segunda-feira, 27 de dezembro de 2021

FILMES DE QUEDA DO BLOCO DA UNIÃO SOVIÉTICA

 

30 anos da queda da URSS
Por
Lucas Colombo, especial para a Gazeta do Povo

“Moscou Não Acredita em Lágrimas”, filme de 1980.| Foto: Reprodução

Exercício de imaginação: se tivesse vivido no século XX, e não no XIX, teria Liev Tolstói (1828-1910) formulado a conhecidíssima frase de abertura de Anna Karênina com o sinal trocado? Ao invés de “Todas as famílias felizes se parecem, cada família infeliz é infeliz à sua maneira”, ele observaria o país ao seu redor e diria que toda família feliz é feliz à sua maneira, mas cada família infeliz se parece?

Pois, a depender de diretores de cinema – arte que o grande escritor russo não viveu para ver se desenvolver a pleno – que moram/moraram no Leste Europeu e ambientaram suas histórias no período de existência da União Soviética (1922-1991), da qual a Rússia era a líder, os incômodos, problemas e sofrimentos criados pelo regime socialista foram muito semelhantes para vários dos povos que o vivenciaram (e esses juízos, como se lerá, são corroborados por relatos de jornalistas e escritores que visitaram o então bloco comunista). Lá prevaleciam a tirania, a escassez de produtos, a habitação precária, os projetos pessoais frustrados pela burocracia e pela repressão política, a infelicidade. Um estado de coisas promovido por um Estado totalitário que chegou ao fim há 30 anos.

Daquela série de acontecimentos que chacoalharam o mundo no final da década de 1980 e início da 1990, um nome se ergue como incontornável: Mikhail Gorbatchev. Quase 70 anos após a revolução de 1917 que conduziu à instauração da URSS em 1922, e seguindo-se às ditaduras de Vladimir Lênin (durou de 1917 a 1924), Joseph Stálin (um dos maiores genocidas da História esteve no poder de 1924 a 1953), Nikita Kruschev (1955 a 1964; morreu em 1971 no esquecimento e sem receber honras de estado, por ter denunciado os crimes de Stálin), Leonid Brezhnev (1964 a 1982) e Yuri Andropov (1982 a 1984), o então Secretário-Geral do Partido Comunista assumiu o governo em 1984 percebendo – antes tarde do que nunca – que havia algo de muito podre no reino do comunismo. Para tentar salvá-lo, propôs duas reformas liberalizantes: a Glasnost, abertura política, e a Perestroika, reestruturação econômica. Gorbatchev só não imaginava que, por essas pequenas brechas no sistema, vazariam décadas de insatisfação represada. Com as medidas, os 15 países que compunham a URSS passaram a atuar com mais autonomia e até a reivindicar separação. Demandas populares e crises econômicas se avolumaram. Infelicidades, todas parecidas, vinham à tona em cada canto.

Inclusive nas nações “satélites” da Rússia via-se muita agitação social: em setembro de 1989, a Hungria abriu a fronteira com a Áustria, estimulando milhares de pessoas da então Alemanha Oriental, socialista, a fugir para lá a fim de alcançarem o Oeste, democrático; em novembro do mesmo ano, “empurrado” por essa fuga em massa e pelas passeatas nas ruas, veio abaixo o Muro de Berlim; pouco mais de um mês depois, na Romênia, o ditador Nicolae Ceausescu, frente a protestos, tumultos e greves que forças oficiais tentaram mas não conseguiram reprimir, caiu e, ao lado da esposa, foi preso, condenado e executado em 48 horas; na Polônia, um ano depois, o líder do sindicato independente Solidariedade, Lech Walesa, ganhou as eleições presidenciais.

No Kremlin, Gorbatchev assistia à rápida agonia do comunismo sem buscar interferir, o que fez a linha dura do Partido Comunista Soviético e a KGB darem um golpe de estado, em 19 de agosto de 1991, enquanto ele passava férias na Crimeia. Quem capitaneou a resistência foi outro nome fundamental nessa história: Boris Yeltsin. Em três dias, apoiado pelos milhares de cidadãos que barravam a passagem de tanques do exército nas ruas, o então presidente russo conseguiu reverter a situação. Gorbatchev voltou a Moscou, porém, ainda que vencidos os golpistas, na prática ele já não mandava mais. Com diversas repúblicas (Letônia, Estônia, Lituânia, Ucrânia…) declarando independência da URSS sob anuência dele, Gorbatchev definhou em importância até o dia 25 de dezembro, quando enfim renunciou, num discurso televisionado para o mundo inteiro. Naquele Natal, a União Soviética morreu.

70 anos de comunismo se refletem em livros, peças e filmes
Acabavam ali as sete décadas sob o comunismo, um tempo que, feito uma ferida ainda não de todo cicatrizada, é constantemente lembrado e comentado pelas sociedades da Europa Oriental – e isso, é claro, se reflete em parte nas produções culturais. O tema aparece em livros, como os da nobelizada bielorrussa Svetlana Aleksiévitch e os da nobelizável Liudmila Ulítskaia, só neste ano publicada no Brasil; em peças de teatro, a exemplo das escritas pelo romeno Matéi Visniec, e muito também no cinema, uma arte que os russos, por sinal, sempre desempenharam bastante bem, tanto o tipo mais “cabeça”, de diretores como Andrei Tarkovski e os pioneiros Serguei Eisenstein e Dziga Vertov, quanto o mais “acessível”, como o de Moscou Não Acredita em Lágrimas, produção da própria URSS que foi o último dos três títulos soviéticos a serem escolhidos Melhor Filme Estrangeiro na história do Oscar, em 1981.

O diretor, Vladimir Menshov, morreu em julho último, de Covid-19, aos 81 anos. Da Romênia, em 2009, veio o divertidíssimo Contos da Era Dourada, reunião de seis narrativas que transcorrem nos últimos 15 anos da ditadura de Ceausescu; e da Polônia, o também premiado (Melhor Roteiro no Festival de Berlim) Estados Unidos Pelo Amor, de 2016, cuja história se desenvolve naquele 1990 recém-saído do comunismo. Encontráveis no streaming e no YouTube, os três filmes são ótimos – densos sem serem chatos – e permitem obter uma ideia de como era a vida no Leste Europeu antes e logo depois do colapso dos regimes socialistas. Vamos a eles.


Os russos também choram
Entrega dos prêmios Oscar, 1981, categoria Melhor Filme Estrangeiro. “And the winner is…”, fala a jovem atriz Brooke Shields antes de passar o envelope ao diretor italiano Franco Zeffirelli, que enfim anuncia : “Moscow Does Not Believe in Tears”. Sobe ao palco para receber a estatueta, no entanto, não o diretor Menschov ou as suas atrizes Vera Alentova e Irina Muravyova, e sim o adido cultural da embaixada da União Soviética em Washington, Anatoli Dyuzhuv. Faz um discurso de agradecimento protocolar, “I would like to express many thanks to the Academy…” etc., e pronto, sem afetar muita alegria pela visita à celebração americana. Estava incomodado com o uso da palavra “winner”, usada na entrega do prêmio antes de a Academia mudar a frase para “And the Oscar goes to…” e tão antipática a um ouvido formado por uma ideologia de oposição à competição, à valorização do mérito e outros princípios do sistema capitalista? Não parecia. Até porque o filme ali contemplado não deixa de ser uma história de ambição e de busca por liberdade e, de novo, felicidade, sentimentos e valores que Karl Marx talvez não tenha percebido (ou querido perceber) serem desde sempre acompanhantes do ser humano e que, também por isso, o modelo “justo” que ele desenhou numa prancheta, e que Lênin pôs em prática na Rússia, não conseguiu reprimir por muito tempo.

