terça-feira, 5 de maio de 2020

BOLSONRO SE ALIA AO CENTRÃO PARA NÃO CAIR


'Bolsonaro não tem opção: se socorre no Centrão, ou cai', diz analista


 
Marcela Mattos
© Gabriela Korossy/Câmara dos Deputados


A inesperada aliança entre o presidente Jair Bolsonaro e os partidos de centro alimenta um duplo jogo de sobrevivência. A avaliação é feita por Antônio Augusto Queiroz, analista político e fundador do Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap), entidade que acompanha o Congresso Nacional há 35 anos. Para Toninho, como é conhecido, a aliança com os quadros da “velha política” – como o próprio Bolsonaro os chamava – é um movimento do presidente para evitar ver aprovado um processo de impeachment contra ele ou a cassação de dois de seus filhos – Eduardo, o Zero Três, é deputado federal, e Flavio, o Zero Um, é senador. Por outro lado, os partidos do Centrão, conhecidos nos noticiários do mensalão e do petrolão, garantem cargos estratégicos no governo, a execução de suas emendas parlamentares e os recursos públicos para as eleições mesmo em tempos de pandemia e de crise econômica. Todos saem ganhando.
“Quando o presidente aceita ter o Roberto Jefferson [delator e beneficiário do mensalão] como interlocutor, é porque o negócio está feio. Ou o Bolsonaro se socorre no Centrão para reunir os 172 votos para impedir pedidos de impeachment ou de afastamento, ou ele cai. Só com os aliados dele não é suficiente”, afirma Toninho.
Confira a íntegra da entrevista.
Como se define o chamado Centrão? O Centrão sempre foi associado ao núcleo fisiológico do Congresso, aquele que viveu de patronagem e de favores governamentais. Podemos dizer que o grupo hoje é composto principalmente por esses partidos: Progressistas, PL, PSD, MDB, PSC, DEM, PTB, PRB, SD e uma parte do PROS.
Como o senhor avalia a atuação desse grupo no governo Bolsonaro? Para se blindar da acusação de ser a velha política, eles tentaram se blindar perante a opinião pública dizendo: ‘Não somos fisiológicos. O que interessa é o Brasil e voto de acordo com a consciência’. Isso pôde ser percebido na votação da Reforma da Previdência, que acabou aprovada. Mas esse foi o único momento de o Centrão agir nessa perspectiva. Na maioria das vezes, ele está ali para fazer algum tipo de composição. E agora o Bolsonaro finalmente se rendeu. O problema do Centrão é o seguinte: ele vai para onde? Se não tem candidaturas viáveis no centro, e só tem na extrema direita e na esquerda, não tem alternativa a não ser ir para a direita. Por mais que os partidos sejam hostilizados por essa extrema direita, eles recebem os recursos no final e têm uma identidade programática e de afinidades. Fica mais confortável se aliar a um governo com as características do Bolsonaro do que ir para a oposição e favorecer os partidos de esquerda.
É um jogo de ganha-ganha, portanto. Exatamente. Estão indo para a base do governo Bolsonaro com vantagem dupla agora. O governo está com o Orçamento liberado, pode gastar o que quiser – o que é o melhor mundo para o Centrão. E está às vésperas de uma eleição. Então, eles garantem recursos para as bases eleitorais elegerem os seus prefeitos, enquanto o governo faz as concessões que eles exigirem para evitar um eventual processo de impeachment ou mesmo a cassação de um dos filhos do presidente. Lá na frente, os partidos podem dizer que só socorreram o governo porque era um momento de pandemia e eles foram ajudá-lo republicanamente. Tem álibi para isso.
E qual argumento o governo poderá usar? Para o governo, é questão de sobrevivência. Ou ele põe o centrão do lado dele, ou ele cai. Quando o presidente aceita ter o Roberto Jefferson [delator e beneficiário do mensalão] como interlocutor, é porque o negócio está feio. Ou o Bolsonaro se socorre no Centrão para reunir os 172 votos para impedir o pedido de impeachment ou de afastamento, ou ele cai. Só com os aliados dele não é suficiente.
O senhor vê um risco real de impeachment? O risco existe. São quatro fatores que justificam o impeachment: a crise econômica, que está presente; a crise política, também presente; o problema sanitário, que considero como um elemento novo neste processo; a crise de popularidade. Esse último é o único ponto em que o presidente está blindado. Mas, se a popularidade cair para 12%, o apoio ‘voa’ rapidinho. E eu avalio que o Rodrigo Maia topa [o pedido de impeachment]. Só não faz isso agora porque não tem um pedido de centro, de gente com credibilidade, e a popularidade do presidente está alta.
A aliança, portanto, vai durar enquanto o fantasma do impeachment estiver rondando? Exatamente. O Centrão quer se blindar em relação a duas coisas: a garantia de que ninguém vai mexer com as emendas impositivas, tenha pandemia ou não, e que não haja mudança nos fundos eleitoral e partidário, que é o que garante o recurso para viabilizar a eleição deles. No meio dessa pandemia, eles estão morrendo de medo de perder isso. O Bolsonaro, por outro lado, quer que não seja autorizado seu processo de impeachment nem que seus filhos sejam cassados. Esse é o objetivo dos dois. Quando o Bolsonaro se livrar dessa condição, ele próprio vai chutar o Centrão. Do mesmo modo, se o Bolsonaro cair em popularidade, o Centrão, depois de receber esses recursos, vai pular fora. Não vai ter aquela história de que namora, fica noivo, depois casa, como o presidente gosta de falar. Eu acho que com o Centrão vai ter divórcio antes de casar.
Há quanto tempo existe o tal Centrão? Desde a redemocratização, ele não ficou fora de nenhum governo. Foi mudando de perfil, mas sempre buscando sobreviver. Durante a Constituinte, por exemplo, ele foi originalmente financiado pelo poder econômico para combater uma Constituição tida como socialista e para defender uma economia de mercado. O Centrão geralmente é um grupo de parlamentares que utilizam a força do mandato para arrancar concessões dos governantes. Eles escolhem lideranças com esse perfil, que não têm problema em se expor defendendo esse tipo de demanda, e, em troca, conseguem emenda, fundo eleitoral e liberação de projetos. Em troca disso, votam sob a orientação, indicam gente para cargos e conseguem liberar emendas para obras.
Mas isso é errado? Não seria esse um ato de simplesmente fazer política? Olhando por essa ótica, sim. Acontece que geralmente associam esse repasse de recursos a esquemas que já têm empreiteiros definidos para fazer obras, esquemas em que o desvio é assustador. Esses parlamentares, quando levam recursos para essas regiões, exigem como contrapartida a garantia de recursos e de cabo eleitoral para sua eleição. Isso não vem de forma espontânea, tem custos. E esse é o problema.
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segunda-feira, 4 de maio de 2020

