Alcolumbre manda recado ao STF durante discurso no Senado
O senador Davi Alcolumbre (União-AP) mandou um recado ao Supremo
Tribunal Federal (STF), neste sábado (1º), durante seu discurso de
candidatura à presidência da Casa Legislativa. Favorito para assumir o
cargo, Alcolumbre afirmou que é “essencial respeitar as decisões
judiciais e o papel do Judiciário em nosso sistema democrático. Mas é
igualmente indispensável respeitar as prerrogativas do Legislativo e
garantir que este Parlamento possa exercer seu dever constitucional de
legislar e representar o povo brasileiro”. O recado foi sobre a relação
entre dois Poderes e as emendas parlamentares. No fim de 2024, o
ministro Flávio Dino bloqueou a liberação de emendas de comissão do
Senado. “Hoje, mais uma vez, enfrentamos desafios. O relacionamento
entre os Poderes, embora seja regido pela Constituição e pela harmonia,
tem sido testado por tensões e desentendimentos. Entre esses desafios,
destaco a recente controvérsia envolvendo as emendas parlamentares ao
orçamento, que culminou em debates e decisões e com o Supremo Tribunal
Federal e o Poder Executivo”, prosseguiu. O parlamentar ressaltou ainda
que, para ele, “acordo firmado é acordo cumprido”. “Estou falando ao
cumprimento dos acordos aqui firmados, porque sem confiança uns nos
outros e sem a obediência ao que foi acordado, este Parlamento se
transforma em um campo de guerra e as boas ideias se perdem numa eterna e
infrutífera disputa entre antagonistas”, disse. O discurso ocorreu
antes da votação para a escolha do próximo presidente da Casa. Ele
disputa o cargo contra os senadores Astronauta Marcos Pontes (PL-SP) e
Eduardo Girão (Novo-CE).
(Bloomberg) — O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que já vinha
tendo de encarar os elevados preços dos alimentos, o crescente ceticismo
dos investidores e a queda nas taxas de aprovação, agora tem outro
desafio pela frente: uma mudança no comando do Congresso que irá testar
sua capacidade de navegar pelo conservador parlamento brasileiro.
A Câmara e o Senado elegeram neste sábado os novos presidentes, ambos
de partidos do chamado centrão, que mantém relações instáveis com o
governo. O já conhecido senador Davi Alcolumbre foi eleito por 73 dos 81
votos. Lula telefonou a Alcolumbre logo após a eleição, segundo o líder
do governo no Congresso, senador Randolfe Rodrigues. O presidente o
parabenizou publicamente em um comunicado.
“Caminharemos juntos na defesa da democracia e na construção de um
Brasil mais desenvolvido e menos desigual, com oportunidades para todo o
povo brasileiro”, afirmou Lula em nota.
O deputado Hugo Motta também foi eleito como o novo presidente da Câmara numa votação ainda neste sábado.
Sem maioria em nenhuma das Casas, as relações de Lula com o Congresso
— e com o atual presidente da Câmara, Arthur Lira, em particular — têm
se mostrado muitas vezes difíceis nos últimos dois anos. Agora ele
precisará construir laços com novos líderes dos quais dependerá
fortemente enquanto navega por obstáculos, como o desconforto do mercado
sobre os gastos públicos e suas próprias propostas que visam
impulsionar o apoio popular antes da eleição presidencial de 2026.
Isso não será fácil. A agenda já está atribulada e, ao mesmo tempo
que o PT de Lula apoia os dois favoritos, eles também desfrutam do apoio
do PL do ex-presidente Jair Bolsonaro, que também telefonou para
parabenizar Alcolumbre.
Mas Lula não espera sentado para fazer suas próprias incursões, já
que os parlamentares retomam o trabalho com o Orçamento 2025 no topo da
lista de prioridades. O petista quer se reunir com os novos presidentes
na próxima semana, disse uma pessoa familiarizada com a situação, antes
de iniciar uma aguardada reforma ministerial, que visa ampliar apoio ao
governo no Legislativo.
Em Alcolumbre, Lula encontrará um rosto familiar: o congressista de
47 anos, que comandou o Senado de 2019 a 2020, atuou como uma figura
poderosa sob a gestão do agora ex-presidente da Casa Rodrigo Pacheco e
escolheu ao menos três ministros de Lula. O senador também era o
responsável pela negociação de emendas parlamentares para seus colegas.
A equipe de Lula espera que as negociações com Alcolumbre sejam mais
difíceis do que foram sob Pacheco, que atuou sempre como aliado,
disseram duas pessoas familiarizadas com a situação, pedindo anonimato
para discutir assuntos sensíveis.
Motta, 35 anos, é uma tela em branco. Ele está no cargo desde 2011,
ganhou destaque na CPI da Petrobras e já foi muito próximo de Eduardo
Cunha — o ex-presidente da Câmara que liderou o impeachment da
presidente Dilma Rousseff.
Inicialmente hesitante em apoiar a candidatura de liderança do jovem
deputado, Lula foi convencido por aliados e pelas conversas iniciais com
Motta, segundo um dos aliados a par do processo.
Essas conversas provavelmente ajudarão a manter os canais abertos com
Motta, disse Paulo Gama, coordenador de análise política da XP
Investimentos. Ele acrescentou que o deputado já atuou como relator de
matérias relevantes para o mercado financeiro e “demonstrou capacidade”
tanto para o diálogo quanto para questões técnicas.
A familiaridade com Alcolumbre, por sua vez, provavelmente levará à
“continuidade do modelo atual nas negociações” entre o Senado e o
governo, disse Gama. “Ele é alguém que está disposto a ouvir os
argumentos do governo, mas sem alinhamento automático com todos os
pontos da agenda.”
Orçamento e medidas fiscais
O primeiro item da agenda será o Orçamento de 2025, que o governo
está ansioso para aprovar porque os gastos estão limitados até que a
peça orçamentária seja aprovada. Isso não deve acontecer antes o
carnaval, em março, de acordo com o senador Angelo Coronel, relator do
projeto.
Lula também quer garantir a aprovação da isenção de imposto de renda
para salários de até R$ 5.000, uma proposta que o PT vê como chave para
reforçar o apoio entre os eleitores da classe trabalhadora. Mas o custo
desse plano, que provocou a ansiedade dos investidores sobre o
compromisso de Lula com a disciplina fiscal no final do ano passado,
também precisa ser compensado.
A ideia inicial do governo é fazê-lo aumentando os impostos sobre os
super ricos, mas isso pode não ganhar amplo apoio. A oposição liderada
por Bolsonaro é contra a ideia, embora o ex-presidente tenha os
instruído a evitar criticar a proposta já na largada por receio de que
sejam rotulados de defensores dos ricos, disse ele em uma entrevista.
As batalhas sobre a regulamentação das grandes empresas de tecnologia
e inteligência artificial também estão em andamento este ano. E há o
potencial de medidas adicionais para reforçar a situação fiscal do país,
em meio aos temores do mercado sobre o déficit e a trajetória da dívida
do Brasil.
Isso só virá mais tarde, se é que virá. Em uma recente entrevista, a
ministra do Planejamento, Simone Tebet, disse que o governo vai esperar
pela divulgação do primeiro relatório bimestral do ano, em março, “para
ver se novas medidas serão necessárias”.
Outras tarifas devem vir em 18 de
fevereiro, com a taxação de petróleo e gás importados, e no início do
próximo mês com aço e alumínio
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Por David J. Lynch (The Washington Post), Mary Beth Sheridan (The Washington Post) e Amanda Coletta (The Washington Post)
Na sexta-feira, 31, o presidente Donald Trump expandiu dramaticamente seus planos para uma guerra comercial global, confirmando que irá impor tarifas sobre o Canadá, México e China neste
sábado, 1º, e anunciando planos para impostos de importação adicionais
em produtos europeus, semicondutores, produtos farmacêuticos, aço,
alumínio, cobre e petróleo e gás.
A extensa lista de produtos que em breve podem se tornar notavelmente
mais caros para consumidores e empresas americanas vai desde metais
industriais e commodities até vinho, cerveja, madeira e medicamentos.
Falando no Salão Oval, Trump negou que seu entusiasmo por tarifas representasse um dispositivo de negociação Foto: Evan Vucci/AP
Falando no Salão Oval, o presidente negou que seu entusiasmo por
tarifas representasse um dispositivo de negociação ou que estivesse
buscando concessões específicas de outros países.
