sexta-feira, 5 de maio de 2023

PARTIDO REPUBLICANOS AMEAÇA DEIXAR O GOVERNO

 

Governabilidade ameaçada
Após pressão de bases contra PL das Fake News, Republicanos se distancia do governo Lula
Por
Sílvio Ribas – Gazeta do Povo
Brasília


O presidente do Republicanos, deputado Marcos Pereira (SP), passou a criticar o PL das Fake News após pressão de correligionários| Foto: Zeca Ribeiro/Câmara dos Deputados.

A mudança de posição do Republicanos em relação ao Projeto de Lei 2.630/2020, o chamado PL das Fake News – com a decisão de votar contra o texto -, não só inviabilizou o avanço da proposta como também distanciou mais o partido da base do governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Pressionada pela comunidade evangélica, que reúne parte significativa dos simpatizantes da legenda, e pela onda de protestos nas redes sociais, a sigla autodeclarada independente teve de recuar no esforço para levar o projeto à votação na Câmara na terça-feira (2).

O presidente nacional do Republicanos, deputado federal Marcos Pereira (SP), havia orientado já no sábado (29) os parlamentares do partido a votarem contra o PL das Fake News, que passou a ser chamado por críticos de PL da Censura.

O partido havia pedido ao relator, deputado Orlando Silva (PCdoB) para fazer mudanças no texto sugeridas pela bancada evangélica. Mas, elas foram consideradas insuficientes para tornar o texto aceitável.

Também no sábado, nota da Frente Parlamentar Evangélica orientou voto contrário em razão de “dispositivos que coibiriam a pluralidade e os valores cristãos”. Nos bastidores, integrantes da bancada se mostraram preocupados com a possibilidade de censura nas redes sociais de declarações sobre textos bíblicos ou de debates envolvendo religião que possam gerar polêmica.

“Levamos muitos anos para aprovar o Marco Civil da Internet, que resultou de um projeto de consenso, aprovado com toda série de preocupações com a liberdade de opinião e com a necessidade de responsabilização por excessos. Para melhorar essa regulação, ainda é preciso diálogo”, disse o presidente da Frente Evangélica no Senado, Carlos Viana (Podemos-MG). Essas e outras reações deixaram o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), inseguro em manter o PL das Fake News na pauta diante da possibilidade de derrota na votação. Além disso, Lira ainda não marcou a nova data em que o projeto será analisado no plenário da Câmara.

O Projeto de Lei das Fake News foi retirado da pauta na terça-feira (2) a pedido do relator depois que o próprio governo percebeu que seria derrotado em plenário.

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Republicanos ajudou a derrotar governo na Câmara em debate sobre Marco do Saneamento
Já no dia seguinte, quarta-feira, 3, o Republicanos colaborou com mais uma derrota de Lula na Câmara: a aprovação do Projeto de Decreto Legislativo (PDL) que anula as mudanças feitas pelo governo no Marco do Saneamento.

Entre as mudanças que causaram mais polêmica sobre o decreto está a brecha criada por Lula para que empresas estatais assumam contratos com municípios sem precisar participar de licitações. O marco havia feito o investimento privado deslanchar no setor. Os votos do Republicanos para barrar a mudança proposta do Lula somaram 34 dos 35 deputados presentes na votação. O projeto ainda precisa ser aprovado no Senado.

Apoio à urgência do PL das Fake News provocou abalos internos no Republicanos

O apoio inicial do Republicanos ao requerimento de urgência para a votação do PL das Fake News diretamente em plenário e sem passar por comissões temáticas na semana passada provocou críticas de políticos de peso do Republicanos, incluindo o governador de São Paulo, Tarcísio Gomes de Freitas.

“Existe uma questão essencial da nossa parte, que é justamente a criação dessa agência para ser o “Ministério da Verdade” [previsto no projeto]. É realmente impossível de votar a favor”, declarou. Quando um presidente municipal do Republicanos pediu a Freitas para gravar um vídeo para a sigla, o governador se recusou, afirmando que esperaria a votação do PL.

À Gazeta do Povo, a senadora Damares Alves (Republicanos-DF), ex-ministra na gestão do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), disse na última sexta-feira (28) que via “coincidência estranha” entre a aprovação da urgência do PL das Fake News e a aprovação da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) para apurar os atos de vandalismo de 8 de janeiro.

“Por que a pressa em aprovar essa lei? Para nos calar durante a CPMI? Para que pessoas não compartilhem o que a CPMI vai encontrar?”, questionou. O desconforto dentro da legenda levou até parlamentares a cogitar migração para o União Brasil ou o PL, conforme a votação do projeto.

Republicanos encabeçou criação de bloco partidário do Centrão na Câmara
No papel de centrão alternativo e colaborador eventual da governabilidade, o Republicanos encabeçou a criação do segundo maior bloco partidário da Câmara, com 142 deputados de cinco legendas.

As primeiras articulações desse bloco com o Planalto trouxeram avanços, como a participação decisiva dos líderes do Republicanos e demais siglas na manobra realizada em 18 de maio para adiar a sessão do Congresso e, assim, impedir a criação da CPMI do 8 de janeiro. O governo depois passou a CPMI. Isso ocorreu diante da divulgação de imagens de integrantes do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) não atuaram para conter os vândalos que invadiram e depredaram a sede do Executivo.

Nas últimas semanas, o governo atuou mais intensamente para trazer o Republicanos para a base. Neste sentido, o vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB) e o ministro Alexandre Padilha (Relações Institucionais) marcaram presença na Convenção Nacional das Assembleias de Deus do Ministério da Madureira (Conamad), realizada em 21 de abril, em Brasília.

Outro esforço para atrair a legenda conservadora foi a filiação do grupo político da deputada Daniela Carneiro (União Brasil-RJ), ministra do Turismo, ao Republicanos, com apoio de representantes do Planalto em Brasília e no Rio de Janeiro.

Adesão pode exigir vaga na Esplanada dos Ministérios
Para Bruno Carazza, analista político e professor da Fundação Dom Cabral, o governo errou ao colocar o PL das Fake News para ser votado com urgência. “A estratégia despertou resistência de importantes bancadas, aliando deputados bolsonaristas aos simpáticos a Lula em frentes evangélicas”, disse.

Carazza não acredita, contudo, que a busca pelo apoio do Republicanos por parte do governo Lula está suspensa em definitivo. “O apoio só ficará mais caro diante da prova de fraqueza do governo no PL das Fake News”, completou.

Assessores parlamentares ligados ao blocão do Republicanos mencionam uma cobrança de um ministério para o partido como condição para garantir uma continuidade na articulação em favor da ampliação da base governista.

Leia mais em: https://www.gazetadopovo.com.br/republica/pressao-bases-contra-pl-fake-news-republicanos-distancia-governo-lula/
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GOVERNO GASTADOR TEM DÉFICIT ALTO O QUE TORNA OS JUROS ALTOS

 

Selic
Banco Central

Por
Alexandre Garcia – Gazeta do Povo


O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto.| Foto: José Cruz/Agência Brasil

Parece divertida, mas na verdade é triste essa nova onda da humanidade que está ganhando muitos seguidores. Uma importantíssima prova ciclística nos Estados Unidos foi vencida por um homem que se declara mulher. Como ele pôde participar da prova é algo que eu não entendo. Como é que as outras competidoras, todas mulheres, permitiram isso e concordaram em participar da prova em condições tão desiguais? Todo mundo sabe que a musculatura, a estrutura corporal do homem é diferente da mulher. Parece que colocaram em prática aquela charge com as bicicletas prontas para arrancar na largada, há uma moto no meio e o dono da moto diz: “ela se sente bicicleta”.

Política de gasto livre do governo mantém os juros nas alturas
O presidente Lula criticou o Banco Central por manter a taxa básica de juros, a Selic, em 13,75%. Eu aprendi muito com a Federação das Indústrias do Rio Grande do Sul e repito aqui o que li agora na análise sobre esse assunto. Ela diz que sim, o juro está alto para combater a inflação, mas o problema não é do Banco Central; o problema é o governo. O governo está sinalizando liberação de gastos, com essa história de não seguir o teto; vai gastar mais e acha que a solução não é conter a despesa, mas cobrar mais do contribuinte, arrecadar mais impostos. Essa é a questão, e quem corrige isso? Está nas mãos do Congresso, que irá votar o arcabouço do governo, e não do Banco Central. A taxa básica de juros é alta, eles reconhecem que a taxa é alta, prejudica os negócios da indústria, mas que isso não é causa, é consequência. A causa é o governo e suas políticas, que estão passando agora pelas mãos de deputados e senadores. Perfeita a análise da Federação das Indústrias do Rio Grande do Sul.

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Governo tirou o time de campo na censura e perdeu no saneamento
Gostei muito de um comentário do José Roberto Guzzo, comparando essa retirada do projeto de censura nas redes sociais com o futebol. Ele disse que é como um time de futebol que, ao perceber que vai perder o jogo, não entra em campo. E no dia seguinte o governo perdeu – felizmente, porque não fica em perigo um futuro com água na casa de todos os brasileiros e esgoto na casa da maioria dos brasileiros. O Marco do Saneamento seria atingido por decisões do governo Lula, mas não passou o que queriam que passasse, que era estatizar de novo. Todo mundo sabe que poder público não funciona nesses casos. Poder público tem de funcionar para saúde, educação, segurança pública, Justiça… Para produzir coisas, entregar água na casa das pessoas, tirar esgoto da casa das pessoas, melhor deixar com a iniciativa privada, escolhida por meio de licitação. As estatais ficariam dispensadas de licitações para renovar contrato, mas isso foi derrubado pela Câmara e está indo agora para o Senado.

