sexta-feira, 8 de julho de 2022

MILITARES TSE E AS ELEIÇÕES

 

Foto: Fabio Rodrigues-Pozzebom/Agência Brasil e Felipe Rau/Estadão

Por Felipe Frazão

Em novo ofício, pasta pedirá mudanças em testes públicos e de integridade dos votos e incentivar auditoria externa dos partidos

As Forças Armadas vão pressionar novamente a Justiça Eleitoral. O Ministério da Defesa planeja remeter novo ofício cobrando respostas do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) a três questionamentos sobre a segurança do sistema de votação. A ação corrobora o que prega o comitê de reeleição do presidente Jair Bolsonaro (PL). Atrás em pesquisas de intenção de voto a menos de 90 dias da eleição, Bolsonaro promove uma campanha de suspeição das urnas eletrônicas.

As Forças Armadas querem insistir, principalmente, numa reunião específica entre militares do Comando de Defesa Cibernética e técnicos civis da Justiça Eleitoral. O objetivo, segundo generais, seria discutir alguns critérios adotados pela Corte e a ampliação dos testes públicos de segurança, que devem incluir um novo modelo de urna a ser usado pela primeira vez em 2022. Mudanças no teste de integridade das urnas, e incentivo a auditoria externa feita por partidos, como pretende o PL.

O presidente do TSE, Edson Fachin, disse que todas as entidades integrantes da comissão devem ter as mesmas oportunidades de se manifestar. Essa resposta foi entendida na caserna como uma negativa da Justiça Eleitoral ao último pedido de reunião técnica.
O presidente do TSE, Edson Fachin, disse que todas as entidades integrantes da comissão devem ter as mesmas oportunidades de se manifestar. Essa resposta foi entendida na caserna como uma negativa da Justiça Eleitoral ao último pedido de reunião técnica. Foto: Wilton Junior/Estadão

“Não há sistema que não mereça aperfeiçoamento”, disse o ministro da Defesa, general Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira, nesta quarta-feira, 6, em comissão na Câmara. Os militares descartaram a ideia adotada pela Polícia Federal, de programar um software próprio para auditar a contagem de votos. Mas já desenham planos para que se engajem na fiscalização de cada etapa do processo.

Segundo o general, as Forças Armadas “estavam quietinhas no seu canto” e foram convidadas a participar pela Corte, para garantir um processo transparente, seguro e com melhores condições de auditoria. “Tenho tentado em várias oportunidades, para que possamos sentar à mesa, conversar, conhecer melhor. Não tenho tido êxito”, queixou-se o general. “O sistema está na mão do TSE, que vai decidir o que vai ou não acatar.”

“Insistir nessa agenda de pressão desabrida e cínica sobre a Justiça Eleitoral, em clara atitude de vassalagem em relação a Bolsonaro, que é candidato à reeleição, é sinalizar ao mundo que o Brasil caminha paulatinamente rumo a um golpe de Estado”, rebateu o ex-presidente do Supremo Tribunal Federal (STF) Joaquim Barbosa, em mensagem ao general no Twitter.

Nesta quinta-feira, em live, Bolsonaro voltou a insistir que houve fraude em eleições anteriores, o que nunca foi provado. Ele disse que vai convocar embaixadores estrangeiros em Brasília para falar sobre episódios de 2014, 2018 e 2020. O TSE convidou observadores estrangeiros para acompanhar as eleições de outubro, a contragosto do Palácio do Planalto.

O presidente do TSE, Edson Fachin, disse que todas as entidades integrantes da comissão devem ter as mesmas oportunidades de se manifestar. Essa resposta foi entendida na caserna como uma negativa da Justiça Eleitoral ao último pedido de reunião técnica.

A constante troca de ofícios entre Defesa e TSE não é mera formalidade. Os representantes de mais alto nível das duas instituições não se falam por telefone nem se reúnem pessoalmente. Para os militares, que se queixaram de desprestígio, Fachin se isolou.

O tom dos últimos discursos das Forças Armadas e do TSE foi dissonante. Na quarta-feira, enquanto o ministro da Defesa negava na Câmara dos Deputados preocupação com um levante bolsonarista similar à invasão do Capitólio dos Estados Unidos, protagonizada por militantes trumpistas, o presidente da Corte afirmava, em Washington, que um distúrbio similar poderia ser ainda pior em Brasília. “Nós poderemos ter um episódio ainda mais agravado do 6 de janeiro daqui, do Capitólio”, afirmou Fachin.

Também durante a live da quinta-feira, Bolsonaro disse que seus apoiadores “já sabem o que fazer”, porque, segundo ele, o TSE vai desconsiderar eventual auditoria da Defesa. “O senhor Fachin declarou que auditoria não serve para mudar resultado das eleições. Ou seja, auditoria para quê? Se o Comando de Defesa Cibernética detectar fraude não vai valer de nada esse trabalho. Não preciso aqui dizer o que estou pensando, o que você está pensando. Você sabe o que está em jogo e sabe como deve se preparar, não para um novo Capitólio, ninguém quer invadir nada, mas sabemos o que temos que fazer antes das eleições”, declarou o presidente. / COLABOROU WESLLEY

INOVAÇÃO CORPORATIVA NO BRASIL

 

Felipe Novaes, sócio e confundador da The Bakery

O texto explora a evolução do panorama de inovação no Brasil nos últimos 5 anos, considerando alguns importantes marcos.

Os “50 Anos em 5” da inovação corporativa no Brasil, e como vencer obstáculos para inovar ainda mais                                                                        

Os últimos 5 anos estão entre os mais movimentados da história da inovação no Brasil. Em 2018, por exemplo, nasceram os primeiros unicórnios brasileiros e hoje o país é líder nas iniciativas bilionárias na América Latina. Em 2019, outro avanço: o número de startups nacionais cresceu três vezes, comparado a 2015. Nos últimos 5 anos, as grandes organizações também se destacaram. O volume de Venture Capital bateu recorde atrás de recorde, compromissos de sustentabilidade ganharam prioridade e cresceu na pauta o uso de termos como ESG, 5G, Open Finance, marketplace, transformação digital e metas de carbono.

Diante desse cenário, as organizações começaram a perceber que, embora inovar seja caro, o risco de perder o protagonismo, ou desaparecer do mapa, representaria um custo ainda mais alto. Nessa linha, um estudo realizado para o Anuário Valor Inovação Brasil de 2021 demonstrou o quanto a inovação vem recebendo espaço nas corporações. Metade dos executivos entrevistados afirma que inovar é a principal estratégia de sua empresa, um crescimento de 13 pontos percentuais em apenas um ano.

Indicadores como esse apontam que a inovação já se tornou um aspecto fundamental da vida de empresas que conseguiram conscientizar suas lideranças, perceber o desejo do consumidor e criar estratégias eficientes de transformação. Uma valiosa oportunidade em um país no qual as pessoas confiam duas vezes mais nas marcas para ter acesso a soluções do que no Governo.

No Brasil, a ampla extensão territorial e o tamanho da população permitem expandir negócios e ganhar escala. Se somarmos nosso mercado a toda a América Latina, temos um número de consumidores maior que o dos EUA. As ineficiências nas cadeias de produção locais, ou de infraestrutura, custos ainda extremamente altos de processos analógicos e manuais, um público diverso e com demandas variadas, aberto a novidades e tecnologias são convites ao investimento em inovação aqui. Dificuldade, sob a ótica da inovação, costuma ser oportunidade.

As empresas sentem a importância da inovação brasileira e querem colocar o pé no acelerador. Uma pesquisa da Deloitte envolvendo 500 organizações, com receitas que somam 35% do PIB nacional, publicada há poucos meses, mostra que 70% delas ampliarão ações em P&D e mais da metade vai intensificar parcerias com startups em 2022, sendo que 85% almejam lançar produtos novos ainda este ano.

O que às vezes parece faltar é um foco maior na estratégia de inovação e na importância dada ao que realmente a viabiliza. De acordo com a Confederação Nacional das Indústrias (CNI), cerca de 65% das empresas que inovaram durante a pandemia não têm sequer orçamento reservado para isso, tampouco times exclusivamente dedicados. E se não há um time empenhado 100% na inovação é grande a chance de uma empresa produzir iniciativas limitadas, ou hábeis em mirar apenas o curto prazo.

Para inovar e não fazer dessa ação fracasso e trauma, uma grande empresa precisa se preparar. Querer se aprofundar no negócio, rever processos internos, reconhecer entraves que inviabilizam o novo, entender a forma mais adequada de engajar as pessoas, as forças empreendedoras, escolher suas apostas e transformar sua cultura.

