Governo decidiu fechar as fronteiras aéreas do país para seis países africanos devido a nova variante do coronavírus.| Foto: Albari Rosa/Gazeta do Povo
O Brasil vai fechar as fronteiras aéreas para passageiros vindos de seis países da África Austral: África do Sul, Botsuana, Eswatini (antiga Suazilândia), Lesoto, Namíbia e Zimbábue. A decisão, que começa a valer a partir da próxima segunda-feira (29), foi definida após o anunciou de uma nova variante da Covid-19, chamada de ômicron. O ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira, anunciou a iniciativa pelas redes sociais na noite desta sexta-feira (26).
A determinação deve ser publicada em uma edição extra do Diário Oficial da União deste sábado (27). Segundo Nogueira, a decisão foi tomada em conjunto pela Casa Civil e pelos ministérios de Infraestrutura, Saúde e Justiça. Mais cedo, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) recomendou a restrição de voos vindos dos seis países. A nova variante foi considerada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como uma “variante de preocupação” (VOCs), foi a quinta a receber essa classificação.
Bolsonaro diz que Brasil não aguenta novo lockdown e defende “medidas racionais” PorGazeta do Povo
Bolsonaro disse que se reuniu com presidente da Anvisa e chefe da Casa Civil para discutir necessidade de maior vigilância nas fronteiras.| Foto: Isac Nóbrega/PR
O presidente Jair Bolsonaro disse que o Brasil não aguenta um novo lockdown e defendeu “medidas racionais” para se proteger contra nova variante da Covid-19 surgida na África do Sul. “Temos que nos preparar. O Brasil, o mundo, não aguenta um novo lockdown. Vai condenar todo mundo à miséria e a miséria leva à morte também. Não adianta se apavorar. Encarar a realidade”, disse Bolsonaro, nesta sexta-feira (26), durante evento na Brigada de Infantaria Paraquedista, no Rio de Janeiro. “O lockdown não foi uma medida apropriada. Em consequência da política do ‘fique em casa e a economia a gente vê depois’, a gente está vendo agora. Problemas estamos tendo”.
Sobre a possibilidade de fechar fronteiras, o presidente disse que não tomará nenhuma medida irracional e citou a Argentina como exemplo ao confirmar ter se reunido com o presidente da Anvisa, Antônio Barra Torres, e o ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira, para tratar do assunto. A Anvisa recomendou restrições a voos vindos da África. “Quem vier de carro da Argentina para cá, entra sem problemas. Quem vier de avião, faz quarentena de quatro dias. Então, vou tomar medidas racionais”, afirmou. Com informações da Agência Brasil.
André Mendonça. ex-AGU, espera ter sua indicação ao STF aprovada por 50 votos, mas Davi Alcolumbre, presidente da CCJ, manobra nos bastidores estratégia para derrotar o aliado do presidente Jair Bolsonaro| Foto: Marcos Brandão/Senado Federal
Já foi mais favorável o clima no Senado para aprovar a indicação de André Mendonça, indicado pelo presidente Jair Bolsonaro ao Supremo Tribunal Federal (STF). O ex-ministro da Justiça e da Advocacia-Geral da União (AGU) calcula, hoje, ter entre 45 e 50 votos favoráveis de senadores, a mesma margem contabilizada pelo presidente da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), Davi Alcolumbre (DEM-AP), pela rejeição. Sinal de que há senadores “escondendo o jogo”, já que a soma é superior às 81 cadeiras da Casa.
Na CCJ, o “termômetro” político sugere uma vitória de Mendonça. Levantamento feito pelo jornal O Globo aponta que 15 dos 27 senadores da comissão é a favor de sua aprovação. O grande desafio será referendar a possível vitória no plenário, onde Alcolumbre diz a aliados ter 50 votos pela reprovação do indicado por Bolsonaro — são necessários pelo menos 41.
Nos bastidores do Senado, a leitura feita pelos parlamentares é de que a Casa está dividida e que Mendonça será aprovado “raspando” ou rejeitado “por pouco”. Mesmo senadores evangélicos — a principal base de apoio do ex-AGU — não está tão convicta de que ele chega aos 50 votos, mas poderia ser aprovado entre 41 votos, o mínimo necessário, e os 45 calculados por ele.
Os aliados de Mendonça no Senado entendem que, quando foi indicado, em agosto, ele estava em uma posição melhor que poderia garantir a confirmação de sua ida ao STF com alguma margem de votos. Entretanto, após três meses de sua sabatina travada na CCJ por Alcolumbre, alguns senadores admitem que todo esse estresse político diminuiu parte dessa sobra e tornou o cenário atual incerto.
