“BR do Mar”, aprovada no Congresso, pretende estimular a cabotagem.| Foto: Jonathan Campos/Arquivo/Gazeta do Povo
Além da aprovação do Marco Legal das Ferrovias, governo e Congresso deram outra contribuição para equilibrar a matriz de transporte brasileira, incentivando um modal tão promissor quanto subaproveitado no Brasil: a navegação de cabotagem, com transporte de carga por via marítima. A chamada “BR do Mar” foi proposta pelo Ministério da Infraestrutura em meados de 2020 e, depois de ser aprovada pela Câmara no dia 15, já está na mesa de Jair Bolsonaro para a sanção.
Como afirmamos por ocasião da aprovação do Marco Legal das Ferrovias, não faz sentido que um país com as características do Brasil seja tão dependente do transporte rodoviário, especialmente para longos percursos – hoje, o modal rodoviário corresponde a pouco mais de 60% da matriz brasileira, contra apenas 20% para as ferrovias e cerca de 10% para a navegação de cabotagem, apesar dos mais de 8 mil quilômetros da costa brasileira. A hiperdependência do transporte rodoviário traz inúmeros problemas, de custo – tanto para o transporte em si quanto para a manutenção das rodovias, sem falar das perdas humanas e financeiras com acidentes –, de impacto ambiental e, mais recentemente, do risco de greves em que os caminhoneiros se julgam no direito de colocar um país todo de joelhos em nome de exigências corporativistas.
Essa tão necessária readequação da matriz logística tem tudo para atrair mais investimentos e aumentar a competitividade nacional, já que o transporte caro é componente importante do chamado “custo Brasil”
Transporte mais caro encarece os produtos transportados e abala a competitividade brasileira. Deixar a matriz logística nacional mais equilibrada era uma necessidade constatada havia muito tempo, mas só agora o país lança as bases para que isso possa efetivamente ocorrer. Com a “BR do Mar”, as companhias ganham permissão para afretar navios estrangeiros livremente, depois de um período de transição de quatro anos – durante este intervalo, há um limite no número de navios que podem ser alugados, e que vai aumentando progressivamente. Assim, não será mais necessário ter frota própria nem encomendar navios em estaleiros; aumenta a oferta de embarcações, com consequente redução nos cursos do transporte marítimo.
Assim como o Ministério da Infraestrutura prevê dobrar a participação do modal ferroviário até 2035 com o Marco Legal das Ferrovias, a expectativa com a “BR do Mar” é até mais ambiciosa: passar de 1,2 milhão de TEUs (unidade equivalente a 20 pés) de contêineres transportados por ano para 2 milhões de TEUs já em 2022. Que seja possível realizar um aumento de 66% em tão pouco tempo mostra como a navegação de cabotagem vinha sendo mal aproveitada no país, e como basta remover amarras desnecessárias para que certas atividades econômicas possam se desenvolver de forma robusta. Espera-se, ainda, que a aprovação da “BR do Mar” traga uma nova onda de investimentos em terminais portuários, já que o Reporto, um regime tributário especial com desoneração, foi prorrogado até o fim de 2023, como desejava o Ministério da Infraestrutura, vencendo um embate interno com a equipe econômica.
Parte dos caminhoneiros se opôs à “BR do Mar” – o que era esperado, tratando-se de um projeto que reduziria a dependência brasileira do transporte rodoviário de longa distância e, consequentemente, o poder de chantagem da categoria. Mas o caminhão seguirá sempre necessário para as viagens curtas, no início e no fim do percurso das cargas, e houve líderes dos caminhoneiros que ressaltaram o fato de as viagens curtas serem mais rentáveis que as longas. Há um ano, quando o projeto ainda estava no Senado, o caminhoneiro autônomo Janderson Maçaneiro falou à Gazeta do Povo e citou o exemplo dos Estados Unidos, onde “a cabotagem e o trem são os mais avançados do mundo e onde o caminhoneiro é mais respeitado”. Essa tão necessária readequação da matriz logística tem tudo para atrair mais investimentos e aumentar a competitividade nacional, já que o transporte caro é componente importante do chamado “custo Brasil”.
Bolsonaro aposta na candidatura do ministro da Infraestrutura, Tarcísio de Freitas, para o governo de São Paulo.| Foto: Alan Santos/Presidência da República.
O presidente Jair Bolsonaro (PL) afirmou nesta sexta-feira (24) que a candidatura de seu ministro da Infraestrutura, Tarcísio de Freitas, ao governo de São Paulo em 2022 já está acertada. “A certeza é que Tarcísio é nosso candidato”, disse o mandatário ao Poder360. Bolsonaro afirmou que o assunto é questão fechada com o presidente do PL, Valdemar Costa Neto.