Presumivelmente, por ter sido feito antes da Glasnost, Moscou Não Acredita em Lágrimas é um filme um tanto generoso com o cotidiano da União Soviética. Abre com planos bonitos da capital russa, sob os créditos em fonte cirílica, aliados à canção Aleksandra, Aleksandra, composta para a trilha sonora – a letra, segundo uma tradução disponível no YouTube, diz que “Moscou não escondia as suas preocupações/ Moscou já viu de tudo/ (…) O amor de Moscou não se conquista rápido/ mas é fiel e puro”. Um comentário, é claro, das trajetórias das amigas Lyudmila, Toña e a protagonista Katia, as quais, ficamos sabendo, partiram do interior da Rússia para tentar uma vida melhor na capital e, quem sabe, até casar com um diplomata, médico ou acadêmico moscovita (atitude que pode causar espanto na fatia do público atual que avalia filmes de décadas atrás com régua do tempo presente).

A narrativa começa no ano de 1958, com Katia lamentando-se às duas amigas, com que divide um quarto de uma pensão chamada “Residência do Trabalhador”, por não ter passado no teste para o curso de Engenharia. Em seguida, o filme nos apresenta os cotidianos das moças: os cortejos e namoros, o trabalho barulhento na fábrica de materiais de aço, as pressões dos sindicalistas (“Quando você vai colaborar com o sindicato? Sabe há quanto tempo você não paga?”, pergunta um senhor a uma colega de Lyudmila), a curiosidade dirigida a quem visitara países ocidentais (“Rodolfo disse que, no Ocidente, todas as festas são feitas em restaurantes. É lá que eles dão refeições deliciosas?”).

As amigas mentem aos pretendentes que são moscovitas genuínas e ricas, o que para Katia, em específico, rende consequências maiores do que só embaraços: após descobrir a mentira, o seu namorado a deixa, mesmo sabendo que ela, como convém a um bom melodrama, está grávida. Ao pedir-lhe ajuda para fazer um exame, Katia ouve: “Vá para a clínica da fábrica, mesmo. Afinal, temos o melhor serviço médico do mundo”. Como se isso não bastasse para o público concluir que está diante de um “novelão”, Katia ainda resiste à ex-futura sogra que oferece dinheiro para ela os “deixar em paz” e decide criar a filha, a Aleksandra da canção, sozinha.

O roteiro, então, dá um salto temporal, e passamos a ver Katia promovida a um cargo de chefia (conquistado, o filme dá a entender, com estudo e esforço, daí a observação de três parágrafos acima) e membro do Soviete de Moscou; no amor, porém, a vemos ainda um tanto iludida e infeliz, até que lhe surge aquele tovarich bacana que sempre surge em histórias assim – mas que, em outra postura que pode chocar olhos contemporâneos, fala à mesa do jantar que “Quem decide tudo aqui sou eu, porque sou o homem da casa”, para Katia responder com um simples “Perdoa-me”. Sim, na Rússia socialista.

As pessoas se chamando de “companheiro” e “trabalhador”, as gôndolas dos mercados com pouca variedade de produtos e a circulação dos carros Lada e Trabant também são traços da vida na URSS que Moscou Não Acredita em Lágrimas exibe. Estão ali ainda a arquitetura construtivista dos prédios e a decoração simples dos apartamentos. Aliás, logo na primeira cena, a das amigas no quarto de pensão, notamos este aspecto da sociedade comunista sempre lembrado: as condições desconfortáveis de moradia.

Uma testemunha disso foi o americano Will Rogers (1879-1935), cronista e humorista que acaba de ter uma coletânea de textos publicada no Brasil (Ed. Gryphus, org. e trad. Lucas Colombo). No artigo “Um Relato sobre a Rússia”, de 1934, produzido após uma viagem ao país, Rogers conta que, lá, viu “muita construção civil também. Los Angeles, mesmo no auge, não estava construindo tanta coisa quanto os russos estão. Os prédios todos parecem do tipo baixo custo: cinco ou seis andares de apartamentos. Por isso, quando alguém na Rússia diz que tem um apartamento, não significa que tenha um apartamento como nós conhecemos. Tem um quartinho. E uma divisória não é como a gente conhece. É um lençol pendurado entre uma pessoa e as outras do mesmo cubículo. E podem ser, sei lá, quatro pessoas – quatro desatinados vivendo no mesmo apartamento. O problema da habitação lá é horrível”. Quase uma descrição do cenário da sequência que abre o filme.

Assistimos também, na primeira fase, a uma cena em que as moças, na então Praça Maiakovski, passam por um homem que discursa para um grupo de pessoas embaixo da estátua do “poeta da Revolução”. Prática que, ainda segundo Will Rogers, parecia mesmo corriqueiro por lá: “Tentam manter o patriotismo sempre em alta. A Rússia funciona como um time de futebol, o tempo todo com palavras de estímulo. Se o cidadão não está trabalhando, está ouvindo um outro discursar e discursar e discursar, é assim o tempo inteiro”. E por falar em estátuas, outra personalidade representada por muitas delas na Rússia comunista – e ainda hoje – não faltou ao olhar do cronista americano: “Para os jovens, Lênin é o único grande homem de que já se ouviu falar. Bom, nós temos os nossos heróis também, existem muitos deles e conhecemos os heróis dos outros países, porque nos é permitido ler toda a literatura do mundo. Mas os russos conhecem só um. Por aí se vê como ele foi transformado em uma religião no sistema deles.”

No mais, em Moscou Não Acredita em Lágrimas vão certos clichês de filme romântico, em meio a alguns bons diálogos (“Você não era tão cruel assim”, diz o ex-namorado de Katia ao reencontrá-la muitos anos depois; “Eu tive professores muito bons…”, retruca ela). E as cenas de choro que não pouco aparecem fazem pensar que o título do filme carrega certa dose de ironia.

Comédias da vida pública

Contos da Era Dourada, de 2009. Foto: Reprodução.
Embora as derrame, Moscou pode até não acreditar em lágrimas, mas Bucareste e outras cidades da Romênia parecem crer em lendas urbanas relacionadas ao período que a propaganda comunista chama de “Era de Ouro” do país, o governo Ceausescu (1965-1989). Algumas, por certo, até bem ilustrativas de como eram a vida “oficial” e a cotidiana nos últimos anos da ditadura. Tanto que fizeram um filme a partir delas. Saiamos, portanto, do melodrama do título anterior e vamos à ótima comédia Contos da Era Dourada, conjunto de curtas-metragens que vão da ironia à caricatura sem deixar de ressaltar o humor involuntário emanado de quase toda situação em que uma dúzia de burocratas tenta definir os rumos e o modo de pensar de uma sociedade inteira.

Dos seis episódios, todos muito bem contados, quatro são os mais engraçados e representativos. Em “A Lenda da Visita Oficial”, a prefeitura de uma comunidade pacata do interior que prepara a visita de uma alta autoridade, com toda a breguice exigida – bandeira nacional e do Partido, coral infantil que entoa canção ufanista, encenação de júbilo ao ver a comitiva –, acaba presa a uma situação ridícula provocada por um burocrata que supervisiona e decide por todos.

“A Lenda do Ativista Zeloso” mostra um tovarich convocado a dar aulas numa aldeia remota e precária, com 10% de analfabetos, para a qual ele ruma com todo o fervor do cumprimento da missão educadora, logo frustrada (“Mas se todos souberem escrever, quem vai cuidar das ovelhas?”, pergunta um camponês).

Em “A Lenda dos Vendedores de Ar”, um casal jovem, formado numa festa em que a principal “atração” era uma sessão clandestina de Bonny and Clyde num videocassete aparentemente contrabandeado, aplica um golpe: mentindo ser funcionário do “Ministério da Química”, passa nas casas e pede garrafas com amostras da água e do ar (?!), sob o pretexto de aferir-lhes a qualidade (a indústria pesada comunista poluía muito), e depois as revende (“Ninguém vai me prender. Meu tio é secretário do Partido. Um telefonema e estou fora”, diz o rapaz).