Devido processo legal é ficção no Brasil do STF

Almocei em Lisboa com uma juíza criminal, e ela está apavorada com o que está acontecendo com o devido processo legal no Brasil. Ela disse, por exemplo, que Bolsonaro não tem mais foro privilegiado, ele não é caso para o Supremo. E a questão de vacina não tinha nada a ver: Bolsonaro tinha passaporte vermelho, diplomático, e não precisava de vacina. O pior de tudo é que a subprocuradora-geral, Lindôra Araújo, avisou Alexandre de Moraes que não havia nenhum indício minimamente consistente para justificar uma busca na casa do ex-presidente. Isso, em condições normais de temperatura e pressão, de respeito ao devido do processo legal, teria acabado ali. Não é o juiz que pede; talvez o juiz possa pedir para orientar, instruir o processo, mas se o acusador diz que não há nenhuma razão para isso está tudo encerrado. No entanto, aqui o acusador diz que não tem nenhuma razão para busca e apreensão, e mesmo assim é feito. Esse é o “devido processo legal” completamente anormal que vigora no nosso país.


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SE NÃO É TU VAI TU MESMO É A LEI DA TURMA DO PODER

 


É urgente, urgentíssimo

Por
Luís Ernesto Lacombe – Gazeta do Povo

Bras’lia (DF) 18/04/2023 – O presidente Luiz Ina‡cio Lula da Silva (e) conversa com ministro da Justiça, Fla‡vio Dino (c) e o presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Alexandre de Moraes (d), durante reuniã‹o com chefes dos Três Poderes, governadores e ministros, para debater formas de reforçar a segurança no ambiente escolar apó—s os episó—dios de violência em Blumenau (SC) e em Sã‹o Paulo (SP) nos œúltimos dias. Foto: JoŽdson Alves/ Agência Brasil


O presidente Lula, O ministro da Justiça Flávio Dino e o ministro do STF Alexandre de Moraes: PL das Fake News tem apoio de Lula e do STF.| Foto: Joédson Alves/Agência Brasil

A turma no poder é a lei. É essa turma que decide quem é criminoso e quem não é. Só esse grupo sabe o que é verdade e o que é mentira, o que é importante, o que é importantíssimo e o que é irrelevante. E pronto, não há discussão. O debate está interditado. Opiniões contrárias à elite no poder são proibidas. Melhor concordar com tudo o que dizem Lula, Dino, Moraes… Melhor defender suas ideias fajutas, toda e qualquer espécie de abuso, como se nossa salvação realmente dependesse dos absurdos em curso.

Quem precisa de um PL da Censura para calar opositores? Não há tempo a perder. Se o texto não passa na Câmara, vai na força bruta mesmo, como tem sido há quatro anos, desde a abertura do tal inquérito das fake news, que não termina nunca. Quantos juristas respeitáveis já disseram que esse inquérito é ilegal? Quantos especialistas acima de qualquer suspeita reclamaram do inquérito dos atos antidemocráticos, que virou inquérito das milícias digitais? O STF pode “investigar” e “julgar” qualquer um, mesmo quem não tem foro privilegiado… O Supremo não precisa da provocação da Procuradoria-Geral da República ou de autoridades policiais, não precisa de objeto definido… Repito: a turma no poder é a lei.

Quem precisa de um PL da Censura para calar opositores? Não há tempo a perder. Se o texto não passa na Câmara, vai na força bruta mesmo, como tem sido há quatro anos, desde a abertura do tal inquérito das fake news, que não termina nunca

O importantíssimo é ligar Jair Bolsonaro a algum crime, qualquer um, mesmo inexistente, é tirá-lo do jogo político. Então, um dos sistemas judiciários mais caros do mundo, com todo o aparato da Polícia Federal, resolve fiscalizar carteira de vacinação. A PGR afirma que “não há indícios minimamente consistentes para vincular o ex-presidente da República e sua mulher aos supostos fatos ilícitos descritos na representação da Polícia Federal, quer como coautores, quer como partícipes”. E nada muda, a operação policial é urgente.

Seis prisões são feitas, prisões preventivas… E lembro-me do assaltante que invadiu minha casa em São Paulo, que eu capturei, entreguei à polícia e que foi libertado no dia seguinte, na audiência de custódia. Era urgentíssimo devolvê-lo às ruas, liberar Lula, Sérgio Cabral, André do Rap, tantos corruptos, traficantes, assassinos, estupradores. Assim, a lista de prioridades da Justiça e da polícia empurra o país, cada vez mais, para o inferno dos crimes, não os supostos, os pequenos, menos ofensivos… Sempre defendi tolerância zero à prática de crimes, mas com a força, com o peso que cada caso exige, com base na lei. Infelizmente, tudo passou a ser determinado por interesses políticos, por desejos tirânicos.

Importante é prender o tenente-coronel Mauro Cid, prender Anderson Torres, Daniel Silveira, o cacique Serere, Bismark Fugazza, do canal Hipócritas, um monte de gente que nem estava na Praça dos Três Poderes em 8 de janeiro. São esses os maiores criminosos do Brasil. Importantíssimo é prender Bolsonaro. Lula é um santo homem. Se está cada vez mais próximo do Eixo do Mal, da China, da Rússia, do Irã, da Venezuela, da Nicarágua, é na melhor das intenções. Se ele diz que os criminosos do MST são boa gente, vamos acreditar, vamos defender a participação do grupo no governo. É uma ordem; cumpra-se.

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Importantíssimo é espancar o agronegócio, pedir a estrangeiros que não invistam no Brasil. É urgente falar mal dos Estados Unidos, de Israel, constranger a Europa. É urgentíssimo salvar a Argentina… Lula vai fazer “todo e qualquer sacrifício” (com o dinheiro dos nossos impostos) para ajudar o país vizinho, um caloteiro contumaz, levado ao fundo do poço por quem pensa exatamente como o PT. E quem vai salvar o Brasil? Um arcabouço fiscal fajuto, mal montado sobre duna de areia bem fina, na areia movediça. O governo quer gastar, gastar, gastar… Urgentíssimo é criar impostos, aumentar alíquotas dos já existentes; alguém precisa pagar a conta.

E a ironia termina no último parágrafo. O que nos resta, parece, é pressionar os parlamentares, deputados e senadores. Arthur Lira, presidente da Câmara, disse que sonha com o dia em que “o plenário da Casa vai saber se comportar”… E o bedel já teve duas belas demonstrações de avanço: nossos deputados barraram o PL da Censura e a tentativa do governo federal de destruir o Marco do Saneamento Básico. É muita ingenuidade esperar que, como mágica, Lira e Pacheco, eles próprios, passem a se comportar? Podemos esperar que eles decidam respeitar a democracia, abandonar a politicagem, os interesses próprios e escusos, os acordos espúrios, as barganhas rasteiras e passem a trabalhar pelo Brasil e pelos brasileiros? Isso é urgente, é urgentíssimo.


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STF NÃO PODE IMPOR A CENSURA NO BRASIL

 

Por
J.R. Guzzo – Gazeta do Povo

Bras’lia (DF) 18/04/2023 – O presidente Luiz Ina‡cio Lula da Silva (e) conversa com ministro da Justiça, Fla‡vio Dino (c) e o presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Alexandre de Moraes (d), durante reuniã‹o com chefes dos Três Poderes, governadores e ministros, para debater formas de reforçar a segurança no ambiente escolar ap—ós os episó—dios de violência em Blumenau (SC) e em S‹ão Paulo (SP) nos œúltimos dias. Foto: JoŽdson Alves/ Agncia Brasil


O presidente Lula, O ministro da Justiça Flávio Dino e o ministro do STF Alexandre de Moraes: PL das Fake News tem apoio de Lula e do STF.| Foto: Joédson Alves/Agência Brasil

O governo Lula e o seu projeto de censura, disfarçado como um virtuoso conjunto de medidas destinadas a “colocar ordem no caos da internet” (e até a “salvar vidas de crianças”, entre outros prodígios nunca vistos antes na história deste país) foram derrotados na Câmara de Deputados. Quiseram, por todos os jeitos, impor a “urgência” da votação para não dar a ninguém a oportunidade de estudar um pouco melhor o que diz o texto. Foi um desastre.

No dia marcado para a votação, o mesmo governo que exigia a “urgência” pediu o adiamento – viu que ia perder no Plenário, e fugiu da decisão. O fato concreto é que o governo queria, desesperadamente, a aprovação do projeto – e não conseguiu. A opinião pública, para resumir a ópera, não quer a censura, e o governo se viu obrigado a recuar.

A Constituição proíbe o STF de fazer leis; diz que isso é função exclusiva do Congresso Nacional. Mas e daí?

Numa democracia mais ou menos decente, o episódio não seria nenhum fim do mundo. O governo iria pensar de novo no caso e, a partir daí, desistir da ideia desastrosa que teve – ou, então, reformular o projeto para uma nova apreciação. Mas o Brasil de hoje não é uma democracia. Como a Câmara não aprovou a censura, e o Supremo Tribunal Federal exige que ela seja aprovada, os ministros vão resolver o problema fazendo, na prática, a sua própria lei sobre o assunto.

A Constituição proíbe o STF de fazer leis; diz que isso é função exclusiva do Congresso Nacional. Mas e daí? A Constituição, no mundo das realidades atuais, vale menos que um pedaço de papel usado para embrulhar peixe. É violada de forma sistemática e maciça pelo próprio STF, e agora pelo governo Lula, sempre que algum de seus dispositivos não interessa a um e outro. Estão armando para acontecer de novo: vão aprovar a lei que a Câmara dos Deputados rejeitou.

