Times mais ricos do País colhem frutos de reestruturação financeira iniciada por ex-presidentes; decisão em Montevidéu opõe os últimos campeões continentais
Ricardo Magatti, enviado especial/Montevidéu, O Estado de S.Paulo
Dominantes no futebol sul-americano, Flamengo e Palmeiras decidem neste sábado, às 17h, no estádio Centenário, em Montevidéu, quem será campeão da Libertadores pela terceira vez. Os times ganharam o título continental nos dois últimos anos e duelam para ampliar o domínio na América do Sul. Essa hegemonia só foi possível graças ao processo de reestruturação financeira pelo qual passaram as duas equipes. Elas se organizaram e hoje orgulham-se de disputar e vencer títulos com frequência.
A situação confortável financeira que os dois têm hoje, com a possibilidade de trazer nomes de peso para os elencos, é resultado da reconstrução iniciada no Flamengo em 2013, com o ex-presidente Eduardo Bandeira de Mello, e em 2015 no Palmeiras, a partir da gestão de Paulo Nobre. Os dirigentes não estão mais à frente dos clubes, mas os seus sucessores deram prosseguimento aos trabalhos e o cenário hoje é positivo.
Se no começo da remodelação, foi necessário montar elencos sem grandes estrelas para ajustar as contas, hoje os plantéis são recheados de bons jogadores que decidem jogos e campeonatos. Flamengo e Palmeiras são os clubes mais ricos do País e tudo leva a crer que continuarão sendo pelos próximos anos.
“Ambos clubes fizeram a lição de casa, que no futebol brasileiro significa reduzir a dívida e pagar salários em dia. Além disso, aumentaram bem seu faturamento, especialmente no caso do Flamengo. Mantidas essas premissas, tendem a continuar brigando nacionalmente e internacionalmente pelos títulos de todas as competições que disputem”, diz Eduardo Carlezzo, advogado especializado em gestão esportiva.
O Palmeiras se aproximou dos R$ 700 milhões em arrecadação em 2018, viu a receita cair em 2020 em virtude dos efeitos da pandemia, com um déficit de R$ 150 milhões, mas registra um superávit acumulado em 2021 de R$ 83,5 milhões e deve ampliar seu faturamento em 2022. O patrocínio da Crefisa e da FAM rende R$ ao menos 80 milhões anualmente – pode chegar a R$ 120 dependendo das metas alcançadas. O Flamengo prevê obter receita superior a R$ 1 bilhão ao final de 2021.
Os dois investiram alto em contratações nos últimos anos, embora atualmente trabalhem de formas diferentes no mercado, já que o Flamengo permanece gastando muito para se reforçar com atletas importantes, como David Luiz e Andreas Pereira que vieram neste ano.
Enquanto que o Palmeiras “fechou a torneira” em razão da política de austeridade nos últimos dois anos e passou a dar mais espaço para os jovens formados em sua base, casos, por exemplo, de Patrick de Paula, Danilo e Wesley. Mas isso pode mudar com Leila Pereira na presidência. Certo é que, independentemente de quem sair vitorioso em Montevidéu, ambos vão continuar fortes e soberanos no futebol do continente.
O Flamengo joga sua terceira decisão continental. Venceu as outras duas que disputou, em 1981 (em Montevidéu, curiosamente), e em 2019, em Lima, no Peru. Esta é a sexta final de Libertadores na história do Palmeiras. Primeiro clube brasileiro a chegar à decisão do torneio (em 1961, contra o Peñarol-URU), o clube paulista é o que mais vezes alcançou a fase decisiva da competição, ao lado do São Paulo – foi campeão em 1999 e 2020 e vice-campeão em 1961, 1968 e 2000.
O time rubro-negro teve um caminho mais tranquilo para alcançar a final. No mata-mata, deixou pelo caminho rivais inferiores: o argentino Defensa y Justicia, o paraguaio Olimpia e o equatoriano Barcelona de Guayaquil. O Palmeiras, ao contrário do fez na edição passada, teve de enfrentar adversários tradicionais, como Atlético-MG e São Paulo.
“Viemos pelo caminho mais difícil e estamos aqui de novo, por mérito e estratégia. Os jogadores têm competência e qualidade. Essa equipe já provou que está pronta para escrever a história”, afirmou Abel Ferreira.
ESCALAÇÕES
O Flamengo jogou sem força máxima em boa parte das últimas partidas. No entanto, houve tempo hábil para os lesionados se recuperarem e Renato Gaúcho mandará o que tem de melhor para a decisão. O problema de Rodrigo Caio foi só um susto, Arrascaeta está recuperado de lesão muscular e Pedro, apto a jogar depois de passar por artroscopia no joelho há um mês. “Não posso dizer quem está 50% ou 100%, mas todo o meu grupo está à disposição”, limitou-se a dizer Renato Gaúcho.
Arrascaeta deve ser titular, enquanto que Pedro inicia entre os reservas, bem como Michael, um suplente de luxo que na ausência do uruguaio mostrou que pode ser muito útil no duelo decisivo. O único desfalque é o zagueiro Léo Pereira, suspenso pelo acúmulo de cartões amarelos. Se disponível, ficaria como opção no banco de suplentes.
O Palmeiras também joga com o que tem de melhor, ou quase isso, pois está sem seu lateral-direito titular. Marcos Rocha, suspenso, dá lugar a Mayke, melhor marcador do que Gabriel Menino, jovem que também é opção para a posição. Abel naturalmente não entregou a escalação, mas confirmou que Felipe Melo será titular.
Para parar o Flamengo, bem como fez com o Atlético-MG nas semis, o treinador deve usar três volantes: Felipe Melo, Zé Rafael e Danilo. Se isso acontecer, Gustavo Scarpa, meia que tem sido decisivo na frente com suas assistências, mas ajuda pouco na marcação deixa a equipe. Melo, capitão do time, também pode atuar mais recuado, em uma linha de três zagueiros em alguns momentos do jogo.
FICHA TÉCNICA
FLAMENGO – Diego Alves; Isla, Rodrigo Caio, David Luiz e Filipe Luís; Willian Arão, Andreas Pereira, Éverton Ribeiro e Arrascaeta; Bruno Henrique e Gabriel. Técnico: Renato Gaúcho.
PALMEIRAS – Weverton; Mayke, Gómez, Luan e Piquerez; Felipe Melo, Zé Rafael, Gustavo Scarpa (Danilo), Raphael Veiga e Dudu; Rony. Técnico: Abel Ferreira.
ÁRBITRO – Néstor Pitana (Argentina)
HORÁRIO – 17h
LOCAL – Estádio Centenário, em Montevidéu
TV – SBT, Fox Sports e Conmebol TV.
Nenhum comentário:
Postar um comentário