quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

A LOUCA DE ALBANO



Mais uma poesia que tem grande significado para mim, pois, com muita alegria consegui lembrar o nome e achá-la na internet, poesia esta que minha mãe, velha professora, declamava nas festas escolares e em solenidades públicas, há mais de 60 anos. Trata-se de “A LOUCA DE ALBANO”, de autoria desconhecida e que me emocionava e me emociona até hoje. Publico a mesma por se tratar de uma joia que deve ser lembrada por todos, apesar do tema não ser muito agradável.

"A Louca de Albano"


- Anda cá, meu filho, escuta: És amigo de sua mãe?
- Oh, minha mãe, que pergunta?
- Basta, meu Paulo, pois bem. Vai ver a velha Vicenza o amor que o filho lhe tem. Faz hoje 20 anos que teu pai morreu a golpe deste ferro, para meu mal e eu, a vir vingá-lo, fiz uma jura fatal...
- Uma jura? Mãe santíssima! Oh, minha mãe, o que jurou?
- Eu jurei por este sangue, que em ferrugem se tornou, que tu Paulo matarias, quem teu pai matou.
- E matas, meu filho?
- Mato.
- Matas, seja quem for?
- Mato.
- Ainda que esta vingança lhe roube do seio o amor?
– Mato.
- Tome este ferro, é Ricardo o matador.
- Ricardo, o pai de Maria? Oh, minha mãe, perdoai...
- Pela amante o pai esquece, filho ingrato, parte e vai, cumpre a jura ou sê maldito se não vingares a teu pai.
Nesta noite, tinto em sangue, com os cabelos no ar, o assassino de Ricardo, foi aos pés da mãe prostar o punhal com que jurara, do pai a morte vingar.
Riu-se a velha de contente e abraçou o vingador, mas que de súbito aparece na porta uma estátua de dor:
- Paulo, meu Paulo, perdi meu pai não vês? As lágrimas que aqui derramo assistiram ao triste fim. Quis falar-me e já não pode, com os olhos fixos em mim, expirou... "Vingança eterna". Tu vingas, meu Paulo, sim?
- Vingo, Maria, sossega, eu sei quem teu pai matou, vai morrer com o mesmo ferro que a pouco o transpassou.
Assim disse e a punhalada no próprio peito cravou...
Foge a moça espavorida, deixa Albano sem parar, chega a Roma no outro dia, por toda parte a gritar:
- "Quem me mata por piedade, quem me acaba de matar?"
E assim vagou três dias, sendo que no quarto enlouqueceu, quando passa o viajante, quando passa o Coliseu, vê a triste às gargalhadas, vingança pedindo a Deus...
- Ha, ha, ha, ha, ha, ha, ha...

quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

O ESTUDANTE ALSACIANO




Desde criança tenho a lembrança de escutar minha avó recitando um poema em especial. Minha mãe diz que minha bisavó costumava recitá-lo também com uma sensibilidade impressionante (é a lembrança mais forte que ela tem da avó dela). Nunca ouvi minha bisa, mas posso dizer que a minha avó o declama com tanta emoção que mesmo sem entender muito bem do que se tratava, eu ficava arrepiada. Meus olhos enchiam d´água no final. Na verdade, enchem até hoje, mesmo ouvindo várias vezes. 
Passaram-se os anos, me formei em História, virei professora e um dia dando uma aula sobre Primeira Guerra Mundial lembrei do poema de minha avó que tem como objeto as tensões geradas pela anexação de Alsácia pela Alemanha, depois da Guerra Franco-Prussiana de 1870.
Sim, é uma poesia francófila, nacionalista, mas ainda assim me emociono. Não por levantar a bandeira da França, mas pela brava atitude do rapaz que poderia ser qualquer um em qualquer outro lugar do mundo.

Alsácia é um território localizado na fronteira da França com a Alemanha e rica em reservas de carvão. Foi anexada pela França durante o reinado de Luis XIV (1643-1715), mas desde 500 havia sido povoada principalmente por povos de origem germânica. Da mesma forma que o francezinho na poesia resiste ao severo professor alemão, alguns séculos antes, muitos germânicos resistiram à imposição dos costumes franceses.

