Meta fiscal cumpre função importante na estratégia da equipe econômica de aprovar novas medidas de arrecadação
Por Silvio Cascione – Jornal Estadão
A mudança na meta fiscal não interessa neste momento ao governo. Mesmo em meio à descrença de políticos e empresários,
o objetivo de zerar o déficit primário em 2024 provavelmente será
mantido pelo resto do ano. Afinal, ele cumpre uma função importante na
estratégia da equipe econômica de convencer o Congresso a aprovar novas
medidas de arrecadação.
O aumento de impostos é a única maneira de fechar as contas, dado o
crescimento dos gastos incorporado no novo arcabouço fiscal. Nesta
semana, a equipe econômica enviou novas propostas para taxação de fundos
offshore e fundos exclusivos, usados por investidores de altíssima
renda. Novas regras para o pagamento de acionistas via juro sobre
capital próprio (JCP) também devem ser encaminhadas em breve. Todas elas
precisam de aprovação do Congresso.
Uma das frases mais batidas de Brasília é a de que o Congresso não
aceita aumento de impostos. É uma meia-verdade; dependendo da proposta,
políticos podem, sim, cobrar mais de setores específicos, desde que o
aumento – ou o fim de um benefício – possa ser descrito como a solução
para uma injustiça. Do ponto de vista eleitoral, um aumento de imposto
pode ser justificado dessa forma. Todas as propostas encaminhadas pelo
governo estão sendo enquadradas dessa maneira.
Mas, mesmo com um marketing mais inteligente, as resistências ainda
serão grandes. Aumentar impostos não chega a ser impossível, mas
certamente é difícil. E é por isso que a meta fiscal ambiciosa é importante para a equipe econômica.
Ela impõe um dilema ao Congresso: sem mais receitas, os gastos terão
que ser cortados. Isso não afeta apenas os planos de Lula e do PT, mas
também os gastos de todos os ministérios sob controle dos outros
partidos. Aliviar a meta reduziria sim o risco de corte ou
contingenciamento de gastos; mas, em contrapartida, reduziria a urgência
pela aprovação de aumento de receitas.
Há, por fim, mais um motivo para a insistência: o efeito que uma
mudança teria sobre toda a economia. Alterar a meta neste momento, ainda
no inicio da implementação do novo regime fiscal, seria o mesmo que
jogar a toalha antes mesmo de tentar. Isso teria um impacto sobre as
expectativas do mercado sobre a capacidade de controle da dívida,
podendo aumentar o nível de risco e reduzindo o apetite por
investimentos. Mudar a meta no ano que vem, depois de ter feito um
esforço real pelo equilíbrio orçamentário, poderia ser diferente. Até
mesmo a magnitude da mudança pode ser melhor calibrada.
Haddad, portanto, tende a insistir em zerar o déficit em 2024. Apesar do fogo amigo.
Ministros acham déficit zero irreal e vão propor a Haddad meta entre 0,5% e 0,75% do PIB para 2024
Nova queda de braço no governo opõe Costa, Tebet e Dweck, que pressionam o titular da Fazenda a mudar de ideia
Por Vera Rosa – Jornal Estadão
Há uma nova queda de braço no governo, que terá de ser arbitrada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, como a reforma ministerial. Os ministros Rui Costa (Casa Civil), Esther Dweck (Gestão) e Simone Tebet (Planejamento)
decidiram apoiar um déficit primário entre 0,5% e 0,75% do Produto
Interno Bruto (PIB) para o governo central (Tesouro, Previdência e BC),
em 2024, e levarão a ideia para a reunião da Junta Orçamentária, ainda
nesta terça-feira, 29.
A proposta pode provocar o descumprimento da regra aprovada
recentemente pelo Congresso. Motivo: o arcabouço que substituiu o teto
de gastos prevê justamente déficit primário zero no ano que vem, mas
essa equação depende do aumento da arrecadação federal em pelo menos R$
130 bilhões.
Os três ministros vão se reunir com o titular da Fazenda, Fernando Haddad,
ainda nesta terça-feira, 29, e tentar convencê-lo a apoiar déficit
maior por considerarem irreal a meta fixada. Tebet, por exemplo, já
havia dito que era preciso algo mais ambicioso.
Não vai ser, porém, uma batalha fácil. Até agora, Haddad tem se
mostrado contrário à ideia de flexibilizar a regra para aumentar os
gastos em 2024, um ano eleitoral.
Sabe-se, porém, que quem vai decidir a nova disputa é mesmo Lula. O
governo envia a proposta de Orçamento de 2024 ao Congresso nesta
quinta-feira, 31. Na prática, economistas já vinham dizendo que será
muito difícil conseguir zerar o déficit no ano que vem, principalmente
às vésperas das corridas municipais.
O mundo ferve como nunca antes. Recordes de temperaturas vão para o
espaço na Europa, Ásia, Antártica, e mesmo América do Sul. A água dos oceanos nunca esteve tão quente, do mesmo modo, o gelo marinho da Antártica encolheu em 2023a
ponto de preocupar cientistas. Para não falar nos incêndios e
inundações mundo afora. Enquanto isso, o único ator internacional lúcido
parece ser o isolado secretário-geral da ONU que se esmera na escolha
de frases que possam acordar os demais. A última de António Guterres
foi: ‘A era da fervura global começou’. Simultaneamente, a demanda por petróleo bateu recorde em junho. Alguma coisa deve estar errada.
Demanda atinge recorde histórico
O Financial Times,
ícone do jornalismo internacional, comentou: ‘Agência Internacional de
Energia disse que a demanda atingiu um recorde histórico de 103 milhões
de barris por dia em junho. Ela foi impulsionada pelo crescimento
econômico melhor do que o esperado nos países da OCDE, incremento nas
viagens aéreas no verão e aumento do consumo de petróleo na China,
principalmente para a produção petroquímica.’
‘Os dados mostram que os esforços globais para reduzir as emissões de
carbono ainda não interromperam completamente o aumento da demanda por
petróleo, mesmo com temperaturas recordes e incêndios florestais,
simultaneamente com graves inundações, atingindo o mundo.’
‘A AIE disse que a demanda pode atingir outro pico neste mês e está a
caminho de uma média de 102,2 milhões de barris por dia em 2023. Se
acontecer, será o nível anual mais alto de todos os tempos. Isso
significa que a demanda terá aumentado 2,2 milhões de barris por dia ao
longo do ano, com 70% do crescimento vindo da China.’
O Le Monde também
repercutiu a novidade. Para o jornal francês, ‘A pausa da Covid-19
definitivamente acabou. A pandemia fez com que o consumo caísse em 2020,
antes de se recuperar em 2021 em 2022.
O jornal ouviu um perito em aquecimento, Antoine Eyl-Mazzega, diretor
do Centro de Energia e Clima do Instituto Francês de Relações
Internacionais (IFRI). Para ele, “Esta espiral ascendente na demanda
mostra a impressionante inércia do sistema. Ainda estamos na era dos
hidrocarbonetos.”
Aquecimento global, uma luta inglória
Como os historiadores do futuro analisarão esta época doida e
incoerente que vivemos? Taí algo que gostaria de saber. Enquanto isso,
ganham os países produtores de petróleo. Inclusive o Brasil.
Segundo matéria de Luiz Guilherme Gerbelli, em O Estado de S. Paulo (13/08/2023),
‘No ano passado, as exportações de óleos brutos de petróleo alcançaram
US$ 42,5 bilhões – um valor recorde – e representaram 12,7% de tudo o
que o Brasil negociou para o exterior. Foi o segundo principal item
vendido pelo País, atrás somente da soja (US$ 46,5 bilhões).’
Gerbelli ouviu Adriano Pires, diretor do Centro Brasileiro de
Infraestrutura (CBIE): “Eu diria que o setor de petróleo é um dos que
mais vão contribuir daqui para frente para o saldo da balança comercial
brasileira.”
Bom para o País, entrada de divisas é sempre positiva para
investimentos mas, e o aquecimento do planeta, como fica com este
aumento de consumo?