Na sequência desses “50 anos em 5” que vivemos, o momento para investir em inovação corporativa no Brasil é um dos mais propícios – e necessários. Está principalmente em nossas mãos (e planilhas) criar a melhor estratégia para que esse esforço se traduza em produtividade, performance e liderança.

STARTUP VALEON UMA HOMENAGEM AO VALE DO AÇO

Moysés Peruhype Carlech

Por que as grandes empresas querem se aproximar de startups? Se pensarmos bem, é muito estranho pensar que um conglomerado multibilionário poderia ganhar algo ao se associar de alguma forma a pequenos empresários que ganham basicamente nada e tem um produto recém lançado no mercado. Existe algo a ser aprendido ali? Algum valor a ser capturado? Os executivos destas empresas definitivamente acreditam que sim.

Os ciclos de desenvolvimento de produto são longos, com taxas de sucesso bastante questionáveis e ações de marketing que geram cada vez menos retorno. Ao mesmo tempo vemos diariamente na mídia casos de jovens empresas inovando, quebrando paradigmas e criando novos mercados. Empresas que há poucos anos não existiam e hoje criam verdadeiras revoluções nos mercados onde entram. Casos como o Uber, Facebook, AirBnb e tantos outros não param de surgir.

E as grandes empresas começam a questionar.

O que estamos fazendo de errado?

Por que não conseguimos inovar no mesmo ritmo que uma startup?

Qual a solução para resolver este problema?

A partir deste terceiro questionamento, surgem as primeiras ideias de aproximação com o mundo empreendedor. “Precisamos entender melhor como funciona este mundo e como nos inserimos!” E daí surgem os onipresentes e envio de funcionários para fazer tour no Vale e a rodada de reuniões com os agentes do ecossistema. Durante esta fase, geralmente é feito um relatório para os executivos, ou pelas equipes de inovação ou por uma empresa (cara) de consultoria, que entrega as seguintes conclusões:

* O mundo está mudando. O ritmo da inovação é acelerado.

* Estes caras (startups) trabalham de um jeito diferente, portanto colhem resultados diferentes.

* Precisamos entender estas novas metodologias, para aplicar dentro de casa;

* É fundamental nos aproximarmos das startups, ou vamos morrer na praia.

* Somos lentos e burocráticos, e isso impede que a inovação aconteça da forma que queremos.

O plano de ação desenhado geralmente passa por alguma ação conduzida pela área de marketing ou de inovação, envolvendo projetos de aproximação com o mundo das startups.

Olhando sob a ótica da startup, uma grande empresa pode ser aquela bala de prata que estávamos esperando para conseguir ganhar tração. Com milhares de clientes e uma máquina de distribuição, se atingirmos apenas um percentual pequeno já conseguimos chegar a outro patamar. Mas o projeto não acontece desta forma. Ele demora. São milhares de reuniões, sem conseguirmos fechar contrato ou sequer começar um piloto.

Embora as grandes empresas tenham a ilusão que serão mais inovadoras se conviverem mais com startups, o que acaba acontecendo é o oposto. Existe uma expectativa de que o pozinho “pirlimpimpim” da startup vá respingar na empresa e ela se tornará mais ágil, enxuta, tomará mais riscos.

Muitas vezes não se sabe o que fazer com as startups, uma vez se aproximando delas. Devemos colocar dinheiro? Assinar um contrato de exclusividade? Contratar a empresa? A maioria dos acordos acaba virando uma “parceria”, que demora para sair e tem resultados frustrantes. Esta falta de uma “estratégia de casamento” é uma coisa muito comum.

As empresas querem controle. Não estão acostumadas a deixar a startup ter liberdade para determinar o seu próprio rumo. E é um paradoxo, pois se as empresas soubessem o que deveria ser feito elas estariam fazendo e não gastando tempo tentando encontrar startups.

As empresas acham que sabem o que precisam. Para mim, o maior teste é quando uma empresa olha para uma startup e pensa: “nossa, é exatamente o que precisamos para o projeto X ou Y”.

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quinta-feira, 7 de julho de 2022

O BRASIL NA ECONOMIA É UM MAU ALUNO

Executivo e Legislativo
Rosana Felix, especial para a Gazeta do Povo

Fachada do Palácio do Congresso Nacional, a sede das duas Casas do Poder Legislativo brasileiro. As cúpulas abrigam os plenários da Câmara dos Deputados (côncava) e do Senado Federal (convexa), enquanto que nas duas torres – as mais altas de Brasília, com 100 metros – funcionam as áreas administrativas e técnicas que dão suporte ao trabalho legislativo diário das duas instituições. Obra do arquiteto Oscar Niemeyer. Foto: Roque de Sá/Agência Senado


Executivo e Legislativo têm repetido políticas públicas que deveriam ser abandonadas.| Foto: Roque de Sá/Agência Senado

O Brasil age como um aluno desatento e inquieto, que não consegue parar e prestar atenção no que o professor ensina. De 30 de maio para cá, quando foi lançada a coletânea de artigos “Para não esquecer: políticas públicas que empobrecem o Brasil”, Planalto e Congresso já incorreram em vários erros descritos no livro. Os projetos apoiados pelo Executivo e aprovados no Legislativo nas últimas semanas ilustram a tendência da sociedade brasileira de se deixar levar por soluções imediatistas para problemas complexos.

Os 33 autores do livro começaram o trabalho há cerca de um ano. “A gente fez um livro para que os erros não fossem repetidos e antes de o livro sair os erros já estavam se repetindo, como controle de preços de combustível e aumento de benefícios tributários”, disse em entrevista à Gazeta do Povo o economista Marcos Mendes, organizador da coletânea e um dos autores.

Para ele, a proposta de emenda à Constituição (PEC) dos benefícios, aprovada pelo Senado no dia 30 de junho, sinaliza uma ruptura no campo democrático. O pacote eleva o Auxílio Brasil de R$ 400 para R$ 600, duplica o valor do vale-gás e cria vouchers mensais para caminhoneiros e taxistas, entre outras medidas. Para driblar as restrições da legislação eleitoral, a proposta define um “estado de emergência” no país com prazo determinado: até 31 de dezembro. O relator na Câmara decidiu manter o texto aprovado pelos senadores, e a PEC pode ser votada pela comissão especial dos deputados nesta quinta-feira (7).

“A Lei Eleitoral vinha sendo respeitada ao longo do tempo, mas essa PEC do desespero abriu precedente para qualquer governante legislar e criar programa novo às vésperas das eleições. Se o dono da caneta já tinha um poder imenso sem isso, imagina agora. Sem falar no absurdo que é aprovar PEC em três dias”, lamenta.

Mendes, que é professor do Insper e foi assessor especial do ministro da Fazenda no governo Temer, avalia que o desajuste nas políticas públicas se intensificou pela conjuntura eleitoral e pela habilidade de políticos do Centrão.

“A incapacidade de governar, a falta de objetivos e a entrada em campanha eleitoral em situação desfavorável colocam o presidente em uma posição que os parlamentares aproveitam. Sem disposição do Executivo em governar efetivamente, entra em cena um grupo político no Congresso muito hábil em fazer business”, diz.


Ele cita como exemplo a limitação do ICMS nos estados. Lei sancionada pelo presidente Jair Bolsonaro estabeleceu um teto de 17% a 18% para o imposto estadual sobre combustíveis, gás natural, energia elétrica, comunicações e transporte coletivo. “Os governadores vão ficar mais fracos e os parlamentares vão ficar mais fortes nas suas bases eleitorais. Chegam carregados de emendas e conseguem ocupar espaço político do governador”, diz Mendes.

O economista concorda que são excessivas alíquotas de até 33% no ICMS de combustível e energia. “A gente não pode achar isso normal, mas também não dá para concordar que isso mude de uma hora para outra, sem planejamento prévio”, pondera.

Ele chama atenção, porém, para a adesão política a esses projetos desestruturantes. “Na hora de votar, não é só o Centrão que está aprovando, os projetos estão passando de forma unânime. Não tem esquerda, não tem direita, não tem terceira via. De certa forma, os políticos acham que vão ser condenados pelo eleitorado se não votarem pela redução do preço da gasolina”, observa.

E o comportamento da sociedade brasileira tende a ser esse mesmo. O economista cita dados da pesquisa World Value Surveys, que aponta que 48% dos brasileiros acreditam que cabe ao governo resolver o problema das pessoas, contra uma média mundial de 16,5%.

O que a história recente ensina sobre as políticas públicas do Brasil
No prefácio da obra, Marcos Lisboa, presidente do Insper, lembra do entusiasmo que reinava no Brasil nos anos 2000, após o aperfeiçoamento das políticas fiscal e monetária e a ampliação do Bolsa Família, que foi um desdobramento dos programas sociais iniciados na gestão de Fernando Henrique Cardoso.

