quinta-feira, 11 de fevereiro de 2021

AUXÍLIO EMERGENCIAL SOLUÇÃO FICA APÓS O CARNAVAL

 

Solução para fim do auxílio emergencial vai ficar para depois do carnaval

Tempo que se perde rodando em círculos significa mais gente passando necessidade em todo País

Adriana Fernandes*, O Estado de S.Paulo

O recuo de 6,1% das vendas do varejo de novembro para dezembro surpreendeu negativamente e mostrou que a segunda perna da retomada em V da economia está cambaleando. Um carimbo a mais para sinalizar a perspectiva pior para a economia no primeiro trimestre deste ano.

A razão do aumento da pressão pelo retorno auxílio emergencial deriva muito mais desse diagnóstico econômico do que uma preocupação genuína dos parlamentares com a situação de pobreza e dificuldade que passam milhões de brasileiros sem trabalho e renda nessa segunda onda da pandemia, com cepas mais perigosas do vírus, lentidão da vacinação e média móvel de mortes acima de mil pelo 21.º dia seguido.

Fosse o contrário, governo e parlamentares já teriam corrido para dar uma solução para o problema muito antes de o auxílio emergencial acabar. Era tudo previsível. Agora, a solução ficou para depois do carnaval, mesmo após dez dias do resultado das eleições do Congresso. Esse tempo que se perde rodando em círculos significa gente passando necessidade.

Dinheiro do auxílio foi direto para o consumo e sustentou a arrecadação. Foto: Wilton Júnior/Estadão

Boa parte da pressão a alimentar a movimentação dessa semana pró-auxílio vem de deputados, prefeitos e governadores aliados desesperados por uma injeção de estímulo para a economia. Isso fez o presidente Jair Bolsonaro tirar a fantasia antes mesmo de o carnaval começar e dizer que a medida é para ontem (até então ele se mostrava contrário à prorrogação). O dinheiro do auxílio que foi direto para o consumo sustentou a arrecadação e, agora, a sua redução, a partir do fim do ano, mostra forte impacto econômico.

Todos os políticos que correm agora para defender a urgência do auxílio (parlamentares e administradores públicos de todos os Poderes) deveriam estar preocupados também em reforçar o planejamento das restrições de isolamento para barrar o avanço da covid-19.

Até agora, infelizmente, toda a discussão em torno da prorrogação do auxílio está desconectada de medidas restritivas. Elas só acontecem nos locais quando a situação de colapso e caos se instalou. E mesmo assim meia-boca.

Sem essa conexão, o auxílio, mesmo que necessário e urgente, se revela tão somente como uma medida de transferência de renda aos pobres, que já podia ter sido desenhada desde o ano passado e aprovada pelo Congresso.

Por que não aproveitar as negociações da Proposta de Emenda Constitucional (PEC) de orçamento de guerra, que o ministro Paulo Guedes exige para dar o auxílio, para cobrar dos prefeitos algum tipo de compromisso nessa direção?

Se Bolsonaro é contra, o Congresso poderia assumir essa campanha e responsabilidade. A vacinação deu esperança, mas é lenta e tem servido para mais afrouxamento do já escasso isolamento social. Um plano desse tipo resultaria em menos mortes e, com certeza, em menor custo para o governo. Na Alemanha, o governo anunciou que prorrogará o lockdown em vigor até o dia 7 de março. Um acordo fechado entre a chanceler Angela Merkel e os governadores já prevendo de antemão flexibilizações. Aqui no Brasil, seguimos nesse rastro de insensatez. Até locais com restrições mais sérias, como Belo Horizonte, já flexibilizaram.

Por enquanto, é certo que muitos daqueles que nada fizeram para ampliar o nível de isolamento da população vão bater na porta do Tesouro para pedir mais estímulos. Não vai parar no auxílio. Estão sendo cobradas também a retomada do programa de estímulo ao emprego (BEm), mais crédito subsidiado, suspensão de pagamento de impostos…

O ministro Guedes tem tentado segurar a pressão com medidas de antecipação de recursos, com a antecipação do abono salarial, que injetam recursos na economia. É pouco, mas tenta ganhar tempo.

Depois do auxílio, que já está dado, a queda de braço de fato com o Congresso é que vai começar. O Centrão virá com tudo para cima de Guedes. A votação acachapante do projeto de autonomia do Banco Central mostrou força, mas tem seu preço.

A aprovação da PEC de orçamento de guerra para dar o auxílio é inescapável e vai abrir a porta para mais pedidos de estímulos. O que sabemos de antemão é que a PEC vai ficar só na liberação das regras fiscais para gastar mais fora do teto de gastos. As medidas compensatórias cobradas por Guedes e Roberto Campos Neto, do BC, não vão rolar.

*É REPÓRTER ESPECIAL DE ECONOMIA EM BRASÍLIA

BANCO CENTRAL TEM A MISSÃO DE ZELAR PELA ESTABILIDADE DE PREÇOS

 

Análise: A missão do BC de zelar pela estabilidade de preços será reforçada na nova lei

Embora importantes, demais objetivos ficam em segundo plano, para que não se ponha em risco a estabilidade tão apreciada pela população

Arminio Fraga*, O Estado de S.Paulo

Bancos centrais não possuem o poder de afetar de maneira permanente o nível de atividade ou seu crescimento, que dependem de investimento, educação, produtividade, etc. Bancos centrais têm sim o poder de criar o caos da inflação, como bem sabemos.