A Constituição, no mundo das realidades atuais, vale menos que um pedaço de papel usado para embrulhar peixe.

O truque, mais uma vez, é criar uma “lei” usando a decisão dos ministros em alguma ação ora em julgamento no “plenário virtual” do STF, onde não há debate nenhum, só os votos – prática que começou com a Covid e vai continuar para sempre, pelo jeito, com ou sem epidemia. No caso, o tribunal vai julgar se mantém ou elimina uma disposição essencial do Marco Civil da Internet, pela qual as punições só podem ser aplicadas por decisão judicial. O que poderia ser mais justo e razoável do que isso?

A Justiça, no fim das contas, é o único lugar para se resolver coisas desta natureza – propor o contrário é uma aberração. Mas o STF e a esquerda estão do lado da aberração – querem punir, sem apreciação judicial nenhuma, publicações da internet que incentivem “atos antidemocráticos”, sejam consideradas como ofensa ou ameaça “às instituições”, promovam o “discurso do ódio” e mais tudo aquilo que você já está cansado de saber. Esse rosário de delitos tem um traço em comum evidente: criminaliza atos descritos de maneira absolutamente vaga, cuja apreciação depende 100% da opinião pessoal de quem vai decidir a questão.

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É o oposto de qualquer lei racional em vigor no mundo – no mundo das democracias, é claro. Uma lei, ali, tem de ser clara, mais do que tudo, e não permitir interpretações pessoais. O que é um “ato antidemocrático”? O que é o “ódio”? O que é, no fim de todas as considerações, o “certo” e o “errado”? É humanamente impossível decidir sobre qualquer coisa dessas sem a interferência de opiniões pessoais. Desejar por escrito que o ex-presidente Jair Bolsonaro morra, por exemplo, não é considerado uma expressão de ódio pela esquerda – mas dizer que o governo Lula é um desastre é classificado como ódio de primeiro grau. Como fica, então? É aí, justamente, que está a essência de toda a questão.

Essa completa falta de clareza não é um equívoco, ou um acidente; é fruto de um propósito deliberado e velhaco. Lula, a esquerda e o STF querem mesmo que as publicações na internet estejam sujeitas, sempre, a critérios vagos, frouxos e pessoais de apreciação. Com isso, tudo que se coloque nas redes sociais, seja lá o que for, torna-se passível de punição – e abrem-se as portas para que o governo e o STF possam reprimir à vontade qualquer manifestação contrária a seus mandamentos e interesses. Eles querem a Justiça longe da internet. Seu negócio é impor a censura ao Brasil.


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A REALIDADE É DIFERENTE DAS NOSSAS EXPECTATIVAS

 

Autor: Virgilio Marques dos Santos, CEO da FM2S Educação e Consultoria

Hoje quero abordar algo bem batido em nossa vida profissional e pessoal: o dilema da expectativa versus realidade. Se você é meu contemporâneo da geração millenial (se é raiz, ainda chama de y), aposto que sua expectativa sobre a vida profissional era grandiosa. Nascemos nos anos 80-90 e fomos levados a acreditar que, quando adultos, tudo seria diferente.

Foi aos 11 anos que ganhei o meu primeiro PC (era como nós, os modernos, chamávamos o computador). Aos 13, tive o privilégio de me conectar à rede mundial de computadores por meio de um modem 28.8. Era mágico. O mundo era uma “aldeia global” conectada e preocupada com os grandes dilemas. Podíamos enviar uma carta por meio eletrônico, instantaneamente. Não precisávamos mais dar sinal de fax quando alguém ligasse em casa e nossos pais não estavam presentes para realizar tão importante atribuição.

Nunca, em tão pouco tempo, a tecnologia evoluiu tanto. Celulares, câmeras digitais que não precisavam mais de filmes, notebooks (laptops para nós) e tudo o que hoje é coisa do cotidiano. Até a inflação, que via meus pais e avós reclamando, hoje é coisa do passado. Aos 11 anos, tomou posse um presidente preparado e republicano, que deixaria para trás o fantasma da ditadura militar.

A sensação era a de que iríamos mudar muitas das mazelas quando chegasse a nossa vez. Éramos preparados, falávamos inglês, estávamos conectados e nossa educação era uma preocupação do governo e dos pais. A geração da experiência iria chegar e revolucionar. Porém, como disse no início, ao adentrar ao mercado de trabalho, a realidade foi um pouco diferente. E a geração do potencial e do desapego ao dinheiro rápido encontrou regras que não estavam alinhadas às promessas feitas até então. Mais do que isso, quem nos prometeu o Éden esqueceu de alinhar com o mercado de trabalho.

O mercado não estava preocupado com meu prazer

Há pouco tempo, fui impactado por uma música do Leoni que sempre ouvia, mas nunca tinha prestado atenção na genialidade com o que o autor trata do assunto “expectativa versus realidade”. Aqui, quero reproduzir alguns trechos e convidar o leitor à reflexão. Certamente encontrará situações em que pensou assim ou viu alguém fazendo algo parecido. Vamos lá.

“Não fala nada. Deixa tudo assim por mim. Eu não me importo se nós não somos bem assim. É tudo real nas minhas mentiras. E assim não faz mal. E assim não me faz mal não. Noite e dia se completam no nosso amor e ódio eterno. Eu te imagino. Eu te conserto. Eu faço a cena que eu quiser. Eu tiro a roupa pra você. Minha maior ficção de amor. E eu te recriei só pro meu prazer. Só pro meu prazer. Não vem agora com essas insinuações. Dos seus defeitos ou de algum medo normal. Será que você não é nada que eu penso?”

Analisando o eu-lírico do Leoni na música, identifica-se alguém que, em um relacionamento afetivo, ama mais a sua imaginação do que a própria pessoa. O encontro com a pessoa real é algo que o machuca e faz mal, pois vai contra a sua própria criação mental. Ele cria mentiras na cabeça e, ao ser deparado com a realidade, pira.

Se sairmos do campo afetivo e nos dirigirmos para a carreira, a realidade também se aplica. No meu primeiro estágio, por estar próximo do fundador da empresa, comecei a imaginar que seria o seu sucessor natural. Era tudo real na minha cabeça. E, como o Leoni, me imaginei como o fundador, mas consertando várias coisas que, para mim, eram erradas. Detalhe: fazia isso sem me importar com a dimensão temporal das coisas. Era óbvio que, num piscar de olhos, conseguiria um melhor desempenho que eles.

Mas, quando a realidade deixava claro que o caminho imaginado seria outro, ficava mal. Era a minha maior ficção de carreira, parafraseando a música. Saindo do primeiro estágio, consigo relembrar as outras vezes que repeti esse padrão, “só para o meu prazer”. E, como o autor, quando chegava à conclusão de que a posição que estava “não era nada que eu penso”, que havia defeitos no mundo real, levava um choque.

Hoje, chegando aos 40, penso que nos ligamos à realidade das coisas. Digo isso, porque estamos mais próximos da posição que almejamos aos 20. Custou 20 anos para identificarmos que a realidade é diferente de nossas expectativas, mas que também podemos melhorar a vida para os futuros profissionais.

Como conclusão, tento lembrar dos “defeitos” e recriar uma realidade diferente na empresa. Por exemplo, permitir aos melhores colaboradores tornarem-se sócios, liberar os trajes (trabalhar de bermuda está autorizado), liberar lanches para galera fazer na hora do trabalho e outras coisas mais que não me eram permitidos nos locais que atuei. Se tem uma razão para ser, não mudamos. Se não há, por que não testar coisas novas (como usar uma música neste texto)?.

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quinta-feira, 4 de maio de 2023

VACINA DE BOLSONARO MISTURADA COM MILÍCIAS DIGITAIS

 

Suposta fraude
Por
Sílvio Ribas – Gazeta do Povo
e

Por
Renan Ramalho – Gazeta do Povo
Brasília


O ministro do STF Alexandre de Moraes.| Foto: Rosinei Coutinho/SCO/STF

O pedido da Polícia Federal (PF) que levou o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), a determinar busca e apreensão contra o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), por suposta participação na inserção de dados falsos de vacinação contra a Covid no Ministério da Saúde, apontou uma possível ligação dos suspeitos com grupos que lideraram manifestações a favor do governo em 7 setembro de 2021. O ato contou com protestos contra o STF, o próprio ministro e também contra as urnas eletrônicas. Por isso, a PF pediu que o novo caso fosse investigado por Moraes no âmbito do inquérito das “milícias digitais”.

O caso também deveria tramitar no STF, conforme a PF, porque a investigação constatou que o deputado federal Gutemberg Reis (MDB-RJ) também teria se beneficiado do esquema de falsificação. Ele também foi alvo de busca e apreensão nesta quarta (3).

O inquérito das milícias digitais foi aberto por Moraes em 2021, após o arquivamento, a pedido da PGR, do inquérito dos “atos antidemocráticos”. Desde então, tem sido usado por Moraes para investigar diversos fatos relacionados a um grupo ligado ao ex-presidente que promoveria, nas redes sociais, “ataques” às instituições.

Para manter o caso do cartão de vacinação com Moraes, a PF afirmou que haveria agora uma “materialização no mundo real dos objetivos” desse grupo, “transbordando sua atuação para além da esfera virtual”. “Seja nas redes sociais, seja na realização de inserções de dados falsos de vacinação contra a Covid-19, ou no planejamento de um golpe de Estado, o elemento que une seus integrantes está sempre presente, qual seja, a atuação no sentido de proteger e garantir a permanência no poder das pessoas que representam a ideologia professada”.