“O que deu errado? Como, vinte anos depois, o Brasil parece reviver os velhos pesadelos da insegurança institucional, estagnação econômica e aumento da população abaixo da linha da pobreza? Como chegamos até aqui?”, questiona Lisboa.

Durante evento no Insper para o lançamento do livro, no fim de maio, Mendes sintetizou seis erros comuns nas políticas públicas analisadas:

erro de diagnóstico;
efeitos colaterais das políticas não percebidos pela sociedade, como o fechamento da economia;
falta de atenção a detalhes de desenho de políticas públicas (como gastos em educação bem acima da média mundial, mas sem resultados efetivos na melhoria da educação dos alunos);
preservação de privilégios, como benefícios tributários e financeiros;
tentativa de consertar uma distorção criando outra distorção; e
desenho de regras políticas e eleitorais com poder fragmentado (muita gente decide de forma desconectada e conflitante).
Além de destrinchar os erros de dezenas de políticas públicas recentes, alguns artigos também propõem novos caminhos e alternativas para os projetos equivocados.

Marcos Mendes resume o que deveria ser o principal objetivo da sociedade: aumentar a produtividade. “Somente tornando-se capaz de fazer mais e melhor, uma economia gera mais valor e renda. Trata-se de aumentar a capacidade de oferta da economia. É, contudo, forte a ideia de que crescimento pode ser gerado pelo lado da demanda: o governo gasta mais, isso aumenta a renda das famílias e o consumo, induzindo as empresas a investirem mais e, com isso, aumentarem o produto. Seguidas tentativas nessa direção, ao longo da nossa história, levaram a gastos públicos de baixa qualidade, déficit público, aumento de juros, inflação e recessão”, explica ele na introdução do livro.

O problema vem se agravando, aponta a coletânea, porque no momento em que o governo tenta retirar estímulos para ajustar a economia, lobbies de setores organizados pressionam pela manutenção dos benefícios. Dessa forma, pequenos grupos continuam a ser beneficiados, elevando o gasto público e sem gerar ganhos para a sociedade como um todo. A população, dispersa e difusa, não consegue exercer a mesma pressão que grupos organizados, e continua “pagando a conta” das políticas públicas equivocadas.

Algumas das políticas públicas equivocadas implantadas nos últimos anos
O controle dos preços dos combustíveis, tema que tem gerado mais debates no momento atual, é apenas um dos temas analisados no livro dentro da política energética. Também são debatidas questões de política fiscal; política monetária e creditícia; Previdência e Assistência Social; empresas estatais; educação; e integração à economia internacional. Em cada uma dessas áreas, são detalhados projetos e seus contextos, evidenciando os equívocos de cada um.

O Simples nacional, por exemplo, tido como fundamental para os pequenos negócios, é apontado como programa de elevado custo fiscal em relação ao que é praticado no resto do mundo, para um baixo retorno: apresenta consequências danosas, como estímulo à precarização nas relações de trabalho, prejuízos à produtividade e desestímulo ao investimento.

Outro programa geralmente muito celebrado, o microempreendedor individual (MEI), é destrinchado para mostrar como está caminhando para se tornar um dos fatores de maior desequilíbrio na Previdência Pública, ao mesmo tempo em que pouco tem colaborado para a efetiva formalização dos trabalhadores mais pobres, que deveriam ser o foco principal do MEI.

Dentre os programas de crédito analisados pela coletânea, o Programa de Sustentação do Investimento (PSI) também foi escrutinado por pesquisadores que mostraram que, apesar de bem recebido com a crise econômica internacional de 2008, não conseguiu atingir o objetivo de manter a trajetória de crescimento do Brasil. Os problemas apontados foram o financiamento de empresas grandes que já tinham acesso ao crédito e efeito nulo sobre a produtividade das firmas atendidas.

A coletânea avança sobre outros pontos ainda mais sensíveis, como o piso salarial nacional dos professores. Defendido sob vários argumentos, o programa é analisado pelo viés dos objetivos educacionais: não há estudos que apontem relação entre a remuneração dos professores e a proficiência dos alunos, sendo que o principal objetivo com a medida deveria ser a melhora do nível educacional. Além disso, da forma como está regulado, o piso acaba criando pressão fiscal sobre os três níveis de governo, aponta o livro.

A intenção da publicação é estimular o debate, segundo o prefácio de Marcos Lisboa, que ressalta que muitos vão discordar das conclusões apresentadas. “Debater, com base nas evidências, os impactos do desenho das regras do jogo e da implementação da política pública colaboraria para que deixemos de repetir os erros do passado”, escreve.

Em entrevista à Gazeta do Povo, o organizador da coletânea ressaltou a necessidade de se aprender com os erros. “Errar não tem problema, o problema é repetir o erro, insistir nele, não avaliar adequadamente”, disse Marcos Mendes. Com a intenção de propagar o conhecimento, o livro está disponível gratuitamente em formato digital. Pela demanda que surgiu, a editora também lançará uma versão impressa, que em breve estará à venda.


Leia mais em: https://www.gazetadopovo.com.br/economia/o-que-nao-fazer-economia-politicas-pais-deveria-abandonar/
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CPI DO MEC SERÁ FEITA APÓS AS ELEIÇÕES

 

Senado
Por
Leonardo Desideri – Gazeta do Povo


Presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, durante sessão plenário.| Foto: Roque de Sá/Agência Senado

O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), anunciou na última terça-feira (5) que a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do MEC será instaurada, mas começará suas atividades somente após o período eleitoral, assim como as outras CPIs cujos pedidos foram protocolados recentemente por senadores, como a do narcotráfico e das ONGs.

Com o anúncio, Pacheco não desagradou completamente nem a governo nem a oposição, mas também não satisfez totalmente os desejos de nenhum dos lados. A decisão do presidente de ler em Plenário os requerimentos das CPIs foi vista na Casa como uma tentativa de acalmar ânimos, mas sem precisar dar uma solução imediata ao problema. A leitura do requerimento significa que a CPI foi aberta, mas não há um prazo, a partir disso, para que os trabalhos da CPI efetivamente comecem.

“Foi sensato em deixar tudo para depois [das eleições]. E insensato porque várias CPIs ao mesmo tempo vai ser um negócio de doido. Eu tenho a impressão de que isso aí é para acabar não instalando nenhuma”, diz o senador Plínio Valério (PSDB-AM), que tem protocolado desde 2019 um pedido de investigação do uso de recursos públicos por organizações não governamentais na Amazônia – a chamada CPI das ONGs. Não há limites para o funcionamento simultâneo de CPIs no regimento interno do Senado, mas Pacheco ainda não definiu a cronologia das comissões e se alguma delas vai ser apensada a outra.

Entre os governistas do Senado, o clima em relação ao anúncio de Pacheco foi de vitória parcial. O adiamento diminui a possibilidade de mais desgaste do governo federal com o caso do MEC durante o período eleitoral; por outro lado, a comissão deverá iniciar seus trabalhos no fim do ano e, em caso de eventual reeleição de Jair Bolsonaro (PL), o segundo mandato poderia começar com um bombardeio contra o presidente por meio da CPI. Além disso, o risco de o STF se envolver no tema não está descartado.

“Espero sinceramente que o Supremo Tribunal Federal não intervenha novamente nas competências legislativas do Senado, e que as investigações em relação ao MEC possam transcorrer com a maior agilidade possível na Polícia Federal, na CGU e na PGR. Vamos continuar cobrando”, afirma o senador Eduardo Girão (Podemos-CE).

Na terça, o movimento contrário a adiar a CPI do MEC foi bem menos forte que o do apoio por sua instauração. Vários senadores de oposição estavam envolvidos com a derrubada dos vetos de Bolsonaro às Leis Aldir Blanc 2 e Paulo Gustavo. Além disso, na reunião de liderança em que a decisão foi tomada, somente os líderes do MDB, da Rede, do PT e da minoria do Senado foram contrários ao adiamento.

Até parlamentares que assinaram o requerimento da CPI do MEC sinalizaram concordar com a proposta de deixar a investigação para depois das eleições, como o líder do PSDB no Senado, Izalci Lucas (DF). Por outro lado, os senadores Randolfe Rodrigues (Rede-AP), líder da oposição no Casa, e Humberto Costa (PT-PE) estão empenhados na instauração imediata da comissão. Para Costa, a iminência das eleições é um motivo a mais para a urgência da CPI.