Decorre naturalmente daí atribuir ao banco central a missão de zelar pela estabilidade de preços, hoje entendida nos principais países com sendo algo em torno de 2% ao ano, e que caminha aqui para 3%. Assim reza o modelo de meta para a inflação consagrado internacionalmente.

Lei deixa claro que Banco Central deve focar nas prioridades. Foto: Marcello Casal Jr./Agência Brasil

Em boa hora essa missão será reforçada na nova lei, que deixa claro que o principal objetivo do BC deve ser a estabilidade de preços.

A lei sabiamente deixa claro também que os demais objetivos, embora importantes, são secundários, para que não se ponha em risco a estabilidade tão apreciada pela população tentando o impossível.

Por fim, para que o BC possa perseguir seus objetivos sem as tentações dos ciclos políticos, a nova lei dá à diretoria do BC mandatos fixos e intercalados com o mandato do Executivo federal.

Parabéns ao Congresso!

*EX-DIRETOR DO BANCO CENTRAL E FUNDADOR DA GÁVEA INVESTIMENTOS

QUEREM RECRIAR O IMPOSTO CPMF

 

A ideia de nova CPMF. Desta vez, ‘provisória’

Retorno do tributo, extinto em 2007, deve ter a finalidade de cobrir as despesas de uma nova rodada do auxílio emergencial

Celso Ming, O Estado de S.Paulo

A proposta de criação de um “imposto temporário”, com as características da antiga CPMF (o imposto do cheque), para enfrentar as despesas de um novo auxílio emergencial, não passa de uma tentativa de aproveitar a emergência e a confusão da pandemia para “passar a boiada”. Certas áreas do Congresso e do governo parecem pretender decretar um estado excepcional “de guerra” ou um estado de calamidade pública, para justificar mais esse avanço sobre o bolso do contribuinte.

São várias as cercas que pretendem pular. O plano é travestir o tributo de contribuição social para escapar do princípio da anualidade. De acordo com esse princípio, um imposto não pode ser cobrado no mesmo exercício financeiro (art. 150 da Constituição). A exceção é para a contribuição social.

A outra cerca a ser invadida é a reiterada garantia do presidente Jair Bolsonaro e do ministro da Economia, Paulo Guedes, de que não haverá aumento da carga tributária. Se viesse, esse imposto seria compensado com a remoção de outros. O plano do ministro era  que esse tributo substituísse a desoneração da folha de pagamentos das empresas, de modo a ajudar na manutenção e na criação de empregos. Como sabe que se fosse temporário esse imposto mataria o projeto de substituição da desoneração, talvez, o Ministério da Economia acabe por vetá-lo.

A ideia de que essa contribuição seria “provisória” sempre foi um embuste. A CPMF tinha “provisória” até mesmo no sobrenome: Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira. Mas a provisória foi ficando, virou permanente. Só foi revogada dez anos depois da sua criação, em 2007, graças às pressões da sociedade.

Outra marotagem conhecida é a de que o novo tributo teria destinação exclusiva. No caso, a arrecadação dessa nova contribuição seria usada apenas e tão somente para cobrir as despesas da nova ajuda aos brasileiros afetados pela pandemia do novo coronavírus. A velha CPMF também começou com essa conversa. O então ministro  Adib Jatene defendia a CPMF como inevitável “para cobrir despesas com saúde”. Mas, logo se viu, o que foi arrecadado se destinou ao caixa comum. Virou um imposto como outro qualquer.

Governo estuda a volta da CPFM para bancar as despesas com uma nova rodada do auxílio emergencial. Foto: Wilton Junior/Estadão

Ou seja, mais uma vez, o governo ou os políticos pretendem se aproveitar da situação difícil da população mais pobre para criar mais um imposto fácil de arrecadar, que não exige declaração prévia, nem cálculos sofisticados, nem mesmo auditorias. É surrupiado automaticamente da conta bancária pelo sistema de informática do banco, a cada movimentação financeira.

E não se trata de um imposto indolor destituído de efeitos colaterais nocivos. Incide em cascata (tributo cumulativo), que onera cada etapa da produção. Por isso, é proibido pela Constituição.

Além disso, sobrecarrega as exportações, na medida em que o tributo não pode ser extraído do preço final do produto exportado, como se fosse um IPI ou um ICMS.

Essa proposta pode não passar de balão de ensaio. Nesse caso, serve para testar a capacidade de resistência da sociedade a essas esquisitices.

CONFIRA

>>>  Colapso

Não foi apenas um simples recuo. A queda das vendas no varejo em dezembro, mês do Natal, de 6,1%, na comparação mensal, reflete o colapso do poder aquisitivo de uma sociedade confinada pela covid-19, que enfrenta um desemprego de 14,1% e não pode mais contar com a mesma ajuda emergencial.

Como as incertezas eram então enormes, o consumidor adiou suas compras. O início da vacinação tende a mudar esse estado de espírito, mas ainda restam dúvidas se haverá vacina suficiente para todos.

INDEPENDÊNCIA DO BANCO CENTRAL

 

‘A independência formal reforça a independência no uso dos instrumentos’

Por uma feliz coincidência Roberto Campos – o neto – é o primeiro presidente da instituição sonhada pelo avô

Affonso Celso Pastore*, O Estado de S.Paulo

Foi somente em 1966, sob a iniciativa de Roberto Campos, que no Brasil foi criado um banco central. No texto da lei seus diretores teriam mandato fixo e não coincidente com o do Presidente da República. A ilusão durou pouco.