Depois, faz menção ao chamado “gabinete do ódio”, que é a forma como opositores de Bolsonaro se referem a um grupo de assessores da Presidência que defendiam o governo e criticavam adversários nas redes. Os investigados no caso da falsificação de comprovantes de vacinas, no entanto, são outros: basicamente, militares que tinham cargos de ajudantes de ordens do ex-presidente. Ainda assim, o delegado do caso, Fábio Shor, apontou uma relação em razão da “difusão de notícias falsas envolvendo a pandemia e ataques à vacinação contra covid-19”.

“A estrutura criminosa criada no município de Duque de Caxias/RJ foi utilizada para propiciar que pessoas do círculo próximo do ex-Presidente da República Jair Bolsonaro pudessem burlar as regras sanitárias impostas na Pandemia da covid-19 e por outro lado, manter coeso o elemento identitário do grupo em relação às suas pautas ideológicas, no caso, sustentar o discurso voltado aos ataques à vacinação contra a Covid-19”, diz o pedido da PF, assinado por Shor.

“A recusa em suportar o ônus do posicionamento contrário à vacinação, associada à necessidade de manter rígida, perante seus seguidores, a ideologia professada (não tomar vacina contra a Covid-19), motivaram a série de condutas criminosas perpetradas”, complementou o delegado em seguida.

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Manutenção do caso com Moraes
A investigação da PF tem como um dos alvos principais o coronel Mauro Cid, auxiliar direto de Bolsonaro na Presidência e homem de confiança, que cuidava de assuntos pessoais do ex-presidente. Em 2021, conforme as investigações, Cid teria acionado servidores para inserir dados falsos de vacinação em favor de sua mulher e, posteriormente, articulado o mesmo artifício para outros ajudantes de Bolsonaro, para que pudessem viajar ao exterior. A investigação descobriu que, no final do ano passado, foi inserido no sistema do Ministério da Saúde a informação que o ex-presidente e sua filha, Laura, também teriam sido vacinados, o que não ocorreu.

Na tentativa de justificar a manutenção do caso com Moraes, Shor ainda disse, no pedido de busca e apreensão, que a “milícia digital” também estaria ligada às manifestações nas portas de quartéis que protestaram contra a eleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, resultando, em Brasília, na invasão das sedes dos Poderes em 8 de janeiro. O caso também é investigado por Moraes no STF.

O pedido da PF relaciona o caso dos dados falsos de vacinação às chamadas milícias digitais ao citar mensagens de áudio e mensagens de texto do celular de Ailton Gonçalves Barros, advogado e ex-militar que também teria participado da fraude ao sistema de registro de imuninzação. A PF diz que conversas captadas em seu WhatsApp “constataram que o investigado tinha proximidade com integrantes de grupos que lideraram as manifestações ocorridas no dia 07 de setembro, possivelmente do ano de 2021, se colocando à disposição para inserir pautas de ataque ao STF, ao Ministro Alexandre de Moraes e ao sistema eletrônico de votação”.

“As imagens capturadas de diálogos indicam inclusive que Ailton Barros trocava mensagens sobre os referidos temas com o contato registrado como ‘PR01’, chamado pelo investigado de ‘PR’, possivelmente se referindo ao ex-Presidente da República Jair Messias Bolsonaro, revelando sua atuação como um dos propagadores da ideologia professada pela milícia digital investigada nos autos do Inq. 4874/DF”, diz ainda a PF, em referência ao inquérito das milícias digitais.

Ao acatar o pedido da PF, Moraes considerou que as condutas dos auxiliares de Bolsonaro são “ilícitas e gravíssimas”, pois “buscaram por meios ilícitos as benesses advindas da política pública de vacinação”. Para o ministro, haveria uma organização criminosa “com divisão de tarefas e de múltiplos objetivos, tanto no âmbito particular dos investigados, como em aspectos relacionados ao interesse público, em detrimento da credibilidade interna e externa do exemplar controle de vacinação nacional em pleno período pandêmico”. Nisso residiria a ligação, na visão de Moraes, com os inquéritos das fake news e das milícias digitais.

Na visão de Moraes, o envolvimento de Bolsonaro estaria no “notório posicionamento público do político contra a vacinação e da investigação em curso na CPI da Pandemia e na Suprema Corte”. Assim, seria “plausível e lógica” a linha investigativa que apura a possibilidade do ex-presidente, de maneira velada, “ter buscado vantagens próprias e para terceiros por meio da inserção de dados falsos nos sistemas do SUS, visando à efetiva imunização, especialmente considerado o fato de não ter conseguido a reeleição nas Eleições Gerais de 2022”.


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PL DAS FAKE NEWS NÃO PROTEGE OS JOVENS E CRIANÇAS

 

Artigo
PL das Fake News: Não se trata de proteger jovens e crianças, mas de manter o status quo
Por
Eduardo Matos de Alencar, especial para a Gazeta do Povo


Deputado Orlando Silva, relator do PL 2630, das Fake News: não é pelas crianças| Foto: Lula Marques/ Agência Brasil


Existe uma linha de continuidade que liga a aprovação do Projeto de Lei 2.630, o PL das Fake News, com os atentados recentes ocorridos em escolas brasileiras, mas não é a suposta relação entre esses eventos e o atual marco regulatório das redes sociais no Brasil. Ao contrário do que os próceres do projeto defendem, ele não contém instrumentos legais eficientes para lidar com o problema em questão, nem para defender as crianças e jovens brasileiras, em qualquer medida que se possa pensar a violência e suas causas.

Os eventos ocorridos após a chacina na creche em Blumenau escalaram rapidamente nas duas semanas que se seguiram, com ataques e ameaças de ataques ocorridos em cidades de São Paulo, Rio de Janeiro, Recife, Bahia, Santa Catarina, entre outros. A disseminação era provável, conforme apontei em artigo recentemente publicado na Gazeta, obedecendo a um padrão temporal relativamente bem estabelecido na literatura especializada sobre o tema.

Parte dos ataques e ameaças tinha a ver com um efeito de copy ou mimesis, uma situação de contágio muito semelhante ao que ocorre em eventos de suicídio. O ato definitivo de uma mente perturbada tende a estimular outras mentes igualmente perturbadas a fazerem o mesmo, realizando aquilo que fermentavam em segredo ou em pequenos grupos de delinquentes interagindo virtualmente[1].

Outros eventos se relacionavam com gatilhos acionados ou operações direcionadas nesses espaços de interação, um ecossistema que envolve fóruns de jogos, grupos de mensagens e subcomunidades em redes sociais diversas como Discord, Reddit, Pinterest, Tumblr, Twitter etc.

A interação nesses canais não raro se estabelece em mais de uma plataforma, com canais internos e externos de comunicação. Frequentadores de fóruns de jogos se aproximam, trocam ideias, encontram padrões de identificação comuns, convidam neófitos para grupos de discussão interna etc etc. Daí, podem se estabelecer publicações em certas plataformas, por meio de threads em perfis de acesso restrito, hashtags combinadas previamente, entre outras formas de comunicação mais ou menos cifradas.

Essa rede envolve interesses diversos, sendo uma fauna rica de perturbações humanas. Há grupos e subcomunidades de anorexia, automutilação, sadomasoquismo, misoginia, crimes verdadeiros, violência explícita, satanismo, entre outras. Em algumas delas, os temas de assassinatos de crianças e outros casos escabrosos são debatidos livremente, com perpetradores de atos publicamente conhecidos sendo tratados como verdadeiros heróis.

Pessoas desequilibradas expõem as suas frustações, ressentimentos, revoltas e desejos obscuros, no que são apoiadas por outras com perfil análogo. Psicopatas transitam entre comunidades, fomentando a perturbação e incitando os demais a tomarem coragem para realizar na prática seus desejos reprimidos de violência. Em alguns casos já conhecidos, organizações dominadas por pessoas com esse perfil atuam para chantagear jovens de mente mais fraca a realizarem atos extremos, como automutilação ou ataques em escolas.

Atraídos para grupos obscuros do Discord ou de outras plataformas, moças e rapazes tem computadores e celulares hackeados, com exposição de dados sobre familiares e vida pessoal, que servem como instrumento de intimidação e chantagem. Os frutos dessa manipulação, por sua vez, são igualmente compartilhados nesses espaços, encontrando legitimidade grupal.

Em termos de filiação política, a fauna é igualmente diversa. Encontram-se simpatizantes do nazismo, do fascismo, do comunismo, do nacional bolchevismo, entre outras ideologias radicais. O nível de clareza ideológica dos envolvidos é primário, com debates que dizem muito mais da confusão mental de seus participantes do que da importância real da ideologia para incitar a concretização dos atos. As preferências e filiações religiosas incluem o ateísmo, o islamismo radical, a bruxaria, o satanismo, entre outras.

Por óbvio, os grupos e subcomunidades funcionam como amplificadores para a perturbação mental de certos indivíduos. Com o compartilhamento de experiências e aprovação grupal, indivíduos com problemas mentais e toda sorte de perversões são encorajados e estimulados. Desejos obscuros encontram legitimação e mesmo incentivos para sua concretização.

Esse ambiente tóxico estimula a dissonância cognitiva, enfraquece a influência das instituições normais e promove verdadeira lavagem cerebral, que inclui a substituição do sistema de crenças e valores compartilhados por um Ersatz, um substituto funcional que serve para a mente afastar a culpa e quaisquer outros freios para o livre curso das depravações. É o repasto perfeito para psicopatas, que manipulam os desejos, medos e ressentimentos em prol da consecução de seus próprios objetivos, não raro ainda mais permeados de sadismo, perversidade e violência.