Ele repetiu suas reclamações familiares de que China, Canadá e México são responsáveis por uma enxurrada de fentanil nos Estados Unidos, que ele disse estar matando “centenas de milhares” de americanos a cada ano.
Tomados em conjunto, os comentários de Trump representaram o mais
extenso menu de ameaças comerciais feitas por um presidente dos EUA em
décadas. Se implementadas como medidas permanentes, elas remodelariam
dramaticamente os laços comerciais dos EUA com outros países e
prejudicariam a economia global.
O presidente reconheceu que tais tarifas extensas poderiam causar aos
americanos “alguma disrupção temporária de curto prazo”, mas
acrescentou, “As pessoas vão entender isso.”
Ele descartou preocupações de que a imposição de impostos elevados
sobre muitos bens estrangeiros levaria à renovação da inflação nos
Estados Unidos, onde os preços ainda estão subindo mais rápido do que a
meta do Federal Reserve.
“Tarifas não causam inflação. Elas trazem sucesso,” disse o presidente.
A única concessão de Trump para o possível choque de preços de seus
planos para impostos de importação mais altos foi dizer que ele
“provavelmente” definiria a tarifa sobre importações de petróleo
canadense em 10% em vez de 25%.
O presidente criticou particularmente a União Europeia, dizendo que
ele “absolutamente” imporia tarifas sobre suas remessas para os Estados
Unidos.
“Somos tão mal tratados que eles não levam nossos carros, eles não
levam nossos produtos agrícolas, essencialmente, eles não levam quase
nada. E temos um déficit enorme com a União Europeia. Então, vamos fazer
algo muito substancial com a União Europeia,” ele disse.
Detalhes
Como é seu costume, o presidente forneceu poucos detalhes de seus
planos para novas barreiras comerciais. Mas ele disse que colocaria
novos impostos sobre petróleo e gás importados em 18 de fevereiro e
pretendia fazer o mesmo com aço e alumínio este mês ou no próximo mês.
“Será uma quantidade tremenda de dinheiro para nosso país, uma
quantidade tremenda,” disse o presidente, repetindo sua alegação errônea
de que estrangeiros pagam as tarifas dos EUA. “Tarifas vão nos tornar
muito ricos e muito fortes.”
Na verdade, os importadores americanos pagam tarifas à Alfândega e
Proteção de Fronteiras dos EUA quando coletam seus bens importados nos
portos dos EUA.
Finalmente, o ônus desse imposto é compartilhado pelo importador
americano, pelo produtor estrangeiro e pelo cliente final, e varia de
acordo com condições específicas do mercado.
Mas na maioria dos casos, os custos das tarifas são “quase
inteiramente suportados por empresas e consumidores dos EUA,” de acordo
com um estudo de 2020 por economistas do Banco da Reserva Federal de
Nova York, da Universidade de Princeton e da Universidade de Columbia.
O salvo retórico do presidente na sexta-feira à noite ocorreu
enquanto empresas nos Estados Unidos, Canadá e México se preparavam para
um anúncio formal de tarifas. Mais cedo, a secretária de imprensa da
Casa Branca, Karoline Leavitt, confirmou que o presidente imporá tarifas
de 25% sobre bens do Canadá e México e 10% sobre produtos da China.
Taxas devem provocar desaceleração nas economias de México e Canadá Foto: Judi Bottoni/AP
Os americanos compraram no ano passado aproximadamente US$ 1,3
trilhão (R$ 7,57 trilhões) em mercadorias desses três países, de acordo
com o Bureau do Censo.
Economia
Os novos impostos esperam agitar a economia da América do Norte, arriscando a reignição da inflação nos Estados Unidos, uma possível recessão no Canadá e um aprofundamento da desaceleração no México.
Principais cadeias de suprimentos industriais que se estendem pelas
fronteiras norte e sul dos EUA enfrentam interrupção iminente. A
indústria automobilística é particularmente vulnerável, com peças e
veículos semiacabados cruzando as fronteiras norte-americanas várias
vezes antes de serem completados.
Conforme Trump ampliou suas ameaças comerciais, Wall Street mostrou
pouco sinal de preocupação. O Dow Jones Industrial Average caiu menos de
1% na sexta-feira e os investidores permanecem convencidos de que as
tarifas do presidente serão usadas como alavanca de negociação em
conversas com o Canadá e México sobre imigração e contrabando de drogas,
de acordo com economistas do Barclays Bank.
Na Cidade do México, a presidente Claudia Sheinbaum disse que o México estava preparado para retaliar.
A presidente Claudia Sheinbaum disse que o México estava preparado para retaliar Foto: Alfredo Estrella/ALFREDO ESTRELLA
“Temos o Plano A, Plano B, Plano C, dependendo do que o governo dos
Estados Unidos decidir,” ela disse em sua coletiva de imprensa diária na
sexta-feira. “É muito importante que os mexicanos saibam que sempre
defenderemos a dignidade do nosso povo, o respeito pela nossa soberania e
um diálogo entre iguais (com os EUA), não com subordinados.”
Ela não forneceu detalhes, mas disse que o México estava preparado para mirar produtos dos EUA com contramedidas.
O México tem se esforçado para negociar com Washington, mas tem sido
difícil porque muitos nomeados de Trump ainda não foram confirmados. O
governo usou intermediários da comunidade empresarial para enviar
mensagens à Casa Branca, disseram autoridades.
Sheinbaum observou que o México esteve aberto para receber seus
cidadãos enviados de volta sob o plano de Trump para deportação em massa
de migrantes não autorizados e que estava preparado para aceitar alguns
de outros países, o que representava uma concessão.
O México é o parceiro comercial número 1 dos Estados Unidos e envia
80% de suas exportações para o norte. Autoridades enfatizaram o quanto
as tarifas vão prejudicar a empresas e consumidores dos EUA.
O maior exportador do México para os Estados Unidos é a General
Motors, uma empresa com sede nos EUA, disse o ministro do Comércio,
Marcelo Ebrard, na sexta-feira.
O México é a principal fonte de carros, computadores, televisões e
geladeiras vendidas nos Estados Unidos, ele disse. Um a cada três
refrigeradores comprados por americanos é fabricado no México, que
também é o principal fornecedor de telas para computadores e televisões,
ele disse.
“Se essas tarifas forem impostas, seus consumidores vão enfrentar
preços mais altos,” ele disse, dirigindo-se aos americanos. “Vamos ser
claros. O maior impacto cairá sobre as famílias nos Estados Unidos, que
terão que pagar 25% a mais.”
O México também fornece cerca de metade das frutas importadas pela
América e dois terços dos vegetais importados, em termos de dólar –
tomates, frutas, pimentões, pepinos. E é a maior fonte de cerveja
importada. O México também é o principal fornecedor de dispositivos
médicos para hospitais e consultórios médicos americanos, de luvas
cirúrgicas a bisturis.
O Canadá também tem lutado para decifrar os planos de Trump. Após as
eleições presidenciais de novembro, o primeiro-ministro Justin Trudeau e
líderes provinciais apareceram em redes de televisão dos EUA para
promover a importância do comércio transfronteiriço. Vários ministros do
gabinete estiveram em Washington esta semana em uma última tentativa de
parar as tarifas.
Mas as justificativas múltiplas de Trump para as tarifas deixaram o governo canadense confuso sobre a melhor resposta.
“Determinar exatamente o que é que o presidente Trump quer não é uma
coisa simples,” disse Jonathan Wilkinson, ministro da energia do Canadá,
esta semana.
Após Trump vincular tarifas ao que ele chamou de uma “invasão” de
migrantes e fentanil, autoridades canadenses revelaram em dezembro um
plano de fronteira de US$ 900 milhões (R$ 5,2 bilhões). Apenas 1,5% dos
migrantes detidos pela Alfândega e Proteção de Fronteiras dos EUA no ano
fiscal de 2024 e 0,2% do fentanil apreendido nas fronteiras dos EUA
vieram do Canadá.
O pequeno número de migrantes e fentanil cruzando a fronteira,
juntamente com as frequentes reclamações de Trump sobre o déficit
comercial dos EUA com o Canadá e especulações sobre o uso de tarifas
para aumentar a receita e relocalizar a fabricação, alimentou
preocupações de que as queixas de fronteira são um pretexto.