Quando Campos tentou convencer Costa e Silva de que a independência era importante porque o banco central era “o guardião da moeda”, ouviu dele: “o guardião da moeda sou eu”. Tinha início um longo período de “superinflação”, que jogou o país na armadilha do lento crescimento.

Roberto Campos Neto é o primeiro presidente da instituição sonhada pelo avô. Foto: Marcos Correa/PR

Plano Real deu um primeiro passo à frente conferindo à instituição a independência no uso dos instrumentos, e hoje o Congresso aprovou a Lei que dá independência formal aos seus diretores, que passam a ter mandato fixo e não coincidente com o do Presidente da República.

Por uma feliz coincidência Roberto Campos – o neto – é o primeiro presidente da instituição sonhada pelo avô. A Lei estabelece que sem prejuízo de seu objetivo fundamental – atingir a meta de inflação -, a instituição tenha também por objetivos: zelar pela estabilidade e eficiência do sistema financeiro; e suavizar as flutuações da atividade econômica e fomentar o pleno emprego.

A independência formal reforça a independência no uso dos instrumentos. Comemoremos este importante avanço!

*EX-PRESIDENTE DO BANCO CENTRAL E SÓCIO DA A.C. PASTORE & ASSOCIADOS.

MINAS GERAIS FECHA COM A VALE DO RIO DOCE ACORDO INÉDITO

 

Dia histórico

A Vale fechou com Minas Gerais o maior acordo indenizatório de todos os tempos realizado no Brasil, provavelmente no planeta

O acordo com a Vale, fechado no dia 4 de fevereiro de 2021, muda a história de Minas Gerais.

Dia do maior acordo indenizatório de todos os tempos realizado no Brasil, provavelmente no planeta, em decorrência de danos socioambientais.

Ao longo dos últimos dois anos, defendi em todos os lugares em que me foi dada a palavra e a escrita, em reuniões oficiais com o governo de Estado, com o presidente da República, com órgãos do Judiciário e do Legislativo, federal e estadual, a imprescindibilidade de um acordo “real e substancial” de indenizações materiais e morais pelo desastre de Brumadinho. Não apenas pelos danos do terrível episódio, mas pelos decorrentes dos passivos ambientais rotineiros e pelos econômicos, gerados pelo exaurimento de reservas minerais, sem que a população do Estado participasse dessa festa.

Estou gratificado pela condução exemplar dos negociadores escalados pelo Estado e pelo Judiciário. O governador Romeu Zema, comandante da expedição, reconhece mérito “em especial ao secretário (de Planejamento) Otto Levy, que esteve à frente das negociações desse acordo”. Pois é, Otto Levy se ergueu no contexto mineiro como um herói, um benemérito da pátria, por ter alcançado o que parecia impossível e que, ainda, marcará as próximas gerações. Contrariou a calcificada submissão que cerca, de regra, esses acordos.

Pode parecer exagerado o valor de R$ 37,7 bilhões? Não, é até pouco. A conta do passivo desproposital que a Vale acumula em Minas e, ainda, o dever de deixar um legado que vá além de crateras e destruição, de devastação de rios e montanhas, sob o amparo da inércia culposa dos poderes constituídos, precisavam ter uma resposta volumosa e marcante. Era preciso dar um basta às malandragens que ocorriam nos porões políticos e governamentais.

Comboios infindáveis de minérios saindo, crateras se abrindo, barragens arranhando o céu, ameaças sobre vales inteiros e seus moradores, sem que uma resposta digna fosse dada em décadas de extração. Atividades submetidas ao império do lucro, que em nenhum outro quadrante do mundo é tão elevado.

O valor de R$ 37,7 bilhões, aparentemente incrível, que poderia arrasar centenas de empresas ao mesmo tempo, não gerará qualquer problema à companhia Vale, ex-Rio Doce. Aliás, a própria Vale e seus acionistas terão ganhos diretos e indiretos muito superiores a esse valor indenizado. No momento em que “a maior produtora de minério de ferro do planeta” recebe o bônus da maior valorização de seus produtos, concordou em renunciar, com o acordo, ao ganho líquido de caixa (Ebita) de apenas um dos próximos 16 trimestres, que representam o prazo de pagamento da indenização. A Vale recuperará, ainda, R$ 15 bilhões de Imposto de Renda.

O desembolso torna-se irrelevante, tanto é verdade que as ações (como previ nesta coluna em dezembro último) deram mais uma disparada de 4% na última sexta-feira. O acréscimo do valor de capitalização da Vale em apenas um dia corresponde quase ao acordo inteiro selado com o governo de Minas.

Resta agora entender o que poderá render o acerto para a população de Minas. Pode-se prever um progresso nunca visto nem imaginado. Isso sempre que o bom senso, a competência e a probidade forem adotados para manobrar essa enorme massa de finanças.

Distribuindo-se o valor em quatro anos, implicará, a cada exercício, um aumento de 5,5% do PIB em Minas, que em 2019 foi de RS 171 bilhões. No quarto ano, Minas poderá ter um ganho de produção interna acumulada e real de mais de 22%. Nisso não estão considerados os efeitos secundários, que podem dobrar os já significativos 5,5%. E mais: aumento de oportunidades, de emprego, de impostos, de circulação de finanças decorrentes dos investimentos no Estado. Temos todos os ingredientes para provocar um crescimento “chinês” em Minas, independentemente da sorte nacional.