“Não falamos sobre vice ainda, nem sobre Senado. Isso está em discussão ainda”, apontou o presidente. O chefe do Executivo disse que o apoio aos governos estaduais deve ser discutido no partido e será dado para “quem quiser compor conosco”. Ele afirmou que o apoio ao governador do Goiás, Ronaldo Caiado, ainda “depende da conversa”.
“Não sei quem ele vai apoiar para presidente, não perguntei para ele… Tudo que ele precisou de nós, nós demos, sem condicionante nenhuma”, ressaltou. No início de dezembro, Bolsonaro sinalizou apoio a uma possível candidatura do deputado federal Major Vitor Hugo (PSL) para o governo de Goiás.
Ministério da Saúde muda plataforma para consulta sobre vacinação de crianças PorGazeta do Povo
Fachada do Ministério da Saúde, em Brasília. | Foto: Arquivo/Gazeta do Povo
No mesmo dia em que abriu a consulta pública sobre a vacinação de crianças de 5 a 11 anos, o Ministério da Saúde comunicou na tarde desta sexta-feira (24) que teve de alterar a plataforma onde a sondagem foi disponibilizada. Segundo a pasta, devido ao grande número de acessos, a consulta teve de ser migrada para a plataforma Gov.br. Foi criado um novo link para acessar o formulário e deixar as contribuições
A consulta pública ficará aberta até dia 2 de janeiro. A possibilidade de imunização de crianças foi aprovada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) no dia 16 de dezembro. O governo abriu a consulta não somente a profissionais como a leigos. nesta quinta-feira (23), o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, defendeu a consulta e afirmou que as mortes de crianças por Covid-19 ainda estavam em um patamar que não exige ações emergenciais.
Lewandowski determina que governo explique prescrição médica para vacinação infantil PorGazeta do Povo
Ricardo Lewandowki, ministro do STF. | Foto: STF
O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Ricardo Lewandowski determinou nesta sexta-feira (24) que o governo federal explique a intenção de exigir prescrição médica para vacinação de crianças entre 5 e 11 anos contra Covid-19. O ministro deu prazo de cinco dias para o governo informar a Corte. Lewandowski se manifestou em uma ação protocolada, mais cedo, pelo partido Rede Sustentabilidade. A Rede pede a suspensão da exigência de prescrição médica para vacinar crianças.
Nesta quinta-feira (23), o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, afirmou que a imunização infantil será feita no país mediante a apresentação de prescrição médica e um termo de consentimento dos pais. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) autorizou o uso de doses Pfizer em crianças no último dia 16. O governo deve bater o martelo sobre o tema no dia 5 de janeiro. A informação foi divulgada pela CNN Brasil.
Moraes manda Bolsonaro explicar intenção de expor nomes de técnicos da Anvisa PorGazeta do Povo
O ministro da STF Alexandre de Moraes. | Foto: Nelson Jr./STF
O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes determinou que o presidente Jair Bolsonaro deve explicar sua intenção de expor nomes de técnicos da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) envolvidos na aprovação da vacinação de crianças contra Covid-19 com doses da Pfizer. O ministro analisa uma ação protocolada na Corte pelo senador Randolfe Rodrigues (Rede -AP), que solicita uma investigação do presidente por suposta intimidação de servidores da Anvisa.
No último dia 16, Bolsonaro afirmou que iria divulgar publicamente a relação de nomes dos servidores da Anvisa. “A Anvisa não está subordinada a mim, deixar bem claro isso, não interfiro lá. Eu pedi, extraoficialmente, o nome das pessoas que aprovaram a vacina para crianças a partir de cinco anos. Nós queremos divulgar o nome dessas pessoas para que todo mundo tome conhecimento de quem são elas e obviamente formem o seu juízo”, disse o presidente.
Bolsonaro abre crédito de R$ 6,4 bilhões para compra de vacinas contra Covid PorGazeta do Povo
O presidente Jair Bolsonaro. | Foto: Isac Nóbrega/PR
O presidente Jair Bolsonaro (PL) editou nesta sexta-feira (24) uma Medida Provisória (MP) que abre crédito extraordinário, no valor de R$ 6,4 bilhões, em favor do Ministério da Saúde. “A medida visa custear a aquisição, produção e o fornecimento de vacinas por meio de dotações da Fundação Oswaldo Cruz e do Fundo Nacional de Saúde, visando mitigar ao máximo os danos causados pela pandemia à saúde da população brasileira”, disse a Secretaria-Geral da presidência da República em nota. A MP entra em vigor nesta sexta, mas precisa da aprovação da Câmara dos Deputados e do Senado dentro de 120 dias, caso contrário perde a validade.