Autoridades canadenses disseram que retaliariam com suas próprias
tarifas em bilhões de dólares em bens dos EUA. Eles não descartaram
impor impostos de exportação sobre o petróleo bruto canadense ou
restringir as exportações de energia, uma ideia que é controversa nas
províncias ricas em petróleo.
“Se o presidente optar por implementar quaisquer tarifas contra o
Canadá, estamos prontos com uma resposta – proposital, enérgica, mas
razoável e imediata,” disse Trudeau na sexta-feira. “Não vamos desistir
até que as tarifas sejam removidas e, claro, tudo está sobre a mesa”.
Os visitantes do Porto do Açu podem ter dificuldade em identificar sua natureza industrial.
Nenhum armazém ou pilha de contêineres bloqueia a vista do Oceano
Atlântico. Faixas de restinga restaurada, uma floresta local de folhas
largas, abraçam a costa repleta de tartarugas cabeçudas. Uma história
diferente é sugerida apenas pelos navios gigantescos que pontilham o
horizonte do mar.
O porto, a 320 km a nordeste do Rio de Janeiro, é a maior instalação de apoio do mundo para extração de petróleo em alto-mar. Idealizado há uma década por um excêntrico bilionário brasileiro como uma forma de atender à demanda chinesa por commodities,
o Açu está atualmente entre os maiores portos privados do mundo. Ele
movimenta mais de 30% das exportações de petróleo bruto do Brasil e 7%
de seu minério de ferro.
Mas o foco do Açu está mudando. Nos últimos três anos, o porto
assinou contratos no valor de cerca de US$ 5 bilhões (aproximadamente R$
29 bilhões) para arrendar terras para fábricas que produzirão turbinas
eólicas, bem como instalações para a produção de amônia, combustível de aviação sustentável (SAF) e
ferro metálico puro, principal ingrediente para a produção de aço de
baixo carbono. O investimento em infraestrutura verde no porto agora
supera o investimento em combustíveis fósseis.
Limpo e cada vez mais limpo
O porto é um microcosmo das aspirações econômicas do Brasil. Há muito
tempo um grande exportador de grãos e matérias-primas, o país agora
quer usar sua abundância de energia renovável para atrair empresas que
buscam reduzir sua pegada de carbono e fabricar e exportar produtos de
maior valor agregado. É um plano decente.
Foco do Porto do Açu está mudando para a economia verde Foto: Pedro Kirilos/Estadão
A redução das emissões de carbono dos setores mais intensivos em
energia da economia — aviação e transporte marítimo, ou a fabricação de
cimento, aço e produtos químicos — exige enormes quantidades de energia
limpa e barata, bem como biomassa abundante.
Poucos países têm tanto desses recursos quanto o Brasil. Mais de 85%
de sua eletricidade é gerada sem a queima de combustíveis fósseis, uma
parcela quase três vezes maior do que a média global. A maior parte vem
da energia hidrelétrica, mas a energia eólica e, principalmente, a solar
estão se crescendo rapidamente. Até 2040, espera-se que os custos de
produção de energia solar e eólica caiam 46% e 27%, respectivamente.
Isso tornaria o Brasil um dos lugares mais baratos do mundo para produzir hidrogênio verde, que é criado pelo uso de energia renovável para dividir a água em suas moléculas componentes de hidrogênio e oxigênio.
De acordo com Felipe Diniz, da Mirow, uma empresa de consultoria do
Rio de Janeiro, custaria cerca de US$ 4,50 por quilograma para produzir o
material no Brasil atualmente. Ele diz que esse valor pode cair para
US$ 1,70 em uma década, à medida que a energia eólica e solar se
tornarem mais baratas. Os custos de produção do Brasil estariam
alinhados com locais como a Arábia Saudita, o norte da África e o Chile.
A queima de hidrogênio é uma das poucas maneiras de descarbonizar os
setores com maior consumo de energia. O aço, por exemplo, é produzido
pela queima de carvão de coque em um alto-forno para aquecer e reduzir o
óxido de ferro em ferro metálico, que é então lavado com oxigênio para
purificá-lo. Mas esse processo libera grandes emissões de dióxido de
carbono. Isso pode ser evitado com a queima de hidrogênio em vez de
carvão.
O Brasil é o segundo maior produtor mundial de minério de ferro, que
exporta para países como China, Japão e Coreia do Sul. O país quer
processar mais desse minério em casa. A Vale, a maior mineradora de
minério de ferro do mundo, deve inaugurar uma usina de processamento de
minério limpo no Porto do Açu em 2028.
As exportações de aço podem não estar muito longe. A consultoria
McKinsey estima que a produção de ferro metálico limpo no Brasil poderá
custar US$ 465 (R$ 2.710) por tonelada até 2030, em comparação com US$
560 (R$ 3.264) para um processo semelhante na União Europeia. A Global
Efficiency Intelligence (GEI), uma consultoria de energia sediada em São
Francisco, avalia que será mais barato produzir aço verde no Brasil do
que na China, no Japão, nos Estados Unidos, na Coreia do Sul, na
Austrália ou na UE, principalmente devido ao custo mais baixo do
hidrogênio verde.
O Brasil também quer fazer SAF. Suas empresas florestais e
agroindustriais geram 2 bilhões de toneladas de resíduos orgânicos por
ano, que são matéria-prima em potencial. A UE e a Organização
Internacional de Aviação Civil, um órgão que estabelece padrões, estão
incentivando as companhias aéreas a usar SAF. A partir deste ano, todos
os voos com origem na UE — cerca de um terço do total global — devem
conter pelo menos 2% de SAF em sua mistura de combustível; esse
percentual aumentará para 20% até 2035 e 70% até 2050.
De acordo com Thiago Sinzato, da Rystad Energy, uma consultoria
norueguesa, espera-se que a demanda global por SAF atinja 5 milhões de
barris por dia até 2050. O Brasil poderia responder por 1,3 milhão de
barris desse total. “Seria fácil para o Brasil se tornar o maior
produtor de SAF do mundo”, diz ele. Desde 2022, as empresas brasileiras
anunciaram mais de US$ 4 bilhões em investimentos em biocombustíveis,
inclusive em SAF.
Problemas financeiros
Suas bases técnicas para um boom de produção verde podem ser sólidas,
mas as dificuldades econômicas do Brasil são um obstáculo. O alto custo
do financiamento está adiando investimentos maiores em projetos de
capital intensivo. O real foi a moeda principal com o pior desempenho do
mundo no ano passado, perdendo mais de 20% de seu valor em relação ao
dólar.
A queda foi alimentada pelo pânico em relação aos planos de gastos de Luiz Inácio Lula da Silva,
o presidente de esquerda. Os mercados acreditam que ele não está
falando sério sobre o equilíbrio das contas, mesmo com o déficit
orçamentário do Brasil atingindo 10% do PIB e a dívida bruta com
previsão de se aproximar de 90% do PIB. Um programa de política
industrial anunciado no ano passado, que envolveu bilhões de reais,
corroborou essa crença. Mesmo com a maioria dos Bancos Centrais cortando
as taxas de juros, em 28 de janeiro a do Brasil foi elevada para
13,25%, uma das mais altas do mundo.
O cenário pode não melhorar em 2025. As políticas mais queridas de
Donald Trump, presidente dos Estados Unidos, para deportar imigrantes e
impor tarifas, provavelmente fortalecerão o dólar. O real cairá ainda
mais, e os investidores poderão procurar outro lugar. O Brasil tem
grandes expectativas quanto ao seu papel na descarbonização do mundo.
Mas se não conseguir convencer os investidores a manterem o dinheiro no
país, suas esperanças não darão em nada.
Mudanças climáticas já são sentidas na capital amazônica que recebe
Conferência do Clima da ONU em 2025. Cenário prevê mais dias de calor
extremo e menos chuva no futuro impactando principalmente população mais
carente.Poderia ser um dia comum de trabalho para as mulheres
extrativistas da ilha do Combu, em Belém, no Pará. Mas há meses elas não
conseguem mais colher a mesma quantidade de andiroba que colhiam antes.
O calor extremo e a estiagem prolongada na região estão mudando essa
produção.
“Este ano que a gente começou a sentir o impacto. Na verdade, é o
aquecimento global, que há anos a gente falava, mas agora já estamos
sentindo. A produção era bem mais intensa, esse ano já deu uma baixa.
Estamos sentindo essa diferença agora”, conta à DW Dayse Soares, da
Associação das Mulheres Extrativistas do Combu (AME).
