%) e enfermeiro (8,77%).

Entre os servidores públicos, a alíquota média para carreiras da administração pública direta correspondeu a 9,54%, subindo para os ocupantes de outros órgãos, que ganham mais, como servidores do Ministério Público (11,83%), membro do Poder Executivo (12,15%), servidor do Poder Judiciário (12,53%), carreiras de gestão governamental e analista (13,66%), servidor do Poder Legislativo (13,76%), servidor do Banco Central (14,48%), carreiras de auditoria-fiscal e fiscalização (14,73%) e advogados do serviço público (15,66%).

Desigualdades

A alíquota efetiva representa percentual da renda total que de fato foi paga como Imposto de Renda. Segundo o Sindifisco, a menor alíquota efetiva decorre principalmente de indivíduos cuja parcela significativa de renda é composta por lucros e dividendos de empresas, rendimento isento no Brasil desde 1996. O órgão também atribui as disparidades à falta de correção da tabela do Imposto de Renda, que ficou congelada entre 2015 e este ano, e à inflação, que corrói menos as rendas dos mais ricos.

“A participação relativa dos rendimentos isentos e não tributáveis, como lucros e dividendos, no total da renda declarada aumentou de 32% para 36%. O que demonstra que a regressividade do sistema tributário está se aprofundando, pois os super-ricos estão utilizando esses recursos como nunca, contribuindo ainda menos para a arrecadação federal”, afirma o presidente do Sindifisco Nacional, Isac Falcão.

Embora a classe média também tenha parte dos ganhos atrelada a rendimentos isentos, essa parcela é inferior à dos milionários. Na tabela atual, o Imposto de Renda é tributado na fonte, com alíquotas progressivas de até 27,5% para rendimentos acima de R$ 4.664,69 por mês. Mesmo com o aumento do limite de isenção da tabela do IR para R$ 2.380 por mês, sancionada nesta segunda-feira (28) pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, as demais faixas não foram corrigidas.

Outro fator que contribui para o menor pagamento de Imposto de Renda em algumas categorias é a chamada pejotização, em que profissionais liberais abrem empresas no próprio nome e recebem como pessoas jurídicas. Algumas categorias pagam alíquotas efetivas próximas ou inferiores à de super-ricos, como odontólogos (5,89%), cantor e compositor (5,34%) e advogados (5,24%).

Em 2021, segundo a Receita Federal, os contribuintes brasileiros receberam R$ 555,68 bilhões em lucros e dividendos, alta de quase 45% em relação a 2020 (R$ 384,27 bilhões) e de 46,5% na comparação com 2019 (R$ 379,26 bilhões). Para o Sindifisco Nacional, esse movimento se deve às expectativas dos agentes econômicos de um possível restabelecimento da tributação sobre lucros e dividendos na segunda fase da reforma tributária. Segundo a entidade, parte do empresariado antecipou a distribuição dos lucros para evitar uma provável taxação.

Distorções

Em relação aos contribuintes que ganham até 15 salários mínimos mensais, a alíquota efetiva média subiu entre a declaração de 2021 e de 2022. Acima desse rendimento, houve queda, exceto para os contribuintes que ganham mais de 320 salários mínimos, cuja alíquota efetiva passou de 5,25% para 5,43%.

Quem ganhava entre cinco e sete salários mínimos, por exemplo, pagou 5,98% de alíquota efetiva em 2022, mais que os milionários. Dois anos antes, a taxa média estava em 4,91% para a faixa de cinco a sete salários mínimos. Na faixa entre sete e dez salários mínimos, a alíquota efetiva passou de 7,7% para 8,67%.

Segundo o Sindifisco, a maior alíquota para as faixas de baixa e de média renda deve-se à falta de correção da tabela. Isso porque os reajustes anuais, mesmo que não compensem a inflação, fazem o trabalhador subir de faixa e pagar menos Imposto de Renda, mesmo sem a melhora do poder de compra.

