domingo, 2 de fevereiro de 2025

LULA TERÁ NOVOSA DESAFIOS COM O CONGRESSO COM A ELEIÇÃO DE NOVO PRESIDENTE

 

História de Daniel Carvalho – Bloomberg

(Bloomberg) — O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que já vinha tendo de encarar os elevados preços dos alimentos, o crescente ceticismo dos investidores e a queda nas taxas de aprovação, agora tem outro desafio pela frente: uma mudança no comando do Congresso que irá testar sua capacidade de navegar pelo conservador parlamento brasileiro.

A Câmara e o Senado elegeram neste sábado os novos presidentes, ambos de partidos do chamado centrão, que mantém relações instáveis com o governo. O já conhecido senador Davi Alcolumbre foi eleito por 73 dos 81 votos. Lula telefonou a Alcolumbre logo após a eleição, segundo o líder do governo no Congresso, senador Randolfe Rodrigues. O presidente o parabenizou publicamente em um comunicado.

“Caminharemos juntos na defesa da democracia e na construção de um Brasil mais desenvolvido e menos desigual, com oportunidades para todo o povo brasileiro”, afirmou Lula em nota.

O deputado Hugo Motta também foi eleito como o novo presidente da Câmara numa votação ainda neste sábado.

Sem maioria em nenhuma das Casas, as relações de Lula com o Congresso — e com o atual presidente da Câmara, Arthur Lira, em particular — têm se mostrado muitas vezes difíceis nos últimos dois anos. Agora ele precisará construir laços com novos líderes dos quais dependerá fortemente enquanto navega por obstáculos, como o desconforto do mercado sobre os gastos públicos e suas próprias propostas que visam impulsionar o apoio popular antes da eleição presidencial de 2026.

Isso não será fácil. A agenda já está atribulada e, ao mesmo tempo que o PT de Lula apoia os dois favoritos, eles também desfrutam do apoio do PL do ex-presidente Jair Bolsonaro, que também telefonou para parabenizar Alcolumbre.

Mas Lula não espera sentado para fazer suas próprias incursões, já que os parlamentares retomam o trabalho com o Orçamento 2025 no topo da lista de prioridades. O petista quer se reunir com os novos presidentes na próxima semana, disse uma pessoa familiarizada com a situação, antes de iniciar uma aguardada reforma ministerial, que visa ampliar apoio ao governo no Legislativo.

Bolsonaro Wins A Senate Ally With Brazil's Reforms On The Line

Bolsonaro Wins A Senate Ally With Brazil’s Reforms On The Line© Source: Bloomberg

Em Alcolumbre, Lula encontrará um rosto familiar: o congressista de 47 anos, que comandou o Senado de 2019 a 2020, atuou como uma figura poderosa sob a gestão do agora ex-presidente da Casa Rodrigo Pacheco e escolheu ao menos três ministros de Lula. O senador também era o responsável pela negociação de emendas parlamentares para seus colegas.

A equipe de Lula espera que as negociações com Alcolumbre sejam mais difíceis do que foram sob Pacheco, que atuou sempre como aliado, disseram duas pessoas familiarizadas com a situação, pedindo anonimato para discutir assuntos sensíveis.

Motta, 35 anos, é uma tela em branco. Ele está no cargo desde 2011, ganhou destaque na CPI da Petrobras e já foi muito próximo de Eduardo Cunha — o ex-presidente da Câmara que liderou o impeachment da presidente Dilma Rousseff.

Inicialmente hesitante em apoiar a candidatura de liderança do jovem deputado, Lula foi convencido por aliados e pelas conversas iniciais com Motta, segundo um dos aliados a par do processo.

Essas conversas provavelmente ajudarão a manter os canais abertos com Motta, disse Paulo Gama, coordenador de análise política da XP Investimentos. Ele acrescentou que o deputado já atuou como relator de matérias relevantes para o mercado financeiro e “demonstrou capacidade” tanto para o diálogo quanto para questões técnicas.

A familiaridade com Alcolumbre, por sua vez, provavelmente levará à “continuidade do modelo atual nas negociações” entre o Senado e o governo, disse Gama. “Ele é alguém que está disposto a ouvir os argumentos do governo, mas sem alinhamento automático com todos os pontos da agenda.”

Orçamento e medidas fiscais

O primeiro item da agenda será o Orçamento de 2025, que o governo está ansioso para aprovar porque os gastos estão limitados até que a peça orçamentária seja aprovada. Isso não deve acontecer antes o carnaval, em março, de acordo com o senador Angelo Coronel, relator do projeto.

Lula também quer garantir a aprovação da isenção de imposto de renda para salários de até R$ 5.000, uma proposta que o PT vê como chave para reforçar o apoio entre os eleitores da classe trabalhadora. Mas o custo desse plano, que provocou a ansiedade dos investidores sobre o compromisso de Lula com a disciplina fiscal no final do ano passado, também precisa ser compensado.

A ideia inicial do governo é fazê-lo aumentando os impostos sobre os super ricos, mas isso pode não ganhar amplo apoio. A oposição liderada por Bolsonaro é contra a ideia, embora o ex-presidente tenha os instruído a evitar criticar a proposta já na largada por receio de que sejam rotulados de defensores dos ricos, disse ele em uma entrevista.

As batalhas sobre a regulamentação das grandes empresas de tecnologia e inteligência artificial também estão em andamento este ano. E há o potencial de medidas adicionais para reforçar a situação fiscal do país, em meio aos temores do mercado sobre o déficit e a trajetória da dívida do Brasil.

Isso só virá mais tarde, se é que virá. Em uma recente entrevista, a ministra do Planejamento, Simone Tebet, disse que o governo vai esperar pela divulgação do primeiro relatório bimestral do ano, em março, “para ver se novas medidas serão necessárias”.

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