A andiroba é uma semente típica da Amazônia e o seu óleo é utilizado
para fins medicinais. Devido à baixa produção atual, as extrativistas do
Combu tiveram que se adaptar e começaram trabalhar com recursos menos
escassos na floresta, como a folha de cacau, que a AME desidrata e
transforma em embalagens.
“Um calor que nunca sentimos antes”
O Combu integra a região ribeirinha da capital paraense, que conta
com dezenas de ilhas e possui cerca de 40 mil habitantes, segundo as
autoridades municipais. O artesão Charles Teles faz parte dessa
população e diz estar preocupado com o “calor desordenado” que está
sentindo.
“Apesar de estarmos no meio da floresta, numa ilha, rodeados de água,
percebemos que o calor esse ano foi desordenado mesmo. Tinha tempo de a
gente entrar quase em desespero de tanto calor. Um calor que nunca
sentimos antes”, afirma o artesão.
Tanto nas ilhas como na parte continental de Belém, a sensação da
população é a mesma: “a cidade ficou muito mais quente”. É o que diz a
pesquisadora Marlucia Martins, do Museu Paraense Emílio Goeldi, que
explica que “os efeitos das mudanças climáticas, já estão acontecendo há
sete, oito anos, mas se intensificaram nos dois últimos anos”.
“2023 e 2024 foram os anos mais quentes. E mesmo a região das ilhas,
que é uma região de temperatura e de clima muito mais ameno, já está
muito mais quente. E isso é interessante porque é perceptível por
todos”, observa Martins.
Um dos aspectos que intensifica a sensação de calor é a quantidade de
árvores por metro quadrado, que nessa capital amazônica está aquém do
tamanho da população – que já passa de 1,3 milhão. Levando em
consideração os municípios do entrono, o número de habitantes ultrapassa
os 2,2 milhões.
O professor e coordenador do curso de Geografia da Universidade do
Estado do Pará (UEPA), Rodrigo Rafael, afirma que Belém tem uma média de
2,5 árvores por metro quadrado para cada morador, o que “traz um
desconforto térmico muito grande”.
Segundo o professor, o índice de cobertura vegetal por habitante
preconizado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) fica em torno de 9 e
12 árvores por metro quadrado.
Injustiça ambiental
O calor é intenso mesmo no centro da cidade, onde a falta de
arborização passa despercebida devido aos famosos túneis verdes de
mangueiras de Belém – conhecida como “Cidade das Mangueiras”. A sensação
térmica é ainda pior na periferia, onde o verde está menos presente.
“São os bairros onde temos um alto índice, por exemplo, de
criminalidade, de pobreza. É o que a gente fala de injustiça ambiental.
Temos uma população que é vulnerável economicamente e que também está
mais exposta a esses eventos climáticos extremos, como ondas de calor
excessiva e formação de ilhas de calor”, afirma Rafael.
A ativista ambiental Waleska Queiroz, dos movimentos COP das Baixadas
e Observatório das Baixadas, diz que as periferias são “zonas de
sacrifício” e também defende que problemas como a falta de saneamento e
de arborização se agravam na crise climática.
“Por isso, hoje pautamos justiça climática através dessas pessoas que
mais sofrem no seu cotidiano todas essas problemáticas e são as últimas
que conseguem se restabelecer quando um evento extremo chega na
comunidade”, diz.
Cacila Bastos, moradora do bairro da Terra Firme, na periferia da
cidade, vive esse cenário na pele. Ela diz que o calor está cada vez
mais intenso e que a chuva da tarde – que em Belém costumava cair quase
todos os dias entre às 14h e 16h – já não é frequente.
“Agora que começou a cair a chuva, no mês de dezembro. Mas durante o ano mesmo foram poucas chuvas. Mudou”, lamenta Bastos.
Também na Terra Firme, outro morador relata à DW como é viver numa
área da cidade com baixa cobertura vegetal: “Aqui tem o meu pai, minha
mãe, meu irmão, minha tia. E basicamente tem dois ventiladores. É o que
sustenta a gente no período do verão, na seca. É esse ventilador, tem
outro lá no quarto, então são dois. Às vezes a gente recorre a deitar na
lajota, que é onde está mais gelado. É essa estratégia que usamos, e o
banho. Só que a aqui na nossa casa temos uma problema: o sol pega direto
no banheiro, então não tem como escapar, porque a água está sempre
quente”, conta Andrew Leal.
Chuvas mais intensas e alagamentos
Na mesma casa em que passa calor, Leal e a família enfrentam outro
problema: o alagamento. A área em que vivem há cerca de 40 anos passou
por uma obra recente de saneamento, que deixou as casas em um nível mais
baixo que o da rua.
“A obra veio com essa promessa para a população de que iria, de fato,
resolver o problema das inundações das casas. Porém eles subiram o
nível da rua e deixaram todas as casas afundadas. Acabaram não
resolvendo e criaram outro problema, porque as casas viraram verdadeiras
piscinas”, critica Leal, que teve a casa alagada no dia 25 de dezembro
após uma forte chuva na capital paraense.
Em nota, a Secretaria de Obras Públicas do governo do Pará disse à DW
que ainda vai concluir a obra de saneamento e que vai direcionar o
escoamento da água da chuva para os sistemas de drenagem.
A estiagem foi prolongada em Belém no ano passado. Mas o período
chuvoso na cidade, que deveria ter começado entre outubro e novembro,
começou apenas em meados de dezembro. No entanto, apesar do atraso, Leal
diz perceber que as chuvas estão mais intensas.
Futuro infernal
Belém será o segundo centro urbano mais quente do mundo até 2050, de
acordo com um estudo da ONG CarbonPlan em parceria com o jornal
americano The Washington Post, divulgado em 2023. A projeção é de que a
cidade terá até lá 222 dias de calor extremo ao ano.No início dos anos
2000, Belém tinha 50 dias anuais de calor extremo.
O climatologista do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de
Desastres Naturais (Cemaden), José Marengo, afirma que os “extremos
estão virando mais extremos”, com o início da estação chuvosa mais
tarde, e a estação de estiagem mais longa e mais quente.
“Mas para cenários mais futuros, como 2050, além de aumento das
temperaturas e número de dias com ondas de calor, também se está
prevendo reduções na precipitação na região leste da Amazônia, segundo
vários modelos. Claro, isso não impede que, apesar de a precipitação
estar diminuindo, ainda possamos ter dias com muita chuva, aquela que
produz inundações”, explica Marengo.
Uma cidade mais resiliente até 2050?
A capital do Pará tenta melhorar a sua infraestrutura e se tornar
mais resiliente para evitar um futuro climático infernal. A cidade, que
vai sediar em novembro a próxima Conferência do Clima das Nações Unidas,
a COP30, realiza no momento mais de 30 obras estruturais, segundo o
governo estadual. Só o governo federal está investindo mais de R$ 4
bilhões.
Além dos investimentos governamentais, a própria sociedade civil está
engajada para evitar os prognósticos para 2050. A ativista Waleska
Queiroz afirma que a pressão popular conseguiu aprovar no final de 2024 o
primeiro Fórum Municipal sobre Mudanças Climáticas de Belém.
“Hoje é um fórum que integra pessoas das periferias, quilombolas,
indígenas, para discutir as pautas climáticas e para construir também as
políticas climáticas pensadas para Belém”, acrescenta.
Segundo o ex-coordenador do Fórum Climático de Belém e assessor
especial da COP 30 Sérgio Brazão, o fórum será mantido pelas próximas
gestões até 2050. “Ele não é um plano de um prefeito A, nem B, nem C; é
um plano de todos os prefeitos que se sucederão na administração da
cidade até 2050 e é fundamental que esse plano seja seguido”.
“É prioridade combater a injustiça climática que ocorre nas áreas de
alagamento da cidade de Belém e combater de uma forma que traga
arborização”, afirma Brazão
Apesar de todos os esforços na capital paraense, a pesquisadora
Marlucia Martins afirma que “não há solução para Belém sem uma solução
internacional, porque os efeitos climáticos são globais”. “Atmosfera não
tem território, você não define, você define território na Terra, na
atmosfera, não”, conclui.