Qual é a estratégia de Alcolumbre para derrotar Mendonça e o governo Embora esteja seguro de que André Mendonça não será aprovado em plenário, Davi Alcolumbre atua nos bastidores para ter a convicção de que isso acontecerá. A estratégia dele consiste em pedir que os senadores não compareçam em Brasília na terça-feira (30), data prevista para a sabatina na CCJ e votação em plenário, segundo dizem alguns senadores. Alcolumbre ainda não definiu a data.
Como o regimento do Senado determina voto secreto para a indicação de autoridades, os senadores precisarão votar presencialmente. Acontece, contudo, que, a partir de segunda-feira (29), tem início a greve dos aeronautas. Os pilotos e comissários de bordo aprovaram na quarta-feira (24) uma paralisação da categoria, que vai operar com 50% dos tripulantes por dia.
O timing da greve deu a Alcolumbre argumentos para defender nos bastidores a alguns senadores que não desembarquem em Brasília sob a justificativa de um atraso ou cancelamento do voo, segundo apurou a Gazeta do Povo junto a aliados de Mendonça. “O discurso do Davi é: ‘não vou pedir que não vote no André, vou pedir para que não venha a Brasília'”, relata um senador.
A estratégia de Alcolumbre é convocar os principais aliados para votar contra Mendonça e diminuir o quórum e a margem potencial de votos favoráveis ao indicado por Bolsonaro ao STF. A meta é impor uma derrota ao governo como resposta ao descumprimento de acordos firmados com o Palácio do Planalto por verbas de emendas parlamentares negociadas para ele e aliados que votaram a favor de Rodrigo Pacheco (PSD-MG) na eleição à presidência do Senado.
Mesmo com um quórum menor, Alcolumbre calcula que outras sabatinas previstas não seriam impactadas e os demais indicados pelo governo poderiam vir a ser aprovados. Na quarta-feira, ele disse que seguiria a decisão de Pacheco de, “no esforço concentrado, com o quórum adequado”, fazer a “sabatina de todas as autoridades que estão indicadas na comissão”.
Além da indicação de André Mendonça, também estão pendentes as sabatinas da desembargadora Morgana Richa para o Tribunal Superior do Trabalho (TST); a do juiz Daniel Carnio Costa para compor o Conselho Nacional do Ministério Público; e as indicações do ministro Luiz Felipe Vieira de Mello Filho, dos desembargadores Mauro Pereira Martins, Salise Monteiro Sanchotene, Jane Granzoto Torres da Silva, e dos juízes Marcio Luiz Coelho de Freitas, Roberto da Silva Fragale Filho e Richard Pae Kim, todas para compor o Conselho Nacional de Justiça (CNJ).
O que farão aliados de André Mendonça para garantir sua aprovação Cientes da tática de Alcolumbre, senadores aliados de André Mendonça e o próprio ex-ministro trabalham com uma contra-estratégia para assegurar um quórum significativo na terça-feira. A meta é levar entre 65 e 70 senadores na expectativa de obter pelo menos os 41 votos necessários.
A margem do quórum almejado está na faixa do número atingido na aprovação da indicação do ministro Kássio Nunes Marques, do STF, em 21 de outubro do ano passado. Mesmo no auge da pandemia, 68 senadores compareceram para votar. A diferença entre ambos, porém, é que o magistrado não tinha a rejeição de Mendonça e foi aprovado por 57 votos favoráveis contra 10 contrários.
O desafio da ala pró-Mendonça é assegurar a margem desejada. Levantamento feito pela Gazeta do Povo aponta que, nos últimos 30 dias, o quórum médio no plenário do Senado foi de 68 senadores. Se consideradas apenas as sessões com votações nominais em novembro, quando as sessões plenárias passaram a ser esvaziadas — a ponto de registrar um quórum de 59 senadores —, essa média cai para 66,5.
Os aliados de Mendonça sabem da queda de quórum em novembro e atuam para evitar isso. Em jantar organizado na segunda-feira (22) pela Frente Parlamentar Evangélica, senadores e o próprio ex-ministro de Bolsonaro, que também articula sua candidatura, acertaram a montagem de uma “força-tarefa” que ficará responsável por fazer a contagem de votos no fim de semana.