Perguntamos ao oráculo Google, como o mundo ficaria com este aumento de consumo. O www.chathamhouse.org respondeu: ‘O histórico Acordo de Paris deu origem a um consenso internacional para manter o aquecimento global bem abaixo de 2°C acima dos níveis pré-industriais, enquanto busca esforços para limitar o aumento da temperatura a 1,5°C.
‘Contudo, o lançamento do relatório de síntese AR6 do Painel
Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) esta semana expõe em
termos nítidos o quão perto o mundo está de atingir a meta de 1,5°C, o
que isso significa para a sociedade e o que ainda pode ser feito para
evitá-lo.’
‘O aquecimento acima de 1,5°C será desastroso para mais de 3 bilhões
de pessoas que vivem em lugares altamente vulneráveis às mudanças
climáticas. Entretanto, isso não quer dizer que limitar o aquecimento a
1,5°C não seja mais possível.’
Ainda é possível permanecer abaixo de 1,5ºC
‘O relatório do IPCC destaca que muitas das tecnologias necessárias
para permanecer abaixo de 1,5°C existem e, em muitos casos, são mais
baratas do que o uso de combustíveis fósseis. O que falta é vontade
política, que até agora não foi suficiente para permitir uma
descarbonização profunda e transformadora.’
Perguntamos, então, ao oráculo do século 21: Como seria o mundo com mais 2,5ºC? Encontramos uma resposta da revista Economist,
considerando uma temperatura de 3ºC maior. É de arrepiar. Toda a
matéria tem apenas um parágrafo, que segue abaixo, e uma animação que
mostra os resultados.
‘Aumento de 3°C nas temperaturas globais acima dos níveis
pré-industriais até 2100 seria desastroso. Seus efeitos seriam sentidos
de forma diferente em todo o mundo, mas nenhum lugar seria imune. Ondas
de calor prolongadas, secas e eventos climáticos extremos podem se
tornar cada vez mais comuns e severos. O preocupante é que o progresso
lento dos governos no corte de emissões torna esse cenário
desconfortavelmente plausível. Este filme mostra como seria esse mundo.’
E, então, você acha que alguma coisa está errada?
Para aonde vão os preços do petróleo após novo acordo da Opep?
O saldo da reunião da Organização dos Países Exportadores de Petróleo
e aliados (Opep ), deste domingo (4/6), reforça a percepção, entre
analistas do mercado, de que os preços do barril podem interromper, no
segundo semestre, a trajetória de desvalorização desta primeira metade
do ano — influenciada, em parte, pelos sinais de desaceleração da
economia global.
A expectativa é de que o petróleo seguirá
próximo aos US$ 80 o barril, ou até acima desse patamar, caso não
ocorram grandes choques globais — como foram a pandemia e a invasão
russa à Ucrânia, nos últimos anos. Em 2023, a média da cotação, até o
momento, é de US$ 80.
Nesta segunda (5/6), após o anúncio da
decisão da Opep, o barril do tipo Brent subiu 0,76%, a US$ 76,7 o
barril. O chefe da Agência Internacional de Energia (IEA, na sigla em
inglês), Fatih Birol, disse que a chance de preços mais altos aumentou
acentuadamente.
Em 2023, a commodity acumula uma desvalorização
de 10,8% até agora. No mercado de derivados, a tempestade perfeita
passou e as margens do refino voltaram às tendências de longo prazo, de
acordo com a Wood Mackenzie.
A Opep, no entanto, tem demonstrado
que buscará manter o preço do barril num patamar próximo aos US$ 80.
Déficits no suprimento global podem ajudar a pressionar os preços.
A cotação da commodity, no segundo semestre, será ditada por dois principais fatores:
os temores sobre uma recessão econômica global
e os esforços da Opep em manter preços confortáveis para seus membros
Por
aqui, embora a Petrobras tenha anunciado o fim do alinhamento do preço
de paridade de importação (PPI), a companhia não pretende desvincular
seus preços domésticos do comportamento do mercado global.
Entenda, a seguir, como a oferta e demanda podem pressionar os preços do petróleo nos próximos meses:
Oferta
No
começo de abril, a Opep anunciou uma redução voluntária da produção de
seus principais membros, de 1,66 milhão de barris/dia até o fim de 2023.
Na
reunião deste domingo, o corte foi estendido até dezembro de 2024. E a
Arábia Saudita anunciou um corte unilateral adicional de 1 milhão de
barris/dia em julho.
O movimento da Opep amplia as pressões para
aumentos de preços nas próximas semanas, acredita a Rystad Energy. A
possibilidade de extensão do corte saudita para além de julho dificulta a
queda nos preços nos próximos meses, na visão da consultoria.
Para
o Goldman Sachs, antes de a Opep se posicionar, já havia sinais de que o
déficit no suprimento mundial de petróleo poderia se aprofundar no
segundo semestre, diante da possibilidade de quedas no suprimento de
países como Venezuela, Rússia e Irã.
Depois da reunião da Opep, o
banco reforçou a visão de que é ainda mais improvável uma queda nos
preços na segunda metade do ano.
O Goldman Sachs aponta que o
baixo investimento no aumento do suprimento global de petróleo para além
da Opep tem feito o grupo ter maior poder de ditar os rumos dos preços
do barril.
Fora do cartel, o crescimento da oferta global este
ano deve vir, sobretudo, dos Estados Unidos, Noruega, Canadá e Brasil.
Esse suprimento deve atender principalmente às regiões que aderiram às
sanções contra a Rússia, como Europa e EUA.
“A Europa achou
alternativa ao óleo russo e a América Latina teve um papel importante
nesse processo. Daqui pra frente, esse cenário deve continuar, mas
precisamos ficar atentos aos custos de frete e à mudança na ?´dieta?´
[tipo de petróleo processado] das refinarias”, apontou a gerente de
comércio de petróleo bruto da Repsol Trading, Mónica Martínez, em evento
no Rio de Janeiro em maio.
Demanda
A possibilidade de uma
recessão econômica é um dos fatores que ajuda a puxar os preços para
baixo. As incertezas sobre a economia global penalizaram os preços do
barril nas últimas semanas.
A Rystad aponta, entretanto, que as
menores cotações em maio também refletiram fatores sazonais, como a
manutenção das refinarias e a redução do consumo das famílias antes das
férias de verão no Hemisfério Norte, período de alta demanda por
combustíveis líquidos.
“Sinais fracos de demanda agora não
significam necessariamente preços menores durante a temporada de alto
consumo”, disse a consultoria em relatório divulgado este mês.
O
cenário se torna ainda mais incerto, pois a forte relação entre o
Produto Interno Bruto (PIB) global e a demanda de petróleo teve uma
dissociação depois da pandemia, devido a questões como mudanças nos
hábitos de consumo, segundo a Rystad. Com isso, fica mais difícil prever
os impactos de uma eventual crise sobre os preços.
Apesar dos
temores de uma possível recessão econômica global — o que levaria à
queda da demanda por petróleo bruto e a uma consequente redução nos
preços — o Goldman aponta que o consumo segue em linha com as
expectativas.
Por enquanto, segundo o banco, a possibilidade de
desaceleração da economia é sentida sobretudo na demanda petroquímica,
enquanto o consumo de combustíveis de aviação e gasolina tem crescido,
ainda no embalo da reabertura pós-covid e dos altos níveis de emprego
globais.
A recuperação chinesa com a reabertura da economia
pós-pandemia é outro ponto de atenção. O consumo de petróleo no segundo
semestre vai ser puxado principalmente pela China e Índia, dizem
especialistas.
“Mas nunca foi tão difícil prever o crescimento da
demanda chinesa”, disse o economista sênior do Departamento de Energia
dos Estados Unidos, Sean Hill, que participou de uma conferência da
Argus no Rio.
Segundo Adhemar Mineiro, pesquisador do Instituto
de Estudos Estratégicos de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis
(Ineep), outros fatores que geram incertezas sobre o consumo de petróleo
no mundo são os impactos do aumento das taxas de juros nos EUA e
Europa, assim como um possível aprofundamento da crise financeira.
Mineiro
lembra ainda que mudanças no cenário geopolítico podem mudar os
patamares dos preços do petróleo este ano, como ocorreu com a guerra da
Ucrânia em fevereiro de 2022.