E, por fim, em “A Lenda do Fotógrafo Oficial”, segmento que merece especial atenção, vemos um jovem cuja tarefa é retocar elementos “politicamente inapropriados” nas fotos a serem publicadas no jornal oficial, distribuído “aos trabalhadores” e ao Partido, sempre sob a decisão final de um comitê de burocratas-editores/censores. Numa dessas imagens, em que o “comandante supremo” Ceausescu aparece com chapéu retirado e numa posição mais baixa que a do presidente francês ao seu lado, o que poderia ser lido como submissão à “sociedade capitalista”, o fotógrafo é obrigado a fazer consertos em poucos minutos. É claro que algo sai errado.

Pois sim: pode-se dizer que essa história trata da produção do que hoje chamamos de fake news. Eis uma prática de que os comunistas podem não ter sido precursores, mas que aprimoraram muito e, é claro, deixaram como “ensinamento” a alguns adversários ocidentais (se bem que, como observa este artigo da revista The New Yorker sobre um livro que compilou fotos manipuladas pelo stalinismo, as mentiras contadas hoje nas disputas políticas da parte de cá do globo, comparadas com as “intencionais, cruas e generalizadas” modificações de registros históricos que os soviéticos faziam, são quase brincadeira de criança).

A respeito dessa faceta do regime, a jornalista e historiadora americana Anne Applebaum, brilhante pesquisadora dos resultados nefastos da experiência socialista no Leste Europeu, comentou, em entrevista ao jornal Zero Hora em julho deste ano, que “[Os comunistas russos] procuraram espalhar mentiras. Uma delas, inclusive, muito famosa, é que a CIA inventou a Aids. Os soviéticos tinham um projeto para vender essa ideia ao mundo, usando supostos cientistas. Levou muitos anos para desmascarar a mentira, e isso hoje pode ser feito rapidamente. Acho que os russos foram os primeiros a entender como essas coisas funcionam. E, mais recentemente, foram os primeiros a criar o ecossistema de redes e fake websites que fazem ecoar outros sites e ideias que se replicam em uma velocidade espantosa. Nos países vizinhos, como a Ucrânia, eles fazem isso há mais tempo”.

Além disso, Contos da Era Dourada, com as muitas cenas, algumas reais, que se ambientam em gabinetes, convenções do Partidão e órgãos públicos com retratos de Ceausescu na parede, também vai ao encontro do que disse outro grande jornalista e escritor, Paulo Francis, num artigo de 1985 (reproduzido na seleta Diário da Corte, de 2012) no qual o tema é a URSS sob a Glasnost – mas o que ele afirma pode ser estendido a todo o então bloco comunista: “Na URSS há constantes de pobreza e de corrupção. Ninguém está no desemprego. O Estado garante alguma coisa. A corrupção é que em todas as estatais (em suma, em toda a economia) há arranjos que permitem a todo mundo, de acordo com a hierarquia, ‘levar algum por fora’. A URSS é uma vasta repartição pública, em moldes muito parecidos com os brasileiros. […] Tudo é planejado de cima para baixo, sem consulta, teste, de quem está embaixo. A justificativa disso é que a livre concorrência é coisa do capitalismo, e é mesmo”.

(Uma observação sobre Francis: ele está na lista de escritores e intelectuais que professaram o socialismo na juventude e depois, ao saber dos crimes cometidos na União Soviética e na China maoísta, o abandonaram; lista que contém ainda nomes como o dos franceses Simone Weil e Albert Camus e o inglês George Orwell. E há também, naturalmente, a lista daqueles que morreram agarrados às velhas ilusões, na qual se inclui Jean-Paul Sartre, que no fim da vida chegou a apoiar até o tenebroso cambojano Pol Pot.)

Amor livre


Estados Unidos pelo Amor, de 2016. Foto: Divulgação.

Nosso terceiro e último filme não é uma comédia como o segundo, é um drama arguto sobre quatro mulheres envolvidas em relacionamentos, ou quase relacionamentos, desconcertantes. Em conteúdo, portanto, aproxima-se de Moscou Não Acredita em Lágrimas; em forma, contudo, se afasta: o tom não é cândido como o daquele. A fotografia acinzentada e os planos longos e, por vezes, fora de esquadro também são bem menos “digeríveis”.

E é um filme muito interessante. Dirigido por Tomasz Wasilewski, Estados Unidos Pelo Amor mostra a atmosfera de redemocratização daquela Polônia do começo da década de 1990 reverberando nas quatro personagens que ele acompanha. A liberdade que chegava ao país desperta nas professoras Renata e Iza, na ex-miss Marzena e na atendente de recém-aberta videolocadora Agata uma inquietação pessoal. Elas, como o país, também estão mudando, mas num sentido mais íntimo. Dão-se conta de que, até então, tinham vidas… infelizes (é mesmo impossível fugir desse tópico) e sentem-se motivadas a realizar velhos e novos desejos.

Fiquemos nas trajetórias de Marzena e de Agata, as mais significativas. Marzena, entre uma aula e outra de dança “estilo Hollywood” que ela dá num ginásio, recebe fitas VHS gravadas pelo marido exilado no Oeste e, encorajada pela abertura do seu país, sonha em se tornar uma modelo internacional, mas é ludibriada; e Agata, entediada com o casamento, apaixona-se pelo padre que, voltando a Polônia a viver sob liberdade religiosa, acabara de se instalar na cidade e, sem perder tempo, visita as casas para benzê-las e distribuir imagens santas.

São várias, aliás, as cenas ambientadas numa igreja, a simbolizar a intensa retomada da prática da religião pelos poloneses, no pós-comunismo. Vale lembrar que o Papa João Paulo II, que era polonês, foi, naqueles anos 1980 em que o seu pontificado começava, uma das forças inspiradoras para a derrubada do regime: disse “Não tenham medo” à multidão que foi ouvi-lo na primeira visita a Varsóvia como Papa, em 1979, e deu apoio moral ao Solidariedade e a Lech Walesa nos anos seguintes (sobre a campanha antirreligiosa travada pelos comunistas na URSS, esta matéria da Gazeta traz muitos detalhes).

O diretor Wasilewski tem o cuidado de inserir nos diálogos e nos enquadramentos alguns signos da cultura ocidental capitalista que entravam no país, na época. A cena de abertura já situa bem o espectador na conjuntura histórica: sentados à mesa de jantar, os personagens conversam sobre o refrigerante Fanta, os novos eletrodomésticos e as bonitas calças jeans que tinham comprado. Noutra, falam de viajar para o exterior, algo que, caída a Cortina de Ferro, tornara-se bem mais fácil. Noutras, vê-se um pôster da cantora pop americana Whitney Houston na parede do quarto de Marzena.

A curiosidade e a empolgação dos povos do então minguante bloco comunista pelas marcas e hábitos ocidentais, representadas nesses momentos de Estados Unidos Pelo Amor, foram bastante registradas pela imprensa do período. A reportagem “McDonald’s em Moscou”, feita por Jonathan Steele para o The Guardian em fevereiro de 1990 e incluída em O Grande Livro do Jornalismo (Ed. José Olympio, 2008), por exemplo, apresenta como foi o primeiro dia de funcionamento do restaurante símbolo do capitalismo finalmente liberado para operar na URSS: “Mais de 20 mil pessoas passaram pelo restaurante da terra da fantasia, que não apenas é maior que qualquer outro no mundo, mas também mais pródigo na decoração. A maioria dos fregueses jamais comera um hambúrguer na vida. […] Muita gente comprara várias porções para levar para casa. […] Antes, a fila chegara a dois mil, serpeando por um zigue-zague de barreiras na extremidade da praça Pushkin […]. O McDonald’s agiu diferente [das outras empresas ocidentais]. Seu vice-presidente, George Cohon, lembra o momento em que um russo olhou a placa diante da porta que diz que o serviço é por rublos. – Isso é Perestroika – disse, radiante”.