Quando os germânicos anexaram este território durante o processo de Unificação da Alemanha, no final do século XIX, a cultura francesa já estava bastante enraizada e aí houve o movimento inverso. Desta vez, houve uma imposição da cultura alemã sobre os franceses e, como consequência, gigantescas migrações (tanto de franceses fugindo do território, quanto de alemães se mudando para lá) ocorreram. Com o fim da Primeira Guerra Mundial e a assinatura do Tratado de Versalhes, Alsácia voltou para as mãos da França e qualquer vestígio de identidade germânica foi duramente reprimido. Na Segunda Guerra Mundial, novamente passou para as mãos da Alemanha (note-se que não como território ocupado, mas como parte integrante da Grande Alemanha, sendo seus cidadãos convocados para a guerra como qualquer alemão) e houve um movimento de combate à cultura francesa.
Finalmente, em 1944, Alsácia voltou ao domínio francês e, mais uma vez, políticas de repressão à identidade germânica foram implementadas - situação que só se flexibilizou nos anos 90. Até 1984, o uso da língua alemã em jornais era restrito a um máximo de 25%!
Portanto, sem dúvida alguma, é um assunto complexo e polêmico. Tanto a França quanto a Alemanha recebem respaldo por parte da população no momento das anexações, já que ali residem tanto pessoas mais identificadas com a cultura francesa, quanto com a cultura alemã.

Reitero aqui que, com este poema, não estou tomando o partido da França. Da mesma forma que foi um francês, poderia ter sido um alemão em outra circunstância histórica. Mas que este poema é um belo presente para a cultura universal, isso é. Uma pena que vocês não possam ouvir minha avó declamando.... é de arrepiar!







O estudante alsaciano

Antigamente, a escola era risonha e franca,
Do velho Professor as cãs, a barba branca,
Infundiam respeito, impunham simpatia,
Modelando as feições do velho, que sorria
E era como criança em meio das crianças.
Como ao pombal correndo em bando as pombas mansas,
Corriam para a escola; e nem sequer assomo
De aversão ou desgosto, ao ir para ali como
Quem vai para uma festa. Ao começar o estudo,
Eles, sem um pesar, abandonavam tudo,
E submissos, joviais, nos bancos em fileiras,
Iam todos sentar-se em frente das carteiras,
Atentos, gravemente, uns pequeninos sábios.
E o velho professor, tendo sempre nos lábios
Uma frase a animar aquele bando imbele,
Ia ensinando a este, ia emendando áquele,
De manso, com carinho e paternal amor.

Por fim, tudo mudou. Agora o professor,
Um grave pedagogo, é austero e conciso;
Nunca os lábios lhe abriu a sombra de um sorriso.
E aos pequenos mudou em calabouço a escola!
Pobres aves, sem dó, metidas na gaiola!
Lá dentro, hoje, o francês é lí­ngua morta e muda:
Unicamente o alemão ali se fala e estuda,
São alemães o mestre, os livros e a lição;
A Alsácia é alemã; o povo é alemão,
Como na própria pátria é triste ser proscrito!
Ferquentava também a escola um rapazito
De severo perfil, enérgico, expressivo,
Pálido, magro, o olhar inteligente e vivo
Mas de í­ntima tristeza aquele olhar velado
Modesto no trajar, de luto carregado...
-Pela Pátria, talvez! - Doze anos só teria.
O mestre, de uma vez, chamou-o a geografia:

-"Diz-me cá, rapaz... Que é isso? estás de luto?
Quem te morreu?"
-"Meu pai, no último reduto,
Em defesa da Pátria!"

-"Ah! sim, bem sei, adiante...
Tu tens assim um ar de ser bom estudante,
Quais são as principais nações da Europa? Vá!"