“Isso não está descartado. O cenário internacional não é tranquilo, pode haver surpresas”, afirmou.
Laura Gandra Laudares Fonseca e Guilherme Gandra Martins – Advogados
Imagine você, caro leitor, que estivesse estudando para ser bacharel
em Direito e, mesmo em um mercado bastante competitivo e saturado e com
mais de um milhão de profissionais registrados no País, consegue se
formar, se tornar qualificado, ganhar notoriedade e construir um
renomado escritório, tornando-se um dos maiores especialistas em crimes
financeiros do Brasil. No desenvolvimento da carreira, ganha influência e
notabilidade, conquistando prosperidade financeira. Diante desse
cenário, faria sentido aceitar um emprego em que o salário é
consideravelmente menor?
O panorama serve para explicar o percurso de Cristiano Zanin,
advogado que tomou posse no Supremo Tribunal Federal. O questionamento
foi levantado pelo jornalista Alexandre Garcia e merece reflexão. Quais
são os benefícios que um advogado milionário, com honorários altíssimos,
enxerga em um cargo no qual a remuneração será extremamente aquém
daquilo que está acostumado a receber? O objetivo desta reflexão é
entender o que seduziu Zanin e tantos outros a aceitar o convite para
ser ministro no STF.
É evidente que se apresentar como guardião da Constituição, por si
só, já é algo sedutor, mas o questionamento precisa permear o seguinte
ponto: o que o texto constitucional carrega em sua forma para ampliar
este atrativo? No âmbito da teoria da Constituição, vários juristas
conceituam o tema, como Celso Ribeiro Bastos, que trouxe à tona
diferentes conceitos da Lei Maior e citou que a Constituição trata da
“composição de uma estrutura que define os direitos fundamentais dos
cidadãos, instituindo a maneira pela qual as coisas devem ser, e não
descrever a real maneira de ser das coisas”.
Por outro lado, há também o sentido material de Constituição,
referente às normas constitutivas da sociedade, ou seja, trata-se de um
texto que contém as forças de diferentes cunhos necessárias para
informar as leis inferiores e instituições jurídicas que irão organizar o
desenho do Estado. Esses aspectos, tradicionalmente, estão contidos na
Constituição formal. Ocorre, no entanto, que nem sempre o conteúdo desta
corresponde ao daquela. No caso brasileiro, a Constituição Republicana
excede os aspectos organizativos usualmente abordados neste tipo de
documento, descendo aos pormenores das relações jurídicas e da
organização estatal. Observa-se uma concentração desmedida de poderes e
competências na mão dos representantes dessa Corte.
Observamos uma hipertrofia do poder do STF. Esse fenômeno, constatado
por estudiosos e analistas, possui reflexos práticos, como o crescente
movimento de judicialização da política. Nossa Constituição, em seu
Artigo 102, elencou as atribuições do STF, classificando-o como seu
principal intérprete. A ideia de um poder independente é tão latente que
aos seus componentes é concedido um mandato vitalício, visando a
afastar seus representantes das pressões populares. Mas isso não pode
ser confundido com a ideia de um STF livre para atropelar a letra
constitucional, muitas vezes, sob o disfarce de uma “função iluminista”.
Seu caráter técnico deve ser preservado.
A cada vaga que surge no STF, o candidato indicado enfrenta dois
questionamentos: o primeiro, referente ao caráter político que muitas
vezes permeia sua seleção; o segundo, quanto ao seu notório saber
jurídico. No entanto, perde-se de vista uma leitura mais ampla do fato
concreto. A análise deveria focar não na competência do indicado, mas
sim em um problema sistêmico em nossa Corte. Diante de tal hipertrofia,
não seria caso de se questionar se haveria, em nossa República, ser
humano capaz de lidar com tamanho poder?
Patricia Artoni, professora da FIA Business School
O caso da Barbie ilustra a complexidade do reposicionamento de marca,
que envolve superar obstáculos internos e externos e mudança na cultura
organizacional
A marca Barbie trilha sua jornada há mais de 60 anos, repleta de
tentativas, acertos e erros, na busca contínua por posicionar a marca e
mantê-la ocupando um lugar diferenciado na mente do público e
consumidores.
Sua presença global é inegável, sempre sendo impulsionada a se
adaptar às mudanças de mercado e capturar a atenção de novos públicos. O
filme recém-lançado sobre a boneca Barbie, comercializada pela Mattel,
traz à tona a discussão sobre as dores e sabores do processo de
reposicionamento que a marca tem feito para se manter relevante.
Sob o ponto de vista mercadológico, entre outros aspectos, a jornada
da Barbie ilustra os dilemas do reposicionamento de marca. No filme,
vemos que a transformação da Barbie é um testemunho dos percalços de uma
marca na busca por rejuvenescer e continuar a conquistar gerações de
consumidores.
Através da análise do desconforto humano, da ampliação da diversidade
étnica, da inclusão de diferentes tipos de corpo e da exploração de
novas carreiras, a Barbie se humaniza e consegue, a sua medida, se
conectar a um público mais amplo, que se sentiu mais representado e
valorizado.
Observa-se que na busca por exploração de novos mercados, a Mattel
alcançou novos segmentos de mercado, com acertos e erros, no intuito de
construir uma imagem mais contemporânea e inclusiva. A mudança de tom
não acontece de maneira aleatória, a marca se viu pressionada a ouvir os
desejos dos consumidores, seus elogios e reclamações, e de seu corpo
diretivo, por meio de da pressão por resultados ascendentes.
Quando há o reposicionamento de marca, aceita-se o risco de alienar
os consumidores mais antigos e leais à marca. Aqueles que tinham uma
ligação emocional com a Barbie original normalmente sentem resistência
diante das mudanças drásticas.
A decisão envolve investimento significativo em pesquisa,
desenvolvimento de produtos e marketing. Há sempre uma incerteza
associada a essa abordagem, pois o retorno sobre o investimento nem
sempre é garantido, especialmente a curto prazo.
O caso da Barbie ilustra a complexidade do reposicionamento de marca.
Implementar com sucesso um reposicionamento de marca envolve superar
obstáculos internos e externos. Mudanças na cultura organizacional, na
produção e na distribuição podem ser complexas e exigir um alto nível de
coordenação.
A transformação traz uma série de benefícios, mas o sucesso desse
processo de reposicionamento está intrinsecamente ligado à capacidade da
empresa de compreender profundamente o mercado, ouvir o feedback dos
consumidores e planejar cuidadosamente cada etapa.
A evolução da Barbie da Mattel serve como um lembrete de que, embora
os riscos sejam reais, a capacidade de uma marca se adaptar e se renovar
pode resultar em benefícios, criando um vínculo mais forte e autêntico
com os consumidores, que são, afinal, a base de qualquer marca de
sucesso.
Por que você está ignorando a ferramenta de vendas mais poderosa do mundo?
Guilherme Dias – Diretor de Comunicação e Marketing da Associação Comercial, Empresarial e Industrial de Ponta Grossa (ACIPG)
Eu vejo todos os dias o anunciante separando seus R$ 10.000,00 pra
fazer uma campanha no rádio, R$ 3.000,00 para sair em uma revista local,
pelo menos R$ 9.000,00 para fazer uns 3 pontos de mídia exterior, mas
na hora de tirar o escorpião do bolso pra comprar mídia online, qualquer
“milão” é “caro demais”.
Eu sinceramente não sei de onde veio este mito de que fazer anúncios
na internet merece menos atenção financeira do que outros meios. A
lógica deveria ser justamente a inversa.
Nenhum outro tipo de mídia retém tanta atenção do público comprador como na internet.
O Brasil é o terceiro país do mundo onde as pessoas mais ficam
conectadas, passando mais de 10 horas por dia online (DEZ HORAS POR
DIA!).
Ficamos atrás apenas de África do Sul e Filipinas.
Qual outra mídia prende a atenção das pessoas por DEZ HORAS?
Qual outra mídia pode colocar sua marca literalmente na mão do seu cliente ideal?
Qual outra mídia pode colocar sua marca na mão do seu cliente no EXATO momento que ele está propenso a fazer uma compra?