Não existe padrão único  

É claro que nem todos os crimes ocorridos em escolas, no Brasil e no mundo, obedecem a essa dinâmica. O escritor Liev Tolstói dizia que as famílias felizes são todas iguais, mas as infelizes são infelizes cada uma a sua maneira. Isso quer dizer que a desordem, por excelência, não obedece a um padrão uniforme. As coisas que levam uma pessoa a se corromper são por excelência tão incontáveis quanto os demônios do Inferno.

Ademais, o ser humano possui livre arbítrio e não é um refém inescapável de mecanismos e influências exteriores, por mais que elas contem muito para lhe corromper o sentido, perverter-lhe vontade ou obnubilar sua razão. Do mesmo jeito que há indivíduos que sofreram os horrores do abuso infantil e se tornaram eles mesmos contaminados pelo desejo de abusar outras crianças, que influencia suas ações pelo resto da vida, há outros que sempre tiveram tudo de bom e do melhor e fazem a opção deliberada e livre de coerções pelo mal.

Os atentados em escolas existem há muito mais tempo do que grupos de Discord ou fóruns de jogos na internet. Nos Estados Unidos da América, por exemplo, remetem ao início dos anos 1970. Durante muito tempo, eventos desse tipo encontraram explicação no bullying como uma variável importante para explicar o comportamento dos atiradores. De fato, em muitos casos, o histórico de abusos recorrentes parece explicar os atos definitivos de jovens que praticavam uma espécie de vingança coletiva contra os seus colegas de escola. Casos emblemáticos dos anos 1990 como os de Barry Loukaitis em Washington State em 1996, ou o de de Michael Carneal no Kentucky em 1997, parecem realmente possuir relação com algum tipo de abuso ou exclusão ocorrido no universo social da escola.

O que pouco se fala é que a ocorrência de eventos assim coincide mais ou menos com as reformas educacionais influenciadas pelo chamado “interacionismo na educação”, genérica e popularmente conhecido como “sócio construtivismo”. Essa perspectiva foi aplicada pela primeira vez em larga escala na antiga União Soviética, quando Anatoli Lunacharski assumiu a secretária de educação da URSS, permanecendo até 1921.

No Ocidente, encontra expressões nas obras de autores como Maria Montessori, John Dewey, William James, Lev Vigotsky e Paulo Freire, ganhando força política a partir da revolução cultural dos anos 1960.

Nos Estados Unidos, foram propostas desse tipo que levaram à criação das escolas de currículo aberto, um processo descrito por Paul Copperman em The Literacy Hoax (Morrow Quill, 1980). Com a possibilidade de estudantes poderem compor seu quadro de disciplinas conforme preferências e aptidões, os pátios escolares tornaram-se mais difíceis de governar, já que fiscais não conseguiam identificar mais se os estudantes estavam matando aulas ou simplesmente esperando a hora de uma disciplina específica.

Para completar, o trabalho mesmo de mediação desses fiscais e dos professores foi afetado pela introdução das novas concepções pedagógicas. O espaço de sociabilidade dos alunos passou a ser valorizado enquanto um instrumento importante do processo de aprendizado, que deveria ter sua autonomia e distância preservados da influência das autoridades. Foi assim que se disseminaram a prática de esportes com viés de participação, o desenvolvimento de projetos coletivos interdisciplinares e a liberdade da condução da vida escolar pelos estudantes em grêmios estudantis e outros tipos de organização em maior ou menor medida independentes[2].

O problema é que o ser humano é mimético, e a violência possui igualmente um caráter mimético. A identificação mútua com base num inimigo ou vítima preferencial é um dos parâmetros mais antigos de associação na história humana. Ele é ainda mais forte para crianças e jovens, que não possuem personalidade bem desenvolvida e são extremamente dependentes da aprovação grupal. Zombar de amigos e colegas, excluir o diferente e entrar em disputas físicas, encontrando nisso a medida de sua força e o reforço da sua identidade, fazem parte constitutiva do processo de amadurecimento.

Porém, como tudo o mais quando se trata de jovens e crianças, essa etapa do desenvolvimento da personalidade necessita de algum tipo de supervisão ou mediação externa. Por isso, o resultado dessa mudança educacional introduzida pela chamada “Nova Educação”, foi a disseminação de gangues de jovens e outros grupos tribais, que vivem de predar uns aos outros, mas principalmente os indivíduos isolados, fisicamente fracos e sem apoio de um grupo para se defenderem.

Para piorar o cenário, os educadores modernos insistem em tratar o bullying como se fosse uma relação mútua, onde vítima e agressor devem ser compreendidos igualmente. O praticante do assédio, então, é visto como sujeito que precisa ser considerado, com problemas de auto estima etc. Isso faz com que predadores que na verdade possuem elevada auto estima, perfeita consciência dos danos que causam e noção apurada de como funcionam os serviços psicossociais, manipulem os profissionais, perpetrando a violência contra as vítimas ou mesmo intensificando-as após a intervenção de terceiros. Em um cenário como esse, não surpreende que alguns casos de tiroteio se relacionem com atos tresloucados de vingança.

O que resolve
Contudo, importa ter em mente que nem o efeito de contágio, nem as subcomunidades, nem o bullying esgotam a questão. Publicações recentes sobre os tiroteios em Columbine demonstram claramente que os atiradores não eram propriamente “vítimas” da comunidade escolar. Ao contrário, os atacantes estavam bem mais próximos dos predadores desse ambiente do que de seus alvos preferenciais.

O mesmo pode ser dito de outros ataques, que em nada se relacionam com histórico pregresso de bullying. O assassino de Blumenau, ao que se sabe até agora, não possuía trajetória de vida marcada por uma experiência desse tipo, nem mesmo era frequentador assíduo de subcomunidades ou fóruns de internet. Ao contrário, seu perfil parece mais corresponder ao de um caso clássico de psicopatia, com um histórico reiterado de violência contra parentes e desconhecidos.

O caráter multicausal desse tipo de evento implica uma abordagem ampla para resolver o problema. No nível do bullying, passa por restaurar a mediação nos espaços de convivência dos estudantes, com uma atitude intolerante contra casos de violência, exposição humilhante, entre outros eventos associados. Predadores em qualquer ambiente precisam ser identificados e reprimidos com todo o rigor, para que não se tornem referência para os demais, nem evoluam na sua trajetória delinquente. E escola precisa voltar a ser um ambiente de controle e disciplina, o que serve igualmente para a evolução dos estudantes e a proteção das vítimas.

Em termos das subcomunidades e ambientes virtuais, o problema passa por mudanças nas leis e pelo trabalho policial. O sistema de justiça criminal precisa de um arcabouço adequado para lidar com casos de ameaça, planejamento de crimes e incitação à violência. Somente com isso, o trabalho ativo de unidades especializadas da polícia, infiltradas nesses ambientes virtuais, pode gerar o devido efeito dissuasório para futuros delinquentes, e incapacitante para os que estão em plena operação.

Em alguns casos, a simples visita de policiais ou conversas com os responsáveis pode render bons frutos. O monitoramento permanente de desviantes com padrões de comportamento mórbido, bem como a proibição de que se aproximem de certos espaços, pode igualmente servir para atingir resultados positivos.

Para casos mais extremos, a revisão da lei antimanicomial, com o retorno da possibilidade de internação compulsória, principalmente em situações que a integridade de terceiros se encontra ameaçada, pode também fornecer parte do arcabouço institucional necessário para evitar que indivíduos desequilibrados ponham a vida de jovens e crianças em risco.

Quando se tratam de psicopatas e criminosos contumazes, a questão passa por uma revisão mais geral da legislação penal. Indivíduos com esse perfil costumam desenvolver uma trajetória de crimes que começam cedo na vida, mas continuam evoluindo de maneira intermitente. Identificá-los logo nos primeiros crimes e incapacita-los por longos períodos, mantendo-os sob vigilância constante, é o único jeito conhecido de anular seu potencial ofensivo, para além dos aspectos preventivos propriamente ditos, com educação específica na primeira infância, entre outras medidas de proteção mais geral da sociedade contra sua atuação perniciosa.

Nesse aspecto, da prevenção dos delitos propriamente ditos, também existem medidas administrativas que podem tornar o ambiente das escolas e creches mais seguros. Elas vão para além do trabalho ativo do serviço psicossocial, redirecionado para uma lógica de identificação, tratamento e envolvimento dos familiares em casos problemáticos, quando não couber expulsão, punição ou outras medidas disciplinares.

A presença de seguranças armados em escolas pode ser uma medida interessante, principalmente nos casos que eles operam como elemento dissuasório não só de ataques, como também de outros eventos de violência, que grassam particularmente nas escolas públicas brasileiras. Detectores de metais, revista ativa e outros procedimentos de segurança igualmente podem colaborar para tornar os ambientes mais seguros.

Outras medidas incluem o treinamento em protocolos de defesa, com professores, funcionários e alunos preparados para fugir, bloquear acessos e se esconder, em caso da presença de ofensores armados, tendo em vista que os ataques ocorrem e cessam de maneira rápida. Além, é claro, da disponibilização do acesso a armas para adultos responsáveis que estejam presentes no ambiente escolar, que operam por si mesmo como dissuasores da ação de delinquentes.

O assunto nunca é o assunto
Estranhamente, o PL das Fake News, em quase toda sua totalidade, não guarda relação com nenhuma dessas medidas possíveis para resolver o problema dos ataques contra crianças e jovens nas escolas. Esses eventos não têm absolutamente nada a ver com disparos de massa ou plataformas como Whatsapp ou Twitter. Ainda que possa se dizer que elementos contidos no projeto, como a responsabilização criminal das plataformas pelos conteúdos publicados pelos usuários, podem influenciar no banimento de conversas e perfis envolvidos nessas subcomunidades, o uso do Discord, do Telegram e de outras ferramentas de comunicação privada que servem principalmente para comunicação interna de pessoas envolvidas nessas subcomunidades permanecerá intocável após a aprovação do PL.