COLUNA ESPLANADA DO DIA 04/05/2020


Núcleo militar

Coluna Esplanada – Leandro Mazzini








O discurso informal do presidente Jair Bolsonaro na rampa do Palácio do Planalto no domingo, para apoiadores, dizendo que “chegou ao limite” e que o compromisso com o
Brasil é uma via de mão dupla, deixou interrogações. Mas foi amparado na reunião que teve no sábado com a cúpula das Forças Armadas. Num clima informal, sem agenda
deliberativa, o presidente recebeu os comandantes das três Forças Armadas no Palácio da Alvorada no fim da tarde, além do núcleo militar palaciano – os generais Braga Netto
(Casa Civil) e Augusto Heleno (GSI), além do ministro da Defesa, Fernando Azevedo. Bolsonaro pediu apoio na garantia da ordem, e na contrapartida reforçou o compromisso
de que a Constituição está acima de todos.
Talkei
Apesar de falar que o país vai tomar seu rumo hoje, Bolsonaro ainda não engole os presidentes da Câmara e Senado, Rodrigo Maia e Davi Alcolumbre. Apenas os aceita.
Em suma
Bolsonaro quer também o compromisso de Maia e Alcolumbre de que não haverá surpresas para o Governo em pautas-bombas que prejudiquem seus programas.