Qual outra mídia pode rastrear, seguir o seu cliente de acordo com os hábitos de consumo dele?
Qual outra mídia pode segmentar um anúncio de acordo com os interesses, medos, desejos, ações, intenções…
Qual outra mídia pode oferecer um contato com seu cliente ideal 24 horas por dia, 7 dias por semana?
Absolutamente nenhuma além da internet.
E agora, me conta…qual o motivo da internet receber menos investimento comparado à mídia tradicional?
Marketing Digital é barato, mas não é de graça.
Vamos fazer uma conta de padaria:
Quanto custa imprimir 1.000 flyers (folhetos) e distribuir no sinal?
Papel couchè brilho 90g 4×4 cores, em gráfica de internet (qualidade bem meia boca), com frete sai em torno de R$ 250,00.
Para a distribuição, você não vai encontrar quem faça por menos de R$ 70 a diária.
Você não tem a garantia de entrega. Já ví muito “panfleteiro” jogando
metade do material no bueiro, ou entregando 2 de uma vez só em cada
carro. Mas vamos tirar essa margem da conta.
Estamos falando de R$ 320 para 1 mil impactos.
Hoje estava otimizando uma campanha de Instagram, da minha conta
pessoal, e o meu CPM (custo por mil impressões) estava girando em torno
de R$ 5,51.
Ou seja cerca de 1,72% do valor de uma ação de rua com flyer.
Essa lógica pode ser aplicada a qualquer meio de comunicação tradicional, seja rádio, tv, outdoor, busdoor…
E a conta também deve ser levada em consideração além dos anúncios de Google, LinekedIN, Facebook, Instagram e TikTok.
Banners em portais e publieditoriais, este último ainda pouco
explorado por pequenos e médios anunciantes, também apresentam números
disparados na frente do marketing tradicional.
Então, quando você se perguntar se está tendo ou não resultados com mídia online, pense nessa continha.
Marketing digital, em comparação, é barato sim, mas será que você
deveria deixar a menor faixa de verba do seu orçamento de marketing para
o meio de vendas MAIS PODEROSO QUE EXISTE?
Deixo a reflexão.
Preferências de Publicidade e Propaganda
Moysés Peruhype Carlech – Fábio Maciel – Mercado Pago
Você empresário, quando pensa e necessita de fazer algum anúncio para
divulgar a sua empresa, um produto ou fazer uma promoção, qual ou quais
veículos de propaganda você tem preferência?
Na minha região do Vale do Aço, percebo que a grande preferência das
empresas para as suas propagandas é preferencialmente o rádio e outros
meios como outdoors, jornais e revistas de pouca procura.
Vantagens da Propaganda no Rádio Offline
Em tempos de internet é normal se perguntar se propaganda em rádio
funciona, mas por mais curioso que isso possa parecer para você, essa
ainda é uma ferramenta de publicidade eficaz para alguns públicos.
É claro que não se escuta rádio como há alguns anos atrás, mas ainda
existe sim um grande público fiel a esse setor. Se o seu serviço ou
produto tiver como alvo essas pessoas, fazer uma propaganda em rádio
funciona bem demais!
De nada adianta fazer um comercial e esperar que no dia seguinte suas
vendas tripliquem. Você precisa ter um objetivo bem definido e entender
que este é um processo de médio e longo prazo. Ou seja, você precisará
entrar na mente das pessoas de forma positiva para, depois sim,
concretizar suas vendas.
Desvantagens da Propaganda no Rádio Offline
Ao contrário da televisão, não há elementos visuais no rádio, o que
costuma ser considerado uma das maiores desvantagens da propaganda no
rádio. Frequentemente, os rádios também são usados como ruído de
fundo, e os ouvintes nem sempre prestam atenção aos anúncios. Eles
também podem mudar de estação quando houver anúncios. Além disso, o
ouvinte geralmente não consegue voltar a um anúncio de rádio e ouvi-lo
quando quiser. Certos intervalos de tempo também são mais eficazes ao
usar publicidade de rádio, mas normalmente há um número limitado,
A propaganda na rádio pode variar muito de rádio para rádio e cidade
para cidade. Na minha cidade de Ipatinga por exemplo uma campanha de
marketing que dure o mês todo pode custar em média 3-4 mil reais por
mês.
Vantagens da Propaganda Online
Em pleno século XXI, em que a maioria dos usuários tem perfis nas mídias sociais e
a maior parte das pessoas está conectada 24 horas por dia pelos
smartphones, ainda existem empresários que não investem em mídia
digital.
Quando comparada às mídias tradicionais, a propaganda online é
claramente mais em conta. Na internet, é possível anunciar com pouco
dinheiro. Além disso, com a segmentação mais eficaz, o seu retorno é
mais alto, o que faz com que o investimento por conversão saia ainda
mais barato.
Diferentemente da mídia tradicional, no online, é possível modificar
uma campanha a qualquer momento. Se você quiser trocar seu anúncio em
uma data festiva, basta entrar na plataforma e realizar a mudança,
voltando para o original quando for conveniente.
Outra vantagem da propaganda online é poder acompanhar em tempo real tudo
o que acontece com o seu anúncio. Desde o momento em que a campanha é
colocada no ar, já é possível ver o número de cliques, de visualizações e
de comentários que a ela recebeu.
A mídia online possibilita que o seu consumidor se engaje com o
material postado. Diferentemente da mídia tradicional, em que não é
possível acompanhar as reações do público, com a internet, você pode ver
se a sua mensagem está agradando ou não a sua audiência.
Outra possibilidade é a comunicação de via dupla. Um anúncio
publicado em um jornal, por exemplo, apenas envia a mensagem, não
permitindo uma maior interação entre cliente e marca. Já no meio
digital, você consegue conversar com o consumidor, saber os rastros que
ele deixa e responder em tempo real, criando uma proximidade com a
empresa.
Com as vantagens da propaganda online, você pode expandir ainda mais o
seu negócio. É possível anunciar para qualquer pessoa onde quer que ela
esteja, não precisando se ater apenas à sua cidade.
Uma das principais vantagens da publicidade online, é que a mesma
permite-lhe mostrar os seus anúncios às pessoas que provavelmente estão
interessadas nos seus produtos ou serviços, e excluir aquelas que não
estão.
Além de tudo, é possível monitorizar se essas pessoas clicaram ou não nos seus anúncios, e quais as respostas aos mesmos.
A publicidade online oferece-lhe também a oportunidade de alcançar
potenciais clientes à medida que estes utilizam vários dispositivos:
computadores, portáteis, tablets e smartphones.
Vantagens do Marketplace Valeon
Uma das maiores vantagens do marketplace é a redução dos gastos com
publicidade e marketing. Afinal, a plataforma oferece um espaço para as
marcas exporem seus produtos e receberem acessos.
Justamente por reunir uma vasta gama de produtos de diferentes
segmentos, o marketplace Valeon atrai uma grande diversidade e volume de
público. Isso proporciona ao lojista um aumento de visibilidade e novos
consumidores que ainda não conhecem a marca e acabam tendo um primeiro
contato por meio dessa vitrine virtual.
Tem grande variedade de ofertas também e faz com que os clientes
queiram passar mais tempo no site e, inclusive, voltem com frequência
pela grande diversidade de produtos e pela familiaridade com o ambiente.
Afinal de contas, é muito mais prático e cômodo centralizar suas
compras em uma só plataforma, do que efetuar diversos pedidos
diferentes.
Inserir seus anúncios em um marketplace como o da Valeon significa
abrir um novo “ponto de vendas”, além do e-commerce, que a maioria das
pessoas frequenta com a intenção de comprar. Assim, angariar sua
presença no principal marketplace Valeon do Vale do Aço amplia as
chances de atrair um público interessado nos seus produtos. Em suma,
proporciona ao lojista o crescimento do negócio como um todo.
Quando o assunto é e-commerce,
os marketplaces são algumas das plataformas mais importantes. Eles
funcionam como um verdadeiro shopping center virtual, atraindo os
consumidores para comprar produtos dos mais diversos segmentos no mesmo
ambiente. Por outro lado, também possibilitam que pequenos lojistas
encontrem uma plataforma, semelhante a uma vitrine, para oferecer seus
produtos e serviços, já contando com diversas ferramentas. Não é à toa
que eles representaram 78% do faturamento no e-commerce brasileiro em
2020.