-"As principais nações são... a França..."
-"Hein? que é lá?...
Com que então, a primeira a França!Bom começo!
De todas as nações, pateta, que eu conheço,
Aquela que mais vale, a que domina o mundo,
Nas grandes concepções e no saber profundo,
Em riqueza e esplendor, nas letras e nas artes,
Que leva o seu domínio ás mais remotas partes,
A mais nobre na paz, a mais forte na guerra,
De onde irradia a ciencia a iluminar a terra,
A maior, a mais bela, a que das mais desdenha,
Fica-o sabendo tu, rapaz, é a Alemanha!"

Ele sorriu com ar desprezador e altivo,
E a cabeça agitou num gesto negativo.
E tornou com voz firme:

-"A França é a primeira!"
O mestre furioso, ergue-se da cadeira,
Bate o pé e uma praga enérgica se lhe escapa.

-"Sabes onde está a França? Aponta-ma no mapa!"
O aluno ergue-se então, os olhos fulgurantes,
O rosto afogueado; e enquanto os estudantes
Olham cheios de assombro aquele destemido,
Ante o mestre, nervoso, audaz e comovido,
Tí­mido feito herói, pigmeu tornado atleta,
Desaperta febril, a sua blusa preta,
E batendo no peito, impávida, a criança
Exclama: 

-"É aqui dentro! aqui é que está a França!"
 
  Acácio Antunes
Notas sobre o Autor: Acácio Graciano Antunes Brás, nasceu na Figueira da Foz em 26 de Agosto de 1853 e faleceu em Lisboa em 2 de Abril de 1927, Jornalista, teatrólogo, escritor e poeta de grande mérito, tendo escrito cerca de 60 obras sobre teatro, nomeadamente comédias, revistas, cançonetas, operas cómicas e operetas, sendo autor deste conhecido monólogo. (in Figueira.net, a Figueira da Foz na Internet )

EMENDA: 

Minha mãe, hoje, com 96 anos, ainda declama esta bela poesia, que com muita alegria, publico para o conhecimento de todos vocês.




NOVIDADES NO ENSINO DE QUÍMICA



NOVIDADES NO ENSINO DE QUÍMICA

Brasileiro usa animações em 3D para ensinar química

"Eu esperei umas três semanas, o manual não chegava e eu comecei a ficar apreensivo. Com muita cautela, escrevi uma carta dizendo a eles que estava esperando. Daí ele disse para esperar porque havia mandado por um navio para não ficar muito caro", conta Manuel Baptista, engenheiro elétrico.
"Uma animação de dois minutos leva 80 horas, duas semanas de trabalho intenso. Neste tempo, uma boa parte é no Blends, mas outra é discussão conceitual", diz Baptista.
"Um aluno não consegue fazer uma animação sozinho, com qualidade e sem erros conceituais. Ele precisa do apoio de um professor com absoluto domínio conceitual", explica Manuel Baptista.
LINK: http://www.quimica3d.com/indexbr.php

segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

EDUCAÇÃO



FORMAR PROFESSORES NÃO É FAZER SALCHICHAS


Cláudio Lembo 

As mudanças na estrutura social brasileira verificam-se com velocidade extraordinária. Os segmentos estruturados há séculos romperam-se nestes últimos cem anos.
Muitas podem ser as variáveis para as alterações verificadas. Certamente, na região sul e sudeste, é de se considerar a imigração de europeus, particularmente italianos. 
Alteraram os costumes e trouxeram em suas bagagens a tradição de trabalho livre, sem as amarras anteriores a 1888. Exigiam de seus descendentes dedicação e esforço na busca de ascensão social.
Os demais segmentos imigratórios – japoneses, árabes, espanhóis, entre outros – foram em número inferior e, cada um, o seu turno, agregou novos valores às tradições lusitanas, indígenas e negras.
O fluxo interno de pessoas, a partir dos anos sessenta, ampliou-se com os grandes deslocamentos de pessoas. Estes permitiram a plena integração da comunidade nacional. 
 Hoje, preservadas as raízes de cada grupo social, uma sociedade multicultural se desenvolve com dinamismo e preservação de muitas características próprias, o que dá ao Brasil um colorido especial e único.
Esta sociedade heterogênea quanto às origens e homogênea quanto os objetivos, passou a exigir – cada vez mais – escolaridade e educação continuada para seus membros.
Nos anos setenta, romperam-se as barreiras que vedavam o acesso ao ensino universitário a milhões de brasileiros. Antes, este acesso era limitado aos filhos das elites econômicas.
A grande mudança, abrindo a iniciativa privada a exploração da educação, desafogou os vestibulares das instituições públicas. As greves patrocinadas pelo movimento estudantil cessaram.