Os recursos, conforme prevê o acordo assinado, estão direcionados e carimbados para áreas de grande impacto social, como saúde, saneamento, abastecimento, infraestrutura, apoio ao desenvolvimento e à produção, além de mais de R$ 9 bilhões para atender o assistencialismo da população.

Minas, neste momento, não pode jogar fora a “maior oportunidade de sua história”. Impõe-se a responsabilidade de empregar correta e proficuamente essa indenização. Caberá zelar para que a aplicação correta e sustentável evite farras e desperdícios que ocorreram no Brasil com Olimpíadas, Copa e investimentos da Petrobras. Isso não pode acontecer.

Como já escrevi nesta coluna, no horizonte se enxerga uma oportunidade ímpar, grandiosa, irrepetível, que pode devolver a Minas uma importância e um protagonismo que pareciam ter sido perdidos durante décadas de mediocridade.

O reflexo eleitoral do acordo deixa o governador Zema praticamente reeleito.

Primado dos números

Pouco conhecida é a vida das pessoas, não gananciosas, que atuam na missão de ajudar a evolução da humanidade

O indivíduo ganancioso procura aumentar a quantidade da sua fortuna e perde muitas vezes a oportunidade de conquistar a felicidade. O bilionário rei do petróleo, na década de 70, Jean Paul Getty, referindo-se ao dinheiro, disse: “Quando não se tem, pensa-se sempre nele. Quando se tem, pensa-se somente nele”. A quantidade, dessa forma, pode ser também um grave problema.

Pouco conhecida é a vida das pessoas, não gananciosas, que atuam na missão de ajudar a evolução da humanidade e “se ocultam atrás de sua obra”. Mas não pensem que a falta de homenagens e badalações deixe o “místico” contrariado: é no silêncio que ele mais aproveita a felicidade de suas realizações.

Quem é substancialmente materialista, o tipo mais comum entre os homens, precisa de ruídos; o místico, mesmo sem subir a montanha, é silenciosamente solitário, dinamicamente solidário, não procura notoriedade, tem a missão de aliviar sofrimentos onde lhe é possível, com inabalável compaixão.

Já sabiam os antigos gregos que uma cadeia de insaciabilidade perturba o homem comum, sempre com renovados “desejos”, enquanto a águia dilacera de Prometeu o fígado, que não para de se regenerar.

O mais incrível conflito é exatamente aquele que o homem traz dentro de si mesmo, entre o ego mental-materialista da sua personalidade e o eu espiritual da sua divina individualidade. Se o primeiro supera em importância o segundo, como é mais comum durante a vida terrestre, a existência humana passa a ser triste, impedindo ao indivíduo se encontrar com sua “divina eternidade”.

Quem chegou a vislumbrar uma realidade superior, explica o sábio, está serenamente ao reparo de ataques. Ninguém pode prejudicá-lo, ninguém pode ofendê-lo, ninguém pode empobrecê-lo, ninguém pode obrigá-lo a perder o que ele é interiormente, mesmo tirando-lhe todas as posses.

Parece vã filosofia falar de paz para quem não teve oportunidade de experimentá-la. Fez notar o filósofo Ralph W. Emerson a quem falava de paz sem saber o que é: “Não posso ouvir o que dizes, porque aquilo que tu és troveja muito alto”.

Quem não traz consigo a serenidade da paz interior não será um pacificador, apenas um semeador de desastres. Um perturbado que procura ficar alienado da realidade.

Homens e mulheres que não suportam a solidão evitam estar a sós consigo, temem a si mesmos. Costumam com frequência se perder na irrealidade de entorpecentes e substâncias tóxicas para iludir a infelicidade.

Os milionários da felicidade são, quase sempre, grandes anônimos, os “não existentes” da história. Acabam invisíveis. Como disse Descartes: “Vive bem quem bem se esconde”. São os irmãos sem nome dos círculos mais evoluídos, que se eclipsam no anonimato da benevolência universal; indiferentes aos louvores como aos vitupérios, porque eles vivem na invisível e silenciosa verticalidade do bem, incompreendidos pelos habitantes da ruidosa e palpável horizontalidade do mal.

O homem justo, ainda, precisa prestar atenção, pois sua presença “diz silenciosamente”: “Você deveria ser como eu sou, mas não é, e isso é culpa sua”. Vale dizer que a simples presença do justo é quase uma provocação para o injusto, o desnorteado.

Dessa forma, quem não alcançou a honestidade moral rejeita a própria inferioridade. A presença de um sábio o irrita. Pode levar a escolher um Barrabás e rejeitar um redentor.

É, assim, de incalculável mérito ajudar os indivíduos orgulhosos e não autênticos (que são os mais necessitados), usando, entretanto, a sábia prudência, já que “o homem – como define M. Yourcenar – é um empreendimento que tem contra si o tempo, a necessidade, a sorte e o imbecil e sempre crescente primado dos números”. A vida terrestre lhe é concedida exatamente para superar essas limitações.

