O mundo ferve como nunca antes. Recordes de temperaturas vão para o espaço na Europa, Ásia, Antártica, e mesmo América do Sul. A água dos oceanos nunca esteve tão quente, do mesmo modo, o gelo marinho da Antártica encolheu em 2023 a ponto de preocupar cientistas. Para não falar nos incêndios e inundações mundo afora. Enquanto isso, o único ator internacional lúcido parece ser o isolado secretário-geral da ONU que se esmera na escolha de frases que possam acordar os demais. A última de António Guterres foi: ‘A era da fervura global começou’. Simultaneamente, a demanda por petróleo bateu recorde em junho. Alguma coisa deve estar errada.
Demanda atinge recorde histórico
O Financial Times, ícone do jornalismo internacional, comentou: ‘Agência Internacional de Energia disse que a demanda atingiu um recorde histórico de 103 milhões de barris por dia em junho. Ela foi impulsionada pelo crescimento econômico melhor do que o esperado nos países da OCDE, incremento nas viagens aéreas no verão e aumento do consumo de petróleo na China, principalmente para a produção petroquímica.’
‘Os dados mostram que os esforços globais para reduzir as emissões de carbono ainda não interromperam completamente o aumento da demanda por petróleo, mesmo com temperaturas recordes e incêndios florestais, simultaneamente com graves inundações, atingindo o mundo.’
‘A AIE disse que a demanda pode atingir outro pico neste mês e está a caminho de uma média de 102,2 milhões de barris por dia em 2023. Se acontecer, será o nível anual mais alto de todos os tempos. Isso significa que a demanda terá aumentado 2,2 milhões de barris por dia ao longo do ano, com 70% do crescimento vindo da China.’
O Le Monde também repercutiu a novidade. Para o jornal francês, ‘A pausa da Covid-19 definitivamente acabou. A pandemia fez com que o consumo caísse em 2020, antes de se recuperar em 2021 em 2022.
O jornal ouviu um perito em aquecimento, Antoine Eyl-Mazzega, diretor do Centro de Energia e Clima do Instituto Francês de Relações Internacionais (IFRI). Para ele, “Esta espiral ascendente na demanda mostra a impressionante inércia do sistema. Ainda estamos na era dos hidrocarbonetos.”
Aquecimento global, uma luta inglória
Como os historiadores do futuro analisarão esta época doida e incoerente que vivemos? Taí algo que gostaria de saber. Enquanto isso, ganham os países produtores de petróleo. Inclusive o Brasil.
Segundo matéria de Luiz Guilherme Gerbelli, em O Estado de S. Paulo (13/08/2023), ‘No ano passado, as exportações de óleos brutos de petróleo alcançaram US$ 42,5 bilhões – um valor recorde – e representaram 12,7% de tudo o que o Brasil negociou para o exterior. Foi o segundo principal item vendido pelo País, atrás somente da soja (US$ 46,5 bilhões).’
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Gerbelli ouviu Adriano Pires, diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE): “Eu diria que o setor de petróleo é um dos que mais vão contribuir daqui para frente para o saldo da balança comercial brasileira.”
Bom para o País, entrada de divisas é sempre positiva para investimentos mas, e o aquecimento do planeta, como fica com este aumento de consumo?
Perguntamos ao oráculo Google, como o mundo ficaria com este aumento de consumo. O www.chathamhouse.org respondeu: ‘O histórico Acordo de Paris deu origem a um consenso internacional para manter o aquecimento global bem abaixo de 2°C acima dos níveis pré-industriais, enquanto busca esforços para limitar o aumento da temperatura a 1,5°C.
‘Contudo, o lançamento do relatório de síntese AR6 do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) esta semana expõe em termos nítidos o quão perto o mundo está de atingir a meta de 1,5°C, o que isso significa para a sociedade e o que ainda pode ser feito para evitá-lo.’