Será que bebidas produzidas com soja, amêndoa, arroz, ervilha ou
castanha de caju são melhores para o meio ambiente e para a saúde?Com
75% da população global sendo intolerante à lactose e as preocupações
com o meio ambiente em alta, os leites à base de plantas surgiram como
uma alternativa viável aos produtos lácteos nos últimos anos. É um setor
global de 20 bilhões de dólares (R$ 113,3 bilhões), com vendas que
devem dobrar na próxima década.
As alternativas vegetais, constituem o maior segmento do mercado à
base de plantas nos EUA, com vendas de 2,9 bilhões de dólares (R$ 16,4
bilhões) no ano passado. As bebidas à base de plantas representaram
cerca de 15% do total das vendas de leite nos EUA, e quase metade dos
lares do país comprou leite à base de plantas em 2023.
No entanto, em um estudo recente com 219 tipos de leites vegetais,
cientistas do Centro de Coordenação de Nutrição da Universidade de
Minnesota descobriram que eles oferecem menos benefícios nutricionais do
que o leite de vaca. Incluindo menos cálcio e vitamina D.
Pegadas de carbono diferentes
Como a criação de gado está ligada ao desmatamento e às emissões de
metano, o consumo de produtos lácteos também tem implicações ambientais e
climáticas.
A média das emissões de gases de efeito estufa por litro associadas
aos leites de soja, aveia, amêndoa, espelta, ervilha e coco é de 62% a
78% menor do que a do leite de vaca, segundo os autores de um estudo
intitulado Dairy and Plant-Based Milks: Implications for Nutrition and
Planetary Health (Leites de origem vegetal e lácteos: implicações para a
nutrição e a saúde planetária).
Qual o melhor para o planeta e a saúde?
“É um pouco difícil responder à pergunta sobre qual é o melhor”,
reconhece Brent Kim, pesquisador do Johns Hopkins Center for a Livable
Future e um dos autores do estudo.
“Estamos nos referindo ao menor impacto na mudança climática? Falamos
do leite mais nutritivo, o leite mais acessível ou talvez estejamos
mais preocupados com a quantidade de água usada para produzir esse
leite? Ou talvez com a quantidade de terras agrícolas que tiveram de ser
ocupadas para produzir esse leite?”
O que está claro é que os alimentos à base de vegetais têm uma pegada
de carbono muito menor, e isso não se refere apenas ao CO2.
Kim diz que, embora a embalagem e o transporte sejam responsáveis por
algumas dessas emissões, grande parte dos gases de efeito estufa já é
gerada antes de as plantações saírem da fazenda.
Compensações ambientais
Há diferentes compensações ambientais quando se trata de leites
vegetais. Embora o leite de amêndoas esteja próximo ao leite de vaca no
que diz respeito às emissões de gases de efeito estufa, a situação não é
tão boa se levarmos em conta sua pegada hídrica. O leite de amêndoas é o
leite vegetal mais vendido nos EUA, respondendo por três quartos das
vendas totais.
Kim afirma que uma das melhores opções seria o leite feito de
proteína de ervilha, por emitir menos gases de efeito estufa e ter bons
níveis de proteína.
“E se estivermos preocupados com o uso de água, preocupação que
devemos ter, o leite de ervilha tem uma dos menores consumos de água de
todos os leites”, ressalta, acrescentando que o leite de soja também
preenche todos esses requisitos. Embora alguns estudos tenham mostrado
que a soja tem um impacto climático ligeiramente maior em comparação com
a ervilha. Ele frisa que foram feitos mais estudos sobre o leite de
soja, mas o veredicto ainda não foi dado. E o leite feito de proteína de
ervilha ainda não está amplamente disponível.
Então, qual é o melhor leite para a saúde?
Com todas as marcas e tipos diferentes no mercado, é possível dizer qual é o melhor?
Isso é difícil, diz Abby Johnson, diretora associada do Centro de
Coordenação de Nutrição da Universidade de Minnesota na Escola de Saúde
Pública e principal autora do estudo que analisou mais de 200 leites
vegetais diferentes.
“Há muita variedade. Cada leite vegetal, ao que parece, é formulado de forma diferente”, explica a especialista.
Os laticínios são considerados uma boa fonte de três dos cinco
nutrientes importantes identificados nas Diretrizes Dietéticas dos EUA
para 2020-2025: cálcio, potássio e vitamina D.
“A dieta do americano médio excede em muito a quantidade de proteína
necessária para uma dieta saudável”, sublinha o pesquisador Brent Kim.
Mas essa proteína extra dos laticínios é importante para alguns grupos.
“Especialmente para crianças em fase de crescimento, em áreas onde as
pessoas têm dificuldade de ter uma variedade de alimentos, os
laticínios são realmente importantes, porque fornecem uma boa quantidade
de proteínas”, diz Becky Ramsing, profissional de nutrição de saúde
pública e nutricionista do Johns Hopkins Center for a Livable Future.
“A aveia não é necessariamente um alimento rico em proteínas”,
acrescenta. “E não se engane pensando também que o leite de amêndoas é
rico em proteínas só porque é feito de nozes”.
“Na maneira como os leites são feitos, há muita água adicionada a
eles, portanto, o teor de proteína é, na verdade, muito baixo”, conclui.
Leia o rótulo!
“Você não pode simplesmente escolher um leite vegetal da prateleira e
presumir que ele se encaixará em um perfil. Cada pessoa é muito
diferente”, diz Ramsing, lembrando ser importante ler o rótulo para
descobrir o que há no produto.
Ramsing conta que ela mesma passou por isso quando descobriu que seu
leite de soja favorito não era enriquecido com cálcio. E você pode se
surpreender ao descobrir a quantidade de açúcar adicionado em alguns
leites.
Obtendo todos os nutrientes do leite
Uma vantagem dos leites vegetais em relação ao leite de vaca é a
fibra extra. Johnson diz que há alguns leites vegetais que fornecem mais
de 10% do valor diário de fibras, enquanto o leite de vaca não tem
nenhuma.
Por outro lado, o leite de vaca é rico em vitamina B2 ou riboflavina,
que são importantes para o crescimento celular e a produção de energia,
e o fósforo, que é importante para ossos e dentes.
“Mas você ainda pode beber leite vegetal se obtiver seus nutrientes em outro lugar”, diz Abby Johnson.
“Tenha uma dieta diversificada com muitas frutas e vegetais e você
não precisará se preocupar com a deficiência de vitamina B2 ou de
fósforo”, afirma.
“Os leites à base de plantas podem, com certeza, fazer parte de uma dieta saudável.”
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Cético com a economia brasileira e
preocupado com a saúde das empresas. Assim se define Daniel Wainstein,
sócio-diretor na Seneca Evercore, líder em assessoria financeira
independente, atuando em fusões e aquisições, mercados de capitais e
reestruturação de dívidas. Com a experiência de quem olha negócios por
dentro, Wainstein alerta que o segmento de médio porte está sofrendo.
“A gente está vendo é uma diminuição de tamanho das empresas, com um
agravante de que não conseguem nem ajustar o quadro de pessoal de acordo
com a necessidade”, afirma.
“Muitas das empresas que estão sem dinheiro em caixa não conseguem
sequer demitir para se ajustar e ter um tamanho compatível. Socialmente,
isso é bom, mas para empresa é uma bola de neve.”
Wainstein lamenta que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva tenha
assumido uma postura reativa em relação ao ajuste fiscal, que considera a
única saída para que o Banco Central interrompa a alta dos juros –e
agora teme pelo pior.
“A nossa experiência é que, no Brasil, no ano anterior à eleição
presidencial, já começam, infelizmente, as políticas de curtíssimo
prazo.”
*Folha – O sr. atua com reestruturação, fusão e aquisição. Como definiria o momento para as empresas?*
*Daniel Wainstein -* Muitas empresas estão alavancadas. Se
alavancaram ainda na época de juros baixos. Depois teve o pós-eleição e a
crise de crédito por causa das Americanas. Veio, então, uma situação em
que muitas contraíram dívidas, ainda mais caras, para rolar com fundos
de special situations [que buscam acordos entre devedores e credores
para reperfilamento da dívida]. Teve também a questão do crescimento.
Quando é baixo significa que muitas empresas nem cresceram.
Nessa conjunção tem os juros. É o maior problema. Os juros não
baixam, mas o faturamento cai. A empresa não consegue ter dinheiro para
investir. Perde capacidade produtiva. O faturamento cai de novo. O que a
gente está vendo é uma diminuição de tamanho das empresas com um
agravante de que não conseguem nem ajustar o quadro de pessoal. Muitas
que estão sem dinheiro em caixa não conseguem sequer demitir para se
ajustar e ter um tamanho compatível. Socialmente, isso é bom, mas para
empresa é uma bola de neve.