Vender em marketplace como a da Valeon traz diversas vantagens que
são extremamente importantes para quem busca desenvolver seu e-commerce e
escalar suas vendas pela internet, pois através do nosso apoio, é
possível expandir seu ticket médio e aumentar a visibilidade da sua
marca.
A Valeon é uma caixinha de possibilidades. Você pode moldar ela em
torno do negócio. O que é muito importante. O nosso é colocar o
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que você empresário consiga oferecer, especificamente para o seu
consumidor, a melhor experiência. A ValeOn já é tradicional e
reconhecida no mercado, onde você empresário pode contar com a
experiência e funcionalidades de uma tecnologia corporativa que atende
as principais operações robustas do mundo essencial e fundamental. A
ValeOn além de trazer mais segurança e credibilidade para o seu negócio,
também resulta em muita troca de conhecimento e ótimos resultados para
ambos os lados, como toda boa parceria entre empresas deve ser.
Lembrem-se que a ValeOn é uma Startup Marketplace de Ipatinga-MG que tem
a responsabilidade de levar o cliente até à sua empresa e que temos
potencial para transformar mercados, impactar consumidores e revirar
empresas e indústrias onde nossos produtos e serviços têm capacidade de
escala e de atrair os investimentos corretos para o nosso crescimento.
Com investigações em curso sobre supostos
desvios de joias por parte do ex-mandatário Jair Bolsonaro (PL), uma
entrevista na qual o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) fala que
deixou a Presidência com 11 contêineres de presentes foi compartilhada
mais de 90 mil vezes nas redes sociais em agosto de 2023 fora de
contexto. A declaração em questão foi dada meses antes de um acórdão do
Tribunal de Contas da União (TCU) fixar uma interpretação mais rígida
sobre o acervo presidencial. Após a decisão, Lula devolveu os objetos e
pagou por oito que não foram localizados.
“Será que quem reclama das joias do Bolsonaro vai reclamar dos 11 contêineres do Lula?”, questiona um vídeo compartilhado no Facebook. Conteúdo semelhante circula no Instagram, no TikTok, no Kwai, no YouTube e no X (antigo Twitter).
O conteúdo circula em meio a suspeitas de que pessoas do entorno de
Jair Bolsonaro teriam agido para vender joias e outros presentes
recebidos de países estrangeiros.
No vídeo viralizado, Lula é visto segurando um microfone e dizendo: “Você
sabe o que é que é alguém sair da Presidência com 11 contêineres de
acervo sem ter onde pôr? Você sabe o que é sair com cadeira, com trono,
com papel, com tudo o que você possa imaginar? Porque se somar todos os
presidentes da história desse país, desde Floriano Peixoto, eu fui o que
mais ganhei presente. Porque viajei mais, porque trabalhei mais, porque
viajei o mundo, eu tenho até trono da África. O que é que eu faço com
isso?”.
O trecho, porém, circula sem o devido contexto. A entrevista de Lula
foi realizada meses antes de o TCU estabelecer uma interpretação
diferente do entendimento até então vigente para o acervo presidencial.
Já no caso de Bolsonaro, a suspeita é de que os presentes recebidos pelo ex-mandatário tenham sido propositalmente omitidos dos órgãos públicos e vendidos para seu enriquecimento ilícito.
A data, no caso, é relevante porque somente em agosto de 2016 — meses
depois da entrevista de Lula — o Tribunal de Contas da União determinou
a incorporação de todos os documentos e presentes recebidos
pelos presidentes da República ao patrimônio da União. As exceções
restringiam-se a itens “de natureza personalíssima ou de consumo
próprio”. A decisão pode ser vista no Acórdão 2255/2016.
Até essa decisão, presentes recebidos por presidentes da República eram regidos, sobretudo, pelo Decreto nº 4.344/2002 — que, por sua vez, era uma regulamentação da legislação original sobre o tema, a Lei 8.394/1991.
Entretanto, o inciso II do decreto nº 4.344/2022 permitia a interpretação de que somente “documentos
bibliográficos e museológicos recebidos em cerimônias de troca de
presentes, nas audiências com chefes de Estado e de Governo por ocasião
das ‘Visitas Oficiais’ ou ‘Viagens de Estado’ do presidente da República
ao exterior” seriam patrimônio da União. Ou seja, bens recebidos fora de cerimônias de “trocas de presentes” poderiam ser considerados parte do acervo pessoal do chefe de Estado, de acordo com o entendimento vigente até então.
Uma pesquisa no Google pelas palavras-chave “Lula 11 contêineres” trouxe como resultado uma matéria do veículo Poder360, que afirma: “O
presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) recebeu 9.037 itens nos seus
primeiros 2 mandatos (2003-2010). Tudo foi retirado em 11 contêineres”.
O Instituto Lula, cuja equipe organiza e mantém o acervo presidencial do mandatário, afirma em seu site que o acervo do petista é composto por 9.039 objetos “como esculturas, medalhas, camisetas, bonés, quadros, honrarias, entre outros”.
Além desses bens, compõem o acervo, segundo o instituto, mais de nove
mil livros, mais de 400 mil correspondências, e mais de 12 mil itens
audiovisuais, como fotos e álbuns.
O AFP Checamos entrou em contato com a assessoria de imprensa do
Instituto Lula em 23 de agosto de 2023, que afirmou que o TCU teve
acesso à lista completa de presentes recebidos por Lula e, destes,
selecionou os 568 presentes mencionados inicialmente no acórdão. O TCU
confirmou essa informação à AFP.
Após a determinação do TCU, em 2019, a Secretaria de Administração da Presidência da República informou ao Tribunal que
havia instituído uma comissão especial para atender à decisão, e que,
após uma análise da Diretoria de Documentação Histórica (DDH) do
Gabinete Pessoal do Presidente da República, concluiu-se que o número
final de bens de Lula a serem incorporados no acervo público da União
era de 434, não de 568.
Nessa mesma resposta, a Secretaria indicou, desse total de 434 itens, a localização de 360 bens. Restava, portanto, localizar 74 itens.
“Posteriormente, o Ofício 2512/2019/SA/SG/SG/PR informa que,
quanto ao presidente Lula, restaram apenas 8 bens a serem localizados,
cujo valor alcança R$ 11.748,40”, indicou ao AFP Checamos a assessoria de imprensa do TCU em 15 de agosto de 2023.
Ainda segundo o Tribunal, esse valor total dos oito bens não localizados dispensa a instauração da chamada Tomada de Contas Especial (TCE), uma medida de exceção que tem como objetivo apurar se o investigado é responsável por dano à administração pública.
Dado que a TCE não era necessária, em 2020, o TCU considerou cumprida a determinação que inicialmente havia sido feita em 2016, de localização dos 568 presentes de Lula.
Ainda segundo a resposta enviada pela equipe do TCU à AFP, Lula teria
pago o valor dos itens não localizados em dez parcelas de R$ 1.174,84 —
totalizando o valor de R$ 11.748,40 dos itens — de acordo com o
informado no Ofício 358/2021/SA/SG/SG/PR. O AFP Checamos não teve acesso
ao documento citado pelo tribunal.
O TCU também resumiu quais seriam os oito itens finais não localizados:
Cuia e bomba para tomar chimarrão trabalhadas em prata e bronze;
Peça com grupo de músicos (adultos e crianças) ao redor de uma mesa de madeira;
Quadro (14,4×19,3 cm) tipo porta-retratos, emoldurando selo em ouro, com rosto de homem;
Duas esculturas em madeira, em forma de pássaro (39×18 cm e 41×16 cm);
Cartaz (84,5×56 cm) com fotografia impressa do Santo Sudário;
Garrafa (21 cm) para licor, em cristal, com tampa e gargalo em prata;
Espada (112 cm) com punho e bainha confeccionados em madeira escura, e ornada com peças metálicas;
Escultura (14x13x4 cm) confeccionada em bronze, fixada em base
retangular representando mulher segurando buquê de flores vermelhas,
apoiada em uma bicicleta.