Ministro Alexandre de Moraes determinou a prisão do deputado Daniel Silveira por declarações nas redes sociais.| Foto: Nelson Jr./STF
Quando faltava um mês para o aniversário do execrável AI-5, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes proibiu um deputado, Daniel Silveira, de dar entrevistas. O ministro já havia proibido o deputado de frequentar as redes sociais e de fazer contato com “outros investigados”. No último dia 13, fez 53 anos que, por causa de um deputado, Márcio Moreira Alves, que, na tribuna, recomendou às mocinhas que não dançassem com cadetes, o general Costa e Silva assinou o AI-5, que cassava o mandato do parlamentar e de muitos outros, fechava o Congresso, cancelava o habeas corpus e censurava. Motivo imediato: o ministro da Guerra, Lyra Tavares, queria processar o deputado, mas a Câmara não deixou, com base no art. 32 da Constituição de 1967: “Os deputados e senadores são invioláveis, no exercício do mandato, por suas opiniões, palavras e votos, salvo nos casos de injúria, difamação e calúnia, ou nos previstos na Lei de Segurança Nacional”.
Os constituintes de 1988 aperfeiçoaram o artigo, que se tornou inflexivelmente garantidor do mandato, e virou 53: “Os Deputados e Senadores são invioláveis, civil e penalmente, por quaisquer de suas opiniões, palavras e votos”. Esse quaisquer não deixa espaço para condicionantes. Só que não. Como constituintes não-eleitos, no Supremo passaram por cima disso. O ministro Moraes mandou prender o deputado que – ironia! – disse ter saudades do AI-5. Em 2021 imperou um AI-5 de facto, com a anuência da Câmara dos Deputados, menos defensora de suas prerrogativas que aquela de 1968. No dia seguinte ao 13 de dezembro de 1968, Juscelino fora preso preventivamente, para não incomodar, tal como Zé Trovão agora está preso assim como o presidente do PTB, Roberto Jefferson. Muito semelhante com aqueles anos de chumbo – agora com um AI-5 fantasma.
Em 1968 como hoje, pessoas eram presas sem condenação, por crime de opinião. Hoje com uma diferença para pior: naquele tempo havia, embora espúrias, regras escritas. Hoje a regra é o que brota de um reescrevedor da Constituição, reeditando versões ad hoc até mesmo do pétreo artigo quinto. A moda se espalha para a Justiça Eleitoral. A resolução com regras para a eleição do ano que vem mais parece um código penal que revoga a liberdade de expressão que os constituintes consagraram no artigo 220. As bocas e cérebros brasileiros ficaram sob tutores que definem a verdade e a mentira, estabelecendo a versão oficial.
Numa democracia é normal que haja interpretações diferentes de liberdade, autoridade, verdade. Faz parte dos entrechoques ideológicos e doutrinários. O que não é normal é que haja silêncio em relação a agressões sofridas pela lei das leis. Quem cala, consente. O AI-5 de 1968 perdurou até 1979. Os que hoje calam e consentem já pensaram o quanto estão sendo cúmplices na supressão da dissonante mas criativa voz da democracia?
Ex-atacante busca lucrar com temas ligados à sua própria vida. Craque, que anunciou a compra de 90% da equipe mineira, viu no mundo empresarial uma forma de seguir obtendo êxito após parar de jogar
Eugenio Goussinsky, Especial para o Estadão
A carreira de Ronaldo Nazário, 45 anos, como jogador se encerrou em 2011, mas, antes disso, ele já havia iniciado na atividade de empresário. Essa faceta o acompanha desde a segunda metade da trajetória dentro dos gramados. Mas, assim como um atleta, ele foi ganhando experiência, estofo, aprendendo a se posicionar cada vez melhor em sua área.
A vida empresarial de Ronaldo se iniciou formalmente em 1998, naquele que seria o seu ano mais difícil dentro de campo, quando teve uma convulsão antes da final da Copa do Mundo na França e, mesmo assim, entrou no jogo. O atacante parecia sentir que toda aquela cobrança, que chegava a afetar o seu bem-estar, tinha de ter um plano B, caso, por contusão, questão de saúde ou até um encerramento natural da carreira, fosse preciso gerir uma nova vida. A carreira de um jogador termina quando ele tem, em média, 35 anos. Algumas se prolongam por temporadas a mais. No caso de Ronaldo, ele anunciou sua aposentadoria aos 34 anos.
Então vieram empreendimentos como a boate R9, em 1998, já extinta, no Leblon, e o centro de fisioterapia R9, criado em 2002, após ele se recuperar de ruptura no joelho e ser campeão mundial, que se mantém ativo no Rio. Eram negócios ligados à própria vida de Ronaldo: o gosto pela diversão com amigos e a preocupação em cuidar do corpo, principalmente em relação à recuperação física. Ronaldo foi eleito três vezes o melhor jogador do mundo.
