sexta-feira, 22 de outubro de 2021

HIDROGÊNIO UM DOS COMBUSTÍVEIS DO FUTURO

 

  1. Internacional 
  2. The New York Times Life/Style 

A indústria tem promovido o hidrogênio como combustível confiável e de última geração para fazer carros funcionarem, aquecer residências e gerar eletricidade. Mas ele pode ser pior para o clima do que se pensava

Hiroko Tabuchi, The New York Times – Life/Style, O Estado de S.Paulo

Ele é visto por muitos como a energia limpa do futuro. Bilhões de dólares do projeto de lei de infraestrutura bipartidária foram direcionados para financiá-lo.

Mas um novo estudo revisado por pares sobre os efeitos climáticos do hidrogênio, a substância mais abundante no universo, lança dúvidas sobre seu papel no combate às emissões de gases de efeito estufa que são o motor do catastrófico aquecimento global.

NYT - Life/Style (não usar em outras publicações).
Motorista enche seu Toyota Mirai, um veículo movido a hidrogênio, em Fountain Valley, Califórnia, em outubro de 2020.  Foto: Philip Cheung/The New York Times

A maior pedra no caminho: a maior parte do hidrogênio usado hoje é extraído do gás natural em um processo que exige muita energia e emite grandes quantidades de dióxido de carbono. A produção de gás natural também libera metano, um gás de efeito estufa particularmente potente.

E ainda que a indústria de gás natural proponha capturar este dióxido de carbono – criando o que ela promove como hidrogênio “azul”, livre de emissões – mesmo esse combustível ainda emite mais ao longo de sua cadeia de abastecimento do que simplesmente queimar gás natural, de acordo com o artigo, publicado em agosto na revista Energy Science & Engineering por pesquisadores das universidades Cornell e Stanford.  

“Chamá-lo de combustível de emissão zero é totalmente errado,” disse Robert Howarth, um biogeoquímico e cientista de ecossistemas em Cornell e principal autor do estudo. “Descobrimos que ele nem mesmo é um combustível de baixa emissão.”

Para chegar a essa conclusão, Howarth e Mark Jacobson, professor de engenharia civil e ambiental em Stanford e diretor de seu programa Atmosfera/Energia, examinaram as emissões de gases de efeito estufa do ciclo de vida do hidrogênio azul. Elas foram responsáveis tanto pelas emissões de dióxido de carbono quanto pelo metano que vaza de poços e outros equipamentos durante a produção de gás natural.

Os pesquisadores presumiram que 3,5% do gás perfurado do solo vaza para a atmosfera, uma suposição baseada em pesquisas crescentes que descobriram que a perfuração por gás natural emite muito mais metano do que se sabia anteriormente.

Eles também levaram em conta o gás natural necessário para alimentar a tecnologia de captura de carbono. Ao todo, eles descobriram que a pegada de gás de efeito estufa do hidrogênio azul era mais de 20% maior do que a queima de gás natural ou carvão para aquecimento. (A execução da análise em uma taxa de vazamento de gás muito mais baixa de 1,54% reduziu apenas ligeiramente as emissões, e as emissões do hidrogênio azul ainda permaneceram mais altas do que simplesmente queimar gás natural.)

Essas descobertas podem alterar o cálculo para o hidrogênio. Ao longo dos últimos anos, a indústria de gás natural começou a promover o hidrogênio como um combustível confiável e de última geração para fazer os carros funcionarem, aquecer residências e queimar em usinas de energia.

Nos Estados Unidos, na Europa e em outros lugares, a indústria também apontou o hidrogênio como justificativa para continuar a construir infraestrutura de gás como gasodutos, dizendo que os tubos que transportam gás natural podem no futuro transportar uma mistura mais limpa de gás natural e hidrogênio.

Embora muitos especialistas concordem que o hidrogênio possa eventualmente desempenhar um papel no armazenamento de energia ou no abastecimento de certos tipos de transporte – como aeronaves ou caminhões de longa distância, onde mudar para energia elétrica a bateria pode ser desafiador – existe um consenso emergente de que uma economia mais ampla de hidrogênio que depende do gás natural possa ser prejudicial ao clima. (Com os custos atuais, também seria muito caro.)

Hydrogen Council, um grupo da indústria fundado em 2017 que inclui BP, Shell e outras grandes empresas de petróleo e gás, não fez comentários imediatos. Um relatório da McKinsey & Co. em coautoria com grupos da indústria estimou que a economia do hidrogênio poderia gerar US $140 bilhões em receita anual até 2030 e sustentar 700.000 empregos. O estudo também projetou que o hidrogênio poderia atender a 14% da demanda total de energia dos EUA até 2050. A BP não quis comentar.

Em Washington, o último pacote de infraestrutura bipartidária dedica US $8 bilhões à criação de centros regionais de hidrogênio, uma provisão originalmente apresentada como parte de um projeto de lei separado do senador Joe Manchin, da Virgínia Ocidental, uma importante região produtora de gás natural. Entre as empresas que fizeram lobby por investimentos em hidrogênio estava a NextEra Energy, que propôs uma fábrica piloto de hidrogênio movida a energia solar na Flórida.