“Não é um direito do povo brasileiro tomar conhecimento do que um governo e um presidente da República que querem se manter no poder fizeram em uma instituição importante como o Ministério da Educação? Devia ser uma razão a mais. As pessoas devem ter conhecimento do que está acontecendo antes de exercerem o seu direito de voto”, afirmou Costa em vídeo publicado em sua conta no Twitter.


STF é cartada da oposição para acelerar CPI do MEC, mas governistas apostam em decisão distinta à da CPI da Covid
O plano de Rodrigues e Costa, a partir de agora, é levar o caso ao Supremo Tribunal Federal (STF), como já ocorreu com a CPI da Covid em 2021. Naquela ocasião, a Corte obrigou Pacheco a instaurar imediatamente uma comissão para apurar supostas irregularidades de ações do governo durante a pandemia.

Barroso, responsável pela liminar que foi referendada posteriormente pela Corte, afirmou que, ao obterem a assinatura de ao menos um terço do Senado, os requerentes da CPI haviam cumprido os requisitos para a instauração da comissão. O ministro disse ainda que o presidente do Senado não podia se omitir em relação a isso, e que não cabia a ele fazer julgamento sobre a conveniência de se instalar a CPI.

A oposição aposta na tese de que os dois casos são semelhantes e que o STF poderia tomar uma decisão no mesmo sentido para a CPI do MEC. Já os governistas se apoiam na argumentação de Pacheco para diferenciar os dois casos – segundo o presidente do Senado, as CPIs já serão instauradas, como manda o precedente aberto pelo STF com a CPI da Covid; e que o adiamento não está sendo feito por deliberação sua, mas por um acordo dos líderes, que têm liberdade para indicar membros da comissão quando quiserem.

“Neste momento, não temos situação de excepcionalidade e o requerimento será lido, ou seja, o papel da presidência será cumprido com a leitura do requerimento. Os blocos e partidos políticos serão instados por meio de seus líderes a fazerem as indicações dos membros. Mas há um acordo da maioria de líderes de que a instalação, a partir das indicações, se dará em um momento oportuno”, afirmou Pacheco na terça.

Em entrevista ao UOL, também na terça-feira, Randolfe Rodrigues disse que vai aguardar a leitura do requerimento da CPI do MEC e que, se as lideranças no Senado tentarem adiar o início dos trabalhos da comissão ao retardar a nomeação dos membros, ele recorrerá ao STF. “Se ocorrer qualquer tipo de obstrução sobre nosso direito, qual seja, líderes não fazerem a indicação agora e buscarem esta circunstância de [instalar a CPI] só após as eleições, nós iremos para o Supremo Tribunal Federal para fazer valer nossos direitos”, afirmou o líder da oposição.

No entanto, segundo o site Metrópoles, os senadores governistas já teriam uma carta na manga para o caso de o STF atender aos pedidos do senador da Rede. A ideia seria eleger um presidente da CPI que esteja disposto a suspender os trabalhos da comissão até o fim das eleições. Como a maioria das lideranças dos partidos no Senado já sinalizou ser favorável ao adiamento, não é difícil que o presidente eleito tenha o mesmo posicionamento.


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CPI DO MEC TERIA CONTAMINAÇÃO ELEITORAL DA OPOSIÇÃO

 

Editorial
Por
Gazeta do Povo


O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), anunciou que a CPI do MEC ficará para depois das eleições.| Foto: Pedro Gontijo/Senado Federal

O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), afirmou na terça-feira que a CPI do MEC e outras comissões que já têm as assinaturas suficientes para sua instalação ficarão para depois das eleições. Em entrevista coletiva, Pacheco disse desejar que não haja “contaminação nas investigações” devido ao período de campanha eleitoral; ele ainda acrescentou que a decisão de adiar a instalação das CPIs foi tomada em conjunto com a maioria dos líderes partidários, tanto da base aliada quanto independentes e até de oposição. No entanto, o fato de senadores como Randolfe Rodrigues (Rede-AP) ameaçarem recorrer ao STF para que a investigação comece logo mostra que a solução de Pacheco deixou insatisfeitas algumas legendas que gostariam de ter na CPI do MEC uma arma poderosa para fustigar o presidente Jair Bolsonaro durante a campanha.

A Constituição estabelece três requisitos para a abertura de uma CPI: número mínimo de assinaturas, fato específico a ser investigado e prazo certo. A CPI do MEC cumpre esses requisitos – no caso, ela pretende investigar suspeitas de tráfico de influência para liberação de verbas do Ministério da Educação e do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação, envolvendo pastores e o ex-ministro Milton Ribeiro. E, se as condições estão cumpridas, o presidente do Senado não tem o poder de simplesmente recusar a instalação da comissão; mas ele tem, sim, uma margem de discricionariedade, especialmente quando há várias outras solicitações de investigação que cumprem os mesmos requisitos. No caso do Senado, elas são cinco: duas sobre a região amazônica (desmatamento e atuação de ONGs), obras inacabadas do MEC nos governos petistas, narcotráfico, e crime organizado nas regiões Norte e Nordeste.

É bastante evidente, ainda mais após tudo o que se viu na CPI da Covid, que a investigação na CPI do MEC estaria subordinada a interesses eleitorais; adiar sua instalação desarmaria essa bomba

O Regimento Interno do Senado não estabelece limite para o número de CPIs com funcionamento simultâneo (ao contrário da Câmara, onde só pode haver cinco CPIs ao mesmo tempo), ou seja, Pacheco poderia muito bem instalar todas as seis comissões neste momento. Algumas delas, aliás, já estão esperando há bastante tempo sua abertura: as duas CPIs sobre a região amazônica tiveram seu requerimento lido em plenário quando o Senado ainda era presidido por Davi Alcolumbre, indicando que nesses casos acabou negada a voz da minoria que a Constituição quis respeitar ao prever que bastava a assinatura de um terço dos parlamentares para a instalação de uma CPI.

Mas seria conveniente, neste momento, a abertura da CPI do MEC? Aqui o presidente do Senado se mostrou bastante prudente. As denúncias certamente são graves e merecem investigação; a sociedade tem o direito de saber se havia um esquema envolvendo dinheiro público destinado a um dos serviços públicos mais essenciais, e uma CPI poderia ser muito útil neste sentido. No entanto, também é bastante evidente, ainda mais após tudo o que se viu na CPI da Covid, que a investigação estaria subordinada a interesses eleitorais; adiar sua instalação desarmaria essa bomba. Além disso, já existem investigações em andamento realizadas por outros órgãos como a Polícia Federal e o Ministério Público Federal; o seu resultado poderá, inclusive, servir como um bom ponto de partida para uma futura CPI.


E, como já está claro que haverá CPI – a leitura do requerimento foi feita por Pacheco nesta quarta-feira, dia 6 –, faltando apenas a definição de alguns detalhes, não estamos mais naquela situação de recusa implícita que se caracteriza quando um presidente do Senado passa um longo tempo sem se pronunciar sobre um requerimento de instalação. Por isso, seria extremamente inoportuno que o STF interviesse nesse caso; um eventual pedido da Rede para a antecipação da abertura da CPI deveria ser devolvido ou negado, sob a alegação de que se trata de questão interna corporis do Senado. Do contrário, o Supremo estará apenas incentivando o mesmo comportamento que seu presidente, Luiz Fux, criticou quando tomou posse: a mania de atores políticos buscarem o Judiciário para impor sua vontade porque são incapazes de prevalecer por meio do debate interno, devido à sua pouca representatividade.


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CÂMARA FEDERAL VAI OUVIR MARCOS VALÉRIO E SUAS DECLARAÇÕES DE ENVOLVIMENTO DO PT/PCC

PT e PCC

Por
Alexandre Garcia – Gazeta do Povo

Operação Lava Jato / 27 fase – 12-09-2016 – Marcos Valério e Delúbio Soares prestam depoimento na Lava Jato na Justiça Federal de Curitiba. Os dois são réus em um dos processos da Operação Lava Jato, derivado da 27ª fase. Ambos foram condenados também no processo do mensalão, julgado pelo Supremo Tribunal Federal. Jornalista Breno Altman também foi convocado a depor. Na foto, O publicitário Marcos Valério Fernandes de Souza na viatura da Polícia Federal.