O sucesso que dura

Qualquer esforço na esfera material, por mais intenso que seja para alcançar a meta, deve-se dirigir ao crescimento do indivíduo, de suas potencialidades e da ampliação de sua consciência

“Dando-se apenas o pão, pode-se ajudar somente o indivíduo. O resultado será que, depois de algum tempo, muitos estarão novamente sem pão”. A frase é lida num artigo assinado, em 1905, pelo vulcânico e genial Rudolf Steiner. Depois de 115 anos, continua atual como nunca.

Trata-se de um fragmento da longa análise das relações do capital e do trabalho, da mediação do Estado, das políticas públicas, que procuram identificar no esforço humano as razões da alternância de sucessos e de fracassos.

Steiner realiza uma análise moral e “cármica”, subindo em camadas muito superiores àquelas usualmente limitadas a ganhos e perdas financeiras, para finalizar que o sucesso depende da solidariedade e da harmonia despertadas nas relações humanas. Motivação, coesão, união, equilíbrio, determinação, coerência etc. são os ingredientes a serem usados.

Qualquer esforço na esfera material, por mais intenso que seja para alcançar a meta, deve-se dirigir ao crescimento do indivíduo, de suas potencialidades e da ampliação de sua consciência. É justo e necessário procurar melhores condições materiais, são fundamentais à superação da fome e das restrições de toda ordem prática. Terão, todavia, um valor universal, eternizado e sustentável só se estimularem e enriquecerem indivíduos.

Um homem rico de recursos e de poder, mas moralmente fraco e indigente, pouco serve à humanidade, e seu legado não passará de cinzas espalhadas pela ventania. Será castigado pela sua estreiteza e egoísmo, tropeçará ainda em vida culpando o destino, sem enxergar a sua insignificância e, portanto, a inutilidade dele para aqueles que o cercam. A justiça superior não o deixará triunfar, pois seus propósitos mesquinhos não interessam nem acima quanto menos abaixo dele.

Não há riqueza e progresso marcados pela exploração de seres desfavorecidos, em especial por um governante. Seus feitos não deixarão resultados positivos. Pior quando impunemente se aproveita da ignorância e da miséria. O sucesso se torna imperecível num conjunto que tende ao progresso difuso, sem prejuízos para quem quer que seja, quando o amor à humanidade prevalece sobre cálculos mesquinhos. Mais do que a luta contra o mal, é a imposição do bem pelo seu efeito abarcante. E não poderia ser diferente, já que o mal é apenas ausência do bem; quando o bem impera, não há espaço para o outro se impor, nem sequer parcialmente.

A riqueza pela exploração e pela dor é frágil como castelo de areia, e o esforço, por mais hercúleo que seja, para preservá-la desmoronará.

Para Steiner, já em 1905, era um erro acreditar no Estado filantropo ou imaginar que ele resolveria estruturar a humanidade, deixando seres emancipados e donos de seu destino. Afirmava que “grupos políticos se equivocam… baseando-se num conhecimento insuficiente da vida humana”, em especial quando prometem aos ignorantes o pão sem agregar componentes de educação e de crescimento moral.

As ideias e conceitos divulgados por Rudolf Steiner apresentam o “espírito de integralidade”, o mesmo que leva homens e empresas “amadas” à procura da “função social” como motivação de seus esforços, como principal razão de ser, crescer e se fortalecer exatamente por serem imprescindíveis ao progresso da humanidade.

METAS E OBJETIVOS PARA 2021

 

Metas para 2021: veja como traçar objetivos reais e alcançá-los

O ano virou e, com ele, são trazidas uma série de possibilidades para realizar sonhos e alcançar objetivos. Para que você possa viver o presente de forma plena e tornar realidade tudo o que planeja para o novo ano, é muito importante definir quais são as suas metas para 2021.

E não vamos falar de metas de Ano Novo, que muitas vezes não são cumpridas. Aqui, vamos contar um pouco mais sobre por que é importante traçar objetivos reais e, principalmente, por que é fundamental planejar a maneira com a qual você alcançará as suas metas.

Tudo isso faz a diferença para que você, no próximo final de ano, olhe para trás e veja quantos objetivos conseguiu alcançar — o que ajuda a realizar sonhos cada vez mais significativos na vida. Por isso, veja como traçar e alcançar as suas metas para 2021!

Por que criar e planejar metas é importante?

Criar metas é fundamental para conquistar seus objetivos. Afinal, todos nós temos sonhos, desejos e ideias que queremos tornar realidade, nos mais diferentes campos da vida. A promoção no trabalho, a melhora na qualidade de vida, o ganho de aprendizado, a vivência a partir de experiências diversas, tudo isso são exemplos dos mais diferentes sonhos e objetivos que temos na vida.

Por outro lado, para realizar muitos dos nossos sonhos, é importante estabelecer metas. Elas são aquela lista que mostra o que precisamos fazer para tornar realidade tudo o que queremos. As metas mostram o caminho que desejamos percorrer até alcançar os objetivos.

Sem metas, os sonhos podem se perder no tempo. Por mais genuíno e forte que seja um desejo de vida, é importante traçar o caminho para a realização para não perder o rumo e, dessa maneira, a motivação. Com esse caminho, você saberá com mais certeza o que você quer, quando pode obter isso e, principalmente, o que fazer para realizar cada sonho.

Como alcançar as suas metas para 2021

Existem diferentes maneiras para que você alcance metas para 2021. Porém, quanto mais distante de ideias gerais (“perder peso”, aprender mais” etc.), melhor! Para realizar seus sonhos e alcançar objetivos, é importante observar alguns aspectos como os que elencamos abaixo.