No sábado (27) e no domingo (28), Mendonça e senadores evangélicos vão se reunir em Brasília para fazer ligações a senadores da oposição à base governista a fim de confirmar que dia o parlamentar sairá de seu estado, em qual voo embarcará e se será possível contar com o voto. O objetivo é monitorar que congressistas eventualmente poderão ser atingidos pela greve dos aeronautas.
Caso algum senador sinalize que será impactado pela greve e demonstre a vontade de ir votar, o grupo pró-Mendonça se articula para mobilizar aviões para trazer os parlamentares a Brasília. A Gazeta do Povo apurou que pelo menos três senadores que têm aeronaves próprias se dispuseram a buscar congressistas na próxima semana, se necessário.
Além de Mendonça, outros no Senado atuam ou apoiam a aprovação de sua indicação, a exemplo dos senadores Vanderlan Cardoso (PSD-GO), Carlos Viana (PSD-MG), Daniella Ribeiro (PP-PB) e Esperidião Amin (PP-SC). Outro que trabalha favoravelmente nos bastidores pelo sucesso é o presidente da bancada evangélica, o deputado federal Cezinha de Madureira (PSD-SP). A expectativa desses parlamentares é pela aprovação, até porque mesmo alguns senadores independentes ou de oposição ao governo são favoráveis ao ex-AGU.
Uma avaliação feita por esses senadores que os leva a ter expectativas pela vitória no plenário é que, mesmo após três meses de espera, a imprensa não publicou reportagens que pudessem imputar algum escândalo envolvendo André Mendonça. “Se surgisse ou se vier a surgir alguma coisa que demonstre que o indicado é inidôneo ou não tem qualidades morais e de conhecimento, aí, a gente teria que soletrar antes de votar”, disse Amin, que afirmou seu voto a favor, em entrevista ao UOL. “A minha tendência é aceitar como regra que a indicação, que cabe ao presidente fazer, é idônea”, complementou.
A atuação do governo pelo sucesso da indicação de André Mendonça é criticada por alguns senadores da base governista. Desde outubro, o Palácio do Planalto trabalha sem um “plano B” ao ex-AGU e, mesmo assim, foi incapaz de flexibilizar a resistência de Alcolumbre, que destravou a pauta para atender a um pedido de Pacheco apenas após pressão da imprensa, de senadores e de ministros do STF.
“O próprio Ciro [Nogueira, ministro-chefe da Casa Civil e senador licenciado pelo PP] poderia ajudar mais do que apenas ser sinalizador de que essa [indicação de Mendonça] é a intenção do governo. Você sinalizar isso em uma sabatina que demorou três meses para acontecer, com o próprio André tendo que botar de porta em porta e contar os votos, não é a melhor forma de demonstrar empenho”, critica um senador.
Nos corredores do Senado, integrantes da liderança do governo garantem o entusiasmo em chancelar a vitória na CCJ e em plenário a Mendonça e que uma das melhores formas de fazer isso é cumprir os acordos pela aprovação da PEC dos precatórios, a proposta de emenda à Constituição 23/2021.
O texto ainda não tem acordo e enfrenta objeções até mesmo dentro da base aliada de alguns senadores que ameaçam votar contra o ex-AGU como retaliação à PEC dos precatórios. O esforço convenceu os parlamentares mais próximos de Mendonça. “O que o governo não faz pelo André, ele faz pela PEC dos precatórios, a estratégia é mais acintosa”, ironiza um interlocutor.
Bolsonaro garante que o governo atua para que Mendonça seja aprovado, mas pondera que, se não for aprovado, não há o que fazer. “Nós aqui estamos trabalhando, fazendo o máximo possível para que o senhor André Mendonça, pastor evangélico, advogado, jurista, ex-ministro da Advocacia-Geral da União, ex-ministro da Justiça, vá para o Supremo Tribunal Federal”, disse o presidente em entrevista à Rádio Sociedade da Bahia na quinta-feira (25).
Estátua em frente ao Supremo Tribunal Federal: ministro disse que Judiciário é o poder moderador.| Foto: Marcello Casal Jr/Agência Brasil
Quem quer que leia a Constituição vai perceber que decisões da mais alta corte não estão batendo com o que está escrito na lei maior. Essas discrepâncias vinham sendo comentadas nesses últimos tempos como denúncia de que algo está errado. Em Lisboa, num simpósio jurídico, o ex-presidente do Supremo, ministro Dias Toffoli, mostrou às claras o que vem acontecendo: o Supremo é o poder moderador da República. O poder moderador que tivemos foi na Constituição de 1824, em que o Imperador, estando acima dos poderes, poderia intervir em conflitos e manter a harmonia entre eles. Ele era o quarto poder. Se o Supremo, hoje, é o poder moderador, então ele abarca, ao mesmo tempo, dois poderes – mesmo sem ter, para isso, o voto que é a origem do poder.