Marcos Valério foi condenado a 37 anos de prisão no esquema do mensalão do PT.| Foto: Marcelo Andrade/Arquivo Gazeta do Povo

Quando eu era menino e via uma pessoa tatuada, em geral era marinheiro, trabalhava no cais do porto; hoje é moda, tatuagem, piercing, etc. e tal, e há muita gente ganhando muito dinheiro com isso. Por que estou contando essa história? Porque ontem a Comissão de Constituição e Justiça do Senado aprovou um projeto de lei – que já veio da Câmara dos Deputados, onde é mais difícil de passar – de autoria do deputado Fred Costa (Patriota-MG), que considera crime tatuar ou colocar piercing em gato e cachorro. Dá de 2 a 5 anos de prisão. É uma alteração na lei ambiental. Fazer isso equivaleria a maus tratos aos animais, pois, segundo a justificativa, provoca infecções, reações alérgicas, cicatrizes, queimaduras e irritações permanentes. São coisas que ficam por toda a vida do animal. Agora, vai para outras comissões e certamente será aprovado no Senado.

Câmara vai ouvir Marcos Valério
Enquanto isso, na Câmara, ontem também, a Comissão de Segurança Pública aprovou requerimento do deputado mais votado do Brasil, Eduardo Bolsonaro, para convidar e ouvir Marcos Valério, o homem que teve a maior condenação no mensalão, por ser operador do PT. A Veja divulgou o depoimento dele, homologado pelo Supremo, em que ele disse administrar um caixa ilegal, clandestino, do PT, de R$ 100 milhões. Valério chega a afirmar que Lula seria o mandante da morte do prefeito de Santo André, Celso Daniel. E que havia ligações com perueiros, ônibus, bingo lavando dinheiro do PCC. Eduardo Bolsonaro, no discurso, lembrou do PCC declarando que tinha uma “relação cabulosa” com o PT. Apareceu também, recentemente, o caso do tal contador que lavava dinheiro para o PCC, no mesmo endereço do Lulinha, e fazia o imposto de renda do Lula. O objetivo, então, é ouvir Marcos Valério, que foi o meio de campo, durante um certo tempo, naquele mensalão criado no primeiro e segundo governo Lula para comprar voto no Congresso Nacional, para saber mais a respeito de todas essas ilegalidades.

Aí eu fico pensando, até conversei com um jurista: mas tudo isso não está prescrito, não é de 20 anos a prescrição? Prescreveu esse ano, Celso Daniel foi morto em 2002. Ele me explicou que o prazo da prescrição só começa a contar a partir do momento em que é apontada a autoria. O indiciado, conhecido como “Sombra”, que levou Celso Daniel para o seu último jantar, já morreu em 2016, de câncer. E houve sete assassinatos de gente envolvida no caso. Investigadores, peritos, chegou a morrer até a promotora; ela estava num carro blindado que foi atingido por outro veículo, saiu capotando e o outro carro fugiu. São esses mistérios que é preciso esclarecer, não podem ficar no ar. E isso não prescreve enquanto não se apontar o autor.

“Sombra” foi indiciado, mas não foi considerado o autor; precisa haver autoria. Assim como precisa de autoria a história do deputado que deu o álibi para Adélio Bispo, que estava em Juiz de Fora e, no mesmo dia, na mesma hora da facada, “estava” na Câmara dos Deputados visitando algum deputado que autorizou a sua entrada dele. Como é que não se apurou isso até hoje? Como é que não se apurou a causa? Os autores da morte da Marielle Franco estão presos, é preciso apurar também. Já estão presos os autores, é preciso apurar se há mandante e qual foi o motivo da morte, no Vale do Javari, do indigenista Bruno Pereira e do jornalista inglês Dom Philips. São coisas que precisam ser lembradas e apuradas, não podem ficar no ar, porque deixam uma espécie de fantasma assombrando o país. Nós já temos um Código Penal que, segundo os advogados criminalistas, é uma mãe para o culpado. É terrível isso.


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DEMOCRACIA NO BRASIL É A QUE O SUPREMO DECIDE SER

 

Ativismo judicial

Por
Bruna Frascolla – Gazeta do Povo


Live promovida pelo site Jota com a participação do influenciador Felipe Neto e do ministro do STF Luis Roberto Barroso, em julho de 2020.| Foto: Reprodução/ YouTube

O leitor não sabe o que é democracia? Democracia é quando o Supremo (Tribunal Federal) manda e os idiotas obedecem. Há algum tempo atrás, achava-se que nós, os idiotas, tínhamos direito a nos associar em partidos políticos e a votar em representantes. Mas vocês sabem como é: o povo não desconstruiu os preconceitos, vota em populistas de extrema direita, pratica discurso de ódio. Se o leitor não acredita, eu provo agora. Você, homem, gosta de mulher? Então você se sente no direito de dizer que não gosta de ter contato sexual com pênis alheio, não é? Pois bem: tem que desconstruir essa transfobia. O Supremo decidiu que transfobia é crime. Mulheres com pênis também são mulheres; negar isso é transfobia. Assim, é bom se emendar logo, se desconstruir, senão o Supremo te pega numa esquina da internet, em flagrante perpétuo. Macho que é macho gosta de mulher, tenha ela um pênis ou não. E gay que é gay tem que gostar de vagina, sim, se for a vagina de um homem trans.

Há muito o que desconstruir. Segundo uma lenda datada, o Brasil tem três poderes: o Executivo, o Legislativo e o Judiciário. Os dois primeiros são eleitos; o último é que não. Por isso mesmo, o último não carrega a mácula de ter sido escolhido pelos idiotas e pode se portar como sua (nossa) palmatória. Só ontem, o Judiciário deu dois tapas na cara do Legislativo: em Curitiba, descassou o mandato do vereador Renato Freitas. Em Brasília, os ministros convidados deixaram o Senado a ver navios após serem convidados a responder sobre o ativismo judicial. O convite havia sido feito pelo senador Girão, do Ceará. Após o bolo, o senador tuitou: “ ‘SUPREMACIA’ SEM APREÇO AO PAÍS: Ministros Barroso e Moraes faltam a debate público, ignorando juristas na audiência histórica sobre ativismo do STF. Preferem palestras no exterior a dialogar no Senado brasileiro. Irei no caminho oposto: escalada democrática! Já tem outra reunião aprovada. Paz e bem!” (ajeitei a escrita truncada para caber nos limites de caracteres).

Paulo Eduardo Martins, deputado federal pelo Paraná, também fez um comentário certeiro: “Afinal, em termos de importância, o que é o Senado brasileiro diante de uma live com o Felipe Neto?”

Somos todos Felipe Neto
De fato, o Supremo tem suas preferências. O povo altivo não pode lhe cobrar satisfações por meio dos seus representantes eleitos – os senadores. Mais apropriado é ir para os EUA e para a Europa ficar palestrando às elites sobre as ameaças populares à democracia. Mais apropriado é participar de live com o imitador de focas infantojuvenil. Ainda assim, volta e meia o Supremo se manifesta pelo Twitter a fim de esclarecer a plebe.

A última foi um videozinho ao estilo Tik Tok. O texto dizia: “Tá na dúvida sobre o que é liberdade de expressão ou discurso de ódio? A gente te ajuda”. Abaixo, uma mulher adulta, portadora da mesma idade mental duvidosa que Felipe Neto, decidia se ia para a esquerda ou para a direita. À esquerda, no topo, estava o dizer “discurso de ódio”; à direita, “liberdade de expressão”. No centro, na altura da barriga da mulher, aparecia a coisa a ser categorizada. A categorização era expressa pela caminhadinha, feita com caras e bocas. Eis as categorizações:

1) Discurso de ódio: propagar fake news; intolerância religiosa; preconceito racial; homofobia; manifestação de ódio.

2) Liberdade de expressão: respeitar a opinião alheia; manifestar sua fé; defender posicionamentos políticos; repassar informações verdadeiras.

Só mesmo gente com uma cabeça de Felipe Neto para aceitar que o vídeo tenha esclarecido algo. Todo Natal, as redes sociais ficam cheias de gente manifestando ódio às passas. No zap-zap, um sem número de “fenômenos sobrenaturais” completamente destituídos de aspecto político são repassados (eu mesma dei uma de faquichequer ao receber imagens de um homem que vendera a alma ao diabo e por isso andava entre os carros sem projetar sombra. Era só olhar com atenção que se enxergava a sombra fininha do homem; as sombras dos carros são mais visíveis por eles serem mais largos.) Agora há pouco apareceu no meu feed uma manchete da Folha segundo a qual Jorge Vercillo refuta Darwin e “nós” (quem?) somos extraterrestres. Se aceitássemos o videozinho como jurisprudência, entenderíamos que vídeos de chupa-cabra, diatribes natalinas contra as passas e teorias extravagantes de celebridades são discurso de ódio. Mas sabemos – eu, você e o STF – que não é assim. Portanto ou o STF mente, ou eu sou uma idiota por não conseguir apreender a sua lógica.