Alguns outros democratas, como Jamie Raskin de Maryland, resistiram à ideia, chamando-a de “promessa vazia”. Grupos ambientalistas também criticaram os gastos. “Não é uma ação climática”, disse Jim Walsh, analista sênior de política energética da Food & Water Watch, um grupo sem fins lucrativos com sede em Washington. “Este é um subsídio aos combustíveis fósseis com o Congresso agindo como se estivessem fazendo algo para o clima, enquanto apoia o próximo capítulo da indústria de combustíveis fósseis.”

Jack Brouwer, diretor do National Fuel Cell Research Center da Universidade da Califórnia, em Irvine, disse que o hidrogênio, em última análise, precisaria ser feito usando energia renovável para produzir o que a indústria chama de hidrogênio verde, que utiliza energia renovável para dividir a água em suas partes constituintes, hidrogênio e oxigênio. Isso, ele disse, eliminaria os fósseis e os vazamentos de metano.

O hidrogênio feito de combustíveis fósseis ainda poderia atuar como um combustível de transição, mas, em última análise, seria “um pequeno contribuinte para a economia global sustentável do hidrogênio”, ele disse. “Primeiro usamos o azul, depois transformamos tudo em verde”, ele disse.

Hoje, muito pouco hidrogênio é verde, porque o processo envolvido – a eletrólise da água para separar os átomos de hidrogênio do oxigênio – é muito intenso em termos energéticos. Na maioria dos lugares, simplesmente não há energia renovável suficiente para produzir grandes quantidades de hidrogênio verde. (Embora, se o mundo realmente começar a produzir energia renovável em excesso, convertê-la em hidrogênio seria uma forma de armazená-la.)

Amy Townsend-Small, professora associada em ciência ambiental da Universidade de Cincinnati e especialista em emissões de metano, disse que mais cientistas estão começando a examinar algumas das alegações da indústria sobre o hidrogênio, da mesma forma que estudaram os efeitos da produção de gás natural no clima. “Acho que essa pesquisa vai impulsionar a conversa”, ela disse. /TRADUÇÃO LÍVIA BUELONI GONÇALVES

The New York Times Licensing Group – Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito do The New York Times

TECNOLOGIA E ESTUDOS CIENTÍFICOS

 

Leandro Reinaux, CEO da Even3

A série Stranger Things é considerada um fenômeno mundial, e, uma das mais vistas na Netflix nos últimos tempos.

A Plataforma da Netflix lançou recentemente o trailer oficial da nova temporada que promete estrear no começo de 2022. Mas, para relembrar alguns fatos interessantes que ligam à série à realidades do mundo científico, temos uma sugestão de pauta, onde abordamos alguns fatos curiosos e interessantes que a série aborda, que podem tirar algumas dúvidas dos telespectadores.

Além disso, a ideia é mostrarmos como a tecnologia é crucial nesses pontos, junto da relevância dos estudos científicos para a sociedade.

Três fatos que a série Stranger Things pode ensinar sobre estudos científicos

Especialista em conteúdos acadêmicos comenta fatos científicos derivados da série que atingiu a marca de 64 milhões de espectadores em menos de um mês na Netflix

O teaser da próxima temporada de Stranger Things foi divulgado recentemente. A série aborda diversas questões sobre um mundo paralelo em que ocorrem experiências científicas de natureza diversa. Pensando nisso, Leandro Reinaux, CEO da Even3, startup que simplifica eventos online e conta com uma frente dedicada à veiculação de trabalhos acadêmicos, abordou 3 fatos científicos derivados de episódios que reforçam a importância das pesquisas e divulgações científicas.

Para Leandro, a divulgação científica tem como objetivo tornar a educação e o conhecimento mais populares, viabilizando melhorias significativas no dia a dia. “Por isso, na Even3, temos uma frente dedicada à veiculação de trabalhos acadêmicos, para publicação de artigos, trabalhos e pesquisas científicas, com objetivo de promover a conexão entre pessoas e conhecimentos”, comenta o CEO. Confira abaixo alguns exemplos tirados de Stranger Things:

Mundo invertido: Realidades Paralelas

Em Hawkins, cidade que se passa a série, o “Mundo Invertido” é como o real, porém, apresentado de uma forma sombria. Lá vivem diversas criaturas desconhecidas, sendo possível o contato delas com o mundo real em momentos específicos. E essa concepção vem de uma teoria real da física chamada: A Interpretação de muitos mundos (ou IMM). É uma interpretação da mecânica quântica que propõe a existência de múltiplos “universos paralelos”.

O Buraco de Minhoca

O termo buraco de minhoca (wormhole em inglês) foi criado pelo físico teórico estadunidense John Archibald Wheeler em 1957 e vem de uma analogia usada para explicar o fenômeno. Pela lógica, um viajante que passasse por um buraco de minhoca pegaria um atalho para o lado oposto do universo através de um túnel incomum, e, com isso, podemos concluir que o Buraco de Minhoca é uma forma de acessar uma dimensão diferente da nossa.

Esse ponto de vista é abordado por Albert Einstein e Nathan Rosen. A partir da Teoria da Relatividade Geral, supondo que esse caminho entre as dimensões se concretizasse, uma viagem no tempo e no espaço seria possível, realizando o sonho de vários filmes de ficção científica.