1) Seja realista

Para não gerar frustrações futuras e, principalmente, para conseguir realizar tudo o que você pensou para 2021, seja realista. Procure pensar em metas que não apenas dependem só de você, mas também em objetivos possíveis de concretizar

Uma promoção no trabalho depende da chefia ou da situação da empresa, por exemplo. Faturar 10 vezes mais o que você ganha na empresa pode ser inviável (ainda mais em tempos de pandemia). Então tenha o pé no chão antes de sonhar alto.

2) Tenha uma lista simples e objetiva

Metas muito elaboradas podem ficar no fundo de uma gaveta e, dessa forma, esquecidas da sua cabeça. Além disso, uma lista longa de objetivos pode desanimar no começo. Por isso, faça uma lista simples, direta e objetiva com as suas metas para o ano.

Use uma linguagem simples, escreva de fato o que é mais importante para você em 2021 e deixe claro o que é preciso fazer. Uma lista com poucas (mas possíveis) metas e que mostre de forma explícita o que elas significam é uma boa estratégia para realizar sonhos.

3) Divida grandes objetivos em metas menores

Para escalar grandes montanhas, os alpinistas percorrem trechos menores por dia e estabelecem acampamentos em alguns pontos da escalada. Dessa maneira, fica mais provável alcançar o topo por meio de deslocamentos mais curtos, em vez de tentar subir tudo de uma vez.

A analogia também vale para sonhos: transforme grandes objetivos em metas menores. Dessa forma, conforme você concretiza cada uma dessas metas, alcançar o objetivo maior se torna mais provável. É um degrau por vez!

4) Use métodos para metas e objetivos

Alguns métodos voltados para metas e objetivos, utilizados em empresas e startups, podem ser adaptados para as suas metas para 2021. Veja dois deles:

  • SMART: sigla para Specific (específica, ou seja, sem ser abrangente), Measurable (mensurável) Achievable (alcançável, e realista lembra?), Relevant (relevante) e Time based (com prazos definidos para começar e terminar);
  • OKR: sigla para Objective and Key-Results, metodologia que mostra os objetivos e resultados-chave que mostrem o que você quer como objetivo e quais os resultados acompanhará para saber o quão perto da sua meta você está.

5) Não se cobre demais

Alcançar as suas metas para 2021 é importante. Porém, ainda mais importante é que você não se penalize caso algumas etapas do processo não deem certo. Além de humanos, estamos sujeitos a uma série de fatores que podem atrasar nossos planos. Por isso, respeite a sua saúde física e mental, saiba quais são os seus limites, e busque as suas metas para 2021 de um jeito saudável.

Agora que você viu como é importante traçar objetivos e metas, a Startup Valeon deixa uma mensagem para você, que em 2021, você possa alcançar todas as suas metas e que também as metas da Valeon também possam ser alcançadas nesse ano.

Site: https://valedoacoonline.com.br/

PRIVATIZAR OS CORREIOS É NECESSÁRIO

 

Privatização dos Correios: complexa necessidade

Busca pela eficiência deve cumprir requisitos rigorosos

Por ANTONIO WROBLESKI | ENGENHEIRO, PRES. DO CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO DA PATHFIND E SÓCIO DA AWRO LOGÍSTICA E PARTICIPAÇÕES – JORNAL O TEMPO

Sou totalmente favorável à privatização dos Correios. Mas, para que esse processo seja realmente favorável ao país como um todo, é fundamental estar atento a pontos essenciais e cumprir requisitos rigorosos. O primeiro ponto é reconhecer que não temos condições de continuar arcando com os custos de operação dos Correios. A falta de modernização e a total ausência de processos eficientes transformou a estatal em algo não rentável e praticamente inadministrável. Não por acaso, a empresa foi usada para construir esquemas de corrupção para diversos partidos políticos ao longo dos últimos anos, em um esquema que vai continuar caso a gestão não seja alterada.

Eficiência é outra questão central nesse debate, um dos motivos que fez com que a maioria dos países no mundo tenha privatizado seu sistema de entrega de encomendas. É inegável que o trabalho que os Correios realizam hoje é arcaico, e não há nenhuma expectativa de que será melhorado. O resultado é um serviço que custa cada vez mais caro com produtividade menor, atingindo níveis mais altos de cobranças e reclamações.

Os que argumentam contra a privatização costumam dizer que nenhuma empresa tem o alcance que os Correios têm. Afinal, eles estão em mais de 5.000 cidades brasileiras, e, hoje, as empresas que têm mais penetração chegam a 3.500 cidades. Mas é por isso que o processo de privatização precisa ser feito com cuidado, com a criação de órgãos reguladores que vão garantir que toda a população seja atendida, com mais eficiência e qualidade.

Também não podemos entregar a gestão de uma empresa complexa como os Correios a marinheiros de primeira viagem. Para prestar esse serviço, o primeiro passo é exigir que a candidata seja multimodal – como é a DHL, resultado da privatização dos correios da Alemanha. Ou seja, a empresa precisa prestar atendimento por via terrestre, aérea, marítima, de acordo com a necessidade de cada entrega, expertise que, hoje, nenhuma brasileira tem.