Agência Brasil procurou o Ministério da Fazenda para obter uma resposta sobre o estudo, mas a pasta não se manifestou até o fechamento da matéria.

O post Milionários pagam menos Imposto de Renda que servidores públicos apareceu primeiro em ISTOÉ DINHEIRO.

RUSSIA COBIÇA OS RECURSOS NATURAIS DA UCRÂNIA

 

Guerra expõe cobiça russa por recursos naturais ucranianos

Byvaleon

Ago 29, 2023

História por Eugen Theise • DW Brasil

Além de potência agrícola, a Ucrânia abriga outras riquezas sob o seu solo. Área ocupada pelas tropas de Putin concentra, segundo estimativas, cerca de US$ 12 trilhões em minérios valiosos.

Quase 80% do carvão ucraniano é extraído das regiões de Donetsk e Lugansk, que foram anexadas pela Rússia em 2022; minério tem peso importante na matriz energética da Ucrânia.© Sputnik/dpa/picture alliance

Com mais de 60% de ferro em sua composição, o minério extraído de Dniprorudne na região de Zaporíjia, sul da Ucrânia, é cobiçado. Antes da guerra, as exportações dessa commodity rendiam ao país cerca de 200 milhões de euros a cada ano; a maior e melhor parte das 4,5 milhões de toneladas extraídas seguia para a Eslováquia, a República Tcheca e a Áustria. Além disso, aproximadamente um terço do ferro era processado em uma usina siderúrgica em Zaporíjia e exportado como aço.

As coisas, porém, mudaram desde o verão de 2022 no Hemisfério Norte: Dniprorudne, a cidade proletária localizada ao sul da (agora seca) barragem de Kakhovka, foi ocupada por tropas russas. Seu minério, de importância estratégica para o governo de Kiev, é enviado desde então a Moscou; na prática, os investidores das empresas que atuavam na região – ucranianos, eslovacos e tchecos – foram expropriados.

Sequestro de matéria-prima empobrece a Ucrânia

Segundo as autoridades aduaneiras da Ucrânia, as exportações de minério para a metalurgia em 2022 recuaram quase 60% em comparação com o ano anterior – totalizando, nos cálculos da consultoria GMK Center, menos de 3 bilhões de dólares.

O declínio se deve, em parte, à ocupação russa de áreas de mineração que totalizam cerca de 12 trilhões de dólares em recursos minerais, de acordo com estimativas do think tank canadense SecDev – além do minério de ferro, essas áreas concentram não só outros recursos importantes para a metalurgia – como carvão, titânio e manganês –, mas também – embora em menor proporção – ouro, gás natural, petróleo, caulim, sal, gesso, zircônio e urânio.

Usinas destruídas, matérias-primas caras, logística dificultada: Com a guerra, as exportações de aço da Ucrânia despencaram 80%.© Sasha Gusov/Axiom Photographic/Design Pics/picture alliance

Embora Kiev mantenha o controle sobre as usinas de processamento e a Bacia de Kryvyi Rih – o maior depósito de minério de ferro –, essas regiões são atacadas sistematicamente por tropas russas estacionadas no sudeste da Ucrânia.

“Acima de tudo, o cálculo político de Moscou é destruir o potencial econômico da Ucrânia – tanto faz se por meio da apropriação de recursos ou da destruição deles por bombardeio”, afirma Yaroslav Chalilo, economista do Instituto Nacional de Estudos Estratégicos de Kiev.

Segundo Chalilo, a escassez de recursos terá consequências dramáticas para a produção de aço ucraniana – enquanto em 2021 o país exportou quase 20 milhões de toneladas de produtos metalúrgicos, no primeiro semestre de 2023 esse número caiu para 2,5 milhões de toneladas. Tropas russas destruíram grandes siderúrgicas em Mariupol; a infraestrutura que ainda resta à Ucrânia luta para manter-se de pé.