Já em 2010, em meio à sua trajetória no Corinthians, por onde atuou entre 2009 e 2011, após jogar no Milan, ele investiu na empresa de marketing 9ine, que passou a gerir a carreira de atletas e de artistas. Foi mais uma etapa em que ele espelhou novamente um tema ligado à própria vida: como lidar com as idas e vindas de uma carreira bem-sucedida, ou promissora, para que ela não se perdesse na empolgação e na falta de planejamento. A empresa também não teve continuidade. Ronaldo abria e fechava seus negócios, sempre sem revelar o tamanho dos investimentos. Ele sabia usar sua imagem e ela era uma porta aberta para parceiros e boa de divulgação. O carisma de Ronaldo também sempre o ajudou no futebol. Sabia que poderia levá-lo para outros negócios.
“Quando ele chegou ao Corinthians, ele já era gestor de um patrimônio empresarial grande. Tinha uma equipe que cuidava dos contratos dele e, como nenhum outro atleta, tinha uma consciência muito intensa sobre como utilizar os proventos que recebia. Essa consciência era voltada para lidar bem com questões de patrocínio, contratos, assuntos ligados diretamente à sua rotina de jogador. O engajamento empresarial, relacionado à gestão do futebol como um todo, veio depois que ele parou de jogar”, conta o economista Luis Paulo Rosenberg, ex-diretor de marketing do Corinthians e um dos maiores responsáveis pela contratação de Ronaldo em 2008.
ESTRATÉGIA DE MARKETING
A própria passagem de Ronaldo pelo Corinthians acabou dando muitos subsídios ao craque em sua atuação fora dos gramados. A iniciativa da diretoria corintiana, na época, serviu como uma prévia do que seria um clube-empresa, mais voltado a uma administração profissional.
Por alguns anos, o Corinthians passou a gerir enormes receitas de patrocínio que levaram o clube a sair da Série B do Campeonato Brasileiro e se tornar uma “potência mundial”, tanto do ponto de vista esportivo quanto de marketing. Tudo isso foi impulsionado pela chegada de Ronaldo, que deu início a uma nova era no Parque São Jorge. Até a festa de sua apresentação, sua chegada ao clube era tida com muita desconfiança. Mas Ronaldo viu no Parque São Jorge, além de jogar por mais alguns anos, uma oportunidade.
“Não sabia se a contratação do Ronaldo iria dar certo. Mas sabia que, se desse certo, seria um estouro, um marco. E deu. Marketing tem disso, é preciso se basear em alguns conceitos para levar um projeto adiante. E a base foi o parecer do médico, do técnico e do marketing”, diz.
Rosenberg conta que, na ocasião, o médico Joaquim Grava afirmou que a cirurgia do Ronaldo no joelho era reversível. O técnico Mano Menezes, consultado, disse que, mesmo acima do peso (nunca revelado), se Ronaldo jogasse 50% do que poderia tecnicamente, já seria o melhor do Brasil. E do ponto de vista do marketing, seria um bom negócio para todos.
“Foi uma coincidência entre questões médicas, técnicas e mercadológicas. E tudo deu certo porque o Ronaldo, que não era de se envolver pelas torcidas dos clubes anteriores, se apaixonou pela Fiel, que o impressionou”, afirma.
O ex-diretor conta que não aconselhou mais Ronaldo após o encerramento da carreira dele como jogador. “Não falei mais nada com o Ronaldo sobre negócios no futebol. Quando ele jogava pelo clube, em decisões econômicas mais sérias, ele me pedia opinião e eu ajudava.”
Já como aposentado e mais pesado, Ronaldo não teve uma experiência bem-sucedida ao adquirir em 2014 o controle do Fort Laudardale Strikers, antigo Miami F.C, um time de futebol (soccer) dos Estados Unidos, que acabou falindo. O ex-atacante, porém, manteve o perfil empreendedor e continuou expandindo seus negócios. Trocou o calção e a camisa de treino por terno e camisa social.
Atualmente, ele mantém a Ronaldo Academy, uma franquia de escolas de futebol com 25 unidades no Brasil e três no exterior; o Futebol Experience, um dos principais eventos digitais de futebol do mundo, e abriu outra empresa para orientar investimentos de atletas, a R9 Gestão Patrimonial e Financeira.
Também possui uma ONG, a Fundação Fenômenos, que desenvolve e apoia projetos sociais, cujas informações são veiculadas no canal Ronaldo TV, no twitch. “Quando a pandemia começou, o isolamento me levou a emergir com mais profundidade no mundo dos games. Passei a jogar mais e fui sentindo uma necessidade cada vez maior de me conectar com os fãs, interagir, retribuir. Assistir a lives também virou rotina, fui me interessando mais pelo universo virtual e pela forma como os jovens estão conectados, mudando hábitos e, consequentemente, padrões de consumo. Foi vivendo esse processo que surgiu a ideia da Ronaldo TV”, disse Ronaldo tempos atrás.