O Campo magnético da Terra

O professor Clarke explica que não é possível fazer viagens interdimensionais devido à enorme quantidade de energia necessária. Porém, um dos meninos observou que a bússola estava sempre apontando para o laboratório, o que nos leva a definir que a abertura de um portal no espaço-tempo precisa de muita energia, gerando um campo magnético próprio atraindo a bússola. Portanto, a produção desse campo magnético em uma menor escala pelos Buracos de Minhoca é o que torna possível encontrar esses portais que ligam as dimensões em Stranger Things.

Lembrando que o único que pode ser provado é o Campo Magnético pelo uso da bússola, por exemplo. Tanto a Teoria das Realidades Paralelas quanto o Buraco de Minhoca se apresentam como um campo muito fértil de estudo na Física.

ValeOn UMA STARTUP INOVADORA

A Startup ValeOn um marketplace que tem um site que é uma  Plataforma Comercial e também uma nova empresa da região do Vale do Aço que tem um forte relacionamento com a tecnologia.

Nossa Startup caracteriza por ser um negócio com ideias muito inovadoras e grande disposição para inovar e satisfazer as necessidades do mercado.

Nos destacamos nas formas de atendimento, na precificação ou até no modo como o serviço é entregue, a nossa startup busca fugir do que o mercado já oferece para se destacar ainda mais.

Muitos acreditam que desenvolver um projeto de inovação demanda uma ideia 100% nova no mercado. É preciso desmistificar esse conceito, pois a inovação pode ser reconhecida em outros aspectos importantes como a concepção ou melhoria de um produto, a agregação de novas funcionalidades ou características a um produto já existente, ou até mesmo, um processo que implique em melhorias incrementais e efetivo ganho de qualidade ou produtividade ao negócio.

inovação é a palavra-chave da nossa startup. Nossa empresa busca oferecer soluções criativas para demandas que sempre existiram, mas não eram aproveitadas pelo mercado.

Nossa startup procura resolver problemas e oferecer serviços inovadores no mercado.

Nossos contatos: Fones: (31) 3827-2297 e (31) 98428-0590 (Wpp)

E-MAIL: valeonbrasil@gmail.com

Site: https://valedoacoonline.com.br/

quinta-feira, 21 de outubro de 2021

RELATÓRIO DA CPI AINDA VAI TER APROVAÇÃO FINAL

 

66 indiciados
Por
Olavo Soares – Gazeta do Povo
Brasília

Parecer final da CPI da Covid com 67 indiciados foi apresentado nesta quarta-feira pelo relator Renan Calheiros.| Foto: Edilson Rodrigues/Agência Senad

A sessão da CPI da Covid do Senado desta quarta-feira (20), em que o senador Renan Calheiros (MDB-AL) leu o seu relatório final dos trabalhos, foi encerrada com aplausos e trocas mútuas de elogios entre os parlamentares que comandam o colegiado. O ambiente simboliza o fim do racha registrado na cúpula da CPI no início da semana, e indica a tendência de aprovação do documento de 1.180 páginas na votação agendada para a próxima terça-feira (26).

O parecer da CPI sugere o indiciamento do presidente Jair Bolsonaro por nove crimes: epidemia com morte como resultado; infração de medida sanitária preventiva; charlatanismo; incitação ao crime; falsificação de documento particular; emprego irregular de verbas públicas; prevaricação; crimes contra a humanidade; e crimes de responsabilidade.

A comissão pede também o indiciamento de duas empresas e de mais 65 pessoas, dentre integrantes e ex-integrantes do governo, políticos, médicos e pesquisadores, influenciadores digitais, empresários, executivos e lobistas de empresas. Entre eles, seis ministros e ex-ministros do governo, como o atual titular da Saúde, Marcelo Queiroga, e o ex-ministro Eduardo Pazuello.

O relatório apresentado por Renan Calheiros ainda pode passar por modificações até a votação de terça, e o senador disse “estar aberto às contribuições” dos demais membros da comissão. Mas a expectativa é que as mudanças, se existirem, ocorram no sentido de acrescentar novas responsabilizações no texto, e não de atenuar culpas ou excluir personagens. Segundo o vice-presidente da comissão, Randolfe Rodrigues (Rede-AP), “não há possibilidade regimental” de que novas sugestões alterem de modo significativo o relatório e ocasionem outra modificação na agenda da comissão.

O racha entre os senadores do chamado G7, grupo de congressistas que faz oposição ao presidente Jair Bolsonaro e é majoritário na CPI, se deu após trechos do relatório de Renan vazarem à imprensa no fim de semana. Os parlamentares se queixaram de alguns pontos do texto e também do fato de não terem sido ouvidos antes de o documento ter ido a público. Renan negou ter sido o responsável pelo vazamento, mas disse não ter visto problemas no incidente e até ter identificado um ponto positivo no episódio, por ter possibilitado o “antecipamento da discussão”.

Nesta quarta, os senadores do G7 procuraram enfatizar que as divergências ocorridas no grupo se deram dentro da normalidade de uma equipe formada por membros de diferentes partidos. Eles também buscaram expor a ideia que a exclusão do indiciamento de Bolsonaro por homicídio e por genocídio de indígenas, como constava na versão inicial do texto, se deu por uma decisão de critério técnico, não por um “favor” ao presidente da República. “Um relatório que imputa crimes que podem gerar 78 anos de prisão não tem como ser fraco”, declarou Randolfe.