‘O aquecimento acima de 1,5°C será desastroso para mais de 3 bilhões de pessoas que vivem em lugares altamente vulneráveis às mudanças climáticas. Entretanto, isso não quer dizer que limitar o aquecimento a 1,5°C não seja mais possível.’
Ainda é possível permanecer abaixo de 1,5ºC
‘O relatório do IPCC destaca que muitas das tecnologias necessárias para permanecer abaixo de 1,5°C existem e, em muitos casos, são mais baratas do que o uso de combustíveis fósseis. O que falta é vontade política, que até agora não foi suficiente para permitir uma descarbonização profunda e transformadora.’
Perguntamos, então, ao oráculo do século 21: Como seria o mundo com mais 2,5ºC? Encontramos uma resposta da revista Economist, considerando uma temperatura de 3ºC maior. É de arrepiar. Toda a matéria tem apenas um parágrafo, que segue abaixo, e uma animação que mostra os resultados.
‘Aumento de 3°C nas temperaturas globais acima dos níveis pré-industriais até 2100 seria desastroso. Seus efeitos seriam sentidos de forma diferente em todo o mundo, mas nenhum lugar seria imune. Ondas de calor prolongadas, secas e eventos climáticos extremos podem se tornar cada vez mais comuns e severos. O preocupante é que o progresso lento dos governos no corte de emissões torna esse cenário desconfortavelmente plausível. Este filme mostra como seria esse mundo.’
E, então, você acha que alguma coisa está errada?
Para aonde vão os preços do petróleo após novo acordo da Opep?
O saldo da reunião da Organização dos Países Exportadores de Petróleo
e aliados (Opep ), deste domingo (4/6), reforça a percepção, entre
analistas do mercado, de que os preços do barril podem interromper, no
segundo semestre, a trajetória de desvalorização desta primeira metade
do ano — influenciada, em parte, pelos sinais de desaceleração da
economia global.
A expectativa é de que o petróleo seguirá
próximo aos US$ 80 o barril, ou até acima desse patamar, caso não
ocorram grandes choques globais — como foram a pandemia e a invasão
russa à Ucrânia, nos últimos anos. Em 2023, a média da cotação, até o
momento, é de US$ 80.
Nesta segunda (5/6), após o anúncio da
decisão da Opep, o barril do tipo Brent subiu 0,76%, a US$ 76,7 o
barril. O chefe da Agência Internacional de Energia (IEA, na sigla em
inglês), Fatih Birol, disse que a chance de preços mais altos aumentou
acentuadamente.
Em 2023, a commodity acumula uma desvalorização
de 10,8% até agora. No mercado de derivados, a tempestade perfeita
passou e as margens do refino voltaram às tendências de longo prazo, de
acordo com a Wood Mackenzie.
A Opep, no entanto, tem demonstrado
que buscará manter o preço do barril num patamar próximo aos US$ 80.
Déficits no suprimento global podem ajudar a pressionar os preços.
A cotação da commodity, no segundo semestre, será ditada por dois principais fatores:
os temores sobre uma recessão econômica global
e os esforços da Opep em manter preços confortáveis para seus membros
Por
aqui, embora a Petrobras tenha anunciado o fim do alinhamento do preço
de paridade de importação (PPI), a companhia não pretende desvincular
seus preços domésticos do comportamento do mercado global.
Entenda, a seguir, como a oferta e demanda podem pressionar os preços do petróleo nos próximos meses:
Oferta
No
começo de abril, a Opep anunciou uma redução voluntária da produção de
seus principais membros, de 1,66 milhão de barris/dia até o fim de 2023.
Na
reunião deste domingo, o corte foi estendido até dezembro de 2024. E a
Arábia Saudita anunciou um corte unilateral adicional de 1 milhão de
barris/dia em julho.
O movimento da Opep amplia as pressões para
aumentos de preços nas próximas semanas, acredita a Rystad Energy. A
possibilidade de extensão do corte saudita para além de julho dificulta a
queda nos preços nos próximos meses, na visão da consultoria.