No jargão da época, até hoje repetido, ocorreu uma democratização do ensino. É possível. Hoje, a maioria dos jovens busca se aperfeiçoar em cursos oferecidos por uma enormidade de escolas superiores.
Acontece que natureza, como a educação, não dá saltos. O aumento de vagas não foi acompanhado pela qualificação dos professores. Deu-se a improvisação. Esta sempre leva a resultados duvidosos.
Os cursos das ciências humanas multiplicaram-se. Faculdades de Direito foram criadas em regiões sem qualquer vocação para as disciplinas jurídicas.
Poderá ser afirmar que é melhor o aprimoramento em escolas de duvidosa qualificação do que se permanecer em cenário iletrado. É possível, mas não é oportuno. 
A meia ciência pode produzir grandes malefícios. É o que se nota nos resultados publicados pelo Ministério da Educação a respeito do ensino superior no País.
Há um grande esforço para se qualificar a docência universitária. Ocorre que um bom professor é produto de anos de dedicação e estudo metódico.
Não se formam professores como se produzem salsichas. É bem diferente. O ensino nacional, como por toda a parte, vai se tornando uma atividade meramente comercial.
As escolas tornaram-se fábricas de diplomas. Estes obtidos mediante cursos presenciais – com o professor dialogando com seus alunos – ou à distância, por meio de sistemas televisivos e ajuda da internet.
Vai se massificar cada vez mais o ensino ou como querem alguns a sua democratização. Poucos, porém, são os centros de excelência que se preservam.
A velha universidade, que se constitui em centro de meditação e aprimoramento, transformou-se em estrutura burocrática de alto custo e duvidosa qualidade. Muitas vezes, mero cabide de empregos.
Com o tempo, as instituições devem se aperfeiçoar. Não será um processo natural. Intervenções cirúrgicas serão exigidas, cada vez mais.

COMENTÁRIOS:

“É uma bela crítica.Mas antes da universidade, creio eu que o país hoje conta com um verdadeiro escândalo em termos de educação básica. Em meu curso de graduação, iniciamos a turma com 50 alunos, dos quais apenas 16 se formaram. Trinta por cento desistiu ou mudou de curso já no primeiro semestre, por não conseguir acompanhar às aulas devido à falta das mais básicas noções de matemática.É de chroar quando vejo determinados professores do ensino fundamental usando o facebook sendo incapazes de desejar 'Feliz aniversário!', sem cometer erros na grafia (tipicamente 'aniverssário', com ss).E que tal o caso da professora de meu pequeno vizinho? Ensinou às crianças que temos verão e inverno porque a órbita da Terra em torno do sol é elíptica. Assim, quando estamos mais perto do sol é verão, e mais longe inverno. O pai do garoto foi à escola perguntar se o hemisfério norte se separa do hemisfério sul, para que um esteja orbitando mais próximo e outro mais longe na mesma época do ano.Tenho medo do futuro destas crianças e o pior: elas são o futuro do Brasil”! (Emanuel Baldissera)


Nem se faz o professor como se fosse molho de tomate” (Eduardo Eloi V Silva)


Corretíssimo o Senhor Lembo, quando diz que o ensino precisa de profundidade. É preciso que o crescimento na área técnica seja respaldada pela aprofundamento do pensamento filosófico. Como 'O homem não vive só de pão', também uma nação não pode sobreviver só com o progresso nas ciências 'quânticas', senão que precisa de ciências que lembrem ao homem quem ele é, um ser carne e espírito, inteligente e livre, mas limitado e aberto ao infinito”. (AVELINO GAMBIM)
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