O presidente da CPI, Omar Aziz (PSD-AM), disse, em seu discurso que encerrou os trabalhos da comissão nesta quarta, que o relatório elaborado por Renan “deixava de ser o relatório da CPI para se tornar o relatório das vítimas da Covid”. “Eu até poderia discordar do senador Renan, mas deixei claro que votaria com ele. Porque é isso que se faz no grupo”, afirmou.

Aziz foi um dos principais críticos à conduta de Renan após os vazamentos do fim de semana. O presidente da CPI chegou a insinuar que o emedebista era o responsável pela divulgação prévia do documento, e que teria feito o ato com motivações políticas.


Senadores da CPI querem manter o grupo “unido”
Após a aprovação do relatório, a cúpula da CPI planeja uma série de ações para continuar em evidência e, nas palavras de Randolfe, manter o grupo unido.

Entre elas está a entrega do texto ao procurador-geral da República, Augusto Aras, e ao presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL). Ambos são, de acordo com a legislação, as únicas figuras autorizadas a abrir processos contra o presidente da República — no caso do deputado, trata-se do processo por crime de responsabilidade, que pode culminar no impeachment.

Segundo Randolfe, “qualquer autoridade que receber o relatório terá dificuldade extrema de arquivar” o texto. Ele afirmou que os senadores “não deixaram nenhuma brecha de reparo técnico” no documento.

Os parlamentares também planejam levar o relatório ao Ministério Público de São Paulo, que investiga as acusações ligadas ao plano de saúde Prevent Senior, e ao Tribunal Penal Internacional, sediado em Haia (Países Baixos).

Randolfe acrescentou que outra medida para “manter o grupo unido” será a criação de um observatório de políticas públicas de combate à Covid-19. A instituição foi sugerida pela senadora Zenaide Maia (Pros-RN), durante as sessões da CPI.


Leia mais em: https://www.gazetadopovo.com.br/republica/apos-cpi-contornar-racha-qual-perspectiva-de-aprovacao-do-relatorio-final/
Copyright © 2021, Gazeta do Povo. Todos os direitos reservados.

O QUE PODE ACONTECER APÓS OS INDICIAMENTOS DA CPI

 

Depois do relatório

Por
Renan Ramalho – Gazeta do Povo
Brasília

Senador Renan Calheiros apresenta o relatório final da CPI da Covid no Senado| Foto: Edilson Rodrigues/Agência Senad

A proposta de indiciamento de 66 pessoas e duas empresas apresentada nesta quarta-feira (20) pelo relator da CPI da Covid, Renan Calheiros (MDB-AL), ainda tem um longo caminho a percorrer até uma eventual punição: precisará antes ser aprovada pelos demais senadores da comissão e depois ser enviada para diferentes ramos do Ministério Público (MP), a quem compete analisar o material e decidir se denuncia ou não os investigados.

Caberá depois à Justiça aceitar essas acusações (se considerar que há indícios suficientes de autoria e materialidade dos crimes ou outros tipos de ilícito) e então abrir (ou não) processos penais ou de improbidade no qual réus poderão se defender até o julgamento final, pela condenação ou absolvição.

O relatório da CPI assemelha-se a um relatório de um inquérito policial, que reúne fatos e condutas que podem ser enquadrados como infrações, sugerindo punições. É o MP, no entanto, que tem poder para ajuizar as ações nos tribunais e batalhar pelas condenações.

Nesta quarta, após a leitura do relatório final, o vice-presidente da CPI, Randolfe Rodrigues (Rede-AP), informou que, na próxima quarta-feira (27), dia seguinte à votação do texto pela comissão, seus membros irão entregá-lo pessoalmente ao procurador-geral da República, Augusto Aras, chefe do MPF e que tem a prerrogativa exclusiva de denunciar o presidente Jair Bolsonaro (acusado de sete crimes comuns), quatro ministros do governo e sete parlamentares que também têm foro privilegiado no Supremo Tribunal Federal.

Na semana seguinte, o plano é entregar o relatório às Procuradorias da República (unidades do MPF) do Distrito Federal e do Amazonas, bem como ao MP de São Paulo e a CPIs criadas na Câmara Municipal e na Assembleia Legislativa do estado (que já investigam o plano de Saúde Prevent Senior, acusado de utilizar o tratamento precoce em pacientes).

“Qualquer autoridade que receber esse relatório terá uma dificuldade imensa de arquivá-lo”, disse Randolfe, destacando os últimos ajustes que foram feitos na noite desta terça-feira (19) por senadores, para, segundo ele, “não deixar nenhuma brecha de reparo técnico”. “Aqueles que têm a pretensão de arquivar, seja quem for, terão enormes dificuldades para fazê-lo do ponto de vista técnico-jurídico, do ponto de vista político, do ponto de vista da satisfação que se espera ter de toda a sociedade brasileira”, enfatizou o senador.

Cada ramo do MP aproveitará a parte do relatório que lhe cabe, dependendo da competência do juiz ou tribunal apropriado para julgar cada pessoa. Algumas unidades já possuem investigações próprias em curso — o MPF do Distrito Federal, por exemplo, já investiga o ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello por improbidade e suposta omissão na colapso de oxigênio em Manaus, bem como repasses da pasta para outros estados e municípios. Nesses casos, o material da CPI servirá de suporte.

Descobertas inéditas, que ainda não são objeto de apurações dentro do MP, poderão ensejar novos inquéritos. De qualquer modo, os procuradores que forem designados para analisar o relatório poderão aprofundar as investigações, inclusive com auxílio da polícia e sob a supervisão de juízes.