O Imperador não fazia ativismo político, não alterava a Constituição, não inventava leis nem mandava prender, como tuitou o deputado Luiz Philippe de Orleans e Bragança. Ademais, há registro algum na Constituição a erigir um poder moderador – como afirmou a presidente da Comissão de Constituição e Justiça da Câmara, deputada Bia Kicis. O jurista Ives Gandra Martins, ao interpretar o art. 142 da Constituição, entende que esse poder é das Forças Armadas, como “garantia dos poderes constitucionais”. Não foi um ato falho do ministro Toffoli; afinal, ele estava falando de Lisboa para o Brasil; mais parece uma proclamação de que o poder moderador é o Supremo – embora sem apoio na Constituição e muito menos no voto.
Toffoli também afirmou que o sistema de governo no Brasil é o semipresidencialismo – embora ele tenha se referido ao adjetivo semipresidencial. Na terra de Camões poderia ser mais cuidadoso com a língua. Isso é verdade. A constituinte que acompanhei escreveu uma base de sistema parlamentar com uma emenda presidencial. E criou o seguinte princípio: o presidente, que tem a responsabilidade pelo governo, não tem os poderes para governar; o Congresso, que não tem essa responsabilidade, é que tem esses poderes. O presidente Sarney, no dia da promulgação, quando o entrevistei, disse: “Com esta Constituição, o Brasil fica ingovernável”. Ele foi o primeiro semipresidente. Nélson Jobim, que foi o relator executivo, me disse que os constituintes estavam sob a síndrome do autoritarismo, e enfraqueceram o chefe do Executivo.
É uma agressão à representatividade do povo, origem do poder, que o exerce diretamente ou por seus representantes eleitos, como está no primeiro artigo da Constituição. Ora, hoje, presidentes eleitos com mais da metade dos votos válidos nomeiam seus auxiliares e tomam decisões administrativas que têm sido vetadas pelo “poder moderador”. Não custa lembrar que no referendo pós-constituinte, o sistema presidencial teve 70% dos votos. O ex-presidente da Câmara Aldo Rebelo, ex-ministro do PT e ex-PCdoB, no seminário do Instituto Villas-Bôas, que conduzi sexta-feira, pregou um governo com presidente forte, com democracia “pois o Brasil não aceita ditadura de ninguém, de patrões ou trabalhadores, de militares ou do judiciário. Só democracia”. E democracia não comporta imperadores mandando nos poderes eleitos.
Ações para segurar as contas de luz em ano eleitoral incluem medida provisória que prevê novo empréstimo para as distribuidoras, a ser enviada na próxima semana
Marlla Sabino, O Estado de S.Paulo
BRASÍLIA – Para evitar um “tarifaço” nas contas de luz em 2022, ano de eleições presidenciais, o governo estrutura um novo socorro ao setor elétrico para reduzir os efeitos da crise hídrica. O novo empréstimo, que deve ficar em torno de R$ 15 bilhões, será usado para bancar medidas emergenciais para evitar falhas no fornecimento de energia, como o uso de térmicas ligadas nos últimos meses, a importação de energia de países vizinhos e até mesmo o desconto prometido aos consumidores que estão economizando energia.
O objetivo do financiamento é amenizar o aumento nas tarifas de energia no próximo ano e evitar um reajuste de 21%, como mostrou o Estadão. A fatura, no entanto, chegará no futuro, já que o empréstimo será diluído nas contas de luz em um prazo de quatro a cinco anos.
A operação de crédito será criada por meio de uma Medida Provisória (MP), prevista para ser publicada no início da próxima semana, e regulamentada por meio de decreto. A “Conta Escassez Hídrica” irá suportar todos os custos das medidas emergenciais adotadas pelo governo nos últimos meses para evitar apagão e até mesmo um racionamento de energia.
A estrutura é semelhante ao do socorro financeiro ao setor elétrico no ano passado por conta da pandemia do novo coronavírus, a chamada “conta-Covid”, que também será pago via conta de luz nos próximos anos. Apesar da similaridade, o cenário econômico do País mudou.
Entre as medidas está o programa de redução voluntária voltado para os consumidores atendidos pelas distribuidoras de energia, como os residenciais. O desconto prometido pelo governo foi de R$ 0,50 por cada quilowatt-hora (kWh) do volume de energia economizando dentro da meta de 10% a 20% nos quatros últimos meses de 2021 em relação ao mesmo período do ano anterior.