Bloqueio russo dificulta acesso a matérias-primas

Até 80% do carvão ucraniano está em áreas na região leste do país ocupadas pela Rússia. O carvão antracito, particularmente valioso do ponto de vista energético, está totalmente sob controle russo e deixa a Ucrânia dependente de importações de países como os EUA ou a África do Sul.

Essas importações, porém, tornaram-se particularmente custosas já que o bloqueio russo no Mar Negro fez com que essas matérias-primas passassem a entrar pelos portos de países vizinhos, como Polônia ou Romênia, para só então serem entregues à Ucrânia pela via férrea. A exportação da indústria pesada ucraniana também enfrenta o mesmo problema, o que afeta a competitividade do setor.

“A Rússia quer drenar a Ucrânia economicamente e retratá-la em sua propaganda como um ‘estado fracassado’, que não consegue sobreviver sem a Rússia”, afirma Chalilo.

Abastecimento global ameaçado?

Para a cientista política Olivia Lazard, do think tank belga Carnegie Europe, o confisco de matérias-primas ucranianas é uma das principais motivações para a invasão russa.

Assegurar recursos estratégicos pela via da força, segundo a especialista, é um padrão da política russa. “Na África, com a ajuda dos mercenários do grupo Wagner, Moscou tem garantido há anos não só ouro e diamantes, mas também recursos necessários para a transformação verde, como lítio, cobalto e outros minerais raros.”

Em julho de 2021, poucos meses antes de a Rússia invadir a Ucrânia, a União Europeia havia firmado uma parceria estratégica com Kiev para o fornecimento de matérias-primas necessárias à “transformação verde” do bloco – segundo especialistas, dois terços dos 30 recursos naturais listados pela UE como críticos para atingir essa meta estão na Ucrânia.

Os riscos das mudanças climáticas, contudo, despertaram o interesse também de Moscou pelas riquezas ucranianas. “Dada a crescente escassez de recursos, a Rússia se vê cada vez mais como um ator-chave tanto no fornecimento de recursos energéticos quanto na segurança alimentar e no abastecimento de água. Estamos vendo agora, no caso da suspensão do acordo de grãos, como a questão da segurança global de abastecimento é transformada em refém das ambições russas por poder. Para a Rússia, todos os recursos são também um instrumento para desafiar a UE e a Otan”, avalia Lazard.

Lítio em disputa

Um dos minerais mais cobiçados mundialmente é o lítio, usado em baterias de celulares e automóveis. A Ucrânia atrai investidores estrangeiros com as “maiores reservas da Europa” – números concretos, no entanto, são aparentemente muito sensíveis para serem divulgados publicamente. “Isso é um segredo de estado, ninguém lhe dirá”, afirma Dmytro Kachtchuk, do Geological Investment Group, uma empresa ucraniana de consultoria no ramo de mineração.

Em países da América do Sul, como a Argentina (foto), a extração de lítio é um negócio mais rentável do que na Ucrânia; especialistas, porém, ressaltam valor estratégico da commodity.© AIZAR RALDES/AFP

A Rússia já sinalizou interesse em dois dos quatro depósitos conhecidos de lítio na Ucrânia. O depósito de Kruta Balka, na região de Zaporíjia, está sob controle russo desde a primavera europeia de 2022; já o de Shevchenkove, na região de Donetsk, está a poucos quilômetros do front de guerra – um investidor australiano que buscava uma licença de mineração ali, pouco antes da guerra, desistiu da empreitada.

“A mineração de lítio na Ucrânia provavelmente será mais cara do que na América do Sul ou em outras partes do mundo devido à geologia dos depósitos. Quando fatores adicionais de risco se somam a isso, a questão se torna duvidosa do ponto de vista econômico”, pondera Kachtchuk.