Tema inesgotável
O lançamento, dois meses atrás, de DAU. Natasha, longa-metragem que buscou recriar o horror do totalitarismo soviético (e recriar em escala real: ergueu-se um cenário de 12 mil metros quadrados, com milhares de figurantes que passaram a viver lá, e há cenas de violência explícita), é mais um indicativo de que o legado de infelicidade e autoritarismo que o bloco comunista deixou ao se desintegrar vai permanecer como um tema inesgotável, abordado com frequência pelo cinema e por outras expressões culturais. Afinal, a arte também colabora para acertos de contas com o passado. E que passado. “Nosso país, apesar da promessa de seu slogan ‘Tudo em nome do povo!’, parece na verdade haver feito muito pouco pelo povo. Nenhum volume de conquistas na ciência e na tecnologia, agricultura e indústria, balé e viagem espacial pode ajudar alguém a se compreender e a compreender os outros. Nada disso pode nos ajudar a viver e a encontrar soluções para as crises emocionais que nos assediam”, diz a reportagem “O Último Passo”, publicada em 1989 no jornal Ogonyok, descrito por, novamente, O Grande Livro do Jornalismo, em que ela está republicada, como “a nau capitânia da Glasnost na falecida União Soviética”, um veículo que foi sucesso de vendas ao abraçar então a defesa da liberdade política. Liberdade que enfim veio, mas cheia de falhas, e depois de cobrar um preço alto.


Leia mais em: https://www.gazetadopovo.com.br/ideias/a-vida-antes-e-depois-do-fim-do-bloco-comunista-simbolizada-em-tres-filmes/
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COMUNICAÇÃO DE FORMA EFICIENTE

 

*Por Gabrielle Teco, CEO da Qura

Durante estes quase dois anos de pandemia, o mundo tem vivido grandes reviravoltas no que diz respeito às relações sociais e no modo como se faz negócios em um lugar onde tudo que precisava ser presencial, se mostrou não tão necessário assim. De verdade, a covid-19 mostrou às marcas e pessoas que é possível se comunicar de forma eficiente mesmo estando longe e mais do que isso, que a “digitalização” que antes muitos criticavam nas rodas de almoço, nos deixou mais próximos e humanos.

É sobre isso que se trata o futuro da comunicação das marcas e seus potenciais clientes no pós-pandemia – a nova experiência de consumo, a nova estrutura econômica, com mais carinho e cuidado. Temos agora uma oportunidade para fazer as coisas de forma diferente e construir negócios melhores, que sejam mais sustentáveis, resilientes e inclusivos. Uma pesquisa publicada pela Egon Zehnder, mostrou que o consumidor busca por fontes de segurança e conforto, se voltando àquilo que conhecem e confiam, atrelado à procedência, autenticidade e significado, ou seja, o conceito do propósito (que tem sido buscado há anos pelas corporações) nunca foi tão evidente.

Outro estudo feito pela MacKinsey, 40% dos brasileiros estão fazendo mais compras online durante a pandemia, 40% pretendem continuar a fazer mais compras online e 35% pretendem diminuir idas a lojas físicas. Um comportamento já esperado pelo mercado, apesar de diversos especialistas afirmarem que o consumidor está “louco” pela volta ao mundo real. De fato, sim, mas não da forma que se prega. As pessoas querem o contato mais humanizado, mais cuidadoso e elaborado, o que não significa que ele precise ser sempre presencial.

Os megaeventos, com stands enormes e palestras de uma hora, deram lugar à simplicidade da casa, da poltrona, da cadeira, onde tudo isso pode ser visto e acompanhado online, tomando um bom café que está ali ao lado. O mercado de marketing é um dos que mais tem sentido essa mudança, já que se reduziu o espaço para campanhas projetadas daqui 18 meses, afinal, o cliente quer ações concretas no agora, com mais inovação e criatividade. Isso se trata de uma construção de um relacionamento próximo com o seu consumidor por meio de conteúdos que o provoquem! Que sejam do interesse dele, mas que o faça pensar, estar bem informado, enfim, criar uma relação de “confiança e segurança”.

As marcas, neste novo cenário, precisarão desenvolver ações mais precisas, uma vez que, no contexto da “economia da atenção”, onde captar a atenção do público é cada vez mais desafiador, se destaca quem consegue ser cirúrgico. Não é realizar mais ou falar mais alto. É ter uma comunicação com mais foco em experiências, que estabeleça laços próximos e afetivos com seus consumidores e que, seja no mundo físico ou digital, traga memórias associativas positivas.

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Enquanto a luta por preservar vidas continua à toda, empreendedores e gestores de diferentes áreas buscam formas de reinventar seus negócios para mitigar o impacto econômico da pandemia.

São momentos como este, que nos forçam a parar e repensar os negócios, são oportunidades para revermos o foco das nossas atividades.

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domingo, 26 de dezembro de 2021

VITÓRIAS E DERROTAS DO GOVERNO NO CONGRESSO

 

Balanço

Por
Isabelle Barone – Gazeta do Povo

(Brasília – DF, 22/10/2021) Presidente da República Jair Bolsonaro e o Ministro de Estado da Economia Paulo Roberto Nunes Guedes, durante declaração à imprensa. Foto: Clauber Cleber Caetano/PR

Bolsonaro e Guedes: governo conseguiu aprovar algumas de suas prioridades, mas não conseguiu avançar com reformas estruturantes em 2021.| Foto: Clauber Cleber Caetano/PR

O governo de Jair Bolsonaro conseguiu aprovar no Congresso Nacional algumas das pautas prioritárias de sua agenda econômica, mas mas outras – incluindo promessas de campanha – avançaram pouco em 2021, especialmente a agenda de reformas estruturais, e seguem sem perspectiva de aprovação no Legislativo.

Na análise de especialistas e políticos, a chance de aprovar matérias como essas diminui à medida que o país se aproxima das eleições presidenciais. Embora o ministro da Economia, Paulo Guedes, busque manter o otimismo, o próprio presidente da República admitiu que a janela de aprovação de algumas pautas já se fechou.

“Essas reformas têm que acontecer no primeiro ano de cada governo. Já estamos praticamente terminando o terceiro ano [de governo]. Se não aprovar neste ano, no ano que vem pode esquecer”, disse Bolsonaro no fim de outubro.

Na mesma linha, o líder do governo na Câmara, Ricardo Barros (PP-PR), afirmou que “não há chance de aprovação das reformas” administrativa e tributária em 2022. Um dos mais experientes articuladores do Congresso, Barros disse ao “Valor” na semana passada que a disputa eleitoral vai contaminar a análise dos parlamentares.

Em 2021, projetos prioritários do governo – como a privatização dos Correios e as reformas administrativa e tributária, entre outros – não receberam o aval do Congresso. Para observadores, houve falhas na articulação e perda de apoio político. Além disso, nos últimos meses o próprio Executivo concentrou esforços na aprovação da PEC dos precatórios, para abrir espaço no Orçamento para a ampliação do Auxílio Brasil e outros gastos.

Por outro lado, o governo contabiliza algumas vitórias importantes da agenda econômica no Congresso em 2021. Como, por exemplo, a aprovação da privatização da Eletrobras, da medida provisória que cria o programa de transferência de renda Auxílio Brasil, da PEC dos precatórios e de projetos de lei como a BR do Mar e os marcos legais do câmbio e das ferrovias.