A regra prevê que o “bônus” será pago por meio de uma taxa de Encargos de Serviço do Sistema (ESS), pago por todos, incluindo os grandes consumidores do mercado livre, como as indústrias. Essa taxa é paga via bandeira tarifária –taxa adicional incluída na conta de luz para bancar o acionamento de usinas térmicas, que geram energia elétrica bem mais cara que as usinas hidrelétricas.
Na prática, o consumidor ainda pagará pelo próprio desconto de luz. Mas, a fatura agora será diluída nos próximos anos e não terá um impacto imediato em 2022. Assim como medidas mais drásticas, como limitar o uso de energia de forma compulsória, ou falhas no abastecimento, um reajuste muito alto em meio a corrida eleitoral poderia ter um custo político ao presidente Jair Bolsonaro, que deve tentar se reeleger.
Outra medida semelhante foi feita pelo governo, mas voltada para os grandes consumidores de energia. As indústrias que aceitaram reduzir o uso de energia em alguns dias da semana e horários, principalmente nos que têm mais demanda no sistema, receberam uma compensação financeira. “No final, o esforço da indústria para reduzir a demanda de eletricidade e, com isto, minimizar os efeitos da crise hídrica, acabou por aumentar os custos para consumidores cativos [aqueles atendidos pelas distribuidoras], únicos obrigados a pagar o empréstimo de que trata a MP. Em outras palavras, o benefício pode ter sido para todos, mas os custos ficaram com alguns, com os pequenos”, analisa o ex-diretor da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel)Edvaldo Santana.
O novo socorro tem como pano de fundo a decisão do governo de tentar segurar os valores das bandeiras tarifárias. Em agosto, já havia o diagnóstico de que os valores arrecadados não eram suficientes para arcar com todos os custos da crise hídrica e que seria necessário um novo reajuste no valor cobrado. Em tese, caberia apenas à agência reguladora do setor elétrico definir as tarifas de energia elétrica praticadas no País, mas o reajuste foi discutido em reunião da Câmara de Regras Excepcionais para Gestão Hidroenergética, extinto grupo criado pelo governo para debater as medidas de enfrentamento a serem adotadas. O colegiado era presidido pelo ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, mas contava com diversos outros ministros.
A intenção era evitar que a taxa adicional chegasse a cerca de R$ 15 a R$ 20 a cada 100 quilowatts-hora (kWh), valor defendidos pela área técnica como necessário para suportar os custos das medidas estabelecidas por conta da crise e evitar um rombo na conta Bandeiras. Após negociação, o governo anunciou a criação da bandeira “escassez hídrica” e estabeleceu uma cobrança de R$ 14,20 a cada 100 quilowatts-hora (kWh) consumidos – aumento de 49,63% em relação ao valor cobrado anteriormente, R$ 9,49 a cada 100 kWh. A previsão é de que a nova bandeira permaneça em vigor até 30 de abril de 2022.
Assim como previa a equipe técnica da agência reguladora, os recursos não são suficientes para bancar todas as medidas emergenciais adotadas pelo governo nos últimos, o que justifica a nova operação de socorro. De acordo com dados da Aneel, a conta Bandeiras registra rombo acumulado de R$ 9,86 bilhões até setembro. Mesmo com o início das chuvas em alguns locais do País, o que aliviou parcialmente os problemas que o setor elétrico enfrenta nos últimos meses, a avaliação é que a operação ainda está longe da normalidade e ainda não garante “conforto” para a situação. A expectativa é que os custos no próximo ano também devem permanecer elevados por, pelo menos, alguns meses.
Bruno Araújo não vê ex-juiz da Lava Jato como rival e afirma estar certo de que partido chegará ao segundo turno na disputa ao Planalto
Marcelo de Moraes, O Estado de S.Paulo
BRASÍLIA — Com a retomada das prévias tucanas neste sábado, 27, o presidente do PSDB, Bruno Araújo, avalia que o candidato escolhido pelo partido será competitivo na disputa pelo Palácio do Planalto e não enxerga o ex-juiz da Lava Jato Sérgio Moro como rival. Na avaliação de Araújo, o novo político do Podemos é alguém que vai “jogar junto”.