Making off
O presidente preparava pronunciamento em rede para a reabertura gradativa do comércio, com plano pronto, mas o STF empoderou os governadores e prefeitos.
Jurídico
Na avaliação dos aliados próximos de Bolsonaro, Sergio Moro não sustenta sua defesa apenas com prints de conversas com o presidente pelo whatsapp. Mas é o Procurador-
Geral da República, Augusto Aras, quem vai decidir se o denuncia ou não. A conferir.
PT em cima
Crítico voraz da atuação do então juiz Sergio Moro na Lava Jato e no Ministério da Justiça, o senador petista Humberto Costa (PE) quer usar as declarações do ex-ministro
contra o presidente para o PT protocolar pedido de impeachment de Bolsonaro.
Blindado
Sergio Moro mantém a escolta da Polícia Federal em Curitiba. Antes, eram só os petistas. Agora, são os bolsonaristas também na sua cola, no clima beligerante das ruas.
Tríplex
A Quinta Turma do STJ julga amanhã os embargos da defesa de Lula da Silva, que pedem modificação da sua pena no caso da condenação envolvendo o tríplex.
Gás no tanque
A Gasmig, do Estado de Minas, reduziu as tarifas para indústria e veículos a gás. Pedro Magalhães, presidente da empresa, lembra que o produto competitivo é importante para
a recuperação econômica. E mais barato para o motorista.

Encruzilhada
A despeito do perfil conciliador, o deputado federal Sílvio Costa Filho, presidente do Republicanos estadual, não sabe que rumo eleitoral tomar. Deixou sua candidatura a prefeito do Recife para apoiar João Campos (PSB). Mas seu colega de Câmara e presidente nacional da sigla, Marcos Pereira, se aliou ao presidente Bolsonaro.
Coronavírus
A Associação Brasileira de Empresas e Diretores do Setor Funerário resolveu ajudar o setor em Manaus, que entrou em colapso. Chegam mais 285 caixões nesta semana, e
a previsão é de envio de 985 urnas para os próximos dias.
Quem é quem?
A Caixa Seguradora, empresa do Governo com estatal francesa como sócia, tem como presidente Gabriela Ortiz de Rozas, salvadorenha que fez carreira na Argentina. Mas cidadãos não encontram no portal o organograma sobre quem é quem nas diretorias.
Tiro no escuro
A PM do Piauí fez cerco nas saídas do município de União na sexta-feira de madrugada para cercar quadrilha que planejava assaltar uma agência do BB. Acabou prendendo, sem querer, uma dupla de motoristas da prefeitura, em carro oficial, com R$ 500 mil não declarados e sem procedência. Nada de bando até agora.

A ABIN TRABALHA EXCLUSIVAMENTE PARA OS INTERESSES DO PRESIDENTE


Com recursos milionários, Abin trabalha conforme interesses de presidentes

Renato Souza 






© Carolina Antunes/PR O delegado Alexandre Ramagem, que teve barrada nomeação para comando da Polícia Federal, está à frente da Abin