Parte inferior do formulário

Há outras exigências que devem ser prioridade em um processo de privatização, que eu considero o tripé de sucesso: tecnologia, gestão e investimento. Todas as empresas que trabalham com logística no mundo precisam contar com as mais modernas ferramentas tecnológicas para garantir um serviço de qualidade. Também devem manter uma gestão impecável em termos de eficiência e eficácia, para não se tornar foco de corrupção e atendimento ruim. Por fim, é essencial que faça investimentos constantes em pesquisa e treinamento, algo que, infelizmente, passa longe de acontecer na maioria das empresas estatais.

Privatização é, sim, um mantra que o governo deve seguir. A gestão pública tem que estar focada em suas missões prioritárias, como a saúde e a educação, e deixar que serviços como o dos Correios sejam geridos por quem sabe como fazer. E se o que o país receber como resultado de um processo de privatização for bem aplicado, estou certo que pode melhorar, efetivamente, a situação do povo brasileiro.

TEM QUE PRIVATIZAR DIZ MEIRELLES

 

‘Não adianta só falatório, tem que privatizar mesmo’, diz Henrique Meirelles

Além das vendas de estatais, ex-ministro da Economia fala que também é preciso aprovar uma reforma tributária ‘bem feita’, junto a uma reforma administrativa levada a sério, ‘para cortar despesas’

Entrevista com

Henrique Meirelles, secretário de Fazenda de São Paulo

Adriana Fernandes, O Estado de S.Paulo

BRASÍLIA – O atual secretário de Fazenda de São Paulo e ex-ministro da Economia, Henrique Meirelles, dá a receita para as prioridades da agenda econômica pelo Congresso nesse início de 2021 marcado por incertezas que rondam a economia. “Não adianta grandes planos, falatório. Tem que privatizar mesmo”, afirma ao Estadão.

Na lista, Meirelles inclui a aprovação de uma reforma tributária bem feita, tendo como ponto de partida o texto apresentado pelos Estados, e uma reforma administrativa levada a sério para cortar despesas. “Precisamos começar a amortizar a dívida”, recomenda.

Meirelles também fala dos planos do Estado para contratação de uma consultoria para definir o futuro da Empresa Metropolitana de Águas e Energia (Emae), encarregada de controlar o volume de água do Rio Pinheiros, através da Usina Elevatória de Traição, da Represa de Guarapiranga e da Represa Billings, além da geração de energia elétrica na Usina Hidrelétrica Henry Borden, entre outras usinas paulistas. A seguir, os principais pontos:

Além de privatizações, Meirelles defende a realização de uma reforma tributária ‘bem feita’. Foto: Felipe Rau/Estadão

O sr. acredita no plano de privatizações do governo federal?

Tem que privatizar. Não adianta só grandes planos, falatório, tem que privatizar mesmo. Tem que fazer concessões de infraestrutura, mas em grande escala. Por exemplo, aqui em São Paulo, mesmo durante a pandemia, nós fizemos a maior concessão rodoviária da história do País, que é a rodovia Piracicaba-Panorama, cortando 62 municípios, com investimento comprometido de R$ 14 bilhões. Para voltar a crescer não adianta só planos, tem que primeiro fazer de fato investimento na infraestrutura, que no primeiro momento gera emprego e renda, e no segundo momento, gera produtividade na medida que a obra começa a funcionar propicia um custo menor de transporte.

Mas São Paulo privatizou nesses últimos dois anos?

Fizemos, principalmente, de infraestrutura. A maior foi a Rodovia Piracicaba-Panorama.

Mas é concessão. Tem privatização?

Estamos fazendo agora, apesar que não posso falar muito, porque nós estamos no meio do processo, e a CVM (Comissão de Valores Mobiliários, órgão regulador do mercado) pede que não se pré-anuncie antes dos devidos comunicados ao mercado, mas estamos contratando consultores para fazer o modelo da Empresa Metropolitana de Águas e Energia.

É um modelo para privatização?

O modelo não podemos pré-anunciar à medida que isso tem que ser objeto de comunicado no momento em que tiver o formato definido. Agora, estamos abertos a todas as possibilidades. Em relação às fundações, empresas, o que acontece é que o Estado de São Paulo tem um grande número de empresas que já perderam a finalidade, não tem mais o que fazer e que continuava a existir, com um corpo grande de funcionários. Nós estamos fechando um número considerável.

Mas nesses próximos dois anos de governo o grande ativo será a Emae?

Não chegamos nem a falar da Sabesp. Tudo tem que ser anunciado no devido tempo. Na Sabesp, vai se fazer uma licitação para a contratação de um consultor que vai fazer um estudo de qual é a melhor estrutura de capital da empresa, se será uma capitalização, se será alienação de controle etc.  A CVM está muito rigorosa nesse aspecto e não podemos ficar falando demais de empresas que têm ação em Bolsa.

Está difícil também para São Paulo privatizar? O nome da Sabesp aparecia nos planos do início do governo há dois anos.

É uma empresa muito grande e tivemos a pandemia no meio do processo e agora está retomando todo o processo de estudos, contratação de consultores para fazer os estudos técnicos.

Como o sr. vê a pauta de prioridades da agenda econômica no Congresso que foi apresentada? O que é mais importante?

Primeiro, precisaria aprovar uma reforma tributária bem feita.  Um bom ponto de partida é o substitutivo apresentado pelos Estados, que pela primeira vez em três décadas por unanimidade chegaram a um acordo para o ICMS e o ISS dos municípios. O governo tem ainda que definir claramente qual é a proposta final, principalmente para o Imposto de Valor Adicionado (IVA). Isso é muito importante para simplificar toda a complexidade tributaria do Brasil e facilitar a reforma da atividade econômica.