“Moro é visto como um agente catalisador do campo do centro, e não como adversário. Ele é visto como um protagonista que vai jogar junto para permitir que haja um segundo turno diferente dessa polarização”, disse Araújo, numa referência às pesquisas que indicam o presidente Jair Bolsonaro e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva como os dois polos da corrida de 2022.PUBLICIDADE
Araújo não mencionou, no entanto, se poderia haver uma dobradinha do PSDB com Moro e quem, nesse caso, lideraria a chapa na corrida ao Planalto. As eleições internas que vão indicar, com voto dos filiados, o nome preferido pelos tucanos para concorrer à Presidência são disputadas pelos governadores João Doria (São Paulo), Eduardo Leite (Rio Grande do Sul) e pelo ex-prefeito de Manaus Arthur Virgílio. As prévias foram interrompidas no domingo passado, 21, após um problema no aplicativo de votação. Tanto a equipe de Doria como a de Leite cantam vitória.
Depois de um desempenho pífio do PSDB em 2018, quando o ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin obteve menos de 5% dos votos na eleição presidencial, Araújo diz haver tempo suficiente para a candidatura tucana decolar e chegar ao segundo turno. “Em 2022, nosso desempenho vai ser justamente o contrário do que houve em 2018”, afirmou ele.
O PSDB não demorou demais para colocar o bloco na rua com sua candidatura ?
Sobre pôr o bloco na rua, primeiro digo que Bolsonaro e Lula já são candidatos desde que começou o mandato. Bloco na rua posto é o do PSDB, que em abril convocou prévias. Fora a exposição do presidente da República, nenhum candidato tem tido o grau de exposição ou feito campanha como os três candidatos do PSDB. E, de modo especial, os dois governadores que têm um grau de visibilidade maior, como é o caso de João Doria e Eduardo Leite. Agora, o escolhido vai ter de demonstrar capacidade pessoal de liderança, vocação de aglutinação, fazer os primeiros movimentos de construção de unidade interna. E, à sua maneira, começar a dialogar agora com os demais protagonistas.
Existem dúvidas no meio político se uma candidatura tucana terá musculatura suficiente para decolar. Como o senhor vê esse ceticismo?
Quais são as três características mais importantes da definição de um candidato pelas prévias? Uma é o pioneirismo de fazer um evento que legitime, de forma tão poderosa, como não tínhamos experimentado em nenhum partido até agora. Dois é a possibilidade de termos a forma mais igualitária de buscar esse voto interno, com todos os desafios e problemas que estamos experimentando em termos de tecnologia. E três é ter feito (as prévias) com antecedência de um ano do processo eleitoral. Então, um ano é um tempo calibrado para permitir que o candidato não se exponha à chuva e ao sol de forma demasiada e suficiente para chegar com as costuras e a exposição necessárias. Agora, precisamos de tempo para entender até maio, junho do ano que vem, como todo o quadro se consolida. É importante entender que, na tradição do eleitorado, um candidato que nunca disputou uma eleição nacional só vai atingir conhecimento faltando 15 dias para as eleições.
Não existe risco de o PSDB repetir 2018, quando houve a expectativa de que Alckmin ia decolar em algum momento e esse momento não chegou?
Em 2022 vai ser justamente o contrário. Nós temos números muito parecidos entre os candidatos do campo do centro e a confiança de que, mais perto da eleição, haverá a migração do voto útil para uma candidatura do PSDB ter a possibilidade de vencer contra quem for para o segundo turno.
A candidatura de Sérgio Moro preocupa o PSDB?
Acho que a candidatura do Moro tem um papel muito importante nesse papel de discussão e construção. Moro é visto como um agente catalisador do campo do centro, e não como adversário. Ele é visto como um protagonista que vai jogar junto para permitir que haja um segundo turno diferente dessa polarização.
Times mais ricos do País colhem frutos de reestruturação financeira iniciada por ex-presidentes; decisão em Montevidéu opõe os últimos campeões continentais
Ricardo Magatti, enviado especial/Montevidéu, O Estado de S.Paulo
Dominantes no futebol sul-americano, Flamengo e Palmeiras decidem neste sábado, às 17h, no estádio Centenário, em Montevidéu, quem será campeão da Libertadores pela terceira vez. Os times ganharam o título continental nos dois últimos anos e duelam para ampliar o domínio na América do Sul. Essa hegemonia só foi possível graças ao processo de reestruturação financeira pelo qual passaram as duas equipes. Elas se organizaram e hoje orgulham-se de disputar e vencer títulos com frequência.
A situação confortável financeira que os dois têm hoje, com a possibilidade de trazer nomes de peso para os elencos, é resultado da reconstrução iniciada no Flamengo em 2013, com o ex-presidente Eduardo Bandeira de Mello, e em 2015 no Palmeiras, a partir da gestão de Paulo Nobre. Os dirigentes não estão mais à frente dos clubes, mas os seus sucessores deram prosseguimento aos trabalhos e o cenário hoje é positivo.