Mais ainda, o uso de expressões pré-combinadas nos fóruns de discussão, como “sl” para automutilação, “ED” para bulimia e anorexia, “TCC” e “g0re” para violência extrema, entre outros, já indicam o cuidado dos seus participantes de esconderem rastros, que só devem ser mais aprimorados conforme as plataformas tenham que implementar sistemas mais rigorosos de fiscalização do que é postado.

É importante ter em vista que esses usuários são no mais das vezes jovens, nativos digitais, que acompanham com interesse os parâmetros estabelecidos de fiscalização e sabem muito bem se esconder no ambiente virtual. Não é difícil que se concentrem nos meios que precisam de maior garantia de privacidade caso as plataformas intensifiquem a fiscalização, com ou sem uma nova regulamentação, o que tornará sua identificação e acompanhamento policial ainda mais difícil, por sinal.

Então, o que está por trás da defesa do PL das Fake News? “O assunto nunca é o assunto, o assunto é sempre a revolução”, certa vez disse um radical norte-americano. O uso da temática da violência das escolas como instrumento para controle das redes sociais e, sobretudo, criminalização de grupos ideológicos associados com a “extrema-direita” já estava anunciado como agenda da esquerda mesmo antes da posse de Lula no início de janeiro.

O tema foi objeto de discussão de um Grupo de Trabalho (GT) relacionado com a equipe de transição, coordenado por Daniel Cara, contando com a participação de pesquisadores envolvidos com a temática. Por sinal, uma das pesquisadoras envolvidas no debate, Letícia Oliveira, possui fotos divulgada nas redes sociais vestindo camiseta com símbolos satanistas amplamente conhecidos.

Durante os primeiros meses do ano, o tema passou quase em branco no debate público, até que a chacina ocorrida em Blumenau operou como um apito de cachorro, para que a esquerda no poder utilizasse os ataques como instrumento de convencimento da opinião pública sobre a necessidade de implementar uma regulação mais efetiva das redes sociais.

No relatório intitulado “O extremismo de direita entre adolescentes e jovens no Brasil: ataques às escolas e alternativas para a ação governamental”, os participantes estabeleceram os termos que iriam orientar os discursos do governo e seus asseclas no momento mais conveniente. O texto, permeado de erros gramaticais que denunciam bem a qualidade técnica dos envolvidos no GT, declara como objetivo “apresentar como esses ataques violentos às escolas está (sic) relacionado com um contexto social imerso na escalada do ultraconservadorismo e extremismo de direita no país e a (sic) falta de controle e/ou criminalização desses discursos e práticas, bem como de sua difusão através de meios digitais. Em segundo lugar, este relatório pretende apresentar subsídios para ações governamentais efetivas”.

Em seguida, procura induzir o leitor a um diagnóstico que relaciona os ataques às filiações ideológicas de seus perpetradores, pintados de maneira caricatural como influenciados por discursos de extrema-direita. Os casos se relacionariam sempre com bullying, problemas familiares ou exposição intensa a conteúdos violentos. Os jovens advindos desses contextos se tornariam “violentos em processo de cooptação pela extrema-direita e, ao seguirem rumo aos ataques (seja com uso de armas de fogo, armas brancas ou depredação do patrimônio), procuram a escola com desejo condicionado por associarem-na às condições de exposição”.

O diagnóstico reducionista do relatório não está acompanhado de qualquer pesquisa quantitativa que confira credibilidade ao tema. A bibliografia internacional que fala da associação dos eventos com extremismos de ambos os lados do espectro político é propositadamente ignorada. Existe um alvo bem definido para o relatório e o que ele prevê como prognóstico é o anúncio do que se pode esperar do governo Lula em caso de aprovação do PL das Fake News.

Além do monitoramento policial de grupos de extrema-direita, classificados genericamente como “supremacistas”, sendo entendidos inclusive na sua acepção ampla, o que inclui nazistas, fascistas, integralistas e separatistas, entre outros, prevê-se a criação de dispositivos que permitam a criminalização de símbolos e outros tipos de expressão que não se restrinjam aos já estabelecidos, como a cruz suástica ou gamada. Dados os processos permanentes de ressignificação de imagens, gestos, expressões corporais e outros símbolos de identificação grupal que seriam típicos desse agrupamento, seria preciso uma legislação capaz de se adaptar ao contexto, permitindo uma persecução penal mais eficiente dos integrantes desses grupos, analisada caso a caso.

Não é preciso muita criatividade para saber que os autores da proposta visam instrumentalizar o Estado brasileiro com mecanismos para reprimir qualquer discurso considerado de “extrema-direita”. Nove em cada dez manifestações na esquerda sobre bolsonarismo usam o termo “fascismo” para criticar essa corrente política de definição imprecisa, termo utilizado para agregar a ampla gama de brasileiros que se viu de alguma forma representada pela figura do ex-presidente e seu governo nos últimos anos.

Isso inclui discursos parlamentares, livros e artigos sobre o tema, que abusam da confusão conceitual e da criação de espantalhos como instrumentos retóricos para substituir qualquer análise mais fundamentada sobre o fenômeno por gatilhos que visam despertar emoções negativas irrefletidas dos receptores. Recentemente, o deputado Andre Janones (Avante-MG), passou a defender abertamente a equiparação entre nazismo e bolsonarismo, com a consequente criminalização deste último. A atitude, interpretada erroneamente como simples provocação do político, na verdade aponta para a direção da ação política da esquerda ora no poder.

É importante lembrar que a linha de continuidade que liga a regulação das redes sociais a uma suposta defesa das crianças e jovens já tinha sido estabelecida bem antes do início do governo Lula. No requerimento de criação da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) das Fake News, já estava presente a associação desse tema com a suposta defesa de crianças e jovens, citando expressamente o combate ao cyberbulling e o uso das redes sociais para incitar o cometimento de suicídio e outros crimes por esse público mais vulnerável. Contudo, durante os meses em que a CPMI esteve em atividade, o que o país assistiu foi um circo voltado exclusivamente para persecução criminal de apoiadores do então Presidente da República, dentro e fora do governo.

Na época, o movimento contou com o apoio explícito de amplos setores da imprensa, que operaram abertamente como agentes de desinformação, vendendo teorias sobre a existência de um suposto “gabinete do ódio” que jamais chegou a ser provada de fato, em que pese o amplo poder de investigação da comissão. Sem alcançar qualquer conclusão significativa sobre o seu objeto, a CPMI se tornou assunto inconveniente na esfera pública, caminhando para seu encerramento melancólico.

O mesmo destino, por sinal, deve ter o inquérito do Superior Tribunal Federal (STF) que trata sobre a questão, que até o momento não foi capaz de oferecer uma única denúncia consistente, funcionando como um instrumento de persecução criminal e intimidação de personalidades com influência política, todas mais ou menos próximas do campo conservador.

Novamente, o assunto nunca é o assunto, o assunto é sempre a Revolução. A linha que une toda essa cadeia de subterfúgios para regular as redes sociais e criminalizar a existência política da direita emergente tem a ver com a crise que se abateu sobre o sistema político brasileiro desde as Jornadas de Junho de 2013.

Incapazes de lidar com a sociedade aberta, que se baseia na revelação contínua dos jogos de interesse que contaminam a democracia liberal e na exposição crítica de toda a pose e artificialidade, as antigas instituições de mediação entre a população e a política, quais sejam, os tribunais, partidos, grandes veículos de imprensa, sindicatos, Academia, institutos de pesquisa, agências produtoras de cultura e demais sistemas legados tem procurado retornar artificialmente uma situação anterior. Nela, o fluxo de informações, a entrada de novos participantes e a resposta que se dava às demandas da sociedade não estavam sujeitas ao escrutínio público de fato, mas dependiam de uma intricada rede de relacionamentos, interesses conspícuos, trocas de recursos e negociações obscuras.

Assim, tornava-se possível adiar, ignorar, reprimir ou silenciar antagonismos que procurassem romper os grandes acordos de bastidores, que garantiam momentos de paz e estabilidade. Por isso, o PL das Fake News foi elaborado para agregar o máximo de interesses dos sistemas legados, incluindo concessões financeiras aos grupos de mídia e artistas, instrumentos de controle que podem ser usados localmente pelas oligarquias regionais e o aparato necessário para implementação do socialismo no Brasil, objetivo permanente do petismo ora no poder.

A quantidade de interesses convergentes envolvidos na aprovação dessa proposta não permite muito ânimo sobre seu destino, em que pese as chances reais dela ser derrotada no Congresso. O STF já sinalizou com a possibilidade de atuar de maneira impositiva novamente, legislando penalmente sobre matéria que não lhe cabe.

Frear essa sanha do consórcio que se estabeleceu no poder só será possível mediante uma mobilização ampla da sociedade, envolvendo setores que ultrapassam o campo conservador propriamente dito. No pano de fundo dessa luta, não está a proteção de jovens e crianças contra atos extremados de violência, como os defensores do PL tentam fazer parecer, mas a garantia que a sociedade que eles irão viver no futuro será definida por eles, e não pelas mesmas elites esclerosadas que tem conduzido os destinos do país ao arrepio da vontade popular.

Eduardo Matos de Alencar é doutor em sociologia pela Universidade Federal de Pernambuco e autor do livro ‘De quem é o comando? O desafio de governar uma prisão no Brasil’ (Ed. Record)”

[1] As ativistas Paula Marisa e Steh Papaiano, juntamente com a influenciadora Débora Luciano, recentemente conduziram uma investigação extensa sobre o tema, apresentando seus resultados em audiência recente no Congresso Nacional. Os resultados preliminares dos seus esforços já dão uma boa medida da extensão do problema que o país terá que enfrentar se não quiser passar por novos eventos trágicos envolvendo jovens e crianças. O material produzido pelas duas constitui uma das principais fontes das reflexões deste artigo.