PGR já analisou conduta de Bolsonaro
A acusação mais grave que pesa contra Bolsonaro é a de causar epidemia, crime que consiste na “propagação de germes patogênicos” e cuja pena pode alcançar 30 anos de prisão, se houver morte. Os demais crimes comuns pelos quais o presidente é acusado (infração de medida sanitária preventiva, charlatanismo, incitação ao crime, falsificação de documento particular, emprego irregular de verbas públicas e prevaricação) somam mais 48 anos de pena máxima.

A maioria dessas acusações, no entanto, já foram apresentadas à PGR na forma de notícias-crime, protocoladas por políticos e cidadãos comuns no STF contra Bolsonaro. Em algumas delas, Aras e subprocuradores ligados a ele descartaram a ocorrência dos crimes.

No ano passado, por exemplo, o vice-procurador-geral da República, Humberto Jacques de Medeiros, pediu ao então ministro Marco Aurélio Mello para arquivar uma dessas ações, que pedia a abertura de inquérito contra Bolsonaro pelo crime de epidemia e de desobediência, em razão de sua participação em eventos com aglomerações em Brasília, no início da pandemia. Ele argumentou que não havia qualquer recomendação médica de isolamento de Bolsonaro, nem determinação do governo federal ou distrital de restrição a eventos públicos. Mencionou ainda testes negativos do presidente para o novo coronavírus, à época.

Em fevereiro deste ano, em resposta a um pedido de investigação de deputados do PCdoB, Aras informou ao STF que já havia aberto uma apuração preliminar na PGR sobre suposta prevaricação e exposição a perigo, por parte de Bolsonaro e Pazuello, no colapso de saúde no Amazonas. Ele pediu, porém, apenas uma investigação sobre o ex-ministro, isentando Bolsonaro no caso. Um mês antes, ele emitiu nota dizendo que eventual punição do presidente em razão de sua atuação na pandemia deveria ocorrer num processo de impeachment, por suposto crime de responsabilidade.

Na última segunda-feira (18), outra auxiliar de Aras, a subprocuradora Lindôra Araujo, manifestou-se no STF contra a investigação de Bolsonaro por infração de medida sanitária preventiva e emprego irregular de verbas públicas. Opinou acerca de uma notícia-crime ajuizada pelo PT em razão da participação de Bolsonaro sem máscaras em motociatas. Ela disse que o presidente já está sendo punido com multas aplicadas pelos municípios e que uma punição penal não seria adequada.

Várias dessas acusações foram repetidas no relatório da CPI e caberá à PGR analisá-las novamente. A diferença é que agora há material adicional e maior pressão política. Questionado sobre a postura de Aras nesta quarta, o presidente da comissão, Omar Aziz (PSD-AM), mandou o recado: “Nós não vamos permitir que nenhum cidadão, seja a autoridade que for, ache que pode engavetar esse relatório. Esse relatório vai ser debatido pelo Brasil, nas universidades, vai ser usado como tese para mestrados. Esse relatório passa a não ser mais da CPI, mas das vítimas da Covid, dos sequelados”, disse o senador.

Caso a PGR e os ramos do MPF não apresentem as denúncias, os senadores pretendem mobilizar associações de familiares das vítimas da Covid e a Ordem dos Advogados do Brasil para apresentarem ações penais privadas subsidiárias da pública, isto é, apresentadas por vítimas quando há inação do Ministério Público. Nesses casos, porém, o MP é chamado a opinar sempre sobre todas as fases do processo, recomendando ao juiz do caso arquivar caso considere que não há crimes a serem punidos.


“Relatório alternativo” acusa CPI de parcialidade e diz que Bolsonaro lutou por vacinação
CPI imputa a Bolsonaro crimes contra a humanidade e de responsabilidade
No caso dos crimes de responsabilidade e contra a humanidade imputados a Bolsonaro, as acusações deverão ser feitas, respectivamente, junto ao presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), e ao Tribunal Penal Internacional (TPI), sediado em Haia, na Holanda. Ambos já receberam denúncias semelhantes às formuladas pela CPI contra Bolsonaro, mas nunca aceitaram abrir processos.

Aliado de Bolsonaro, Lira já descartou várias vezes abrir um processo de impeachment. Nesta semana, na última declaração sobre o assunto, afirmou que não há apoio popular para a destituição do mandato. “Estamos a um ano das eleições, o que ia resolver?”

O TPI, por sua vez, pode demorar anos para analisar uma denúncia e só abre um processo se verificar que a Justiça do país é incapaz de punir autoridades responsáveis por atos graves, como extermínio, perseguição e outros atos desumanos contra a população indígena, como acusa a CPI. Para a configuração desse crime, é preciso comprovar a intenção de exterminar um grupo étnico, racial ou religioso, por exemplo. Uma apuração preliminar sobre isso é feita por um procurador do próprio tribunal; só se ele considerar que há elementos suficientes, propõe a abertura de um processo a uma câmara composta por 3 dos 18 juízes do tribunal.
Leia mais em: https://www.gazetadopovo.com.br/republica/o-que-vem-apos-os-indiciamentos-na-cpi-da-covid-proximos-passos/
Copyright © 2021, Gazeta do Povo. Todos os direitos reservados.