O ministro da Economia da Argentina e candidato governista à
Presidência, Sergio Massa, foi recebido nesta segunda-feira (28) em
Brasília pelo próprio presidente Lula, que anunciou o financiamento às
exportações brasileiras à Argentina, com garantia em yuans chineses. O
crédito é crucial para a indústria argentina não parar na reta final da
campanha eleitoral. A presença do argentino ao lado de Lula visa
diferenciar Massa de Javier Milei, o candidato da extrema direita
argentina, aliado de Jair Bolsonaro.
O ministro da Economia e candidato do Peronismo à Presidência, Sergio
Massa, viajou na noite deste domingo a Brasília. Nesta segunda-feira,
ele procurou capitalizar para a sua campanha eleitoral as ajudas do
governo Lula.
O objetivo é que a Argentina se torne membro do Brics e, desta forma,
o BNDES financie a construção do gasoduto argentino que levará gás ao
Brasil . Outra meta é que o governo ofereça uma linha de crédito às
exportações brasileiras à Argentina, cruciais para a economia vizinha
não parar, apesar da escassez de dólares no Banco Central argentino.
“Sergio Massa precisa que a economia não colapse nesta reta final
porque a sua candidatura depende da sua gestão. O candidato Massa
depende do ministro Massa. A ajuda de Lula permite esse objetivo e
também na prática, exibir ares de presidente com projeção
internacional”, disse à RFI o analista político Sergio Berensztein.
Numa reunião com o chanceler brasileiro, Mauro Vieira, Sergio Massa
agradeceu pela gestão do Brasil para que a Argentina se torne membro do
bloco formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul (Brics).
O avanço do financiamento ao gasoduto e a nova linha de crédito do
Banco do Brasil aos exportadores brasileiros serão tratados com o
ministro da Fazenda, Fernando Haddad. Os três assuntos foram anunciados
pelo presidente Lula ao lado de Sergio Massa após reunião às 17h30 no
Palácio do Planalto.
Para a reunião com o presidente Lula, a delegação argentina deveria
ser liderada pelo presidente argentino, Alberto Fernández, atualmente um
ex-presidente em exercício com poderes transferidos a Sergio Massa,
protagonista do governo.
Espelho político brasileiro na Argentina
A foto com Lula é a que Massa procura em plena campanha eleitoral
durante a qual, até as eleições de 22 de outubro, o ministro-candidato
pretende polarizar com o candidato ultra liberal, Javier Milei, aliado de Bolsonaro.
“Lula pode ser um líder que gere consenso e simpatia no eleitorado
governista, mas no restante do eleitorado não tem impacto e até pode ser
um tiro pela culatra. Este Lula III, para os olhos do Ocidente, é
diferente daquele que muitos esperavam. Tem questionado o papel dos
Estados Unidos na guerra na Ucrânia e tem-se aproximado da China”,
aponta Berensztein.
Ao contrário de Lula e em sintonia com a campanha de Bolsonaro em
2018, o libertário Milei já avisou que a sua política externa consistirá
“num alinhamento total com os Estados Unidos e com Israel”, a ponto,
inclusive, de transferir a Embaixada argentina em Tel Aviv a Jerusalém.
Milei também rejeita a entrada da Argentina no Brics porque “não faz
acordos com comunistas”, incluindo nessa lista o próprio presidente
Lula, motivo pelo qual também pretende romper com o Mercosul.
Vídeo relacionado: Candidato de Fernández tem reunião com Lula e Haddad sobre adesão da Argentina ao Brics (Dailymotion)
Massa pretende traçar esse paralelismo, ficando do lado de Lula, numa
advertência implícita ao eleitorado argentino sobre como termina esse
discurso disruptivo extremista.
“Se rompermos com o Mercosul e com a China, a primeira coisa que
devemos saber é que vamos romper com os nossos dois mercados mais
importantes”, advertiu Sergio Massa, na quinta-feira (24) diante de 150
empresários, reunidos pelo Conselho das Américas em Buenos Aires.
A candidata da centro-direita, Patricia Bullrich, tem no Brasil o seu
principal aliado, mas também rejeita a entrada da Argentina no BRICS
por ter o bloco uma maioria de países sob regime autoritário, por ter a
invasora Rússia sob comando de Vladimir Putin e, principalmente, pela
entrada do Irã, acusado pelo Supremo Tribunal argentina de ser o autor
intelectual de dois atentados terroristas em Buenos Aires, em 1992 e
1994.
Crédito brasileiro com garantia em moeda chinesa
O ponto mais urgente da viagem é a possibilidade de o Brasil
continuar a exportar à Argentina sem que o Banco Central argentino, com
reservas negativas, precise desembolsar dólares.
Vários setores da economia argentina começam a parar por falta de
componentes importados, necessários para o produto final na Argentina. É
o caso da indústria automotiva argentina, dependente das autopeças
brasileiras para a terminação de automóveis.
“Sergio Massa quer aliviar o efeito da falta de dólares na atividade
econômica argentina porque há muitos setores, sobretudo o automotivo,
que têm limitado as suas importações, freando fortemente a economia”,
indica Berensztein.
O governo brasileiro vai abrir uma linha de crédito de até 700
milhões de reais através do Programa de Financiamento às Exportações
(Proex) aos exportadores brasileiros que venderem à Argentina. O crédito
terá como garantia os yuans de uma linha de crédito “swap” entre
Argentina e China, disponíveis no Banco Central argentino. O crédito é
um financiamento da China para que a Argentina compre os produtos
chineses.
Os recursos serão convertidos de yuans a reais através do Banco do
Brasil, que manterá a custódia do montante das operações e executará a
garantia em caso de inadimplência por parte do importador argentino.
Atualmente, os importadores argentinos mantêm uma dívida superior a
US$ 20 bilhões com exportadores estrangeiros sem que o Banco Central
argentino libere esse dinheiro por absoluta falta de dólares. Cerca de
210 empresas exportadoras brasileiras têm tido atrasos superiores a 180
dias para receber os pagamentos.
Para o presidente Lula, a criatividade financeira desse crédito está
em sintonia com o seu objetivo de substituir o dólar das transações
comerciais entre terceiros países, optando por moedas locais. Para a
China, é mais um passo para a internacionalização da sua moeda.
“É um procedimento para aliviar ainda mais o uso de reservas num
momento no qual temos de cuidá-las”, indicou Sergio Massa, dias atrás
quando o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, antecipou a proposta
brasileira.
Interesse do Brasil pelo mercado argentino
Na quarta-feira passada (23), numa entrevista coletiva em Johanesburgo, à margem da reunião do Brics, Haddad revelou ter proposto uma linha de crédito à Argentina com garantia em yuans chineses.
Embora a Argentina seja o terceiro maior comprador da produção
brasileira, atrás de China e Estados Unidos, o mercado argentino é o
principal para as exportações brasileiras industrializadas, aquelas que
mais empregos geram no Brasil.
Nos últimos tempos, justamente por não contar com um instrumento como
a China, o Brasil perdeu parte do mercado argentino para os produtos
chineses. A escassez de dólares no Banco Central argentino tem sido uma
barreira para produtos importados na Argentina, com exceção dos
chineses, financiados por esse crédito da China à Argentina.
No dia 2 de maio, o presidente Alberto Fernández viajou com Sergio
Massa a Brasília com o objetivo de conseguir uma linha de crédito do
BNDES, mas, diante da falta de uma garantia, o presidente argentino
voltou com as mãos vazias.
No dia 4 de julho, durante a reunião de Cúpula do Mercosul, em Puerto
Iguazú, Lula e Massa acertaram ter uma reunião em Brasília, quando
fosse habilitado um mecanismo para financiar as exportações brasileiras à
Argentina.
Gasoduto argentino ao Brasil
O ministro-candidato argentino também incluiu na agenda da reunião o
financiamento do BNDES às exportações de bens e serviços brasileiros de
um gasoduto entre a reserva patagônica de Vaca Muerta, a segunda maior
jazida de gás de xisto e a quarta de petróleo não-convencional do mundo,
até o Sul do Brasil. O gás argentino é suficiente para o Brasil
substituir o da Bolívia cujas reservas têm caído anualmente.