Equipada com mecanismos de ponta e tendo à mão softwares de última geração para monitorar a internet e dispositivos eletrônicos, a Agência Brasileira de Inteligência (Abin) se aproxima cada vez mais de um órgão que funciona a serviço exclusivo do presidente. Nos últimos anos, o órgão tem se envolvido em situações controversas e se tornou alvo de acusações de espionagem contra desafetos políticos do chefe do Executivo. Ao mesmo tempo em que recebe recurso milionário — neste ano, pode chegar a R$ 674 milhões, de acordo com o Orçamento aprovado pelo Congresso —, a Abin adota pouca transparência em seus gastos. No momento, o diretor-geral do órgão, Alexandre Ramagem, está no centro de uma polêmica envolvendo a troca de comando na Polícia Federal. Ele chegou a ser nomeado para o cargo na corporação, mas foi impedido de assumir por ordem do Supremo Tribunal Federal (STF). Hoje, Bolsonaro deve escolher outro nome para a PF. Ele pretende escolher alguém próximo a Ramagem.
Atualmente, pelo menos três revelações polêmicas têm a agência como personagem principal. No começo do mês passado, a revista Veja apontou que um grupo de espiões da Abin foi utilizado para monitorar o então ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta. A intenção seria encontrar falhas para afundar a reputação dele, que ganhava popularidade em meio à pandemia de coronavírus e de embates com o presidente Jair Bolsonaro. O alvo seriam contratos firmados por dois auxiliares de Mandetta, que seriam adicionados a um dossiê contra o então ministro. Em um deles, teria sido identificado um problema na compra de respiradores para Manaus, que estariam com defeito. Mandetta deixou o governo sem que nenhuma revelação do tipo viesse à tona.

Em outra situação, a Carta Capital revelou que um agente foi alocado como segurança na Universidade de Brasília (UnB) para vigiar de perto professores e estudantes. A notícia causou grande preocupação na reitoria da instituição, que afastou o vigilante e abriu investigação interna. De acordo com a lei que a criou, a Abin serve como órgão de assessoramento do presidente da República e integra o Sistema Brasileiro de Inteligência, instituído em 1999 para preservar a “soberania nacional, a defesa do Estado democrático de direito e a dignidade da pessoa humana” por meio da “análise e disseminação de conhecimentos dentro e fora do território nacional sobre fatos e situações de imediata ou potencial influência sobre o processo decisório e a ação governamental e sobre a salvaguarda e a segurança da sociedade e do Estado”.
Espiões
Em 2018, o Correio recebeu a informação, por meio de uma fonte que cuidava da segurança do então procurador-geral da República, Rodrigo Janot, de que ele era acompanhado de perto por espiões da agência. De acordo com informações obtidas pela reportagem, as suspeitas eram de monitoramento tanto no local de trabalho de Janot quanto na residência. Na ocasião, a Abin chegou a entrar em contato com a reportagem para saber detalhes do caso, mas não quis se manifestar sobre o assunto. Procurada outra vez para comentar os episódios recentes, a Abin não respondeu ao contato. O Planalto também não quis se posicionar.
Caso Alexandre Ramagem deixasse a Abin, quem assumiria no lugar dele seria o atual diretor adjunto da agência, Frank Márcio de Oliveira. De acordo com uma fonte no órgão, a gestão do amigo da família Bolsonaro deixa a desejar. “O Ramagem não é da carreira (da Abin). Todo órgão quer ser dirigido por alguém da carreira, traz mais independência. Existe um desconforto com a interferência do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) nos trabalhos. As orientações e decisões mudam a todo momento, não tem estratégia”, disse. Ainda de acordo com a mesma fonte, Frank de Oliveira teria maior aceitação. “Ele é da carreira, tem mais de 20 anos de casa, é extremamente ético, qualificado.”
EstopimAlexandre Ramagem, que tem proximidade com a família de Bolsonaro, foi indicado pelo chefe do Executivo para o cargo de diretor-geral da Polícia Federal, no lugar do delegado Maurício Valeixo. A troca foi o estopim para o pedido de demissão do então ministro da Justiça, Sergio Moro.
Atribuições da agência
» Planejar, executar, coordenar, supervisionar e controlar as atividades de Inteligência do país
» Executar a Política Nacional de Inteligência e as ações dela decorrentes
» Avaliar as ameaças internas e externas à ordem constitucional
» Assessorar o presidente da República nos assuntos de inteligência
» Desenvolver suas atividades com observância dos direitos e das garantias individuais, e com fidelidade às instituições

VÁRIOS RECADOS SOBRE O CONTROLE DAS BIG TECHS

  Big Techs ...