SENADORES OPOSIONISTAS IMPUTAM CRIMES AO GOVERNO E ESQUECEM DOS SEUS PRÓPRIOS CRIMES

 

Relatório final
CPI imputa crimes aos outros sem olhar para o próprio umbigo

Por
Alexandre Garcia – Gazeta do Povo

O relator da CPI, Renan Calheiros (MDB-AL), fez ontem a leitura dinâmica do seu parecer final| Foto: Edilson Rodrigues/Agência Senad

O senador Renan Calheiros (MDB-AL) fez nesta quarta-feira (20) a leitura das mais de mil páginas do relatório final da “CPI do espanto”, ou melhor, da “CPI da ficção”. Espanto porque o próprio relator que imputa crimes a outras pessoas é investigado e processado no Supremo Tribunal Federal. O presidente da CPI, Omar Aziz (PSD-AM), é outro que também é investigado. A mulher e os três irmãos dele chegaram a ser presos acusados de desvio na área da saúde de R$ 100 milhões na época em que Aziz foi governador do Amazonas.

A CPI da ficção, que não investigou o que realmente aconteceu, termina sem apurar nada sobre crimes ligados à pandemia. Agora está aí um relatório que inclusive será alvo de processo. O líder do governo na Câmara, Ricardo Barros (PP-PR), vai processar Renan Calheiros e enquadrá-lo por abuso de autoridade, e sobretudo, por denunciação caluniosa.

O artigo 339 do Código Penal, que trata dos crimes contra a administração da justiça, diz que é crime “acionar indevidamente ou movimentar irregularmente a máquina estatal de persecução penal, fazendo surgir contra alguém um inquérito ou processo imerecido”. Todo mundo sabe que calúnia é atribuir um crime a alguém que não tem nada a ver. Dá de 2 a 8 anos e multa.

Por isso, os senadores que estavam fora do grupo dos 7 fizeram uma carta de repúdio. O senador Eduardo Girão (Podemos-CE), que foi o autor do requerimento para criação da CPI com mais assinaturas, 45 no total, queria investigar realmente o que aconteceu na pandemia. Mas só investigaram o que previa o outro requerimento, com um total de 30 assinaturas, do senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), que acabou vice-presidente da CPI.

Nesta quarta, Girão disse que a CPI foi covarde, que não investigou estados e municípios, e que em 67 sessões ignorou um símbolo nacional da corrupção da pandemia, que foi o Consórcio do Nordeste.

Campanha de apoio ao circo
O governo federal lançou uma campanha de apoio nacional ao circo chamada “Respeitável Circo”. Objetivo é orientar palhaços, trapezistas, malabaristas, mágicos e artistas em geral sobre assistência social, saúde e educação pública, além de ajudar na instalação do circo nos municípios.

A campanha criou um selo chamado “Município Amigo do Circo”, que vai premiar a cidade que facilitar a vida da trupe circense, recebendo um prêmio no Dia do Circo. Tudo isso inserido na cultura. São cerca de 2 mil circos no Brasil, sendo 1,9 mil pequenos circos familiares.

A voz do povo é a voz de Deus
E enquanto a CPI gritava em Brasília, o presidente Jair Bolsonaro andava pelo Nordeste, saudado por multidões no Ceará e depois no Rio Grande do Norte. No Ceará foi no Vale do Jaguaribe, em Russas, para lançar o Ramal do Salgado. Ele estava fazendo um discurso dizendo que não conseguia se afastar das pessoas, quando o povo começou a gritar “Renan, vagabundo”. Bolsonaro afirmou: “a voz do povo é a voz de Deus”.

Depois o presidente fez uma chegada de surpresa em Baraúna (RN), onde teve a mesma recepção. Já nesta quinta-feira (21), estará em Sertânia (PE), para abrir um novo ramal de água que vai irrigar 68 municípios da região.

Por fim, o Auxílio Brasil
O ministro da Cidadania, João Roma, entrou em detalhes sobre o Auxílio Brasil, que não vai ficar abaixo de R$ 400. O programa vai substituir o Bolsa Família para 17 milhões de famílias pobres a partir do mês que vem.

Leia mais em: https://www.gazetadopovo.com.br/vozes/alexandre-garcia/cpi-imputa-crimes-aos-outros-sem-olhar-para-o-proprio-umbigo/
Copyright © 2021, Gazeta do Povo. Todos os direitos reservados.

DITADOR SAUDITA COMPRA TIMES DE FUTEBOL

 


  1. Brasil
     

Time de futebol Newcastle United foi comprado por ditador sanguinário, Mohammed Bin Salman, por centenas de milhões de euros

André Fran*, O Estado de S. Paulo

Desde criança sou aficionado por futebol, mas nunca imaginei que um dia estaria na arquibancada do Riade Stadium, na Arábia Saudita, para conferir o clássico local entre Al-Itihad e Al-Hilal. Na verdade, minha missão ali era registrar um momento histórico que pouco tinha a ver com a disputa em campo. Pela primeira vez as mulheres sauditas tinham sido autorizadas a assistir no estádio a uma partida de futebol. 