Confira a seguir as principais vitórias e derrotas da agenda econômica do governo no Congresso em 2021:

Vitórias
Privatização da Eletrobras
Em 2021 o governo Jair Bolsonaro conseguiu aprovar a primeira privatização de estatal de controle direto da União: a desestatização da Eletrobras. A operação de venda da companhia está prevista para 2022.

A medida provisória 1.031, que abriu caminho para a privatização, foi enviada ao Congresso em fevereiro deste ano. O texto foi amplamente modificado pelos parlamentares e ganhou “jabutis” (acréscimos sem relação com o tema central) como a obrigação de contratar pequenas centrais hidrelétricas (PCHs) e termelétricas movidas a gás onde hoje não há suprimento do combustível. Apesar das críticas, o Congresso não abriu mão e inseriu na MP um parágrafo de 652 palavras e 3.197 caracteres com o objetivo de evitar um eventual veto do presidente à questão. A matéria foi aprovada em junho de 2021. Ao todo, Bolsonaro vetou 14 pontos do projeto, mas manteve a contratação de PCHs e térmicas.

O Executivo espera que a privatização da Eletrobras gere uma arrecadação de R$ 100 bilhões aos cofres públicos. Mas restam ainda alguns passos para a conclusão do processo.

As definições de premissas fundamentais à modelagem da capitalização estão sendo feitas pelo Conselho Nacional de Política Energética (CNPE), que é ligado ao Ministério de Minas e Energia (MME). Trata-se de um órgão de assessoramento do Presidente da República para a formulação de políticas e diretrizes de energia. Ainda será preciso finalizar a modelagem da operação de capitalização, liderada pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).

O Tribunal de Contas da União (TCU) também precisa analisar o processo para detectar possíveis irregularidades e então homologar a operação. O aval do tribunal é essencial para reduzir chances de judicialização do processo de venda e dar segurança jurídica aos interessados. Até agora, contudo, o TCU já adiou a conclusão da análise por duas vezes, após identificar inconsistências no processo. Isso poderia atrasar a capitalização e, até mesmo, inviabilizá-la em 2022.

A privatização será feita por meio do modelo de capitalização, a partir da emissão de novas ofertas públicas de ações da estatal. Os atuais acionistas terão seu capital diluído e o governo federal, que hoje detém 51% das ações, perderá a posição de acionista controlador. A União terá direito a uma golden share, ação de classe especial que lhe garante poder de veto em decisões da assembleia de acionistas.

A hidrelétrica binacional Itaipu e a Eletronuclear não podem ser privatizadas, e serão geridas por uma nova estatal com esse fim, a ENBPar, criada em setembro.

PEC dos precatórios
Outra vitória de Bolsonaro foi a aprovação “PEC dos precatórios” no Congresso. A proposta acabou sendo promulgada de forma fatiada pela falta de consenso entre os parlamentares sobre determinados trechos do texto.

Entre outras coisas, a proposta de emenda à Constituição adia o pagamento de parte dos R$ 89,1 bilhões em precatórios que o governo deveria pagar no ano que vem, e ao mesmo tempo altera a regra de correção do teto de gastos, principal âncora fiscal do país. Essas medidas, combinadas, devem permitir um gasto adicional de mais de R$ 106,1 bilhões em 2022, além de espaço para R$ 15 bilhões extras no Orçamento de 2021.

O principal objetivo das mudanças foi permitir a ampliação do orçamento do programa social Auxílio Brasil. Em vez dos R$ 34,7 bilhões originais, o programa terá cerca de R$ 89 bilhões, conforme o Orçamento aprovado pelo Congresso em 21 de dezembro.

O pagamento das sentenças judiciais será limitado até 2036 ao mesmo índice usado para corrigir o teto de gastos, tomando 2016 como primeiro ano. Dessa forma, o montante de R$ 89,1 bilhões que a União deveria desembolsar com os precatórios no próximo ano cairá para cerca de R$ 40 bilhões.

Com relação ao teto de gastos, a proposta muda sua fórmula de correção. A correção anual dos limites de despesas primárias da União, antes feita com base no Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) acumulado até junho do ano anterior, passa a ser feita pelo IPCA acumulado de janeiro a dezembro. Com a PEC, o presidente da República no exercício de 2026 também fica impedido de modificar novamente o método de correção do teto, já que a revisão foi antecipada.

A PEC também torna permanente o Auxílio Brasil, substituto do Bolsa Família, e incorpora ao texto constitucional o princípio da renda básica. A proposta aprovada ainda garante que toda folga de recursos aberta nos próximos anos será direcionada para o pagamento do Auxílio Brasil e outras despesas sociais.

Auxílio Brasil
Neste ano, o programa Bolsa Família foi encerrado e, em seu lugar, o governo lançou o Auxílio Brasil, voltado a famílias em situação de pobreza e extrema pobreza. A medida provisória que cria o programa foi aprovada pelo Senado em dezembro.

O novo programa do governo amplia a linha de corte de acesso das famílias ao programa. A linha de extrema pobreza subiu de R$ 100 para R$ 105 e da pobreza, de R$ 200 para R$ 210. Todas as famílias contempladas pelo Bolsa Família – cerca de 14,5 milhões – foram automaticamente transferidas para o rol de beneficiários do novo programa, sem necessidade de recadastramento.

Com a aprovação da PEC dos precatórios, o governo pretende aumentar para 17 milhões o número de famílias beneficiárias. A União ainda terá de prestar contas do programa ao Congresso anualmente.

O Auxílio Brasil também retira a limitação de cinco beneficiários por família, incluindo a nutriz (mulher que amamenta) na composição familiar, e os beneficiários poderão sacar o recurso em caixa lotérica e não apenas em agências da Caixa Econômica Federal.

Segundo o Orçamento de 2022, a previsão é de benefício médio de R$ 415 por família.

Marco legal das startups
Em maio deste ano o governo contabilizou outra vitória da agenda econômica: a aprovação do projeto de lei complementar que institui o Marco Legal das Startups e do Empreendedorismo Inovador. Entre outras coisas, o PL estabelece um ambiente regulatório facilitado para que empresas inovadoras consigam desenvolver suas operações no Brasil.

O PL aprovado trata das definições legais, ambiente regulatório, medidas de aprimoramento do ambiente de negócios, aspectos trabalhistas, fomento ao desenvolvimento regional das startups, participação do Estado em startups, e alterações na Lei do Simples para contemplar startups e incentivos aos investimentos.

O marco ainda cria o chamado “ambiente regulatório experimental”. Trata-se de um regime onde a empresa por lançar novos produtos e serviços experimentais com menos burocracia e mais flexibilidade no seu modelo.

Marco legal do câmbio
Neste ano, o Congresso também concluiu a aprovação do novo marco legal do câmbio, outra prioridade do governo. A proposta foi enviada pelo Executivo ao parlamento em 2020.

Uma das principais mudanças é a autorização para abertura de conta em moeda estrangeira no Brasil, que ainda será regulamentada pelo Banco Central.

O novo marco regulatório também estabelece medidas para aumentar a concorrência no setor de câmbio, permite a bancos e instituições financeiras brasileiras investirem no exterior recursos captados aqui ou lá fora e facilita o uso da moeda brasileira em transações internacionais. O marco altera, ainda, de R$ 10 mil para US$ 10 mil o limite de dinheiro em espécie que cada passageiro pode portar ao sair ou chegar ao Brasil.

Entre outras mudanças previstas pelo marco está a autorização para negociações de pequenos valores entre pessoas físicas no valor de US$ 500, o aumento de casos em que será permitido o pagamento em moeda estrangeira de obrigações devidas no território nacional e pagamentos de contratos de arrendamento mercantil (leasing) feitos entre residentes no Brasil se os recursos forem captados no exterior.