*Folha – Essa situação que o sr. descreve é generalizada ou alguns setores estão numa situação pior?*
*Daniel Wainstein -* Nunca é generalizado, e é muito difícil pontuar.
Um mesmo setor, ao mesmo tempo, tem e não tem uma crise. O real estate
[mercado imobiliário], parou para a classe média. Porém, o imobiliário
para o Minha Casa, Minha Vida e para a alta renda está muito bem. O
setor vive um momento incrível no Rio de Janeiro, mas não é assim na
maioria dos estados.
O dá para dizer é que, de forma geral, empresas médias estão
sofrendo. Setores que dependem de insumos internacionais, ou que vendem
para quem depende também de insumos internacionais, ou o cara que já
está muito alavancado e que não cresceu, o industrial que não tem uma
diferenciação ou quem tem um cliente com problemas — esse grupo sente.
Não surpreendentemente, a gente está com recorde de pedidos de RJ
(recuperação judicial).
*Folha – São pouco mais de 2.000 pedidos de RJs. Isso é ruim, mas, em
um universo com milhões de empresas, não é um número grande. O sr.
diria que as empresas estão buscando alternativas antes da RJ?*
*Daniel Wainstein -* Sem dúvida. A RJ tem que ser a última
alternativa. O impacto é disruptivo na empresa, nos seus clientes, no
posicionamento de mercado, então a gente assessora nossos clientes de
forma a tentar evitar uma RJ tradicional, e buscar caminhos de
recuperação e reestruturação extrajudicial, inclusive com substituição
de dívidas.
Os próprios credores estão cientes de que, se apertar muito, vai ter
um nível de default tão alto hoje no Brasil, que o impacto negativo
chegaria nos credores, inclusive nos grandes bancos. Então, existe
espaço para negociar.
As empresas buscam soluções, e essa é uma mensagem importante. A
questão é encontrar a melhor forma para sobreviver. Nesses momentos,
quando todo mundo chora, tem o cara que fabrica lenço. Então, existe
oportunidade para o fabricante de lenço.
*Folha – A expectativa, com esse ambiente, é termos uma reorganização empresarial, com mais fusões e aquisições?*
*Daniel Wainstein -* Sim, existem ilhas de excelência –e são essas
empresas que têm uma oportunidade de consolidar mercado, e ser a solução
para que não estão indo bem. Esses momentos acabam criando líderes,
porque aqueles bem capitalizados, com gestão diferenciada e bem
assessorados, conseguem ganhar market share e fazer o turnaround de
empresas. Às vezes, não é nem comprar. É possível trazer um investidor
ou um sócio e botar dinheiro na empresa. Esse tipo de transação tem tudo
para continuar e até acelerar.
Dito isso, citaria setores como serviços financeiros. Em particular,
no Brasil, continuam tendo uma revolução. Temos o enfraquecimento dos
grandes bancos e o fortalecimento de empresas independentes -caso de
gestões de patrimônio. Cada vez mais, empresas que não são associadas
aos grandes bancos de crédito e conseguindo espaço entre as pessoas
físicas que investem, seja de alta renda ou classe média.
Tem muito investidor querendo colocar dinheiro em empresas de energia
renovável. Esse é um tipo de setor que, de certa forma, não é impactado
pela questão microeconômica que a gente falou. A empresa pode estar
queimando caixa, mas tem investidores dispostos a colocar dinheiro nesse
tipo de empresa, de olho em um prazo mais longo do que o de outros
setores.
*Folha – Há quem diga que, como Donald Trump vai reduzir o apoio a
projetos verdes, o Brasil poderia atrair os investidores desse segmento.
O sr. percebeu alguma migração do gênero?*
*Daniel Wainstein -* Pode ser que me surpreenda, mas eu não estou
vendo. Eu acho que o Brasil é um problema, até diria, desconectado com o
que acontece lá fora. O Brasil já foi afetado por crises externas, mas
agora o problema é nosso. A maioria das captações hoje conta com
investidores que já estão aqui. Dinheiro novo, vindo de fora, é muito
pouco. O Brasil não é a bola da vez, e não vai ser enquanto a gente não
mostrar que está limpando a nossa cozinha –tão simples quanto isso.
Os fundos falavam que a gente não era a bola da vez no governo
passado porque ele não estava nem aí para a questão ecológica. Entrou um
novo governo, e a gente tinha a esperança de ver aquele Lula, do
primeiro mandato. Isso não se concretizou. Muitos investidores
internacionais acreditaram nisso e perderam dinheiro aqui, com empresas
que não estão indo bem e com a desvalorização cambial.
*Folha – O que falta no Lula desta vez?*
*Daniel Wainstein -* Disciplina fiscal e ouvir o mercado, nem que
fosse um pouco -não colocar o mercado como sendo o inimigo dele. Ele não
pode viver num mundo paralelo. Não tem como o governo gastar sem ter
pressão inflacionária. Não tem como ter juros baixos se a pressão
inflacionária está lá. Não tem como esperar que esse milagre aconteça.
Em vez de melhorar a popularidade dele, está piorando.
O Lula viveu no primeiro mandato o oposto do que vemos hoje. O
agronegócio e o preço das commodities batiam recordes. Ano passado foi
de queda. Não dá para ter a mesma política. Não dá para tocar violino
num baile funk. Ele precisa ajustar a expectativa em relação ao que
consegue fazer nesse momento, quando o vento não é favorável como antes.
*Folha – O sr. tem uma longa experiência no mercado financeiro, e já pegou todo tipo de crise. Qual é o seu maior temor?*
*Daniel Wainstein -* Ao longo de décadas, a gente viu de tudo, e o
Brasil é uma Fênix que sempre ressurge das cinzas. Mas o meu maior temor
já está acontecendo -a manutenção da política expansionista de gastos
do governo. Sem a devida responsabilidade fiscal, permanece a pressão
sobre a inflação, e o Banco Central vai continuar aumentando a taxa de
juros. É um cenário muito ruim para empresas já enfraquecidas. A gente
pode entrar em novos patamares, como uma restrição maior de oferta de
crédito.
Tem outra questão. A nossa experiência mostra que, no Brasil, no ano
anterior à eleição presidencial, já começam, infelizmente, as políticas
de curtíssimo prazo. Os índices de aprovação de Lula estão se
deteriorando, e a contrapartida nesses momentos –espero que não seja,
mas tende a ser — elevar o patamar [de gastos] ainda mais.
*Raio-X | Daniel Wainstein, 54*
Natural de Salvador (BA), tem graduação em economia pela USP
(Universidade de São Paulo), MBA pela University of Rochester (EUA) e
doutorado em Economia na Brown University (EUA). Atualmente, finaliza
mestrado em neurociência e psicologia da saúde mental pela King’s
College London (Inglaterra). Já trabalhou em Lehman Brothers e Goldman
Sachs, sendo o primeiro sócio brasileiro da história do banco. Fundou a
Seneca em 2013
O Santos Futebol Clube anunciou a volta de Neymar. Isso, por si só,
já é um grande evento midiático e de projeção. Mas será que trazer o
craque de volta será um bom negócio, em termos financeiros?
Vamos tentar descobrir:
• Quando chegou ao Paris Saint-Germain, cerca de 10 mil
camisas foram vendidas num único dia. A projeção era de que até 1 milhão
de camisas poderiam ser vendidas durante o tempo de contrato.
• Neymar será mais do que um jogador do Santos, ele será
uma “atração” do futebol brasileiro e vai arrastar torcedores para os
estádios. O problema é que a Vila Belmiro, casa do Santos, só comporta
20 mil torcedores.
• Mesmo antes de anunciar Neymar oficialmente, cerca de 9
mil novos sócios se filiaram ao Santos Futebol Clube. Isso aconteceu
apenas com o “boato” da vinda de Neymar. Então, esse número pode crescer
mais (algumas modalidades de associação já esgotaram).
• O Santos terá maior poder de negociação pelos direitos
de transmissão dos seus jogos. Isso se já não tiver se comprometido com
antecipação dessas receitas, coisa comum no futebol brasileiro.
• O “valuation” da marca Santos deve crescer muito. Em
2023 essa marca valia R$ 356 milhões, de acordo com a consultoria Sports
Value. Estima-se um crescimento de 20% a 30% no valor da marca.
