Editorial
Por
Gazeta do Povo
| Foto: Albari Rosa/Arquivo/Gazeta do Povo
A educação, seus problemas e os assuntos a ela referentes estão presentes constantemente na discussão pública, na imprensa, no governo e nos meios políticos em geral. Isso é bom por várias razões – no mínimo, pela importância da educação no desenvolvimento físico, mental e social do ser humano, e por ser necessária para o crescimento econômico e a evolução do padrão de vida da população. Assim, a discussão sobre os temas que orbitam em torno da educação deve ser estimulada e exercida com liberdade e confronto das ideias, visões e sugestões sobre o processo educacional, as formas e sua eficácia em cumprir suas funções individuais e sociais.
Há algumas conclusões que são aceitas como verdadeiras de forma praticamente unânime. A primeira é de que a educação precisa ser tratada como prioridade. Segundo, que deve ser acessível a 100% de todos os habitantes do país, especialmente no caso da educação de base (educação infantil, ensino fundamental e ensino médio). Terceiro, o nível da educação brasileira é baixo, a qualidade do processo é bastante deficiente e o país vem falhando há décadas nesse setor, confirme se nota pelo desempenho dos estudantes brasileiros nos diversos testes internacionais em comparação com os estudantes dos demais países. Quarto, estudos metodologicamente rigorosos vêm sendo feitos desde meados do século 19, especialmente logo após a explosão da Revolução Industrial, sobre a contribuição da educação para o crescimento econômico e o desenvolvimento social.
Além de não conseguir prover os conteúdos mundialmente tidos como essenciais no processo educativo, parcelas do sistema educacional tornaram-se contumazes na realização de atividades ligadas a doutrinas político-ideológicas
A situação do Brasil é tal que exigirá longos anos de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) capaz de permitir a superação da pobreza, dado o nível de atraso nacional medido pelos padrões internacionais. Em 15 de dezembro de 2020, a Agência Brasil, órgão de notícias do governo federal, publicou que, de acordo com relatório divulgado pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pbud), o Brasil perdeu cinco posições no ranking mundial aferido pelo Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), piorando sua classificação ao sair do 79.º para o 84.º lugar entre 189 países. O IDH mede a saúde, a educação e o padrão de vida, e o índice brasileiro de 0,765 foi bem abaixo da líder Noruega, com IDH 0,957, seguida por Suíça (0,955) e Irlanda (0,955).
Antes da Revolução Industrial (1750-1830), o bem-estar médio dependia essencialmente da produção originada da terra e dos recursos naturais, e o produto nacional somente crescia à medida que a população aumentava. Após o surgimento do motor a vapor, do trem de ferro e das máquinas industriais, as estatísticas começaram a mostrar a contribuição do capital físico no aumento da produção e da produtividade-hora do trabalho. Nos anos 1879-1900, com a segunda fase da Revolução Industrial, o motor a combustão interna, a indústria do petróleo e a eletricidade fizeram que a produtividade do trabalho fosse aumentada de forma expressiva e promovesse uma onda de desenvolvimento.
Com o progresso contínuo da ciência e da tecnologia após a Primeira Guerra Mundial (1914-1919), a economia passou a exigir trabalhadores com maior nível de escolaridade e mais qualificação profissional, acentuando-se a importância da educação básica para a melhoria da capacitação dos trabalhadores. Nos anos 1950 e seguintes, foram aprofundados os estudos que já vinham desde pelo menos 80 anos antes, sobre a contribuição da educação para o aumento da produtividade e o crescimento econômico, a ponto de o economista Gary Becker ter afirmado, após longas pesquisas e estudos, que o fator educação passou a responder por até dois terços do aumento da produtividade. Assim, tornou-se consenso que a superação da miséria, da pobreza e do atraso depende diretamente da evolução educacional e da capacidade do sistema educativo no cumprimento de sua missão.
Porém, não é qualquer educação que tem a capacidade de atender as necessidades do indivíduo rumo a seu progresso físico e mental, bem como as necessidades impostas pelo desafio de produzir e gerar bem-estar social satisfatório a toda a sociedade. É nesse ponto que entram as notícias recorrentes nos últimos tempos, cujos conteúdos não dizem respeito a temas sobre alfabetização, domínio da escrita e da leitura, desenvolvimento do raciocínio lógico e do pensamento analítico, conhecimento matemático, inserção social e assimilação de habilidades técnicas. Infelizmente, a educação tem estado nas manchetes por situações bizarras e lamentáveis, como o caso de um professor que aplicou atividade valendo nota na qual todos os alunos do grupo beijavam a todos; ou o caso de uma professora que acabou denunciada na polícia por insistir em atividades ligadas à ideologia de gênero, políticas radicais e outros assuntos de seu fanatismo esquerdista.
Além de não conseguir prover os conteúdos mundialmente tidos como essenciais no processo educativo, parcelas do sistema educacional tornaram-se contumazes na realização de atividades ligadas a doutrinas ou crenças de natureza política-ideológica típicas de sociedades totalitárias responsáveis por opressão do indivíduo e extermínio de vidas de seu próprio povo em tempo de paz, como é o caso das experiências comunistas ao longo da história. A educação brasileira enfrenta o desafio de atender a duas prioridades: prover os conteúdos essenciais já citados e conhecidos, de um lado, e conseguir fazê-lo com qualidade e eficiência, de forma a contribuir com o progresso do indivíduo, o crescimento econômico e o desenvolvimento social… e tornar-se notícia por conseguir sair do baixo nível recorrentemente apresentado nos testes internacionais.
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