Eu, você e o STF sabemos que as categorias de “posicionamento político” e “racismo” não são mutuamente excludentes (o nazismo era um posicionamento político racista); “manifestação religiosa” e “homofobia” tampouco são mutuamente excludentes. Algumas manifestações políticas infringem normas criadas por legisladores eleitos brasileiros e bem aceitas pela sociedade brasileira: vide o caso da criminalização do racismo, pisoteada pela decisão do STF que permite cotas raciais.

Algumas manifestações políticas, porém, não infringem tais leis (“leis do legislativo”, digamos), mas infringem a “jurisprudência do STF” (ou antes “lei do judiciário”). Esse é o caso da criminalização da homofobia. Na verdade, antes da canetada do STF, entendia-se como consequência legítima da liberdade religiosa o direito a condenar o dito “comportamento homossexual” dentro das igrejas. Condenação, aliás, milenar, enraizada na própria religião que deu origem ao nosso povo. Com que legitimidade o Supremo impõe de cima a baixo as suas convicções minoritárias e elitistas?

De todo modo, em nenhum caso listado no vídeo se encontra a situação de Daniel Silveira. Colocar-se a favor do AI-5 e do fechamento do STF é adotar um “posicionamento político”. Este não é nem racista, nem homofóbico, nem afirma nenhum fato, de modo que tampouco é fake news. Caso se queira dizer que esse posicionamento político é fruto de ódio, resta perguntar se por acaso o Supremo não odeia todos aqueles que considere “radicais de extrema direita”.

Last, but not least, reafirma-se o Ministério da Verdade. Se o Supremo considera “discurso de ódio” toda informação falsa, e “liberdade de expressão” toda informação verdadeira, resta concluir que seus ministros têm sozinhos o poder de discriminar o que é verdadeiro e falso. Toda investigação científica ou jornalística poderá ser criminalizada ex post facto, já que no fim do processo investigativo descobre-se que alguém (às vezes o próprio cientista ou jornalista) adotara uma hipótese falsa. Se eu afirmei algo falso no passado, que todo o mundo achava ser verdadeiro (por exemplo, que o vírus da Covid só podia ter origem natural), isso faz de mim, e de todo o mundo, uma criminosa. O Supremo é, mesmo, o Onisciente, pois não está sujeito ao erro.

Como é Onisciente, nada mais justo que nos tomar por um bando de Felipes Netos.

O que querem?

Creio que o canadense Mathieu Bock-Côté tenha sido bastante esclarecedor ao descrever o cenário com o qual estamos lidando: Ocidente afora, há um golpe em curso, no qual as elites trocam sorrateiramente a democracia liberal pela dita democracia diversitária. Nesta, não se admite a legitimidade da vontade popular; fala-se somente em termos de direitos fundamentais a serem assegurados por juristas de plantão. Diz ele: “A legitimidade democrática passaria, a partir de agora, por um reconhecimento da soberania do direito. Ainda mais porque os direitos vêm legitimar, na prática, um vasto empreendimento de engenharia social a ser exaltado, em oposição às instituições, tradições e aos costumes. Embora a soberania popular não tenha sido oficialmente abolida, é claro, encontra-se agora reduzida a uma porção mínima do poder político e já não está investida de nenhuma carga existencial. O poder democrático é condenado à impotência. Um constitucionalismo […] será chamado a exercer uma soberania sobrepujante sobre o corpo social, justamente para pilotar sua transformação igualitarista na linguagem do direito. […] Uma mudança de regime se realiza, sorrateiramente” (O multiculturalismo como religião política, p. 182).

Os partidos estão estrangulados; o Legislativo, desrespeitado de todas as maneiras possíveis. A discussão política está criminalizada. Mas ainda bem que temos democracia, porque o Supremo manda em nós e democracia agora é isso.


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PRIMEIRO-MINISTRO DO REINO UNIDO RENUNCIA

 

Foto: Neil Hall/ EFE

Por Redação – Jornal Estadão

Principais meios de comunicação britânicos já apontavam a queda do primeiro-ministro como certa nesta quinta, após Downing Street anunciar pronunciamento para hoje

O primeiro-ministro do Reino Unido, Boris Johnson, renunciou ao cargo de líder do Partido Conservador, abrindo caminho para a escolha de um novo premiê. O anúncio foi feito em meio à grave crise política que levou à demissão de mais de 50 integrantes do governo nas últimas 48 horas.

Johnson confirmou o fim do governo em um pronunciamento à imprensa em frente à sede do governo, no número 10 de Downing Street, em Londres. “É claramente a vontade do grupo parlamentar conservador que haja um novo líder do partido e, portanto, um novo primeiro-ministro”, afirmou.

“Desapontado” por ter que deixar “o melhor emprego do mundo” antes do fim de seu mandato, Johnson permanece como premiê interino até que o gabinete conservador escolha um novo líder para sucedê-lo. A expectativa é que a nova liderança seja escolhida em outubro.

O primeiro-ministro do Reino Unido, Boris Johnson, anunciou que vai deixar o cargo.
O primeiro-ministro do Reino Unido, Boris Johnson, anunciou que vai deixar o cargo. Foto: Henry Nicholls/ REUTERS

“Eu concordei que o processo de escolha do novo líder deve ser iniciado agora. As datas devem ser divulgadas na próxima semana e hoje eu vou anunciar o novo gabinete que deve servir até que este novo líder seja indicado”, afirmou Johnson.

Johnson exaltou a maioria parlamentar conquistada nas eleições de 2019 e se disse “imensamente orgulhoso” das conquistas de sua gestão. Especificamente, o político citou o Brexit, como é conhecida a saída do Reino Unido da União Europeia, além da resposta ao coronavírus e a política econômica.

“Nos últimos dias, tentei convencer meus colegas de que seria excêntrico mudar governos quando estamos entregando tanto e quando temos um mandato tão vasto e quando na verdade estamos apenas alguns pontos atrás nas pesquisas , mesmo após alguns meses de provocações implacáveis e quando o cenário econômico é tão difícil nacional e internacionalmente”, disse Johnson. E completou: “Mas como vimos, em Westminster o instinto de rebanho é poderoso, quando o rebanho se move, ele se move.”

Os principais veículos de comunicação britânicos já davam como certa a renúncia do premiê na manhã desta quinta. Jornais como The Guardian, The Times, The Independent e The Telegraph, além da rede britânica BBC, amanheceram nesta quinta-feira, 7, afirmando que a queda era inevitável.

Mais de 50 pessoas entregaram os cargos desde as saídas do chefe do Tesouro, Rishi Sunak, e do ministro da Saúde, Sajid Javid, que renunciaram na terça-feira, 5, incluindo alguns dos nomeados por Johnson para ocupar os cargos recém-vagos.

O novo ministro das Finanças, Nadhim Zahawi, nomeado na terça-feira depois que do pedido de demissão de Sunak, uniu-se nesta quinta-feira aos pedidos de renúncia de Johnson. Em uma publicação no Twitter, Zahawi escreveu:

Nadhim Zahawi

Primeiro-ministro: isso não é sustentável e só vai piorar: para você, para o Partido Conservador e o mais importante de tudo, para o país. Você deve fazer a coisa certa e ir agora.

Michelle Donelan, nomeada na terça-feira para o ministério da Educação para substituir Zahawi, apresentou o pedido de demissão apenas 48 horas depois de assumir a pasta.

O líder do Partido Trabalhista, principal força da oposição britânica, Keir Starmer, afirmou que a perspectiva de renúncia do primeiro-ministro é uma “boa notícia”.

“A única maneira de o país ter o recomeço que merece é se livrar desse governo conservador”, escreveu Starmer.

Johnson é conhecido por sua capacidade de ignorar escândalos, mas uma série de acusações criminais o levaram à beira do precipício, e alguns de seus colegas parlamentares conservadores temiam que o líder conhecido por sua afabilidade pudesse ser um risco nas eleições. Muitos também estavam preocupados com a capacidade de um Johnson enfraquecido de governar em um momento de crescente tensão econômica e social.

Meses de descontentamento com o julgamento e a ética de Johnson dentro do Partido Conservador do governo explodiram com as renúncias de Sunak e Javid com poucos minutos de diferença na noite de terça-feira. Os dois pesos pesados do Gabinete foram responsáveis por abordar dois dos maiores problemas enfrentados pelo Reino Unido – a crise do custo de vida e a pandemia de covid-19 em andamento.

As duas renúncias aconteceram poucas horas depois de Johnson apresentar novas desculpas ao admitir que cometeu um “erro” por ter nomeado para um cargo parlamentar importante Chris Pincher, um conservador que renunciou na semana passada e reconheceu que apalpou, quando estava embriagado, dois homens, incluindo um deputado, em um clube privado do centro de Londres.