Mohammed Bin Salman, o MBS, havia assumido o comando do país por meio de um golpe em que mandou prender (tudo bem que num hotel cinco estrelas) boa parte de seus opositores (e familiares) e essa concessão às mulheres fazia parte de um inédito plano de reformas liberais. Mas a verdade era muito mais sinistra do que seu sorriso de líder bonachão conseguia esconder. As mulheres no estádio, por exemplo, na verdade eram previamente selecionadas, ficavam isoladas do resto da torcida e deviam permanecer cobertas da cabeça aos pés. Algo similar ocorreu com a liberação para mulheres dirigirem. Se por um lado parecia que a Arábia Saudita finalmente seguia o resto do mundo (foram o último país do mundo a encerrar essa proibição), por outro a ativista que lutou por esse direito ironicamente não estava atrás do volante mas atrás das grades de uma prisão. O reino saudita nunca permitiu a entrada de turistas. Mulheres só podiam viajar ao país acompanhadas ou com a autorização de um homem responsável. Mas, com as novas reformas, vistos passaram a ser concedidos para ocasiões especiais como os torneios de golfe, provas de automobilismo e até shows de música que o país passou a receber. Algo até então impensável.

Bin Salman tentava passar a imagem de reformista e moderado com esse verniz de “transformação” quando o objetivo na verdade era variar a economia de seu país tão dependente do petróleo. E a Arábia Saudita seguia como uma das ditaduras mais fechadas, opressoras e sanguinárias do mundo. Em minha passagem pelo país, visitei a praça onde são decapitados opositores, supostos terroristas, adúlteros e infiéis sem direito à defesa ou julgamento adequado. Registrei a perseguição a homossexuais e a discriminação contra mulheres. Falei da repressão implacável aos ativistas e dos crimes de guerra praticados no Iêmen. Das violações de direitos humanos e do extremismo religioso. E, claro, permaneci o tempo todo preocupado por saber do assassinato de Jamal Khashoggi. O jornalista saudita assassinado dentro da embaixada de seu país em Istambul em uma operação cruel que contou com o envolvimento de MBS.PUBLICIDADE

príncipe saudita Mohammed bin Salman Arábia Saudita
Príncipe herdeiro Mohammed Bin Salman, da Arábia Saudita, compra time de futebol inglês Foto: Bandar Algaloud Handout/EPA, via Shutterstock

Mas confesso que durante os 90 minutos daquela partida de futebol minha mente desligou um pouco da triste realidade à minha volta. Mesmo com a baixa qualidade do espetáculo. Não que isso fosse estranho para mim, uma vez que torço para o Botafogo. Nós, botafoguenses, fomos forjados assistindo perebas em campo e temos o caráter formado pelas decepções esportivas.  Eu poderia reclamar com meu pai por me condenar a esse destino de sofrimento, mas o coitado passou por coisa ainda pior: ele fez parte da famosa geração que encarou 21 anos sem um título. Mas os laços criados entre pai e filho torcendo (e sofrendo) juntos supera tudo. E estávamos presentes no Maracanã em 1989 quando nosso pesadelo acabou com uma vitória contra o Flamengo na final do Campeonato Carioca. O heróico escrete que encerrou o capítulo mais triste da história do Botafogo havia sido montado por Emil Pinheiro, banqueiro do jogo do bicho que construiu um império na contravenção. Poderia ser uma controversa mancha em nossa história, mas essa relação promíscua não é exclusividade alvinegra. Talvez o mais famoso fora-da-lei envolvido no futebol seja Castor de Andrade, verdadeiro “capo” dos subúrbios cariocas que elevou o humilde Bangu à finalista do Brasileirão. Recentemente, personagens menos românticos também tiveram destaque por aqui. O iraniano Kia Joorabichian e o magnata russo Boris Beresovsky, da suspeita empresa MSI, alçaram com seus investimentos o Corinthians a campeão brasileiro de 2005. Até serem obrigados a deixar o país quando uma investigação do Ministério Público pediu o bloqueio de suas contas por lavagem de dinheiro e formação de quadrilha. Esse tipo de expediente não é exclusividade do Brasil e ganhou proporções gigantescas conforme o futebol foi se profissionalizando e movimentando somas vultosas no mundo todo.

Na Inglaterra, por exemplo, o Manchester City virou clube grande depois que foi comprado por Mansour Bin Zayed, membro da família real da ditadura dos Emirados Árabes. O Paris Saint-Germain contratou alguns dos maiores jogadores do mundo, como Mbappe, Neymar e Messi, graças à fortuna de seu dono, Nasser Al-Khelaïfi, ligado à ditadura do Qatar. E assim voltamos à Arábia Saudita e Mohammed Bin Salman. MBS, que possui uma fortuna dezenas de vezes maior que a dos donos de City e PSG, decidiu entrar na onda e comprar o tradicional Newcastle United, da Premier League. O ditador garante que não vai interferir nas decisões do clube, mas ele também afirma ser inocente no caso Khashoggi, né? Por ora, só há duas certezas: que essa é mais uma das medidas de “sportswashing” de MBS, uma forma de tentar limpar a imagem de seu país com objetivos meramente econômicos e que a torcida do Newcastle está empolgada como nunca. Um clube mediano e de origem operária foi comprado por uma ditadura sanguinária por centenas de milhões de euros. É a possibilidade de pais e filhos que sofreram por anos na arquibancada comemorarem contratações estelares, títulos inimagináveis e glórias antes inalcançáveis. Mas sabendo que cada gol de seu time está manchado de sangue inocente. Um dos dilemas do futebol atual.