BR do Mar
Outra prioridade do governo Bolsonaro que recebeu aval do Congresso é o programa BR do Mar, que busca incentivar a navegação de cabotagem (entre portos do país). O programa permite o uso de navios estrangeiros na navegação de cabotagem, sem a obrigação de contratar a construção de embarcações em estaleiros brasileiros.

Além disso, com a aprovação do programa, empresas poderão alugar um navio vazio para uso na navegação de cabotagem e, após quatro anos de transição, o afretamento de navios estrangeiros será livre.

A intenção governo é passar de 1,2 milhão de TEUs (unidade equivalente a 20 pés) de contêineres transportados por ano para 2 milhões de TEUs até 2022. O governo também espera ampliar em 40% a capacidade da frota marítima dedicada à cabotagem nos próximos três anos.

Marco legal das ferrovias
Outra vitória recente do governo foi a aprovação do marco legal das ferrovias, que define novos instrumentos de outorga para ferrovias em regime privado. A principal novidade trazida pela lei é a modalidade de autorização para a construção de novas ferrovias, antes concedidas somente por licitação. A expectativa do governo é de que a mudança diminua a burocracia dos processos e atraia investimentos – pelos cálculos do governo, a medida já garantiu aportes de R$ 150 bilhões no setor.

Segundo o que prevê a proposta aprovada, o prazo dos contratos poderá ser de 25 a 99 anos, prorrogáveis. Por meio de convênio, o governo federal poderá delegar a estados, Distrito Federal e municípios a exploração dos serviços. A outorga de ferrovias também será permitida em regiões geográficas ou entre cidades nas quais já existem ferrovias.

Os interessados poderão pedir autorização diretamente ao agente regulador, apresentando estudo técnico, cronograma e certidões de regularidade fiscal. O regulador deverá analisar se a ferrovia atende à política nacional de transporte ferroviário, e poderá negar autorização se o interessado não seguir as regras do projeto, se houver incompatibilidade com a política para o setor ou por motivo técnico-operacional relevante justificado.

Derrotas
Privatização dos Correios
Uma das grandes apostas do governo no campo da privatização, a desestatização dos Correios acabou “estacionada” no Congresso Nacional em 2021. Embora tenha sido aprovada pela Câmara dos Deputados, a matéria não foi adiante no Senado, onde tramita na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE).

Responsável pelo relatório da matéria, o senador Otto Alencar (PSD-BA) decidiu adiar o debate diante da resistência da oposição e dúvidas manifestadas por alguns partidos. Para críticos, a proposta é inconstitucional, já que a Carta Magna determina que compete à União manter o serviço postal e o correio aéreo nacional.

Contrários à privatização levaram o assunto ao Supremo Tribunal Federal (STF). Uma ação direta de inconstitucionalidade (ADI) proposta pela ADCAP contesta a privatização da estatal. Nessa ação, a Procuradoria-Geral da República (PGR) já se manifestou contrária à desestatização total da companhia. O próprio STF também já se manifestou sobre a questão, ainda em 2005, ao definir que os serviços postais devem ser prestados pelo Estado.


O que o projeto de lei faz é estabelecer que essa manutenção “dar-se-á pela garantia da prestação do serviço postal universal e pela regulação e organização do Sistema Nacional de Serviços Postais”. Isso vai se dar por meio de concessão, e o novo operador da empresa deverá obedecer o comando de um serviço postal universalizado, atendendo a toda a população e assegurando a continuidade do serviço postal universal.

Um outro motivo que impede o avanço da pauta é a falta de acordo sobre o chamado “valuation”. Segundo o presidente da CAE, o montante previsto para a venda da estatal é de cerca de R$ 1 bilhão, valor semelhante ao lucro anual da empresa.

Pela proposta em análise, a venda dos Correios será feita em um leilão e, o comprador da estatal terá de assumir a concessão para a manutenção dos serviços postais em todas as regiões do país. Embora encerre o monopólio dos Correios sobre esse serviço, abrindo espaço a outras empresas, o texto determina que a companhia, após a privatização, ainda será a única prestadora por “pelo menos cinco anos”.

A proposta legislativa também cria um marco regulatório para o setor, hoje em regime de monopólio, e define normas gerais para o Sistema Nacional de Serviços Postais (SNSP), além de direitos e deveres dos consumidores e regras genéricas para as empresas privadas que entrarem no mercado postal. O PL ainda estabelece que a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) terá suas competências alteradas e passará a se chamar Agência Nacional de Comunicações (Anacom), regulando também os serviços postais.

Na avaliação do governo, para que a privatização possa ser realizada ainda em 2022, o Legislativo precisa concluir a aprovação da proposta até março ou abril, o que daria tempo para as demais etapas da tramitação. O Tribunal de Contas da União (TCU), por exemplo, só pode avaliar o projeto após a aprovação do Congresso, e necessita de pelo menos 90 dias para a análise.

Reforma administrativa
Tida como uma das mais difíceis de serem aprovadas, a reforma administrativa, enviada pelo governo ao Congresso em setembro de 2020, também está parada no Legislativo. Embora aprovada em comissão especial da Câmara dos Deputados em setembro deste ano, a proposta segue sem previsão de votação em plenário. Para analistas, a janela de aprovação da reforma teria terminado não apenas este ano, mas no próximo, tendo em vista a proximidade das eleições presidenciais em 2022.

A agenda de reformas sempre foi anunciada como prioridade da equipe econômica, especialmente em 2021, após os reflexos deixados pela pandemia de Covid-19. Contudo, nem o presidente Jair Bolsonaro nem a base aliada fizeram grandes esforços para acelerar a tramitação.

Entre os principais pontos da reforma administrativa que tramita no Congresso está a previsão de estabilidade a todos os servidores, ainda que com possibilidade de demissão por desempenho insuficiente, corte transitório de jornada de trabalho em até 25%, com redução de remuneração em caso de crise fiscal, permissão para contratação temporária pelo prazo máximo de dez anos, travas para “privilégios” e fim da aposentadoria compulsória.

Reforma tributária
Entregue em julho de 2020 ao Congresso, a primeira fase da reforma tributária proposta pela equipe de Bolsonaro também não avançou na Câmara dos Deputados. Entre outras coisas, o projeto unifica PIS e Cofins em um novo tributo, a Contribuição sobre Bens e Serviços (CBS), com alíquota de 12%. A proposta nem sequer tem relatório.

O governo até conseguiu aprovar na Câmara o PL 2337/2020, que altera as regras do Imposto de Renda. Entre outras coisas, a proposta aumenta a faixa de isenção para pessoa física e recria a taxação sobre lucros e dividendos. No Senado, porém, a matéria “estacionou” sob fortes críticas do relator escolhido, Angelo Coronel (PSD-BA).

Com isso, Bolsonaro entrará no ano eleitoral sem ter conseguido cumprir uma promessa de campanha: elevar a faixa de isenção do Imposto de Renda. Em 2018, ele prometeu que quem ganhasse até R$ 5 mil não pagaria o imposto; mais recentemente, baixou essa faixa para R$ 3 mil. No fim, a proposta oficial do governo foi de R$ 2,5 mil, e não passou.

O senador Angelo Coronel nem sequer entregou parecer sobre a reforma proposta pelo governo e, recentemente, apresentou um projeto em separado para corrigir apenas a tabela do tributo da pessoa física. Nessa proposta, a faixa de isenção seria de R$ 3,3 mil.