O BNDES vai financiar os canos de aço para o gasoduto. Esses canos são produzidos no Brasil pela empresa argentina Techint.
O gasoduto também é uma forma de Sergio Massa capitalizar avanços
concretos numa campanha que rema contra a corrente de uma economia em
agonia, com uma inflação que em agosto deve superar os 12%, encerrando o
ano acima de 150%.
Votação: Qual porcentagem de alíquota efetiva de Imposto de Renda os milionários pagam no Brasil?
Beneficiados por brechas que permitem camuflar rendas pessoais como
rendimentos empresariais, os milionários no Brasil pagam menos Imposto
de Renda do que servidores públicos e outras categorias profissionais de
renda média e alta. A conclusão consta de estudo inédito publicado pelo
Sindicato Nacional dos Auditores-Fiscais da Receita Federal (Sindifisco
Nacional).
Feito com base nos dados do Imposto de Renda Pessoa Física 2022
(ano-base 2021), o levantamento constatou que os contribuintes que
declararam, em 2021, ganhos totais acima de 160 salários mínimos (R$ 176
mil por mês ou R$ 2,1 milhões anuais) pagaram, em média, 5,43% de
alíquota efetiva de Imposto de Renda (IR). Formado por 89.168 pessoas,
esse contingente responde por apenas 0,25% do total de 35.993.061
declarantes do Imposto de Renda Pessoa Física no ano passado.
Essa alíquota efetiva é inferior à de muitas categorias de
profissionais. Médicos pagaram, em média, 9,42% de Imposto de Renda no
ano passado. Os super-ricos também pagam menos que outras categorias,
como professor de ensino médio (8,94%), policiais militares (8,87%) e
enfermeiro (8,77%).
Entre os servidores públicos, a alíquota média para carreiras da
administração pública direta correspondeu a 9,54%, subindo para os
ocupantes de outros órgãos, que ganham mais, como servidores do
Ministério Público (11,83%), membro do Poder Executivo (12,15%),
servidor do Poder Judiciário (12,53%), carreiras de gestão governamental
e analista (13,66%), servidor do Poder Legislativo (13,76%), servidor
do Banco Central (14,48%), carreiras de auditoria-fiscal e fiscalização
(14,73%) e advogados do serviço público (15,66%).
Desigualdades
A alíquota efetiva representa percentual da renda total que de fato
foi paga como Imposto de Renda. Segundo o Sindifisco, a menor alíquota
efetiva decorre principalmente de indivíduos cuja parcela significativa
de renda é composta por lucros e dividendos de empresas, rendimento
isento no Brasil desde 1996. O órgão também atribui as disparidades à
falta de correção da tabela do Imposto de Renda, que ficou congelada
entre 2015 e este ano, e à inflação, que corrói menos as rendas dos mais
ricos.
“A participação relativa dos rendimentos isentos e não tributáveis,
como lucros e dividendos, no total da renda declarada aumentou de 32%
para 36%. O que demonstra que a regressividade do sistema tributário
está se aprofundando, pois os super-ricos estão utilizando esses
recursos como nunca, contribuindo ainda menos para a arrecadação
federal”, afirma o presidente do Sindifisco Nacional, Isac Falcão.
Embora a classe média também tenha parte dos ganhos atrelada a
rendimentos isentos, essa parcela é inferior à dos milionários. Na
tabela atual, o Imposto de Renda é tributado na fonte, com alíquotas
progressivas de até 27,5% para rendimentos acima de R$ 4.664,69 por mês.
Mesmo com o aumento do limite de isenção da tabela do IR para R$ 2.380
por mês, sancionada nesta segunda-feira (28) pelo presidente Luiz Inácio
Lula da Silva, as demais faixas não foram corrigidas.
Outro fator que contribui para o menor pagamento de Imposto de Renda
em algumas categorias é a chamada pejotização, em que profissionais
liberais abrem empresas no próprio nome e recebem como pessoas
jurídicas. Algumas categorias pagam alíquotas efetivas próximas ou
inferiores à de super-ricos, como odontólogos (5,89%), cantor e
compositor (5,34%) e advogados (5,24%).
Em 2021, segundo a Receita Federal, os contribuintes brasileiros
receberam R$ 555,68 bilhões em lucros e dividendos, alta de quase 45% em
relação a 2020 (R$ 384,27 bilhões) e de 46,5% na comparação com 2019
(R$ 379,26 bilhões). Para o Sindifisco Nacional, esse movimento se deve
às expectativas dos agentes econômicos de um possível restabelecimento
da tributação sobre lucros e dividendos na segunda fase da reforma
tributária. Segundo a entidade, parte do empresariado antecipou a
distribuição dos lucros para evitar uma provável taxação.
Distorções
Em relação aos contribuintes que ganham até 15 salários mínimos
mensais, a alíquota efetiva média subiu entre a declaração de 2021 e de
2022. Acima desse rendimento, houve queda, exceto para os contribuintes
que ganham mais de 320 salários mínimos, cuja alíquota efetiva passou de
5,25% para 5,43%.
Quem ganhava entre cinco e sete salários mínimos, por exemplo, pagou
5,98% de alíquota efetiva em 2022, mais que os milionários. Dois anos
antes, a taxa média estava em 4,91% para a faixa de cinco a sete
salários mínimos. Na faixa entre sete e dez salários mínimos, a alíquota
efetiva passou de 7,7% para 8,67%.
Segundo o Sindifisco, a maior alíquota para as faixas de baixa e de
média renda deve-se à falta de correção da tabela. Isso porque os
reajustes anuais, mesmo que não compensem a inflação, fazem o
trabalhador subir de faixa e pagar menos Imposto de Renda, mesmo sem a
melhora do poder de compra.
A Agência Brasil procurou o Ministério da Fazenda
para obter uma resposta sobre o estudo, mas a pasta não se manifestou
até o fechamento da matéria.
Além de potência agrícola, a Ucrânia abriga outras riquezas
sob o seu solo. Área ocupada pelas tropas de Putin concentra, segundo
estimativas, cerca de US$ 12 trilhões em minérios valiosos.
Com mais de 60% de ferro em sua composição, o minério extraído de
Dniprorudne na região de Zaporíjia, sul da Ucrânia, é cobiçado. Antes da
guerra, as exportações dessa commodity rendiam ao país cerca de 200
milhões de euros a cada ano; a maior e melhor parte das 4,5 milhões de
toneladas extraídas seguia para a Eslováquia, a República Tcheca e a
Áustria. Além disso, aproximadamente um terço do ferro era processado em
uma usina siderúrgica em Zaporíjia e exportado como aço.
As coisas, porém, mudaram desde o verão de 2022 no Hemisfério Norte: Dniprorudne, a cidade proletária localizada ao sul da (agora seca) barragem de Kakhovka,
foi ocupada por tropas russas. Seu minério, de importância estratégica
para o governo de Kiev, é enviado desde então a Moscou; na prática, os
investidores das empresas que atuavam na região – ucranianos, eslovacos e
tchecos – foram expropriados.
Sequestro de matéria-prima empobrece a Ucrânia
Segundo as autoridades aduaneiras da Ucrânia, as exportações de
minério para a metalurgia em 2022 recuaram quase 60% em comparação com o
ano anterior – totalizando, nos cálculos da consultoria GMK Center,
menos de 3 bilhões de dólares.
O declínio se deve, em parte, à ocupação russa de áreas de mineração
que totalizam cerca de 12 trilhões de dólares em recursos minerais, de
acordo com estimativas do think tank canadense SecDev – além do minério
de ferro, essas áreas concentram não só outros recursos importantes para
a metalurgia – como carvão, titânio e manganês –, mas também – embora
em menor proporção – ouro, gás natural, petróleo, caulim, sal, gesso,
zircônio e urânio.
Embora Kiev mantenha o controle sobre as usinas de processamento e a
Bacia de Kryvyi Rih – o maior depósito de minério de ferro –, essas
regiões são atacadas sistematicamente por tropas russas estacionadas no
sudeste da Ucrânia.