Depois de afirmar o contrário em um primeiro momento, Downing Street reconheceu na terça-feira que o primeiro-ministro havia sido informado em 2019 sobre acusações anteriores contra Pincher, mas havia “esquecido”.

A isso se soma o fato de que, nos últimos meses, Johnson foi multado pela polícia e criticado pelo relatório de uma investigadora que aponta desrespeito às restrições contra a covid-19 impostas a outros, o escândalo que ficou conhecido como Partygate.

As crises de Boris Johnson

São vários os escândalos que colocam o cargo do primeiro-ministro britânico em risco neste momento. O que começou com festas durante a pandemia chega ao ápice agora com escândalos de assédio sexual.

Partygate: Enquanto os britânicos foram obrigados a ficar em casa, sem ver a família ou amigos devido à covid-19, em Downing Street, onde Johnson vive e trabalha, ocorreu todo o tipo de eventos, desde Natal, despedidas ou festas de aniversário até celebrações no jardim. A polícia britânica investigou e impôs 126 multas, incluindo uma ao primeiro-ministro, o primeiro chefe de governo em exercício a ser sancionado por violar a lei.

A alta funcionária Sue Gray também produziu um relatório altamente crítico dos “altos funcionários” responsáveis por reuniões com excesso de álcool, brigas, saídas pela porta dos fundos tarde da noite e, ocasionalmente, falta de respeito pelo pessoal de segurança e limpeza. Johnson afirmou assumir “total responsabilidade”, mas se recusou a renunciar e sua legitimidade sofreu.

Conflito de interesses: As lucrativas atividades de lobby de alguns parlamentares conservadores provocaram indignação. O deputado Owen Paterson foi acusado de fazer lobby junto ao governo em nome de duas empresas que o pagaram. Johnson tentou mudar as regras para evitar ser suspenso do Parlamento, ganhando uma avalanche de críticas que o obrigou a recuar. Isso, entre outros casos de clientelismo e cutucadas, alimentou acusações de corrupção por parte da oposição.

Um manifestante segura uma placa do lado de fora do Parlamento britânico em Londres
Um manifestante segura uma placa do lado de fora do Parlamento britânico em Londres  Foto: Matt Dunham/AP Photo

Obras luxuosas de seu apartamento: O primeiro-ministro afirmou ter pago do próprio bolso a luxuosa reforma do apartamento oficial que ocupa com sua família em Downing Street. Mas ele havia recebido uma doação, que depois teve de devolver, de um abastado partidário do Partido Conservador, que foi multado pela comissão eleitoral por não declará-lo.

Gestão da pandemia: No início da pandemia, Johnson foi duramente criticado por sua gestão errática, acusado de não agir com rapidez suficiente e de não proteger os profissionais de saúde e os idosos nas residências. Grande parte dos próprios parlamentares conservadores se rebelou, votando contra a introdução de um passaporte de saúde para acessar grandes eventos, que foi finalmente aprovado graças aos votos da oposição trabalhista. No entanto, ele conseguiu esquecer as críticas ao seu manejo da covid-19 ao contar com uma campanha de vacinação bem-sucedida.

Crise do custo de vida: A inflação descontrolada, que atingiu uma alta de 40 anos no Reino Unido, chegando a 9% ano a ano em maio, afetou a popularidade do governo, acusado de não fazer o suficiente para ajudar as famílias que lutam para sobreviver. mês. A alta nos preços de alimentos e energia, exacerbada desde o início da invasão russa da Ucrânia, deve piorar em outubro, quando é esperado um aumento acentuado no pico dos preços da energia no Reino Unido.

O Escândalo Pincher: Johnson admitiu que cometeu um “erro” ao nomear Chris Pincher em fevereiro como vice-chefe do grupo parlamentar conservador, encarregado de disciplinar seus deputados. Pincher renunciou na semana passada depois de ser acusado de apalpar dois homens./ Com informações de AFP e AP

EFEITOS NÃO POSITIVOS DA TECNOLOGIA RESOLVE COM TECNOLOGIA

 

  1. Economia 

Efeitos nem sempre positivos da tecnologia só têm uma solução: mais tecnologia

Guy Perelmuter*, O Estado de S.Paulo

Muitos acreditam que o futuro, por definição, nunca chega. A inexorável marcha do tempo insiste em nos afastar do passado e em nos aproximar do futuro — que, imediatamente, transforma-se em um novo presente e cria um novo futuro, infinitamente. Esta ideia é similar ao paradoxo da dicotomia, proposto pelo filósofo grego do século V a.C. Zenão de Eleia, considerado por Aristóteles como o criador da dialética, no qual a contradição de ideias é a força motriz para geração de novas ideias.

O paradoxo da dicotomia de Zenão, relatado por Aristóteles, estabelece que “o que está em locomoção deve chegar na metade do caminho antes de chegar ao objetivo.” Em outras palavras, antes de chegar ao final de um percurso, devemos chegar à metade do mesmo. E antes de chegar à metade do caminho, devemos atingir a metade da metade (ou seja, um quarto do caminho). E assim sucessivamente, levando ao paradoxo: nunca será possível completar um número infinito de trajetos para, finalmente, chegar ao objetivo. De acordo com Zenão, todo movimento é uma ilusão.

Indústria
Tecnologia é a única resposta para resolver problemas causados por ela mesma; este processo, que viabilizou a sociedade moderna tal como a conhecemos atualmente, foi acelerado após o início da Primeira Revolução Industrial Foto: Taba Benedicto/Estadão

Obviamente, como todos nós podemos atestar, a ideia de movimento não é ilusória — todos os dias, milhões de trajetos são estabelecidos e completados. Podemos argumentar que o futuro não se enquadra neste exemplo, pois trata-se de um alvo-móvel: todos os dias ele se afasta de nós por pelo menos mais um dia. Entretanto, todos podemos atestar a inegável percepção que se apresenta quando somos forçados a encarar um dos aspectos do nosso futuro no “aqui” e “agora”.

Pois é isso que está acontecendo com as cadeias de suprimentos que compõem o sistema circulatório da economia global. Conforme já discutimos neste espaço, a lógica da logística que leva um produto da sua tela para sua casa demonstra como uma série de problemas “do futuro” precisam ser resolvidos “no presente”: vulnerabilidades geopolíticas, falta de mão-de-obra, cooperação entre seres humanos e máquinas, autonomia, automação, sustentabilidade, resiliência, onshoring e reshoring (ou seja, trazer para o próprio país atividades até então realizadas em outros locais).

Quais as estratégias necessárias para reduzir a dependência de fornecedores específicos, usualmente localizados em regiões com baixo custo de mão de obra? Como otimizar estoques e logística? Quais as tecnologias mais eficientes para integração das máquinas e dos seres humanos no ambiente de trabalho? Qual o papel da sustentabilidade, o “S” em “ESG”, que vem ganhando relevância para uma parte crescente da população e cujas exigências batem à porta das empresas?

De acordo com pesquisa realizada pela Oxford Economics com tomadores de decisão da cadeia de suprimentos ao redor do mundo, apesar de 88% terem estabelecido ou estarem estabelecendo uma missão ligada à sustentabilidade, apenas 52% efetivamente realizaram mudanças com impactos positivos para o meio ambiente. Mais do que isso, apenas 21% do total declarou ter visibilidade sobre seu próprio fornecimento de produtos sustentáveis, ou seja, ter instrumentos para monitorar e controlar suas práticas.

O fato é que a tecnologia é a única resposta para resolver problemas causados por ela mesma. Considere, por exemplo, o aumento da concentração atmosférica de gases nocivos ao meio ambiente. Este processo, que viabilizou a sociedade moderna tal como a conhecemos atualmente, foi acelerado após o início da Primeira Revolução Industrial, em meados do século XVIII. E como já discutimos em diversas ocasiões neste espaço, ainda temos um longo caminho a percorrer para evitar catástrofes climatológicas irreversíveis para toda vida na Terra. 

Analogamente, as exigências que a sociedade impõe ao mercado — conveniência, baixo preço, informações imediatas em qualquer lugar do globo, comércio eletrônico, entre outras — foram em larga medida originadas pelos serviços prestados pelas gigantes do setor tecnológico, como Google, Amazon e Apple. O tênue fio que conecta essas e milhares de outras empresas ao redor do mundo são as cadeias de produção e suprimento. Aumentar a segurança, eficiência, confiabilidade, resiliência e sustentabilidade dessas cadeias é um desafio geopolítico, econômico e — como era de se esperar — tecnológico.