Outras propostas

Outras propostas, também tidas como prioridade pelo governo, não foram aprovadas pelo Legislativo em 2021. São elas:

Marco do Setor Elétrico (Projeto de Lei 414/2021);
Marco Legal do Reemprendedorismo (PLP 33/20);
Marco Legal das PPPs, as Parcerias Público-Privadas (PL 7063/17);
Projeto das Debêntures de Infraestrutura, que cria novos instrumentos financeiros para projetos de infraestrutura (PL 2646/20);
Nova Lei de Praticagem (PL 2149/15);
PEC da extinção dos fundos públicos (PEC 187/19);
Nova lei de licenciamento ambiental (PL 3729/04);
Mineração em terras indígenas (PL 191/20);
Reforma da lei de concessões florestais (PL 5518/20); e
Regime de partilha de produção de petróleo (PL 3178/19).


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TREINAMENTO DO EXÉRCITO BRASILEIRO NA SELVA AMAZÔNICA

 

Treinamento

Por
Luis Kawaguti – Gazeta do Povo

Infantaria de Selva do Exército Brasileiro| Foto: Exército Brasileiro

Um quadrilátero de selva de 1.152 km2, delimitado ao norte pela rodovia AM-010, ao sul pelo Rio Amazonas, a leste pelo Rio Preto da Eva e a oeste pelo Rio Puraquequara, no Amazonas, representa só 0,02% da área da Amazônia Legal. Mas, tem grande importância em uma discussão que vem ganhando volume no cenário internacional devido às mudanças climáticas: a soberania do Brasil sobre a parcela de seu território coberto por selva amazônica.

É nessa “pequena” área – 2,5x maior que a cidade de Manaus – que fica o Campo de Instrução General Sampaio Maia (CIGSM), onde ocorrem as atividades do Curso de Operações na Selva, do Centro de Instrução de Guerra na Selva, o CIGs .

Esse é o treinamento do Exército Brasileiro que mais chama a atenção das forças armadas dos outros países, pelo nível de rigor exigido e pela eficácia das técnicas de combate em região de selva. Há uma fila de espera de países para enviar militares para cursar a parte não sigilosa do treinamento.

“A rigidez e a intensidade das atividades promovem um desgaste físico intenso e prolongado nos militares que frequentam o curso, trazendo uma experiência marcante durante 12 semanas. Desta forma a delimitação física do CIGSM, aliada às atividades nele desenvolvidas, fizeram com que o mesmo fosse carinhosamente apelidado de Quadrado Maldito”.

Essa foi a resposta singela que este colunista recebeu do CIGs por e-mail ao perguntar sobre a origem do curioso apelido.

Mas, a explicação não dá ideia da magnitude do assunto. Tendo visitado o CIGs como jornalista em 2008 e em 2021, eu compararia o treinamento que ocorre lá a cenas que o leitor pode ter visto no filme Tropa de Elite (2007), sobre o Bope do Rio de Janeiro.

Nele, candidatos a policiais são vistos sendo submetidos a provações físicas e psicológicas extremas, entre elas abstinência de alimentação e sono, combinados com atividade física extenuante e exercícios de combate.

Mas, sugiro ao leitor que imagine as cenas do filme acontecendo não nas colinas da região metropolitana do Rio de Janeiro, mas no interior da selva amazônica.

Lá, o treinamento de combate acontece à noite. Os militares são treinados no uso da mata fechada para emboscar, como fazem as onças que habitam a região. Ou seja, levam horas em um deslocamento silencioso até chegar apenas a alguns metros de distância do inimigo, para então abrir fogo a curta distância.

Na selva fechada, equipamentos de navegação GPS funcionam mal. Bússolas e técnicas de orientação e sobrevivência aprendidas com militares de ascendência indígena fazem diferença.

Alguns analistas dizem que o terreno favoreceria o Brasil em um eventual conflito com um país mais forte. Isso porque, a impossibilidade de usar alguns recursos tecnológicos na selva faria o conflito menos desproporcional. O Comando Militar da Amazônia é mais cauteloso e diz que não é possível definir de antemão qual será “a chave da vitória”.

Adicione-se ao cenário do treinamento operações com metralhadoras pesadas, morteiros, artilharia de obuseiros e lançadores de foguetes pesados, armas antiaéreas, saltos de paraquedistas e ataques de helicópteros.

As manobras com armamento pesado, como o lançador de foguetes por saturação Astros II, e os treinamentos onde as forças brasileiras atuam como guerrilheiros (escondendo armamento pesado na mata e fazendo ataques surpresa contra forças mais poderosas) são um recado diplomático sutil.

Ele diz nas entrelinhas: uma ação militar estrangeira na Amazônia pode resultar em uma dispendiosa “guerra infinita”, como foram as operações no Iraque e no Afeganistão.

É isso que se faz no Quadrado Maldito.

Sobre os disparos de armas pesadas na floresta, o leitor pode se tranquilizar: são feitos em “polígonos de tiro” isolados e previstos em lei, onde não há atividade humana. Equipes de manejo ambiental verificam a área a cada exercício, para evitar que membros da comunidade ribeirinha ou animais se machuquem com explosivos não detonados. Além disso, ninguém mora no Quadrado Maldito.

Mas o que mudou na geopolítica mundial para voltarmos a falar da Amazônia?

Primeiro, uma ressalva para evitar alarmismo: os focos de atenção das potências mundiais e as possibilidades de conflito armado de grandes proporções passam longe da região amazônica.

Eles estão relacionados hoje à expansão da Otan (aliança militar ocidental) sobre países que a Rússia considera sua área de influência na Europa. E também à região marítima ao sul da China, onde Pequim e Washington medem forças em uma disputa sobre o destino de Taiwan – o que alguns analistas dizem fazer parte de um cenário que já vem sendo chamando de Guerra Fira 2.0.

Mas, o tema do combate às mudanças climáticas vem ganhando força na agenda das potências mundiais – especialmente a partir do início do governo democrata do presidente Joe Biden, nos Estados Unidos.

O presidente Emmanuel Macron, da França, e o presidente Jair Bolsonaro já haviam batido boca sobre o desmatamento da Amazônia. Isso foi interpretado por alguns analistas como uma tentativa da França usar a causa ambiental para boicotar produtos brasileiros, protegendo seu mercado.

Mas a discussão vai além disso. O tema do combate à mudança climática chegou para ficar e não vai sair da agenda mundial tão cedo.

Nesse contexto, floresce nos meios acadêmicos e políticos do Ocidente a ideia de que nações não teriam direitos de soberania ilimitados sobre seu território quando o futuro do planeta está em jogo. Sem entrar em debate científico, a Amazônia é tratada por alguns políticos e ativistas como o “pulmão do mundo”.

Neste mês de dezembro, o ONU analisou a possibilidade de adotar uma resolução pela qual o Conselho de Segurança poderia deliberar sobre assuntos de segurança relacionados a mudanças climáticas.

Mas o que isso quer dizer?

Na prática, seria levar temas de segurança relacionados a mudanças climáticas da alçada da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas para a maior instância de poder do organismo: o Conselho de Segurança – que em última instância pode autorizar e legitimar embargos e ações militares.

A proposta, levantada pela Irlanda e pelo Níger, estava mais focada em questões relacionadas a conflitos deflagrados por grandes secas ou fomes, especialmente no continente africano. Mas, segundo analistas, em teoria poderia abrir precedentes para resoluções envolvendo a região amazônica.

Moscou, membro permanente do Conselho de Segurança, barrou a discussão por ora, com seu poder de veto. A resolução tinha sido apoiada por 113 países e rejeitada por 80.

A Rússia tem uma área de 815 milhões de hectares cobertos por florestas, equivalente a 20% das florestas mundiais, segundo relatório de 2020 da FAO, a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura. O Brasil vem em segundo lugar, com 497 milhões de hectares (12%).

Mas o debate político sobre o tema não acabou. A votação mostra uma comunidade internacional dividida sobre o tema.