CLUBES EM DIFICULDADE
No início de 2021, Ronaldo inaugurou a Oddz Network, junto com os sócios Eduardo Baraldi, Otávio Pereira e Gabriel Lima. A empresa é uma holding (que tem participação acionária em outras empresas), em atividades que vão além das realizadas pela agência de marketing esportivo e entretenimento Octagon, também de propriedade do atacante.
Atuando em novos formatos de entretenimento, a Odzz trabalha com temas como big data, games, eSports, gestão e experiências esportivas, tecnologia e produção de conteúdo audiovisual.
Outra holding da qual Ronaldo é proprietário é a Tara Sports, sediada em Madri, na Espanha. A Tara já está atuando na gestão do Valladolid, clube que estava na primeira divisão, mas que caiu na temporada passada, do qual Ronaldo tem a maior parte das ações.
E, caso a compra seja concluída, foi a empresa que adquiriu os 90% do controle do Cruzeiro, negócio anunciado no último dia 18 por R$ 400 milhões, com a missão de pagar 60% da dívida do clube em seis anos. A dívida estimada é de R$ 1 bilhão.
Para Rosenberg, esse novo modelo no futebol é muito bem-vindo, mas, segundo ele, o ideal seria que fosse implementado antes em clubes com melhor saúde financeira. “O exemplo e a iniciativa são as certas, mas estão ocorrendo, neste momento, na direção errada. É lamentável os investidores chegarem para uma reestruturação financeira com clubes altamente endividados, tendo de começar pensando em até dar calote. O ideal seria começar por clubes que estão em melhores condições. Eles utilizariam o capital para crescer ainda mais, acrescentando na gestão. Mas, se nesse momento, pode servir para clubes como Cruzeiro e Botafogo, espero que seja uma boa saída”, observa.
Com a experiência de Ronaldo no Valladolid, Rosenberg acredita que o profissional, entre erros e acertos, está pronto para comandar a reestruturação do Cruzeiro. “Se tem alguém que pode impulsionar uma virada no Cruzeiro, esse alguém é o Ronaldo. Ele já adquiriu certa experiência e tem um ótimo suporte técnico. É a pessoa ideal. A paixão não atrapalha. É só ver o futebol inglês, totalmente apaixonado e profissional ao mesmo tempo. A torcida e o gestor querem títulos. Só que o gestor tem uma estratégia de longo prazo”, diz Rosenberg. Ronaldo sabe de tudo isso.
O Ronaldo empresário não tem o perfil de alguém intempestivo. Ele prima pela cautela, por pensar antes de falar e se cercar de profissionais mais qualificados do que ele para direcioná-lo. Diferentemente de suas características como jogador, com suas arrancadas, sua velocidade e explosão muscular, que, impetuosas, não deixavam rastro.
“Ronaldo é um empresário cauteloso, longe de ser precipitado ou desajuizado. Tem muito cuidado ao investir”, observa Rosenberg. Para ele, Ronaldo é um homem calculista, frio, que busca o momento certo para finalizar um negócio. Por isso, quando uma notícia é anunciada, ela até parece surpreendente, mas ele já juntou todas as peças e está mais do que seguro para realizá-la. No campo dos negócios, Ronaldo mais se parece com um zagueiro: seguro e só vai nas bolas boas.
Em um passado não muito distante, a sociedade já mostrou que é capaz de se unir quando precisa
Notas&Informações, O Estado de S.Paulo
Em algum ponto da história recente do País, a sociedade renunciou ao diálogo e passou a tratar o debate político como uma guerra de eliminação do “outro”, vale dizer, de qualquer um que não comungue dos mesmos valores, visões de mundo ou ideias para o futuro do Brasil. Há não muito tempo, o diálogo entre atores tidos como irreconciliáveis foi determinante para dar fim a crises tão severas que pareciam insolúveis. Desafortunadamente, isso parece ter se perdido.
A Constituição de 1988 é o exemplo maior de que a concertação civilizada em torno da miríade de interesses em jogo em uma sociedade complexa como a brasileira é possível. O País mal havia saído de uma ditadura que durou longos 21 anos. Decerto, havia forças muito poderosas que se recusavam a enxergar o alvorecer das liberdades. Contudo, ao final daquela Assembleia Constituinte, pode-se dizer que quase todas as forças políticas representadas no Congresso saíram com a percepção de que seus interesses, de alguma forma, foram contemplados pela Lei Maior. Em que pesem os problemas que remanescem no texto constitucional, em boa medida causados pelo afã dos constituintes em privilegiar direitos sobre deveres, o País deu um salto civilizatório com a promulgação da chamada “Constituição Cidadã”, filha legítima do diálogo entre os cidadãos e seus representantes.