[2] No Brasil, o primeiro autor a levantar essa relação foi o cientista político Gabriel Rocha, no artigo ‘High School Cannibals: entre as armas e os espaços lúdicos da “Nova Educação”’, publicado no extingo blog Proveitos Desonestos: crime, lixo, literatura e outras perdas.

Leia mais em: https://www.gazetadopovo.com.br/ideias/pl-fake-news-nao-trata-de-proteger-jovens-criancas-manter-status-quo/
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STF ESTÁ REGULANDO AS REDES SOCIAIS AOS POUCOS

 

Via judicial

Por
Renan Ramalho – Gazeta do Povo
Brasília

O presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Dias Toffoli, e o ministro do STF Alexandre de Moraes durante abertura do Seminario Politicas Judiciarias e Seguranca Publica. (O presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Dias Toffoli, e o mini


Dias Toffoli (à esq.) é relator de uma das ações que pode rever Marco Civil da Internet; Alexandre de Moraes (à dir.) defende regras mais amplas de moderação das redes sociais| Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil

A decisão da Câmara de adiar a votação do projeto de lei das “fake news” deverá apressar no Supremo Tribunal Federal (STF) o julgamento de duas ações que, pela via judicial, vai impor algumas das regras de regulamentação das redes sociais previstas na proposta. Segundo apurou a Gazeta do Povo, o ministro Dias Toffoli, relator de uma dessas ações, poderá pautar o caso em junho para julgamento, caso o Congresso não avance com a matéria neste mês de maio.

Essa possibilidade foi comunicada pelo presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), defensor da regulamentação, junto a líderes partidários, na tentativa de convencê-los a aprovar o projeto. Quando percebeu que não havia votos suficientes, ele resolveu adiar a votação.

Para ocorrer de forma rápida, a regulamentação das redes pelo STF poderá ocorrer em julgamento realizado no plenário virtual, no qual os integrantes da Corte proferem votos de forma remota, sem discussão presencial, ao longo de uma semana. Em julgamentos assim, o próprio relator da ação pode marcar a data, sem necessidade de que isso seja feito pela presidente do STF, a ministra Rosa Weber, que pauta as ações julgadas no plenário físico.

Toffoli considera que já existe maioria de ao menos 6 votos, entre os 11 ministros da Corte, favoráveis a uma revisão de uma regra do Marco Civil da Internet que, fora algumas exceções, retira das plataformas digitais a responsabilidade pelo conteúdo postado por seus usuários.

Trata-se do artigo 19 da lei, segundo o qual as empresas de tecnologia só podem ser punidas por uma postagem ofensiva – pagando indenização à vítima da ofensa –, caso descumpram uma ordem judicial de remoção daquele conteúdo. Significa que caberá ao juiz, após ser acionado pela vítima, averiguar se de fato determinada postagem viola a honra ou a imagem da pessoa ofendida. O objetivo da norma é proteger a liberdade de expressão e a reservar ao Judiciário o papel de avaliar se publicações feitas pelos usuários das redes são ou não ilícitas.

O STF, no entanto, tem sido provocado a determinar que, em algumas situações específicas, a plataforma também poderá responder – e portanto, ser punida – independentemente de ordem judicial caso mantenha no ar conteúdos que incentivem “atos antidemocráticos”, que representem ofensas ou supostas ameaças a autoridades e instituições; que divulguem “fatos sabidamente inverídicos” ou “gravemente descontextualizados” sobre o processo eleitoral; que contenham “discursos de ódio”, que promovam racismo, homofobia, preconceito de origem, raça, sexo, cor e idade; bem como divulguem ideologias “odiosas”, como nazismo e fascismo.

Esses termos, apesar de vagos, já vêm sendo usados pelo ministro Alexandre de Moraes como base para remover, mediante provocação ou mesmo por sua própria iniciativa, postagens que ele considera ilícitas, ou “contrárias ao Estado Democrático de Direito”, no âmbito dos inquéritos das fake news e das milícias digitais, focados sobretudo em investigar políticos, influenciadores e jornalistas de direita e apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro.

As mesmas expressões foram usadas, por exemplo, na decisão desta terça-feira (2) na qual Moraes determinou que o Google, a Meta (dona do Facebook, Instagram e WhatsApp), o Spotify (tocador de música e podcasts) e a produtora de vídeos Brasil Paralelo apagassem todos os anúncios, textos e informações publicadas num blog institucional do Google críticos ao projeto de lei das fake news. Ele ainda mandou a Polícia Federal interrogar os executivos das empresas, dizendo que elas teriam ampliado o alcance das críticas à proposta em discussão no Congresso.

Dentro do STF, Moraes é um dos maiores defensores da regulamentação das redes sociais. Na própria decisão, ele escreveu que “é urgente, razoável e necessária a definição – LEGISLATIVA e/ou JUDICIAL –, dos termos e limites da responsabilidade solidária civil e administrativa das empresas; bem como de eventual responsabilidade penal dos responsáveis por sua administração” (as letras maiúsculas e grifadas são da própria decisão). Era o recado claro de que, caso o Congresso não legisle, o próprio Supremo poderá regulamentar as redes.

Além de fiscalizar o conteúdo de postagens, Moraes também tem imposto multas pesadas e prazos apertados para cumprimento de suas decisões por parte das empresas. Esses procedimentos foram criados por ele no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), e na semana passada, foram propostos, também por ele, para serem incorporadas ao PL das Fake News. Outro interesse do ministro e que também é objeto da proposta do Congresso, é desvendar como as plataformas distribuem o conteúdo, promovendo certas postagens e reduzindo o alcance de outras, a depender do perfil do usuário. Na decisão contra Google e Facebook, ele requisitou explicações sobre como elas usaram seus algoritmos para impulsionar conteúdos críticos ao projeto de lei.

Do que tratam as ações em andamento no STF
As ações que podem revisar a regra do Marco Civil da Internet estão prontas para julgamento. Além do caso relatado por Dias Toffoli, há outra ação sob relatoria de Luiz Fux – a diferença é que esta foi proposta antes da lei, editada em 2014. Mas o tema é o mesmo: a possibilidade de punir as plataformas pelo fato de deixarem no ar conteúdos considerados ofensivos.

As ações em discussão no STF foram ajuizadas pelo Google e pelo Facebook. Elas basicamente recorreram de outras decisões judiciais que impuseram a elas multas, de R$ 10 mil cada, por causa de postagens ofensivas a pessoas inseridas nas plataformas por terceiros.

No primeiro caso, uma professora de Belo Horizonte acionou a Justiça em 2010, após se deparar com um grupo, criado no antigo Orkut, cheio de comentários de alunos contra ela. No segundo caso, uma dona de casa do interior de São Paulo notou que, em 2014, alguém criou um perfil falso com seu nome e foto no Facebook que disparava xingamentos contra seus familiares.

Nos dois processos, as empresas concordaram em remover essas postagens após uma ordem judicial, mas não a pagar pelo tempo em que elas permaneceram no ar antes de sua avaliação pelo Judiciário, daí o recurso ao STF.

Nos últimos anos, porém, a discussão se ampliou e agora se cogita responsabilizar diretamente as plataformas não apenas por conteúdos ofensivos à honra de uma pessoa, mas também aqueles considerados nocivos ou danosos a autoridades, instituições, minorias sociais, ou mesmo políticas públicas.

O que há de comum entre as ações no STF e o PL das Fake News
A hipótese de responsabilização das empresas por manter no ar conteúdos desse tipo está prevista no PL das Fake News. Ele diz que elas seriam obrigadas a adotar um “dever de cuidado”, de modo que atuem de “diligentemente para prevenir ou mitigar práticas ilícitas no âmbito de seus serviços”.

Pelo texto da proposta, para não serem punidas com multas ou até suspensão de suas atividades, as plataformas deverão provar ao poder público, com relatórios e dados internos, que se esforçam para combater a disseminação de conteúdos de terceiros que possam configurar crimes contra o Estado Democrático de Direito, terrorismo, racismo, violência contra a mulher, infração sanitária, instigação ao suicídio e violência contra crianças e adolescentes.

Algo semelhante poderia ser feito no âmbito das ações no STF. O Marco Civil da Internet já prevê que as empresas podem ser punidas, independentemente de ordem judicial, caso mantenham no ar conteúdo que viole direitos autorais ou divulguem imagens íntimas não consentidas (os conhecidos “nudes” ou cenas de sexo não autorizadas). Há bastante interesse da maior parte dos ministros em abrir novas exceções, de modo que as próprias plataformas sejam punidas caso não removam, por iniciativa própria, aqueles outros conteúdos. Bastaria que fossem notificadas extrajudicialmente por usuários ou terceiros sobre eles.

É o que defenderam recentemente, numa manifestação enviada à Corte, professores e pesquisadores da FGV Direito Rio, instituição bastante influente em discussões sobre direito digital. Como o Supremo não pode reescrever a lei, a ampliação das hipóteses de responsabilização direta das redes seria feita por meio de uma técnica decisória conhecida como “interpretação conforme a Constituição”. Na prática, sem mexer no texto legal, o STF decide como determinada regra – no caso, o artigo 19 do Marco Civil da Internet – deve ser aplicada.