Você ficaria feliz se Mohammed Bin Salman comprasse o seu time?

*É DIRETOR, APRESENTADOR DE TV, JORNALISTA E TEM MAIS DE 60 PAÍSES CARIMBADOS NO PASSAPORTE

DEFENSORES DO GOVERNO ATACAM A CPI

 

  1. Política 

Bolsonaristas agem para atacar CPI da Covid e desqualificar relatório

Em dia de recorde de menções negativas nas redes, aliados se articulam para desacreditar Renan e tirar o foco do relatório

Vinícius Valfré, O Estado de S.Paulo

BRASÍLIA — A apresentação do relatório final da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid, nesta quarta-feira, 20, provocou forte reação de apoiadores do governo de Jair Bolsonaro nas redes sociais. A mensagem disseminada em páginas bolsonaristas e difundida à exaustão era clara: atacar diretamente o relator da CPI, Renan Calheiros (MDB-AL), e desqualificar o texto que atribui crimes graves a integrantes do governo e seus aliados. Uma transmissão ao vivo do senador Flávio Bolsonaro (Patriotas-RJ), em que chamou Renan de “vagabundo” e enumerou supostos crimes do político de Alagoas na condução dos trabalhos deu o tom da reação organizada nas redes.

Monitoramento da consultoria AP Exata indicou que no dia da apresentação formal do relatório as referências negativas ao presidente Jair Bolsonaro chegaram a 77%, o maior patamar dos últimos 15 dias. Os bolsonaristas reagiram e, ao buscar tirar o foco das acusações da CPI, sustentaram que Renan não teria envergadura moral para atribuir crimes a membros do governo. Os ataques também ganharam redes como Facebook, Instagram e Telegram.

CPI apresenta relatório final
Relator da CPI da Covid, Renan Calheiros apresenta parecer final da comissão; senador foi um dos principais alvos de ataques. Foto: Gabriela Biló/Estadão

O documento apresentado pelo relator é resultado de um acordo com o grupo majoritário da CPI, o chamado G-7, e deve ser aprovado sem dificuldades na próxima terça, 26. Em seguida, providências jurídicas contra os citados dependerão do Ministério Público nos Estados e da Procuradoria-Geral da República.

Bolsonaro não mencionou a CPI nas redes sociais, nesta quarta-feira. No entanto, endossou insultos a Renan feitos por apoiadores durante evento oficial no Ceará. Ao ouvir gritos de “Renan vagabundo”, o presidente disse que “a voz do povo é a voz de Deus”.

Ema. Para reprovar o parecer do relator da CPI, páginas governistas dedicadas a informações falsas e enganosas contra adversários influenciaram o debate público. Uma delas disseminou a versão de que Renan incluiu até uma ema, ave que habita os jardins do Palácio da Alvorada, entre os indiciados. “Nem a ema do Palácio da Alvorada escapou da sanha de Renan ‘vagabundo’ Calheiros”, diz a publicação enganosa.

Na verdade, em um parágrafo sobre a defesa equivocada de Bolsonaro a remédios sem eficácia, o texto citou o episódio em que ele foi fotografado mostrando uma caixa de hidroxicloroquina a uma ema.

Apontado como líder do “gabinete do ódio” do Palácio do Planalto, o vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ), que teve o indiciamento sugerido por incitação ao crime na disseminação de notícias falsas, também atacou Renan e a “CPI do Lula” nas redes sociais. O vereador usou um vídeo fora de contexto no qual o filho do senador – o governador de Alagoas, Renan Filho – falava em “deixar a cloroquina à disposição do uso médico”. Com isso, reclamou do não indiciamento do governador. A declaração, porém, é anterior aos estudos conclusivos sobre a ineficácia do remédio.

“Certamente existem outras dezenas de exemplos (de más condutas praticadas por membros e aliados da CPI) a serem expostos, o que desmascara facilmente qualquer ilação mencionada no relatório dos amigos de Lula e da ‘terceira via’. Todo, absolutamente todo processo, desde seu início, tem método”, postou Carlos.  

O pastor Silas Malafaia, retirado na véspera da lista de indiciados, chamou de “cretino”, “inescrupuloso”, “covarde” e “frouxo” o relator da “CPI da Safadeza”. Já o deputado Carlos Jordy (PSL-RJ), que teve o indiciamento pedido sob acusação de incitação ao crime, anunciou que vai processar o relator por abuso de autoridade, a exemplo do que Flávio Bolsonaro prometeu fazer. O deputado ironizou a CPI: “Circo tem malabarismo, mas esse é muito amador”.

Ao longo dos quase seis meses de investigação, governistas compararam a CPI a um circo em várias oportunidades. Bernardo Kuster, um dos indiciados por incitação ao crime na disseminação de fake news, voltou a usar o termo após a divulgação do relatório. “A CPI do Circo pedirá o meu indiciamento. Ser acusado por um tipo como Renan Calheiros é um privilégio para poucos. Orgulho da família”, afirmou. 

O governo marcou para o mesmo dia da última sessão da CPI o lançamento da campanha “Respeitável Circo”, por meio da Secretaria Especial da Cultura, voltada a artistas circenses. O secretário Mário Frias negou qualquer referência à comissão parlamentar de inquérito. “Valorizamos demais os valorosos artistas do circo para tratá-los de forma depreciativa”, escreveu ele.