Se no começo da remodelação, foi necessário montar elencos sem grandes estrelas para ajustar as contas, hoje os plantéis são recheados de bons jogadores que decidem jogos e campeonatos. Flamengo e Palmeiras são os clubes mais ricos do País e tudo leva a crer que continuarão sendo pelos próximos anos.
“Ambos clubes fizeram a lição de casa, que no futebol brasileiro significa reduzir a dívida e pagar salários em dia. Além disso, aumentaram bem seu faturamento, especialmente no caso do Flamengo. Mantidas essas premissas, tendem a continuar brigando nacionalmente e internacionalmente pelos títulos de todas as competições que disputem”, diz Eduardo Carlezzo, advogado especializado em gestão esportiva.
O Palmeiras se aproximou dos R$ 700 milhões em arrecadação em 2018, viu a receita cair em 2020 em virtude dos efeitos da pandemia, com um déficit de R$ 150 milhões, mas registra um superávit acumulado em 2021 de R$ 83,5 milhões e deve ampliar seu faturamento em 2022. O patrocínio da Crefisa e da FAM rende R$ ao menos 80 milhões anualmente – pode chegar a R$ 120 dependendo das metas alcançadas. O Flamengo prevê obter receita superior a R$ 1 bilhão ao final de 2021.
Os dois investiram alto em contratações nos últimos anos, embora atualmente trabalhem de formas diferentes no mercado, já que o Flamengo permanece gastando muito para se reforçar com atletas importantes, como David Luiz e Andreas Pereira que vieram neste ano.
Enquanto que o Palmeiras “fechou a torneira” em razão da política de austeridade nos últimos dois anos e passou a dar mais espaço para os jovens formados em sua base, casos, por exemplo, de Patrick de Paula, Danilo e Wesley. Mas isso pode mudar com Leila Pereira na presidência. Certo é que, independentemente de quem sair vitorioso em Montevidéu, ambos vão continuar fortes e soberanos no futebol do continente.
O Flamengo joga sua terceira decisão continental. Venceu as outras duas que disputou, em 1981 (em Montevidéu, curiosamente), e em 2019, em Lima, no Peru. Esta é a sexta final de Libertadores na história do Palmeiras. Primeiro clube brasileiro a chegar à decisão do torneio (em 1961, contra o Peñarol-URU), o clube paulista é o que mais vezes alcançou a fase decisiva da competição, ao lado do São Paulo – foi campeão em 1999 e 2020 e vice-campeão em 1961, 1968 e 2000.
O time rubro-negro teve um caminho mais tranquilo para alcançar a final. No mata-mata, deixou pelo caminho rivais inferiores: o argentino Defensa y Justicia, o paraguaio Olimpia e o equatoriano Barcelona de Guayaquil. O Palmeiras, ao contrário do fez na edição passada, teve de enfrentar adversários tradicionais, como Atlético-MG e São Paulo.
“Viemos pelo caminho mais difícil e estamos aqui de novo, por mérito e estratégia. Os jogadores têm competência e qualidade. Essa equipe já provou que está pronta para escrever a história”, afirmou Abel Ferreira.
ESCALAÇÕES
O Flamengo jogou sem força máxima em boa parte das últimas partidas. No entanto, houve tempo hábil para os lesionados se recuperarem e Renato Gaúcho mandará o que tem de melhor para a decisão. O problema de Rodrigo Caio foi só um susto, Arrascaeta está recuperado de lesão muscular e Pedro, apto a jogar depois de passar por artroscopia no joelho há um mês. “Não posso dizer quem está 50% ou 100%, mas todo o meu grupo está à disposição”, limitou-se a dizer Renato Gaúcho.
Arrascaeta deve ser titular, enquanto que Pedro inicia entre os reservas, bem como Michael, um suplente de luxo que na ausência do uruguaio mostrou que pode ser muito útil no duelo decisivo. O único desfalque é o zagueiro Léo Pereira, suspenso pelo acúmulo de cartões amarelos. Se disponível, ficaria como opção no banco de suplentes.
O Palmeiras também joga com o que tem de melhor, ou quase isso, pois está sem seu lateral-direito titular. Marcos Rocha, suspenso, dá lugar a Mayke, melhor marcador do que Gabriel Menino, jovem que também é opção para a posição. Abel naturalmente não entregou a escalação, mas confirmou que Felipe Melo será titular.