E depois?

Em segundo lugar, é necessário que o governo federal aprove de fato uma reforma administrativa de fato a sério. Deveria se repensar administrativa e fazer uma reforma dura. No sentido de  cortar despesas e  também cortar benefícios para que o déficit público dos próximos anos seja eliminado e, eventualmente, comece até gerar superávit. Precisamos começar a amortizar a dívida. Estamos, aí, com praticamente 90% de dívida bruta em relação ao PIB, que é porcentual que não é possível  continuar crescendo. Em 2020, era pandemia, tinha que gastar mesmo, mas está na hora de cortar despesas, gerar saldo para pagar dívida. É um pouco que os Estados têm que fazer obrigatoriamente. Nós estamos fazendo em São Paulo.

O sr. vê risco de a reforma tributária ficar restrita ao projeto que cria a Contribuição sobre Bens e Serviços (CBS), tributo que substitui o PIS/Cofins?

Acredito que não porque o maior problema do País é o ICMS, que é muito complexo e varia de Estado para Estado com a guerra fiscal.

Como o sr. avalia a aprovação da autonomia formal do BC?

A aprovação da autonomia do Banco Central pelo Congresso é um dos mais importantes avanços institucionais dos últimos anos. Alinha o Brasil às economias mais relevantes do mundo, onde essa prática é uma experiência de sucesso há muito tempo, e contribui para gerar estabilidade, confiança na nossa economia e para atrair investimentos. O Banco Central tem independência operacional desde 2003, no início da minha gestão, graças a um acordo com o então presidente (Luiz Inácio Lula da Silva) durante oito anos. Esta independência garantiu ao BC a capacidade para tomar as decisões corretas com base somente nos dados macroeconômicos  e nas projeções dos modelos econométricos .

Qual a perspectiva da economia?

Foi muito importante entendermos todas  as razões da crise foi e continua uma questão de saúde. No momento em que alguns Estados, principalmente o Estado de São Paulo, fez um programa de enfrentamento da crise organizado, desenvolvendo um protocolo de segurança para cada setor da economia, tudo isso permitiu a retomada da economia que voltou a crescer e entrando de 2021 com uma perspectiva de crescimento com o Brasil recuperando uma parte daquilo que perdeu em 2020. O problema fundamental é que a população se animou, voltou à atividade, mas o problema é que essa volta levou à segunda onda. Temos uma situação que existe todo um pressuposto de crescimento baseado numa retomada e uma superação gradual da crise de saúde, mas está tendo contaminações em todo o País. Isso gera uma incerteza muito grande. O que no fundo pode dar segurança e embasar as expectativas para maior crescimento é a vacina. Ela, sim, é que vai resolver de uma vez por todas a questão sanitária e permitir que a economia cresça. Infelizmente, o Brasil não fechou negócios com algumas companhias que se interessaram em fornecer a vacina num primeiro momento, como a Pfizer. E, quando tentou comprar, estava na lista de espera.

Qual a perspectiva para o crescimento de São Paulo em 2021?

A expectativa é que São Paulo no ano de 2020, quando o Brasil deve cair 4,4%, estará com desempenho entre zero e 0,5 positivo. É um desempenho excepcional na comparação internacional. O Estado de São Paulo chegou a um nível de atividade no final de 2020 superior ao nível do início da crise. Em 2021, com expectativa de 3%, 3,4% para o Brasil, em São Paulo esperamos entre 5% e 5,5% de crescimento. Existe um volume importante de investimentos de companhias que estão se instalando aqui e pensando no futuro e não no resultado de 2021. Tudo isso é importante do ponto de vista de geração de emprego, criação de demanda e movimentação da atividade econômica. O que se pode dizer é que as políticas corretas geram resultados no devido tempo.

O governo de São Paulo teve que recuar no corte das renúncias. Foi um erro?

Não. Foi um processo normal de ajuste. Necessário ajuste em função da segunda onda. Mas, mesmo assim, mais de 90% do plano e da reforma administrativa como um todo não foram alterados. O Estado tem condições de enfrentar agora o ano de 2021 com força. Voltou em alguns produtos, que é um porcentual pequeno do total. Revogamos as renúncias para remédios genéricos, insumos para alimentos. Eram questões muito específicas.

Vai faltar dinheiro para a área científica em São Paulo?

Não, não vai. O que houve foi uma redução geral de despesas para todas as áreas do governo. Não houve redução para pesquisa. O que houve é um certo aperto na contratação de funcionários. Isso,sim, porque fez parte do esforço geral de organização das finanças do Estado.

Muito antes da pandemia o governo de São Paulo se aproximou dos chineses, na contramão do governo federal. Qual a vantagem dessa aproximação?

São Paulo abriu o escritório de representação do Estado em Xangai. Nós fizemos viagem à China conversando com investidores. Eles têm mantido interesse em investir. Eles entraram forte na licitação da estrada Piracicaba-Panorama, foram o segundo colocado. Eles estão presentes e devem disputar fortemente a concessão do trem intercidades. Esse escritório é fundamental. Foi através desse escritório que se fez toda a negociação e visitas técnicas que viabilizou a vacina do Butantã. As companhias chinesas estão estudando investimentos em outros setores da economia. Isso é resultado das boas relações do governo estadual com a China e do escritório em Xangai.