• Os contratos de patrocínio da camisa do Santos e áreas
de estádio serão muito valorizadas e isso pode trazer mais receita para o
clube. É uma causa direta ao ter um craque dessa envergadura.
• Ter Neymar no time ajuda a trazer jovens talentos para
as categorias de base. Todo mundo quer ficar perto do craque brasileiro,
que é o ídolo da geração mais nova. Ou seja, potencial de ganho futuro.
• Caso Neymar consiga manter uma regularidade de jogos,
ele fará a diferença no futebol brasileiro. Com ele em campo, as chances
do Santos ter bons resultados e, por consequência, boas premiações, é
alta.
• Neymar tem 228 milhões de seguidores só no Instagram.
Cada post dele com a camisa do Santos vai fazer com que a imagem do
clube circule pelo mundo todo, como nunca antes na história.
Ou seja, a vinda de Neymar para o Santos tem tudo para ser um
excelente negócio, do ponto de vista financeiro. É difícil imaginar um
cenário onde um craque do tamanho de Neymar não traga retorno.
Com ele, o Santos vai vender muita camisa, vai lotar muito estádio,
vai trazer muitos novos sócios, vai subir a receita com sua visibilidade
e patrocínios e ainda pode ganhar títulos, que pagam bons prêmios.
COMO DEVEM SER OS PARCEIROS NOS NEGÓCIOS
Moysés Peruhype Carlech – Founder da Valeon
“Parceiros chegam de várias formas. Se juntam por diferentes motivos”.
Eu sei, é clichê, rss. E se a frase fosse minha eu acrescentaria: “O que eles tem em comum é o fato de acreditarem no que nós acreditamos”.
Parceria é a arte de administrar conflitos de interesses e
conexões de interesses, visando resultados benéficos para ambas as
empresas”.
É por isso que eu costumo comparar parceria com casamento. Quem é
casado sabe que administrar conflitos é fundamental para ambos terem
resultados nessa aliança.
Assim como no casamento, o parceiro não precisa ser igual a nós, mas
tem que ter o nosso ‘jeitão’! Nas parcerias eu defendo que o parceiro
precisa ter o DNA de inovação, a inquietude pra sair da zona de conforto
e uma preocupação muito grande com o cliente, não apenas no discurso,
mas na prática. É claro que no processo de análise do possível parceiro,
nós avaliamos o potencial financeiro e de escala da aliança, a
estrutura e o tamanho da empresa. Mas, tem um fator humano que não pode
ser desconsiderado, já que empresas são, na sua essência, pessoas.
É por isso, que normalmente, os parceiros são empresas formadas por
pessoas do bem, pessoas com propósito, que tem tanto o caráter quanto a
lealdade de continuar de mãos dadas, mesmo nos momentos mais difíceis. É
como um casamento mesmo!
É importante também que os parceiros tenham know how e competênciascomplementares,
que potencializem nossas fragilidades e deem mais peso aos nossos
pontos fortes. E como eu acredito que o primeiro approach de
uma boa parceria acontece no plano humano (onde existe emoção), e não no
corporativo, eu gosto muito da histórica da parceria entre Steve Jobs e Steve Wozniak.
Os dois Steves tornaram-se amigos durante um emprego de verão em 1970.
Woz estava ocupado construindo um computador e Jobs viu o potencial para
vendê-lo. Em uma entrevista de 2006 ao Seattle Times, Woz, explicou:
“Eu só estava fazendo algo em que era muito bom, e a única coisa
que eu era bom acabou por ser a coisa que ia mudar o mundo… Steve (Jobs)
pensava muito além. Quando eu projetava coisas boas, às vezes ele
dizia: ‘Nós podemos vender isso’. E nós vendíamos mesmo. Ele estava
pensando em como criar uma empresa, mas talvez ele estivesse mesmo
pensando: ‘Como eu posso mudar o mundo?’”.
Por que essa parceria deu certo? Habilidades e competências complementares.
As habilidades técnicas de Woz juntamente com a visão de Jobs fizeram dos dois a parceria perfeita nos negócios.
VOCÊ CONHECE A ValeOn?
A MÁQUINA DE VENDAS ONLINE DO VALE DO AÇO
TEM TUDO QUE VOCÊ PRECISA!
A Valeon é uma caixinha de possibilidades. Você pode
moldar ela em torno do negócio. O que é muito importante. O nosso é
colocar o consumidor no centro e entender o que ele precisa. A ValeOn
possibilita que você empresário consiga oferecer, especificamente para o
seu consumidor, a melhor experiência. A ValeOn já é tradicional e
reconhecida no mercado, onde você empresário pode contar com a
experiência e funcionalidades de uma tecnologia corporativa que atende
as principais operações robustas do mundo essencial e fundamental. A
ValeOn além de trazer mais segurança e credibilidade para o seu negócio,
também resulta em muita troca de conhecimento e ótimos resultados para
ambos os lados, como toda boa parceria entre empresas deve ser.
Lembrem-se que a ValeOn é uma Startup Marketplace de Ipatinga-MG que tem
a responsabilidade de levar o cliente até à sua empresa e que temos
potencial para transformar mercados, impactar consumidores e revirar
empresas e indústrias onde nossos produtos e serviços têm capacidade de
escala e de atrair os investimentos corretos para o nosso crescimento.
Pará, Mato Grosso, Rondônia e Amazonas concentraram 98% das ações e
uma taxa equivalente (97%) das sentenças emitidas até dezembro de 2023.
Amapá é o único estado sem casos julgados
Conclusão é da ONG Imazon, que analisou mais de 3 mil ações judiciais
propostas pelo Ministério Público Federal entre 2017 e 2020. Dos mais
de R$ 4,6 bi pedidos, apenas R$ 652,3 mil foram de fato
quitados.Identificar os desmatadores da Amazônia e garantir que eles
paguem pelo crime ambiental ainda é um desafio no Brasil. Até mesmo
quando as denúncias avançam e são acolhidas pela Justiça, o pagamento
das indenizações é demorado e nem sempre esse dinheiro é aplicado na
recuperação do bioma destruído.
A conclusão é de um estudo que acompanhou o destino de 3.551 ações do
Ministério Público Federal (MPF) entre 2017 e 2020 que pediam mais de
R$ 4,6 bilhões em sanções. Os procuradores tentavam punir os
responsáveis pela perda de uma área de vegetação nativa de cerca de
2.650 quilômetros quadrados, mais que o dobro do tamanho da cidade do
Rio de Janeiro.
“O sistema judiciário ainda sofre com a lentidão, mas identificamos
alguns avanços específicos”, avalia Brenda Brito, pesquisadora do
Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon), organização não
governamental responsável pela análise publicada nesta sexta-feira
(31/01).
Segundo o levantamento, 2.028 das 3.551 ações analisadas, 57% do
total, haviam sido julgadas até dezembro de 2023. Mas apenas 695 casos
receberam algum tipo de punição, considerando as decisões após o
julgamento de recursos e os acordos firmados como Termos de Ajustamento
de Conduta (TACs).
Brito, porém, ressalta que o número de condenações aumentou desde
outubro de 2020, algo que ela considera positivo. “A gente vê mais casos
procedentes [quando juízes ou tribunais aceitam pelo menos um dos
pedidos do MPF] e tem muitos recursos de ações que ainda serão julgados e
podem ser revertidas em sentenças”, afirma.
Tecnologia contra o desmatamento
A análise do Imazon foca exclusivamente nos resultados do programa
Amazônia Protege, uma iniciativa inovadora lançada em 2017 pelo MPF.
Procuradores usaram imagens de satélite e informações de banco de dados
oficiais de imóveis para propor ações civis públicas contra desmatadores
ilegais de forma remota, sem precisarem ir a campo. Foram consultados
sistemas como o Prodes, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais
(Inpe), o Cadastro Ambiental Rural (CAR), o Sistema de Gestão Fundiária
(Sigef) e informações do Instituto Nacional de Colonização e Reforma
Agrária (Incra).
Nem sempre o cruzamento de dados públicos é suficiente para localizar
o dono da terra. Nesses casos, o MPF entra com uma ação contra pessoas
não identificadas, os chamados réus incertos, e pede ao juiz a
publicação de um edital com informações sobre o local desmatado na
tentativa de encontrar os responsáveis.