Para parar o Flamengo, bem como fez com o Atlético-MG nas semis, o treinador deve usar três volantes: Felipe Melo, Zé Rafael e Danilo. Se isso acontecer, Gustavo Scarpa, meia que tem sido decisivo na frente com suas assistências, mas ajuda pouco na marcação deixa a equipe. Melo, capitão do time, também pode atuar mais recuado, em uma linha de três zagueiros em alguns momentos do jogo.
FICHA TÉCNICA
FLAMENGO – Diego Alves; Isla, Rodrigo Caio, David Luiz e Filipe Luís; Willian Arão, Andreas Pereira, Éverton Ribeiro e Arrascaeta; Bruno Henrique e Gabriel. Técnico: Renato Gaúcho.
PALMEIRAS – Weverton; Mayke, Gómez, Luan e Piquerez; Felipe Melo, Zé Rafael, Gustavo Scarpa (Danilo), Raphael Veiga e Dudu; Rony. Técnico: Abel Ferreira.
Você sente que o dia está lotado de afazeres, mas ao fim dele a sensação é de não ter concluído nada? Lygia Pontes, consultora em produtividade responde dúvida do leitor sobre o tema
Redação, O Estado de S.Paulo
Gabriel Novaes, São Paulo
Responde Lygia Pontes, consultora em produtividade e felicidade no trabalho
O que acontece geralmente é que as pessoas não veem a lista de tarefas, de pendências diminuir, uma vez que elas fazem aquela lista gigante que nunca diminui. Isso dá a sensação de frustração.
Outro problema é a dificuldade para dar foco no que é prioridade. Assim, as pessoas acabam fazendo um monte de coisas, mas ficam com aquela tensão de que não fizeram o que deveriam ter feito. Se pergunte qual será o impacto dessa atividade no seu futuro e na sua felicidade. Isso vai te ajudar a definir o que é urgente ou não.
É importante também prestarmos atenção em como a gente funciona – tanto como indivíduo profissional como na dinâmica do trabalho. Se, por exemplo, você é muito interrompido no período da manhã, não dá para querer fazer atividades que exijam mais atenção.
Para sermos produtivos, primeiro precisamos ter o mapeamento detalhado de tudo o que fazemos na nossa vida, desde as tarefas simples, pessoais – como molhar as plantinhas –, até as mais complexas, caso do trabalho. A partir disso, é legal ter uma estimativa de quanto tempo cada tarefa leva. Mesmo que você chute, na prática você vai percebendo, de fato, quanto tempo leva.
Se você perceber que passou desse horário, ou você não está fazendo no seu melhor momento de concetração ou você estimou errado e é preciso aceitar isso, porque é muito comum a gente se comparar. Mas é preciso saber o tempo que precisa para você, não tem essa de muitas ou poucas horas. Diminuir essa realidade, além de gerar angústia em você, vai gerar frustração na pessoa que depende dessa sua tarefa.
Eu sempre recomendo planejar a rotina semanal, e colocar tudo que deve ser feito em um local só. Isso além de organizar, te dá mais flexibilidade, pois caso você não consiga uma tarefa que pode ser adiada mas estava arcada para hoje, você pode anecipar tarefas do dia seguinte. Concluir as tarefas antes do prazo podem dar um sentimento de satifação, além da sensação de que você é dono do seu tempo, uma vez que é comum a sensação de que sempre estamos fazendo as coisas para os outros.
Lembrando sempre que existem dias e dias. Há aqueles atípicos. Por isso ao fim de cada dia, é legal olhar o que foi planejado e o que você realmente conseguiu fazer para, assim, entender as dificuldades. Isso vai te trazer informações para que você possa se organizar melhor.
Sempre começe pelo mais simples. Ao invés de aprender a usar outro aplicativo de organização, vá com o que funcionou para você até hoje: agenda de papel, planilhas de Excel ou calendário do celular. Algo que você não tenha que aprender a mexer, pois colocar em prática uma nova forma de organizar o seu dia já é muito desgastante. Porém use a mesma agenda para a vida pessoal e a profissional – muita coisa se mistura no dia a dia.
Também é bom evitar os papeis soltos ou post-its. Tudo que você anota em qualquer lugar tem que ir para a sua principal agenda de organização. Para incentivar a produção, tenha um ritual de conclusão para celebrar cada vez que uma tarefa for feita. Seja riscar a atividade na lista de papel, tomar um cafézinho ou dar uma volta pela casa.