O diálogo franco entre cidadãos, governo e o conjunto das forças representativas da sociedade – imprensa, igrejas, sindicatos, partidos políticos, universidades, etc. – também teve importância capital para debelar a hiperinflação que havia décadas transformava em pó a renda dos brasileiros do dia para a noite. Tratava-se, então, de uma crise longa e gravíssima. Pois é seguro afirmar que não haveria Plano Real caso forças antagônicas na arena política não pactuassem em torno de consensos mínimos, a começar pelo fato de reconhecerem a existência do problema da hiperinflação. Hoje, nem isso. Em nome da ideologia, diverge-se até do que é fato.
A capacidade de dialogar, ou seja, a compreensão de que aqueles que têm valores, visões de mundo e propostas para o País diferentes não são inimigos a serem eliminados, mas, antes, representantes de interesses legítimos de segmentos da sociedade que precisam ser ouvidos, é atributo fundamental da boa política.
Há quase uma década, o debate racional em torno de propostas para livrar o País de mazelas históricas, como a desigualdade e o baixo crescimento, está interditado por uma renhida peleja que nem sequer pode ser chamada de “disputa política”, pois se vê de tudo, menos a abertura ao diálogo da qual é pressuposto. Soluções legítimas e duradouras para os problemas nacionais – problemas estes que a política foi concebida justamente para resolver – só hão de surgir por meio do diálogo. Não há alternativa.
Urge, portanto, recuperar a capacidade da sociedade para dialogar sobre questões que afetam todos os cidadãos. O clima de guerra fratricida que se instalou no País, é preciso enfatizar, foi estimulado por lideranças políticas irresponsáveis que só triunfam em meio ao caos, em meio ao esgarçamento do tecido social, dividindo os brasileiros entre falanges. Não é uma condição inata da nacionalidade. A sociedade já demonstrou em outros momentos trevosos que é capaz de se unir quando precisa.
O ano que se avizinha será extremamente desafiador. A Nação assistirá a uma luta pelo poder como há muitos anos não via. A campanha eleitoral certamente será marcada não pelas mentiras que todo candidato conta, e sim por uma avalanche de desinformação destinada a embaralhar a noção de realidade e premiar os delinquentes políticos. Sendo assim, cada cidadão, no seio de sua família e no seu círculo de amizades, precisa criar barreiras para não se deixar influenciar por esses arautos da desunião. Em recente artigo no Estado, o vice-presidente da República, Hamilton Mourão, lembrou que “todas as esferas da vida só prosperam com diálogo civilizado e construtivo”. Com razão, Mourão exortou seus concidadãos a “superar a agenda do confronto, do ‘eu contra você’ e ‘nós contra eles’”.
Não se busca a concórdia absoluta, que só existe nos cemitérios, mas sim a recuperação do diálogo minimamente civilizado entre os cidadãos, o que já fará um bem enorme ao País.
Espaço deve ser aberto no ano que vem em Belterra, área no sudoeste do Pará às margens do Rio Tapajós, com metas de fomentar pesquisa, bioeconomia e turismo local
Emílio Sant’anna, O Estado de S.Paulo
Aos 18 anos, Diogo Noronha está no “centro do mundo”. O segundo dos cinco filhos de um minerador e de uma dona de casa não tem dúvidas que o futuro virá da floresta que ele se acostumou a ver desde que nasceu. Aluno do 1º ano de Direito, o jovem faz parte de um ambicioso projeto no meio da Amazônia. O rapaz foi escolhido, ainda no ensino médio, para ser um dos embaixadores do Museu de Ciência da Amazônia (MuCA) que será aberto em abril de 2022.
Instalado em Belterra, cidade de 20 mil habitantes a 1,2 mil quilômetros de Belém e no sudoeste do Pará, o museu é o primeiro passo para mudar a rota do lugar que, em 1934, Henry Ford escolheu para extrair borracha para os pneus dos carros da sua fábrica. O projeto está na antiga Vila Americana. Planejada de forma idêntica a uma cidade dos Estados Unidos do início do século 20, a vila tem casas padronizadas, com varandas e amplos jardins na frente.
Ali moravam os funcionários da empresa nos dez anos em que a empreitada (a segunda no Brasil do criador do Ford-T) durou na floresta. Na época, a instalação da vila atraiu mais moradores. “Minha avó veio do Ceará porque na época Belterra ficou famosa. Um dos melhores hospitais do Brasil estava aqui com médicos e equipamentos que vieram dos EUA”, conta Diogo.
