FORMAR PROFESSORES NÃO É FAZER SALCHICHAS
Cláudio Lembo
As
mudanças na estrutura social brasileira verificam-se com velocidade
extraordinária. Os segmentos estruturados há séculos romperam-se nestes últimos
cem anos.
Muitas
podem ser as variáveis para as alterações verificadas. Certamente, na região
sul e sudeste, é de se considerar a imigração de europeus, particularmente
italianos.
Alteraram
os costumes e trouxeram em suas bagagens a tradição de trabalho livre, sem as
amarras anteriores a 1888. Exigiam de seus descendentes dedicação e esforço na
busca de ascensão social.
Os demais
segmentos imigratórios – japoneses, árabes, espanhóis, entre outros – foram em
número inferior e, cada um, o seu turno, agregou novos valores às tradições
lusitanas, indígenas e negras.
O fluxo
interno de pessoas, a partir dos anos sessenta, ampliou-se com os grandes
deslocamentos de pessoas. Estes permitiram a plena integração da comunidade
nacional.
Hoje,
preservadas as raízes de cada grupo social, uma sociedade multicultural se
desenvolve com dinamismo e preservação de muitas características próprias, o
que dá ao Brasil um colorido especial e único.
Esta
sociedade heterogênea quanto às origens e homogênea quanto os objetivos, passou
a exigir – cada vez mais – escolaridade e educação continuada para seus
membros.
Nos anos
setenta, romperam-se as barreiras que vedavam o acesso ao ensino universitário
a milhões de brasileiros. Antes, este acesso era limitado aos filhos das elites
econômicas.
A grande
mudança, abrindo a iniciativa privada a exploração da educação, desafogou os
vestibulares das instituições públicas. As greves patrocinadas pelo movimento
estudantil cessaram.
No jargão
da época, até hoje repetido, ocorreu uma democratização do ensino. É possível.
Hoje, a maioria dos jovens busca se aperfeiçoar em cursos oferecidos por uma
enormidade de escolas superiores.
Acontece
que natureza, como a educação, não dá saltos. O aumento de vagas não foi
acompanhado pela qualificação dos professores. Deu-se a improvisação. Esta
sempre leva a resultados duvidosos.
Os cursos
das ciências humanas multiplicaram-se. Faculdades de Direito foram criadas em
regiões sem qualquer vocação para as disciplinas jurídicas.
Poderá
ser afirmar que é melhor o aprimoramento em escolas de duvidosa qualificação do
que se permanecer em cenário iletrado. É possível, mas não é oportuno.
A meia
ciência pode produzir grandes malefícios. É o que se nota nos resultados
publicados pelo Ministério da Educação a respeito do ensino superior no País.
Há um
grande esforço para se qualificar a docência universitária. Ocorre que um bom
professor é produto de anos de dedicação e estudo metódico.
Não se
formam professores como se produzem salsichas. É bem diferente. O ensino
nacional, como por toda a parte, vai se tornando uma atividade meramente
comercial.
As
escolas tornaram-se fábricas de diplomas. Estes obtidos mediante cursos
presenciais – com o professor dialogando com seus alunos – ou à distância, por
meio de sistemas televisivos e ajuda da internet.
Vai se
massificar cada vez mais o ensino ou como querem alguns a sua democratização.
Poucos, porém, são os centros de excelência que se preservam.
A velha
universidade, que se constitui em centro de meditação e aprimoramento,
transformou-se em estrutura burocrática de alto custo e duvidosa qualidade.
Muitas vezes, mero cabide de empregos.
Com o
tempo, as instituições devem se aperfeiçoar. Não será um processo natural.
Intervenções cirúrgicas serão exigidas, cada vez mais.
COMENTÁRIOS:
“É uma
bela crítica.Mas antes da universidade, creio eu que o país hoje conta com um
verdadeiro escândalo em termos de educação básica. Em meu curso de graduação,
iniciamos a turma com 50 alunos, dos quais apenas 16 se formaram. Trinta por
cento desistiu ou mudou de curso já no primeiro semestre, por não conseguir
acompanhar às aulas devido à falta das mais básicas noções de matemática.É de
chroar quando vejo determinados professores do ensino fundamental usando o
facebook sendo incapazes de desejar 'Feliz aniversário!', sem cometer erros na
grafia (tipicamente 'aniverssário', com ss).E que tal o caso da professora de
meu pequeno vizinho? Ensinou às crianças que temos verão e inverno porque a
órbita da Terra em torno do sol é elíptica. Assim, quando estamos mais perto do
sol é verão, e mais longe inverno. O pai do garoto foi à escola perguntar se o
hemisfério norte se separa do hemisfério sul, para que um esteja orbitando mais
próximo e outro mais longe na mesma época do ano.Tenho medo do futuro destas
crianças e o pior: elas são o futuro do Brasil”! (Emanuel Baldissera)
“Nem se faz o
professor como se fosse molho de tomate” (Eduardo Eloi V Silva)
“Corretíssimo o Senhor Lembo, quando diz
que o ensino precisa de profundidade. É preciso que o crescimento na área
técnica seja respaldada pela aprofundamento do pensamento filosófico. Como 'O
homem não vive só de pão', também uma nação não pode sobreviver só com o
progresso nas ciências 'quânticas', senão que precisa de ciências que lembrem
ao homem quem ele é, um ser carne e espírito, inteligente e livre, mas limitado
e aberto ao infinito”. (AVELINO GAMBIM)
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