Ainda que os responsáveis não sejam identificados, ações desse tipo
podem levar a Justiça a embargar a área desmatada e proibir que seja
feito qualquer uso econômico dela.
De todos os processos que tiveram alguma sentença (2.028), 40% eram
de réus incertos, aponta o levantamento do Imazon. “A maioria dos
processos são com réus identificados, o que é um avanço graças a esse
cruzamento de dados que o MPF faz”, analisa Brito.
Poucos pagam
Pará, Mato Grosso, Rondônia e Amazonas concentraram 98% das ações e
uma taxa equivalente (97%) das sentenças emitidas até dezembro de 2023.
Dos outros estados da Amazônia Legal, o Amapá é o único que ainda não
teve casos julgados.
A maior quantidade de sentenças não representa necessariamente
sucesso na punição. As três comarcas que lideram o número de processos –
Porto Velho (RO), Manaus (AM) e Juína (MT) – são também as que mais têm
sentenças que extinguiram as ações sem responsabilização.
O pagamento das indenizações estipuladas nas sentenças, mostra o
estudo do Imazon, ainda é baixo. Das 695 contabilizadas no período, que
incluem as procedentes após julgamento de recursos (640) e TACs firmados
(55), apenas 37 foram pagas – o equivalente a 5%. Em valor monetário,
as dívidas quitadas representam R$ 652,3 mil.
“Digamos que este é o novo desafio do programa: fazer com que
efetivamente as sentenças sejam executadas. É uma nova fase do sistema”,
comenta Brito.
Em 552 casos houve obrigação de recuperação da área desmatada com a
exigência de um Plano de Recuperação de Área Degradada ou Projeto de
Reflorestamento. Um exemplo vem da comarca de Vilhena, em Rondônia: por
meio de um acordo firmado entre o réu e o MPF, o desmatador teve que
recuperar a área e pagar R$ 50 mil de indenização.
“O recurso foi destinado a um projeto socioambiental na localidade,
organizado por uma cooperativa indígena e voltado às atividades de
manejo florestal sustentável, piscicultura, ecoturismo e agricultura
familiar”, citam os pesquisadores. O caso, destacado pelo Imazon como um
bom exemplo, foi acompanhado pelo MPF.
Evolução do sistema de Justiça
A primeira avaliação sobre os resultados do Amazônia Protege
publicada pelo Imazon, em 2022, identificou uma certa resistência de
juízes aos novos métodos empregados pelo MPF. Das 650 sentenças
avaliadas à época, 78% delas decidiram pela extinção dos processos sem
julgamento de mérito (506 casos). A maioria dessas ações tinham sido
propostas contra réus incertos. A situação começou a mudar depois que o
Superior Tribunal de Justiça (STJ) considerou válidos os processos de
réus incertos.
“No início dos julgamentos houve muitos casos de extinção porque os
juízes estavam resistentes a essa estratégia de usar imagens remotas e
do réu incerto. Mas a gente percebeu neste segundo estudo que o cenário
começou a se modificar”, avalia Brito.
O que pode melhorar
Para que a punição e o combate ao desmatamento avance, os
pesquisadores do Imazon sugerem que o Judiciário brasileiro se prepare
para avaliar esta nova forma de responsabilizar quem pratica o delito.
“O Conselho Nacional de Justiça (CNJ) precisa ampliar a disseminação e
organizar treinamentos sobre o protocolo para julgamento de ações
ambientais de 2023, que aborda parâmetros para uso das provas produzidas
exclusivamente por sensoriamento remoto ou obtidas por satélite”,
sugere o estudo.
Outra recomendação é destinar o dinheiro arrecadado com as
indenizações para a reparação exclusivamente na Amazônia por meio de
instituições públicas ou privadas sem fins lucrativos. Além disso, os
órgãos responsáveis também precisam melhorar a forma como determinam a
restauração das áreas desmatadas e a fiscalização dessa obrigação.
Os 3.551 processos analisados pelo Imazon foram ingressados pelo MPF
nas fases 1, 2 e 3 do Amazônia Protege. Entre 2021 e 2023, não foram
propostas novas ações. No ano passado, o MPF iniciou a fase 4 do projeto
e entrou com 193 novas ações contra desmatadores ilegais.
O Tribunal Regional Eleitoral de São Paulo (TRE-SP) cassou o mandato
da deputada Carla Zambelli (PL-SP) e a condenou à inelegibilidade por
oito anos. Em sessão realizada no dia 30 passado, o TRE-SP concluiu, por
5 votos a 2, que a parlamentar cometeu “abuso de poder político” e “uso
indevido dos meios de comunicação” ao disseminar suspeitas sobre as
urnas eletrônicas, um discurso superado até entre alguns bolsonaristas.
Nem por isso a decisão, da qual cabe recurso, deixa de ser abusiva. A
Corte Eleitoral extrapolou seus limites de atuação e, como se isso não
bastasse, afrontou a vontade dos milhares de paulistas que, em 2022,
votaram em Zambelli como sua representante na Câmara dos Deputados.
A competência da Justiça Eleitoral é muito bem definida. Basicamente,
cabe a esse ramo do Poder Judiciário garantir a lisura das eleições,
assegurando que os cidadãos possam exercer em paz e segurança seu
direito-dever de votar e, ademais, que todos os candidatos possam
competir em igualdade de condições. Entretanto, de uns anos para cá,
alguns juízes eleitorais, inclusive com assento no Tribunal Superior
Eleitoral (TSE), têm se arvorado em fiscais de discurso político, ora
interpretando de forma expansiva a legislação eleitoral, ora inventando
crimes que não estão previstos em lei, como “desinformação”.
Uma Justiça que deveria se orientar pela objetividade e pelo princípio da intervenção mínima – in dubio pro sufragio –
tem agido de forma cada vez mais subjetiva, como se lhe coubesse
tutelar os eleitores, como se estes formassem uma massa de incapazes de
decidir por si mesmos conforme suas afinidades político-ideológicas e a
partir das informações de que dispõem para definir seus votos. A
cassação de Zambelli é mais um caso que se insere nesse lamentável rol
de abusos da Justiça Eleitoral.
Que fique claro: para este jornal, a sra. Carla Zambelli é uma
deputada desqualificada para o exercício da representação parlamentar à
luz de suas palavras e ações frontalmente contrárias aos princípios
liberais democráticos que o Estadão defende. Contudo,
seu comportamento por vezes leviano, ofensivo e violento não é um
problema deste jornal nem tampouco da Justiça Eleitoral; é um problema
dos 946.244 eleitores paulistas que sufragaram o número da parlamentar
nas urnas na eleição geral passada.
O mandato popular tem de ser rigorosamente respeitado em uma
democracia que se pretende séria, tanto pelo mandatário como por aqueles
que detêm o poder de cassar sua representação política. A vontade dos
eleitores manifestada nas urnas é sagrada, passível de ser subvertida
somente quando houver provas irrefutáveis de abusos e crimes cometidos
por seus representantes. Não parece ser o caso envolvendo a parlamentar
paulista.
O desembargador José Antonio Encinas Manfré, relator da ação contra
Zambelli, afirmou em seu voto que “não é demasiado se reconhecer que as
condutas da representada alcançaram repercussão e gravidade aptas a
influenciar a vontade livre e consciente do eleitor e em prejuízo da
isonomia da disputa eleitoral”. Ora, “aptas a influenciar” não significa
que influenciaram. Logo, deveriam constar dos autos as provas desse
suposto nexo causal entre os vídeos publicados por Zambelli, nos quais
ela dissemina suspeitas sobre a segurança das urnas eletrônicas em
Itapeva (SP), e a repercussão dessas postagens no resultado do pleito, o
que não restou demonstrado. A juíza Maria Cláudia Bedotti, primeira a
divergir do relator, sustentou, com razão, que “é essencial que se
analise o número de programas veiculados, o período da veiculação, o
teor deles e outras circunstâncias relevantes que evidenciem a gravidade
da conduta”.
É evidente que, diante de casos comprovados de abuso de poder
político ou econômico, além de crimes eleitorais, a Justiça Eleitoral
não só pode, como deve intervir. Mas espanta a facilidade com que a
vontade dos eleitores tem sido subvertida por decisões judiciais
parcamente fundamentadas e que mal escondem um vezo moralista. Assim,
não se pode condenar quem veja a Justiça Eleitoral como um instrumento
de perseguição política.