Para
o Goldman Sachs, antes de a Opep se posicionar, já havia sinais de que o
déficit no suprimento mundial de petróleo poderia se aprofundar no
segundo semestre, diante da possibilidade de quedas no suprimento de
países como Venezuela, Rússia e Irã.
Depois da reunião da Opep, o
banco reforçou a visão de que é ainda mais improvável uma queda nos
preços na segunda metade do ano.
O Goldman Sachs aponta que o
baixo investimento no aumento do suprimento global de petróleo para além
da Opep tem feito o grupo ter maior poder de ditar os rumos dos preços
do barril.
Fora do cartel, o crescimento da oferta global este
ano deve vir, sobretudo, dos Estados Unidos, Noruega, Canadá e Brasil.
Esse suprimento deve atender principalmente às regiões que aderiram às
sanções contra a Rússia, como Europa e EUA.
“A Europa achou
alternativa ao óleo russo e a América Latina teve um papel importante
nesse processo. Daqui pra frente, esse cenário deve continuar, mas
precisamos ficar atentos aos custos de frete e à mudança na ?´dieta?´
[tipo de petróleo processado] das refinarias”, apontou a gerente de
comércio de petróleo bruto da Repsol Trading, Mónica Martínez, em evento
no Rio de Janeiro em maio.
Demanda
A possibilidade de uma
recessão econômica é um dos fatores que ajuda a puxar os preços para
baixo. As incertezas sobre a economia global penalizaram os preços do
barril nas últimas semanas.
A Rystad aponta, entretanto, que as
menores cotações em maio também refletiram fatores sazonais, como a
manutenção das refinarias e a redução do consumo das famílias antes das
férias de verão no Hemisfério Norte, período de alta demanda por
combustíveis líquidos.
“Sinais fracos de demanda agora não
significam necessariamente preços menores durante a temporada de alto
consumo”, disse a consultoria em relatório divulgado este mês.
O
cenário se torna ainda mais incerto, pois a forte relação entre o
Produto Interno Bruto (PIB) global e a demanda de petróleo teve uma
dissociação depois da pandemia, devido a questões como mudanças nos
hábitos de consumo, segundo a Rystad. Com isso, fica mais difícil prever
os impactos de uma eventual crise sobre os preços.
Apesar dos
temores de uma possível recessão econômica global — o que levaria à
queda da demanda por petróleo bruto e a uma consequente redução nos
preços — o Goldman aponta que o consumo segue em linha com as
expectativas.
Por enquanto, segundo o banco, a possibilidade de
desaceleração da economia é sentida sobretudo na demanda petroquímica,
enquanto o consumo de combustíveis de aviação e gasolina tem crescido,
ainda no embalo da reabertura pós-covid e dos altos níveis de emprego
globais.
A recuperação chinesa com a reabertura da economia
pós-pandemia é outro ponto de atenção. O consumo de petróleo no segundo
semestre vai ser puxado principalmente pela China e Índia, dizem
especialistas.
“Mas nunca foi tão difícil prever o crescimento da
demanda chinesa”, disse o economista sênior do Departamento de Energia
dos Estados Unidos, Sean Hill, que participou de uma conferência da
Argus no Rio.
Segundo Adhemar Mineiro, pesquisador do Instituto
de Estudos Estratégicos de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis
(Ineep), outros fatores que geram incertezas sobre o consumo de petróleo
no mundo são os impactos do aumento das taxas de juros nos EUA e
Europa, assim como um possível aprofundamento da crise financeira.
Mineiro
lembra ainda que mudanças no cenário geopolítico podem mudar os
patamares dos preços do petróleo este ano, como ocorreu com a guerra da
Ucrânia em fevereiro de 2022.
“Isso não está descartado. O cenário internacional não é tranquilo, pode haver surpresas”, afirmou.
Fonte: Agência epbr
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