Autor: Eugen Theise

CUIDADOS DEPOIS DE UM TRANSPLANTE DE CORAÇÃO

 

Se paciente seguir corretamente o protocolo, tendência é recuperar totalmente a qualidade de vida

Por Thaís Manarini – Jornal Estadão

O apresentador Fausto Silva, de 73 anos, o Faustão, passou por um transplante cardíaco no domingo, 27. Ele estava internado desde o dia 5 de agosto no Hospital Israelita Albert Einstein (SP) em tratamento para insuficiência cardíaca. Segundo sua esposa, Luciana Cardoso, no dia 8 ele foi colocado na lista para receber um coração.

Em boletim divulgado hoje, o hospital diz que Faustão segue na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) sob sedação e respirando com auxílio de ventilação mecânica. “Seu estado clínico é estável e as funções do coração estão de acordo com o esperado para as primeiras 24 horas”, diz a nota.

De acordo com o cardiologista Alexandre Soeiro, coordenador do programa de Insuficiência Cardíaca do Hcor, o tempo médio dentro do hospital é de 30 dias, mas isso é muito variável e depende da existência de complicações no quadro do paciente.

Os maiores riscos do procedimento são rejeição do órgão ou infecções – e isso vale para o transplante de qualquer órgão. Para ambas as complicações, os médicos administram medicamentos que reduzem o risco desses quadros.

O que causa rejeição e infecções e como evitar esses problemas

A rejeição ocorre quando o sistema imunológico do paciente encara o novo órgão como algo estranho e passa a atacá-lo. Para evitar isso, são indicados remédios conhecidos como imunossupressores. Eles controlam essa ativação da imunidade.

Mas, ao mesmo tempo, como “baixam a guarda” do sistema de defesas do corpo, esses medicamentos deixam o paciente mais suscetível a infecções oportunistas. Por isso, é preciso encontrar um balanço ideal para desarmar a imunidade sem deixar o paciente vulnerável.

De acordo com o cardiologista Alexandre Soeiro, cardiologista e coordenador do programa de Insuficiência Cardíaca do Hcor, é importante seguir e monitorar o paciente de perto, com o apoio de exames, para ter a certeza de que não há nada errado.

Ainda de acordo com o médico, quanto mais próximo ao transplante, maior o risco de rejeição, mas isso pode acontecer mais para frente, caso houver alguma falha no uso da medicação. “O paciente deve tomar os imunossupressores pelo resto da vida”, aponta o médico.

Faustão realizou transplante cardíaco. Quando o paciente segue o protocolo de cuidados após esse tipo de procedimento, tendência é recuperar totalmente a qualidade de vida.
Faustão realizou transplante cardíaco. Quando o paciente segue o protocolo de cuidados após esse tipo de procedimento, tendência é recuperar totalmente a qualidade de vida. Foto: Reprodução de Vídeo/Instagram/@joaosilva

Cuidados extras

Soeiro comenta ainda que é preciso cuidar da ferida pós-operatória. Entre as orientações da Associação Brasileira de Transplante de Órgãos (ABTO) estão lavar a área com água corrente e sabonete neutro, secar com uma toalha limpa e passada – não pode ser a mesma usada para o resto do corpo.

Se houver sinais de ruptura dos pontos, vermelhidão, calor local, saída de secreção ou febre, é essencial buscar o apoio da equipe transplantadora.

A ABTO ainda recomenda que os pacientes evitem lugares públicos fechados como metrôs, ônibus, shoppings e cinemas durante, no mínimo, 30 dias após o transplante – ou até liberação médica.

Segundo o cardiologista do Hcor, a alimentação deve ser baseada em uma rotina pré-determinada. “Após a alta, a dieta vai seguir a orientação da equipe de nutrição, e existem limitações, principalmente com alimentos crus”, comenta. Nesse momento, também se inicia a reabilitação cardiopulmonar.

“O paciente precisa retornar frequentemente para consultas e realizar exames de rotina para rever o funcionamento cardíaco, além de avaliar infecções e possíveis efeitos colaterais da imunossupressão”, completa o médico.

A tendência é que, seguindo o protocolo de cuidados, e mantendo contato frequente com o cardiologista, o paciente recupere completamente a sua qualidade de vida.