“Acima de tudo, o cálculo político de Moscou é destruir o potencial
econômico da Ucrânia – tanto faz se por meio da apropriação de recursos
ou da destruição deles por bombardeio”, afirma Yaroslav Chalilo,
economista do Instituto Nacional de Estudos Estratégicos de Kiev.
Segundo Chalilo, a escassez de recursos terá consequências dramáticas
para a produção de aço ucraniana – enquanto em 2021 o país exportou
quase 20 milhões de toneladas de produtos metalúrgicos, no primeiro
semestre de 2023 esse número caiu para 2,5 milhões de toneladas. Tropas
russas destruíram grandes siderúrgicas em Mariupol; a infraestrutura que
ainda resta à Ucrânia luta para manter-se de pé.
Bloqueio russo dificulta acesso a matérias-primas
Até 80% do carvão ucraniano está em áreas na região leste do país
ocupadas pela Rússia. O carvão antracito, particularmente valioso do
ponto de vista energético, está totalmente sob controle russo e deixa a
Ucrânia dependente de importações de países como os EUA ou a África do
Sul.
Essas importações, porém, tornaram-se particularmente custosas já que o bloqueio russo no Mar Negro fez
com que essas matérias-primas passassem a entrar pelos portos de países
vizinhos, como Polônia ou Romênia, para só então serem entregues à
Ucrânia pela via férrea. A exportação da indústria pesada ucraniana
também enfrenta o mesmo problema, o que afeta a competitividade do
setor.
“A Rússia quer drenar a Ucrânia economicamente e retratá-la em sua
propaganda como um ‘estado fracassado’, que não consegue sobreviver sem a
Rússia”, afirma Chalilo.
Abastecimento global ameaçado?
Para a cientista política Olivia Lazard, do think tank belga Carnegie
Europe, o confisco de matérias-primas ucranianas é uma das principais
motivações para a invasão russa.
Assegurar recursos estratégicos pela via da força, segundo a especialista, é um padrão da política russa. “Na África, com a ajuda dos mercenários do
grupo Wagner, Moscou tem garantido há anos não só ouro e diamantes, mas
também recursos necessários para a transformação verde, como lítio,
cobalto e outros minerais raros.”
Em julho de 2021, poucos meses antes de a Rússia invadir a Ucrânia, a
União Europeia havia firmado uma parceria estratégica com Kiev para o
fornecimento de matérias-primas necessárias à “transformação verde” do
bloco – segundo especialistas, dois terços dos 30 recursos naturais
listados pela UE como críticos para atingir essa meta estão na Ucrânia.
Os riscos das mudanças climáticas, contudo, despertaram o interesse
também de Moscou pelas riquezas ucranianas. “Dada a crescente escassez
de recursos, a Rússia se vê cada vez mais como um ator-chave tanto no
fornecimento de recursos energéticos quanto na segurança alimentar e no
abastecimento de água. Estamos vendo agora, no caso da suspensão do acordo de grãos,
como a questão da segurança global de abastecimento é transformada em
refém das ambições russas por poder. Para a Rússia, todos os recursos
são também um instrumento para desafiar a UE e a Otan”, avalia Lazard.
Lítio em disputa
Um dos minerais mais cobiçados mundialmente é o lítio,
usado em baterias de celulares e automóveis. A Ucrânia atrai
investidores estrangeiros com as “maiores reservas da Europa” – números
concretos, no entanto, são aparentemente muito sensíveis para serem
divulgados publicamente. “Isso é um segredo de estado, ninguém lhe
dirá”, afirma Dmytro Kachtchuk, do Geological Investment Group, uma
empresa ucraniana de consultoria no ramo de mineração.
A Rússia já sinalizou interesse em dois dos quatro depósitos
conhecidos de lítio na Ucrânia. O depósito de Kruta Balka, na região de
Zaporíjia, está sob controle russo desde a primavera europeia de 2022;
já o de Shevchenkove, na região de Donetsk, está a poucos quilômetros do
front de guerra – um investidor australiano que buscava uma licença de
mineração ali, pouco antes da guerra, desistiu da empreitada.
“A mineração de lítio na Ucrânia provavelmente será mais cara do que na América do Sul ou
em outras partes do mundo devido à geologia dos depósitos. Quando
fatores adicionais de risco se somam a isso, a questão se torna duvidosa
do ponto de vista econômico”, pondera Kachtchuk.
Se paciente seguir corretamente o protocolo, tendência é recuperar totalmente a qualidade de vida
Por Thaís Manarini – Jornal Estadão
O apresentador Fausto Silva, de 73 anos, o Faustão, passou por um transplante cardíaco no
domingo, 27. Ele estava internado desde o dia 5 de agosto no Hospital
Israelita Albert Einstein (SP) em tratamento para insuficiência
cardíaca. Segundo sua esposa, Luciana Cardoso, no dia 8 ele foi colocado
na lista para receber um coração.
Em boletim divulgado hoje, o hospital diz que Faustão segue na
Unidade de Terapia Intensiva (UTI) sob sedação e respirando com auxílio
de ventilação mecânica. “Seu estado clínico é estável e as funções do
coração estão de acordo com o esperado para as primeiras 24 horas”, diz a
nota.
De acordo com o cardiologista Alexandre Soeiro, coordenador do
programa de Insuficiência Cardíaca do Hcor, o tempo médio dentro do
hospital é de 30 dias, mas isso é muito variável e depende da existência
de complicações no quadro do paciente.
Os maiores riscos do procedimento são rejeição do órgão ou infecções – e isso vale para o transplante de qualquer órgão. Para ambas as complicações, os médicos administram medicamentos que reduzem o risco desses quadros.
O que causa rejeição e infecções e como evitar esses problemas
A rejeição ocorre quando o sistema imunológico do paciente encara o
novo órgão como algo estranho e passa a atacá-lo. Para evitar isso, são
indicados remédios conhecidos como imunossupressores. Eles controlam essa ativação da imunidade.
Mas, ao mesmo tempo, como “baixam a guarda” do sistema de defesas do
corpo, esses medicamentos deixam o paciente mais suscetível a infecções
oportunistas. Por isso, é preciso encontrar um balanço ideal para
desarmar a imunidade sem deixar o paciente vulnerável.
De acordo com o cardiologista Alexandre Soeiro, cardiologista e
coordenador do programa de Insuficiência Cardíaca do Hcor, é importante
seguir e monitorar o paciente de perto, com o apoio de exames, para ter a
certeza de que não há nada errado.
Ainda de acordo com o médico, quanto mais próximo ao transplante,
maior o risco de rejeição, mas isso pode acontecer mais para frente,
caso houver alguma falha no uso da medicação. “O paciente deve tomar os
imunossupressores pelo resto da vida”, aponta o médico.
Cuidados extras
Soeiro comenta ainda que é preciso cuidar da ferida pós-operatória.
Entre as orientações da Associação Brasileira de Transplante de Órgãos
(ABTO) estão lavar a área com água corrente e sabonete neutro, secar com
uma toalha limpa e passada – não pode ser a mesma usada para o resto do
corpo.
Se houver sinais de ruptura dos pontos, vermelhidão, calor local,
saída de secreção ou febre, é essencial buscar o apoio da equipe
transplantadora.
A ABTO ainda recomenda que os pacientes evitem lugares públicos
fechados como metrôs, ônibus, shoppings e cinemas durante, no mínimo, 30
dias após o transplante – ou até liberação médica.
Segundo o cardiologista do Hcor, a alimentação deve ser baseada em
uma rotina pré-determinada. “Após a alta, a dieta vai seguir a
orientação da equipe de nutrição, e existem limitações, principalmente
com alimentos crus”, comenta. Nesse momento, também se inicia a
reabilitação cardiopulmonar.
“O paciente precisa retornar frequentemente para consultas e realizar
exames de rotina para rever o funcionamento cardíaco, além de avaliar
infecções e possíveis efeitos colaterais da imunossupressão”, completa o
médico.
A tendência é que, seguindo o protocolo de cuidados, e mantendo
contato frequente com o cardiologista, o paciente recupere completamente
a sua qualidade de vida.