A instalação do MuCA prevê reforma de casas, como a construída para o fundador da Ford (que nunca esteve na cidade) e que deverá abrigar um centro de cultura alimentar tapajônica. O projeto de restauro é do Studio Arthur Casas. “A casa do Ford vai virar um restaurante e um centro de cultura gastronômica da Cordon Bleu (rede internacional de ensino culinário)”, diz o coordenador geral do MuCA, Luiz Felipe Moura.
A estrutura que será instalada na vila inclui deques, bar, restaurante e área de convivência às margens do rio Tapajós. Eles se somarão ao centro de memória, igreja e outros pontos conservados no local.
Arthur Casas também projetou o interior do museu. “Vi potencial turístico muito grande ali”, diz Casas. “Queremos mostrar que a floresta em pé vale muito mais do que a soja.”
Impulso
A 20 quilômetros de Santarém, por onde a soja é escoada pelo porto, e de Alter do Chão, conhecido destino turístico da região Norte, Belterra é uma fronteira agrícola. “Grande parte dos trabalhadores rurais é informal”, afirma Diogo, que diz ver no museu um impulso para a indústria do turismo. “Quem vem a Alter do Chão costuma vir de barco para cá. Para mim, Belterra tem ainda mais atrativos, tem uma biodiversidade maior e a Floresta Nacional (Flona, área protegida federal) do Tapajós.”
Além de abrigar coleções da fauna e flora amazônica, o MuCA terá participação da Universidade Federal do Oeste do Pará (Ufopa) e outros objetivos, como estudar animais, plantas e microrganismos. “Será o primeiro laboratório avançado da selva”, afirma Moura.
Bioeconomia
Valorizar as cadeias de bioeconomia e gerar renda para a população local também estão no foco. Dados da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico(OCDE) apontam que o setor movimenta cerca de € 2 trilhões no mundo e gera mais de 22 milhões de empregos.
Até 2030, diz a entidade, a bioeconomia deve responder por 2,7% do Produto Interno Bruto (PIB) de seus países membros. Essa taxa pode ser maior conforme a biodiversidade local. No Brasil há mais de 100 mil espécies animais e 45 mil plantas identificadas.
O salário de Diogo, de cerca de R$ 1,8 mil, vem do Pagamento por Serviço Ambiental (PSA), mecanismo de remuneração de produtores rurais que mantêm a floresta em pé.
Um projeto piloto foi montado entre o MuCA e o governo federal para a produção de cacau, cúrcuma e gengibre na área da Flona do Tapajós. Em fase experimental, é o passo inicial para alavancar a produção com carbono zero e que prevê ainda desenvolver biocosméticos e fármacos.
A certificação de produtos e a ponte com a indústria serão outras atribuições do museu. Diretora para a América Latina da Biossance, empresa de biotecnologia e cosméticos, parceira do projeto, Camila Farnezi diz que o potencial da floresta pode ser aproveitado sem a extração em escala, com a reprodução de moléculas bioidênticas de plantas locais.
“É daqui que sairão respostas para problemas como as doenças que podem surgir e que já existem. Como estaremos preparados se não começarmos a fazer isso agora e manter a floresta em pé?”, destaca Diogo. “A Amazônia é o centro do mundo.”
Equipamento de R$ 51 bilhões que deve decolar hoje ajudará a investigar o Big Bang
Roberta Jansen, O Estado de S.Paulo
Mais de 30 anos depois do lançamento do telescópio espacial Hubble, que revolucionou nossa visão do Universo, a Nasa se prepara para um novo salto crucial na compreensão do cosmos. Neste Dia de Natal, a agência espacial americana lança o novo observatório James Webb. O observatório pretende detectar planetas capazes de abrigar vida, além de enxergar as primeiras luzes do Universo e a formação das primeiras estrelas e galáxias logo após o Big Bang – a explosão primordial que deu origem a tudo.
Desenvolvido pela Nasa, com a colaboração da Agência Espacial Europeia (ESA) e da Agência Espacial Canadense (CSA), o novo telescópio será lançado pelo foguete europeu Ariane 5, a partir da base da ESA em Kouru, na Guiana Francesa. O lançamento promete ser um dos mais tensos da história da Nasa, depois de décadas de atraso e vários reajustes orçamentários. Esses recálculos levaram a missão a um custo final inédito: R$ 51 bilhões.PUBLICIDADE
O projeto do telescópio, batizado com o nome de um antigo diretor da Nasa, já tem mais de 30 anos. Nesse tempo, enfrentou ameaças de cancelamento, adiamentos e obstáculos tecnológicos. Vários outros projetos científicos tiveram de ser cancelados para que a Nasa bancasse a construção do telescópio. Tanto assim que a Nature, uma das mais importantes revistas científicas do mundo, se referiu ao James Webb, em um texto de 2015, como “o telescópio que engoliu a astronomia“.