Preocupações com a Amazônia

Não é de hoje que as Forças Armadas brasileiras voltaram suas atenções para a região. Desde a aproximação diplomática entre Brasil e Argentina no início dos anos de 1980, boa parte das preocupações militares se direcionaram para a Amazônia. Brigadas inteiras, antes sediadas nas regiões central e sul do país, começaram a ser transferidas para a selva.

Há vários cenários de ameaça que preocupam as Forças Armadas, mas o mais grave seria um movimento político para transformar a região em uma “Nova Antártida”. Ou seja, “o estabelecimento de uma governança global sobre a região, limitando (ou até impedindo) a gestão soberana sobre aquele território”, segundo escreveu o coronel Oscar Medeiros Filho em artigo publicado neste ano no e-Blog do Exército.

“Utilizando-se de uma narrativa ‘lícita’ de proteção dos bens comuns globais, a sociedade internacional ‘negaria’ propostas de desenvolvimento da região, a fim de ‘preservá-la para futuras gerações’”, escreveu Medeiros Filho.

Outra possibilidade, menos provável, seria a de nações estrangeiras promoverem conflitos na região para se apossar de recursos naturais.

Segundo o artigo, há ainda uma preocupação sobre a ação de criminosos ou guerrilheiros em áreas onde a presença do Estado brasileiro é muito pequena.

Neste ano, o Quadrado Maldito foi palco também da maior manobra militar que o Exército já realizou na região: a Operação Amazônia, que ocorreu entre abril e setembro. Embora toda manobra militar tenha um teor político internacional, isso não quer dizer que o país tenha em vista um cenário de conflito.

A ideia é mostrar capacidade de defender a soberania e dar subsídio em forma de “hardpower” a  um combate que hoje não ocorre na selva, mas sim nos campos diplomático, acadêmico e da comunicação.


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EDUCAÇÃO PRECISA DE PRIORIDADES

Editorial
Por
Gazeta do Povo

Colégio estadual Instituto de Educação do Paraná – Escola especial – Ensino de habilidades especiais – sala de aula – quadra esportiva do Instituto de Educação – quadro negro – sala de aula vazia – evasão escolar – vitral e escadaria do instituto educação.

| Foto: Albari Rosa/Arquivo/Gazeta do Povo

A educação, seus problemas e os assuntos a ela referentes estão presentes constantemente na discussão pública, na imprensa, no governo e nos meios políticos em geral. Isso é bom por várias razões – no mínimo, pela importância da educação no desenvolvimento físico, mental e social do ser humano, e por ser necessária para o crescimento econômico e a evolução do padrão de vida da população. Assim, a discussão sobre os temas que orbitam em torno da educação deve ser estimulada e exercida com liberdade e confronto das ideias, visões e sugestões sobre o processo educacional, as formas e sua eficácia em cumprir suas funções individuais e sociais.

Há algumas conclusões que são aceitas como verdadeiras de forma praticamente unânime. A primeira é de que a educação precisa ser tratada como prioridade. Segundo, que deve ser acessível a 100% de todos os habitantes do país, especialmente no caso da educação de base (educação infantil, ensino fundamental e ensino médio). Terceiro, o nível da educação brasileira é baixo, a qualidade do processo é bastante deficiente e o país vem falhando há décadas nesse setor, confirme se nota pelo desempenho dos estudantes brasileiros nos diversos testes internacionais em comparação com os estudantes dos demais países. Quarto, estudos metodologicamente rigorosos vêm sendo feitos desde meados do século 19, especialmente logo após a explosão da Revolução Industrial, sobre a contribuição da educação para o crescimento econômico e o desenvolvimento social.

Além de não conseguir prover os conteúdos mundialmente tidos como essenciais no processo educativo, parcelas do sistema educacional tornaram-se contumazes na realização de atividades ligadas a doutrinas político-ideológicas

A situação do Brasil é tal que exigirá longos anos de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) capaz de permitir a superação da pobreza, dado o nível de atraso nacional medido pelos padrões internacionais. Em 15 de dezembro de 2020, a Agência Brasil, órgão de notícias do governo federal, publicou que, de acordo com relatório divulgado pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pbud), o Brasil perdeu cinco posições no ranking mundial aferido pelo Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), piorando sua classificação ao sair do 79.º para o 84.º lugar entre 189 países. O IDH mede a saúde, a educação e o padrão de vida, e o índice brasileiro de 0,765 foi bem abaixo da líder Noruega, com IDH 0,957, seguida por Suíça (0,955) e Irlanda (0,955).

Antes da Revolução Industrial (1750-1830), o bem-estar médio dependia essencialmente da produção originada da terra e dos recursos naturais, e o produto nacional somente crescia à medida que a população aumentava. Após o surgimento do motor a vapor, do trem de ferro e das máquinas industriais, as estatísticas começaram a mostrar a contribuição do capital físico no aumento da produção e da produtividade-hora do trabalho. Nos anos 1879-1900, com a segunda fase da Revolução Industrial, o motor a combustão interna, a indústria do petróleo e a eletricidade fizeram que a produtividade do trabalho fosse aumentada de forma expressiva e promovesse uma onda de desenvolvimento.

Com o progresso contínuo da ciência e da tecnologia após a Primeira Guerra Mundial (1914-1919), a economia passou a exigir trabalhadores com maior nível de escolaridade e mais qualificação profissional, acentuando-se a importância da educação básica para a melhoria da capacitação dos trabalhadores. Nos anos 1950 e seguintes, foram aprofundados os estudos que já vinham desde pelo menos 80 anos antes, sobre a contribuição da educação para o aumento da produtividade e o crescimento econômico, a ponto de o economista Gary Becker ter afirmado, após longas pesquisas e estudos, que o fator educação passou a responder por até dois terços do aumento da produtividade. Assim, tornou-se consenso que a superação da miséria, da pobreza e do atraso depende diretamente da evolução educacional e da capacidade do sistema educativo no cumprimento de sua missão.


Porém, não é qualquer educação que tem a capacidade de atender as necessidades do indivíduo rumo a seu progresso físico e mental, bem como as necessidades impostas pelo desafio de produzir e gerar bem-estar social satisfatório a toda a sociedade. É nesse ponto que entram as notícias recorrentes nos últimos tempos, cujos conteúdos não dizem respeito a temas sobre alfabetização, domínio da escrita e da leitura, desenvolvimento do raciocínio lógico e do pensamento analítico, conhecimento matemático, inserção social e assimilação de habilidades técnicas. Infelizmente, a educação tem estado nas manchetes por situações bizarras e lamentáveis, como o caso de um professor que aplicou atividade valendo nota na qual todos os alunos do grupo beijavam a todos; ou o caso de uma professora que acabou denunciada na polícia por insistir em atividades ligadas à ideologia de gênero, políticas radicais e outros assuntos de seu fanatismo esquerdista.

Além de não conseguir prover os conteúdos mundialmente tidos como essenciais no processo educativo, parcelas do sistema educacional tornaram-se contumazes na realização de atividades ligadas a doutrinas ou crenças de natureza política-ideológica típicas de sociedades totalitárias responsáveis por opressão do indivíduo e extermínio de vidas de seu próprio povo em tempo de paz, como é o caso das experiências comunistas ao longo da história. A educação brasileira enfrenta o desafio de atender a duas prioridades: prover os conteúdos essenciais já citados e conhecidos, de um lado, e conseguir fazê-lo com qualidade e eficiência, de forma a contribuir com o progresso do indivíduo, o crescimento econômico e o desenvolvimento social… e tornar-se notícia por conseguir sair do baixo nível recorrentemente apresentado nos testes internacionais.


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DELEGADOS DA POLÍCIA FEDERAL CONTRA OS CORTES NO ORÇAMENTO DA PF

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