“A ampliação do poder político-econômico das grandes empresas de plataformas digitais e o aprimoramento de suas técnicas de moderação de conteúdo justificam a necessidade de imposição de maiores deveres de diligência”, diz a manifestação da FGV Direito Rio. Assim como o texto do PL das Fake News, os autores dizem que elas devem prevenir “riscos sistêmicos” consistentes na violação de liberdades e direitos fundamentais que possam conflitar com a liberdade de expressão dos usuários.

O que dizem as plataformas no STF
Nos recursos junto ao STF, Google e Facebook alegam que já removem, por iniciativa própria, uma série de outros conteúdos que, além de ilegais, também ferem seus termos e condições de uso, sobretudo de incitação à violência e, recentemente, também aquelas que lançam suspeitas sobre as urnas eletrônicas – política adotada após pressão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) no ano passado. Mas consideram que o ideal é que o Judiciário avalie e aponte o que deve ser removido, de forma específica, caso a caso.

Se essa tarefa for imposta a elas, o risco é que, diante da obrigação de retirar do ar conteúdos proibidos com termos vagos, subjetivos e mutáveis, a depender do contexto –  tais como “antidemocráticos”, “extremistas”, “odiosos”, etc. – a tendência é que, para eliminar qualquer risco de serem punidas com multas pesadas, elas passem a apagar uma enorme quantidade de conteúdos que possam ser interpretados assim, mesmo que sejam perfeitamente lícitos – como uma crítica a alguma autoridade ou política pública por exemplo –; daí vem o risco de censura numa eventual revisão do Marco Civil da Internet.

“Trocar a segurança do artigo 19 por um regime de responsabilização baseado em critérios abertos ou pouco precisos levaria a um cenário extremamente problemático, com uma série de consequências negativas. Incentivaria as plataformas a presumir a ilegalidade de todo conteúdo controverso, porque essa é a forma mais racional de evitar o risco de responsabilidade civil. Desestimularia o comportamento responsável das pessoas, na medida em que a conta de sua irresponsabilidade seria transferida para as empresas. E incentivaria uma enxurrada de novas ações judiciais de indenização contra as plataformas, muitas vezes motivadas pela facilidade de litigar sem custos”, disse, em recente audiência pública sobre o tema no STF o advogado e representante do Google Guilherme Sanchez.

Na mesma audiência, em nome do Facebook, o advogado Rodrigo Ruf Martins alertou que eventual revisão do artigo 19 do Marco Civil da Internet levaria as plataformas a um aumento expressivo de remoção de “conteúdos críticos tão importantes para o debate público e para a democracia”. “Eles acabariam removidos, mesmo sem violar a lei ou as políticas, mas como forma de mitigação de riscos jurídicos. O efeito inibidor já é conhecido e poderia levar ao comprometimento do exercício da liberdade de expressão e tornaria a internet no Brasil menos dinâmica e inovadora”, afirmou.


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VITÓRIA DA MOBILIZAÇÃO POPULAR CONTRA O PL DA CENSURA

 

Por
Marcel van Hattem – Gazeta do Povo

Bras’lia (DF) 18/04/2023 – O presidente Luiz Ina‡cio Lula da Silva (e) conversa com ministro da Justiça, Fl‡avio Dino (c) e o presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Alexandre de Moraes (d), durante reuni‹ão com chefes dos Três Poderes, governadores e ministros, para debater formas de reforçar a segurança no ambiente escolar ap—ós os epis—ódios de violência em Blumenau (SC) e em Sã‹o Paulo (SP) nos úœltimos dias. Foto: JoŽdson Alves/ Agência Brasil


O presidente Lula, O ministro da Justiça Flávio Dino e o ministro do STF Alexandre de Moraes: PL das Fake News tem apoio de Lula e do STF.| Foto: Joédson Alves/Agência Brasil

O país se mobilizou, nos últimos dias, para barrar o PL da Censura (2630/2020) e obteve uma vitória provisória: a iniciativa autoritária foi retirada de pauta na noite de terça-feira, 2 de maio. O apelido mais conhecido do projeto nesse curto período de tempo chegou a mudar, tamanha a repercussão do tema: de PL das Fake News, supostamente para combater desinformação e mau uso das redes sociais, passou a ser chamado pela população por aquilo que tenta tornar lei no Brasil: PL da Censura, uma restrição severa à liberdade de expressão. Refletindo mais a respeito e observando tudo o que ocorreu em torno da discussão do PL 2630/2020, porém, percebe-se que a proposta é muito mais do que uma autorização legislativa para a volta da censura no país. A proposta define, na verdade, se a Câmara vai se curvar à ditadura em curso do Poder Judiciário e do Poder Executivo ou se vai se manter firme na defesa da liberdade de expressão e ao lado da Constituição.

O Congresso Nacional é o último bastião de defesa das liberdades em uma democracia quando as demais instituições sucumbem. É no Parlamento, em particular na Câmara dos Deputados, que se encontra a pluralidade eleita para representar a população brasileira, da esquerda à direita, passando por um amplo centro. Não obstante essa importância capital, a própria Casa Legislativa tem hesitado em se impor e colocar-se no lugar de importância e relevância junto ao povo brasileiro. Muitas vezes, vergonhosamente, tem feito o oposto e se curvado aos demais poderes.

O recado claro do povo brasileiro é o de que não aceitará viver sob uma ditadura no Brasil.

As decisões tomadas pelo Supremo Tribunal Federal (STF) desde o inquérito das fake news em abril de 2019, passando pela resolução inconstitucional do TSE durante o segundo turno das eleições de 2022 até as prisões ilegais de manifestantes em frente ao QG em Brasília, no dia 9 de janeiro, sem qualquer prova individualizada de participação nas depredações ocorridas no dia anterior, são todas sem base legal – ou seja, ilegais. Completamente inerte, as presidências de ambas as Casas do Parlamento brasileiro assistem às ações abusivas sem se pronunciar.

Milhares de pessoas e empresas brasileiras estão neste momento enfrentando severas restrições às suas liberdades por caprichos ilegais do Tribunal Supremo. Redes sociais suspensas, contas bancárias bloqueadas, passaportes de cidadãos brasileiros cancelados, tornozeleiras eletrônicas e prisões preventivas sem as condicionantes são exemplos dos abusos em curso no país. Já o Poder Executivo sob a presidência de Lula da Silva – que pela lei e decisão de todas as instâncias do Judiciário brasileiro deveria estar preso por seus crimes, mas foi solto por decisão de ministros do STF indicados por ele e Dilma no passado – tem tomado decisões ilegais e abusivas todos os dias: nomeações irregulares no governo e em estatais, decretos suspendendo leis, sem falar na descarada liberação de emendas parlamentares em troca de votos a favor do PL.

O Parlamento tem de resistir às iniciativas autoritárias se não quiser perder a condição de último recurso institucional de combate ao arbítrio e à opressão.

Na discussão do PL da Censura percebeu-se nitidamente como os interesses ilegais e práticas autoritárias de ambos os poderes podem andar em conjunto. O exemplo do que ocorreu com a empresa Google basta. Ao informar seus usuários em sua página inicial sobre alguns dos efeitos negativos do PL 2630/2020 sobre seus serviços e pedir, legitimamente, por mais debate, foi alvo do governo Lula e do Poder Judiciário ao mesmo tempo, com ações abusivas, arbitrárias e ameaçadoras. Um verdadeiro cala-boca, com tintas de exemplaridade, para quem ousar fazer o mesmo.

O Ministério da Justiça constrangeu a empresa, por meio de sua Secretaria Nacional do Consumidor, com uma medida cautelar para obrigar que o Google tratasse como publicidade o material informativo sobre o PL da Censura, sob pena de multa de um R$ 1 milhão por hora; o STF, em decisão do ministro Alexandre de Moraes, determinou a presença do presidente da Google diante da Polícia Federal em até cinco dias. Enquanto a Rede Globo e outros poderosos meios de comunicação fazem livremente campanha a favor do PL da Censura, quem atreveu-se a manifestar contra a proposta está sendo perseguido. A censura a quem manifesta opinião divergente do governo Lula e do que defende o Poder Judiciário (que, aliás, em matéria de processo legislativo não deveria fazer nada mais do que se calar por determinação legal) já está em curso, o que me faz defender que o PL 2630/2020 seja mais adequadamente renomeado de PL da Censura para PL da Ditadura.

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Na verdade, o projeto parece ter como intenção principal dar aos poderes Executivo e Judiciário, com o vergonhoso apoio de parte expressiva da mídia brasileira, a maioria em apuro financeiro, a oportunidade de passar o recado à sociedade de que também o Legislativo, última trincheira da luta pela liberdade em qualquer democracia representativa, embarcou na sanha autoritária em vigor e está convalidando, assim, todos os atos ilegais já executados. Como se isso fosse possível, em primeiro lugar, pois a lei não retroage. Felizmente, graças à articulação da oposição na Câmara dos Deputados e da massiva pressão social, o PL da Censura foi retirado de pauta nesta terça-feira. Em Porto Alegre, São Paulo, Rio de Janeiro e outras partes do Brasil, o povo venceu o medo de se manifestar em público e chegou a ir às ruas, aos milhares.

O recado da população vai muito além de uma manifestação contra a censura, que já é explicitamente vedada pela Constituição e jamais poderia estar sendo discutida no Parlamento, muito menos por projeto de lei. O recado claro do povo brasileiro é o de que não aceitará viver sob uma ditadura no Brasil. O Parlamento tem de resistir às iniciativas autoritárias se não quiser perder a condição de último recurso institucional de combate ao arbítrio e à opressão. E o povo brasileiro, quanto mais se manifestar nas redes e voltar a sair às ruas para protestar agora, menos chance terá de perder completamente seu direito à liberdade de expressão para sempre. Não ao PL da Ditadura!

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