“O James Webb começou a ser planejado ainda na década de 1990, como um projeto curto e barato”, conta a astrônoma Duília de Mello, da Pontifícia Universidade Católica da América e colaboradora da Nasa. “Mas foi repensado, ganhou nova cara e bilhões de dólares a mais. Originalmente, deveria ter sido lançado em 2007.”https://arte.estadao.com.br/uva/?id=yAP6mz
Quando o telescópio subir ao espaço, os cientistas descobrirão se todos esses sacrifícios serão justificados ou foram em vão. Projetado para ser o substituto do telescópio Hubble – lançado em 1990 e ainda em funcionamento –, o James Webb é um instrumento bem maior, muito mais complexo e com metas mais ambiciosas. O novo telescópio não vai estudar a parte visível do espectro eletromagnético como fazem o Hubble e observatórios em operação na Terra. O JW captará a radiação em infravermelho.
“Há muitas razões para isso”, explicou ao jornal britânico The Guardian Gillian Wright, diretor do Centro de Tecnologia Astronômica de Edimburgo, no Reino Unido, que faz parte do projeto. “Para começar, o infravermelho é a parte perfeita do espectro para olhar através da poeira e isso é importante porque estrelas e planetas se formam em regiões cheias de poeira. Para quem quer entender onde e como outros sistemas solares se formaram, o James Webb vai oferecer dados cruciais”, afirmou.
Olhar no passado
Quanto mais distantes estão determinados objetos no espaço, suas luzes se tornam cada vez mais tênues e vermelhas, até que alcançam a parte infravermelha do espectro. Por isso, para estudar o primeiro capítulo da história do Universo – as primeiras estrelas a surgir –, é necessário um telescópio capaz de enxergar em infravermelho.
Importante lembrar que olhar para objetos muito distantes no espaço é mirar o passado. Por isso, o novo observatório funcionará como uma espécie de máquina do tempo.
Isso acontece porque, como a velocidade da luz no vácuo é de aproximadamente 300 mil metros por segundo, ela precisa viajar durante bilhões de anos pelo espaço para chegar à Terra (ou, mais precisamente, até as lentes do telescópio que focá-la).
Ou seja, a imagem que o observatório nos mostra é um retrato da estrela bilhões de anos atrás. É por isso que quando olhamos para muito longe observamos o que já passou. E é por isso também que, a partir dessas imagens, podemos estudar como as galáxias surgiram e como o próprio Universo evoluiu.
“O que podemos esperar da missão principal é ver as primeiras galáxias; o Webb sempre teve essa função de ver além do que o Hubble vê”, explica Duília de Mello. “Mas podemos esperar muito mais coisas, inclusive inesperadas, que é sempre mais legal.”
Infravermelho
O telescópio vai olhar também para o presente, em busca de outros planetas que possam abrigar formas de vida. A presença de determinadas substâncias químicas na atmosfera de um planeta, como o metano, por exemplo, é um indicador importante de sua capacidade de abrigar alguma forma de vida. A visão em infravermelho é fundamental para este tipo de análise.
“O James Webb não tem como saber se há, de fato, vida em um planeta”, explica Duília. “Mas ele consegue analisar a atmosfera dos planetas, buscar por composições químicas parecidas com a da Terra, se tem oxigênio, água, clorofila, substâncias que são sinônimos de vida em nosso planeta.”
Alguns observatórios terrestres operam em infravermelho, mas para observações de maior qualidade o telescópio precisa estar acima da atmosfera, que bloqueia uma grande parte da radiação infravermelha. E o James Webb vai estar bem acima, a 1,5 milhão de quilômetros da Terra. O Hubble está muito mais próximo. Fica a pouco mais de 500 quilômetros do nosso planeta.
Sem conserto
O que pode ser uma vantagem do Webb pode ser também um grande problema. Por causa da distância, não estão previstas missões tripuladas de apoio ao observatório, como já aconteceu com o Hubble. Ou seja, se algo der errado, ninguém vai poder ir até lá para consertar. A hipótese de o observatório apresentar algum tipo de problema que exija conserto não é totalmente descabida. Já aconteceu com o Hubble.
Para chegar até este ponto remoto e extremamente frio do espaço, o James Webb enfrentará uma jornada de grande risco. O Webb será “desdobrado” e montado em pleno voo. O processo será concluído em seis meses. Somente no fim deste período então os astrônomos vão descobrir se o James Webb será um grande triunfo da tecnologia ou o fracasso mais caro da história da agência espacial.