Em nossa próxima coluna, falaremos das tecnologias emergentes em desenvolvimento para buscar solucionar alguns dos mais críticos problemas que atingem o planeta — até lá.

* FUNDADOR DA GRIDS CAPITAL E AUTOR DO LIVRO “FUTURO PRESENTE – O MUNDO MOVIDO À TECNOLOGIA”, VENCEDOR DO PRÊMIO JABUTI 2020 NA CATEGORIA CIÊNCIAS. É ENGENHEIRO DE COMPUTAÇÃO E MESTRE EM INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL

CRIAÇÃO DE CARTÓRIOS DIGITAIS SIMPLIFICA ATOS PÚBLICOS E JURÍDICOS

 

Gianlucca Murari – Dosso Toledo Advogados

Advogado explica alterações e orienta sobre os novos serviços on-line

Os cartórios digitais ganharam força com a regulamentação da medida provisória n.º 1.085 de 2021, aprovada em ambas as casas do Congresso Nacional e que, agora, aguarda sanção presidencial. Após a conversão em lei, o Sistema Eletrônico dos Registros Públicos (SERP) entrará em vigência para simplificação dos procedimentos relativos aos registros públicos de atos e negócios jurídicos.

O SERP fará a interligação das bases de dados de todos os tipos de cartórios, o que garante mais agilidade, segurança, padronização e desburocratização na aquisição de certidões, declarações, registros e averbações. Com a mudança, o diálogo entre diferentes instituições será mais rápido e eficiente, e a sociedade poderá ter acesso aos registros de forma facilitada (sem precisar sair de casa – pela internet), sendo possível consultar documentos, matrículas e restrições de cartórios de todo o Brasil. Procedimentos burocráticos de baixas ou constituição de gravames, averbações para alteração de nomes, consultas de protestos também ficarão mais simples, rápidos e acessíveis, além do incremento ao acesso à justiça por meio do Poder Judiciário.

“O translado de documentos físicos deve diminuir e a consequência para a sociedade é a redução dos custos cartoriais. Com a facilidade de consulta de informações sobre garantias de imóveis (dados em caução, hipoteca, alienação fiduciária etc.), o acesso ao crédito pode ser facilitado e até mesmo agilizado pela medida”, explica Gianlucca Murari, advogado integrante do escritório Dosso Toledo Advogados.

Dentre outros benefícios do cartório digital estão:

– Dispensa, a partir de 2024, do reconhecimento de firma em documentos a serem levados a registro. Responderá pela legitimidade da assinatura aquele que apresentar o título nessa especificação.

– Redução de prazos cartoriais, que passarão de dias (úteis) para horas. , Vencimentos, que antes levavam 30 dias, serão resolvidos em apenas 5 ou 10 dias, no máximo.

– A versão digital dos documentos terá mais segurança e valor jurídico para as certidões, aferível por mecanismos de assinatura digital.

– A assinatura digital também será o mecanismo para que os próprios requerentes possam fazer averbações e registros sem sair de casa, utilizando um sistema similar ao utilizado na Declaração de Imposto de Renda.

– Retirada de extratos eletrônicos com um resumo, em vez de apresentar os documentos integrais para a efetivação de registros.

– Gratuidade de taxas de registros para projetos de assentamentos feitos pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra). Geralmente, os proprietários recebem o título, mas não promovem os apontamentos necessários por insuficiência de fundos.

O advogado diz que com a implementação do SERP, os documentos obtidos e/ou registrados pelos meios eletrônicos terão a mesma validade que aqueles do cartório físicos. “Na verdade, os documentos partirão de cartórios convencionais, a diferença é que por meio do sistema eletrônico poderão ser acessadas e obtidas rapidamente pela internet e com assinatura digital para garantir a segurança”.

Em relação à Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD), Murari garante que a medida já se aplica aos cartórios convencionais, que só podem utilizar as informações para executar as atribuições e necessidades do poder público. Com a desburocratização e facilitação do acesso às certidões, matrículas, declarações e registros, é necessário fiel cumprimento das obrigações da LGPD, evitando vazamento de dados, garantindo segurança contra hackers, com a criação de planos de contingência em caso de vazamentos e treinamento dos servidores.

“Por outro lado, do ponto de vista dos titulares (ou donos) dos dados, não muda muita coisa. Uma vez que um documento é colocado a registro em um cartório, os dados tornam-se manifestamente públicos, com a dispensa de consentimento para o tratamento das informações”, comenta.

O novo sistema também se mostra como uma solução para a morosidade dos processos judiciais, que podem chegar a meses aguardando providências de órgãos do poder público. A tendência é que essa troca de informações e providências seja muito mais rápida e facilitada pelos meios digitais.

“Alguns processos que necessitavam de intervenção judicial serão facilmente resolvidos, como, a alteração do nome civil em casos permitidos pela lei, celeridade aos procedimentos cartoriais do casamento e da conversão da união estável em casamento pelo sistema eletrônico, entre outros”, pontua o advogado.

Ele ressalta que os jurisdicionados também têm muito a ganhar do ponto de vista da efetividade do Poder Judiciário: “constrições, restrições, gravames serão facilmente e rapidamente aplicáveis, evitando fraudes à execução e garantindo o direito dos credores. Além disso, procedimentos como o de leilão judicial terão mais efetividade, uma vez que eventuais baixas de gravames, registro da arrematação e outras providências serão menos custosos, mais rápidos e seguros”.

PROPÓSITOS DA VALEON – “ValeOn É TOP”

ValeOn é uma Startup Marketplace que tem a responsabilidade de levar o cliente até à sua empresa.

Encontre Produtos, Profissionais e Serviços em toda a região do Vale do Aço

Site: https://valedoacoonline.com.br/ ou App Android valeon

Moysés Peruhype Carlech

A ValeOn é uma startup daqui da região e foi acelerada pelo programa AGITA/SEBRAE/MG e pretendemos atuar no ramo de Publicidade e Propaganda online e pretendemos atender a todas as 27 cidades do Vale do Aço.

O nosso mercado será atingir os 766 mil habitantes do Vale do Aço e poder divulgar os produtos / serviços para vocês clientes, lojistas, prestadores de serviços e profissionais autônomos e obter dos consumidores e usuários a sua audiência.

A nossa Plataforma de Compras e Vendas que ora disponibilizamos para utilização das Empresas, Prestadores de Serviços e Profissionais Autônomos e para a audiência é um produto inovador sem concorrentes na região e foi projetada para atender às necessidades locais e oferecemos condições de adesão muito mais em conta que qualquer outro meio de comunicação.

Viemos para suprir as demandas da região no que tange a divulgação de produtos/serviços cuja finalidade é a prestação de serviços diferenciados para a conquista cada vez maior de mais clientes e públicos.

O nosso diferencial está focado nas empresas da região ao resolvermos a dor da falta de comunicação entre as empresas e seus clientes. Essa dor é resolvida através de uma tecnologia eficiente que permite que cada empresa / serviços tenha o seu próprio site e possa expor os seus produtos e promoções para os seus clientes / usuários ao utilizar a plataforma da ValeOn.

A ValeOn atenderá a todos os nichos de mercado da região e especialmente aos pequenos e microempresários da região que não conseguem entrar no comércio eletrônico para usufruir dos benefícios que ele proporciona. Pretendemos cadastrar todas as empresas locais com CNPJ ou não e coloca-las na internet.

A Plataforma Comercial da ValeOn é um site moderno, responsivo, profissional, projetado para atender às necessidades dos serviços da região onde existem várias formas de busca: por cidades, por empresas, por produtos, por atividades, por município e por procura.

Para acessar a plataforma da ValeOn poderá ser feita por:

Site: https://valedoacoonline.com.br/

Aplicativo App: Digitar valeOn no Playstore do Google

Detalhe interessante dessa inovação da ValeOn é que os lojistas/prestadores de serviços/profissionais autônomos inscritos na Plataforma não precisarão fazer nenhuma publicidade ou propaganda, quem o fará é a equipe da ValeOn responsável pela plataforma.

Sobre a publicidade de divulgação dos nossos clientes será feita em todas as redes sociais: facebook, instagran, whatsApp, google, linkedin, rádios locais, jornais locais e onde for possível fazê-la.

Vamos tornar a nossa marca ValeOn conhecida em toda a região como um forma de ser desenvolvedora do comércio da região e também de alavancar as vendas do comércio local.

Nossos contatos: Fones: (31) 3827-2297 e (31) 98428-0590 (Wpp)

E-MAIL: valeonbrasil@gmail.com

Site: https://valedoacoonline.com.br/

VÁRIOS RECADOS SOBRE O CONTROLE DAS BIG TECHS

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