Com recursos milionários, Abin trabalha conforme interesses de
presidentes
Renato Souza
©
Carolina Antunes/PR O delegado Alexandre Ramagem, que teve barrada nomeação
para comando da Polícia Federal, está à frente da Abin
Equipada
com mecanismos de ponta e tendo à mão softwares de última geração para
monitorar a internet e dispositivos eletrônicos, a Agência Brasileira de
Inteligência (Abin) se aproxima cada vez mais de um órgão que funciona a
serviço exclusivo do presidente. Nos últimos anos, o órgão tem se envolvido em
situações controversas e se tornou alvo de acusações de espionagem contra
desafetos políticos do chefe do Executivo. Ao mesmo tempo em que recebe recurso
milionário — neste ano, pode chegar a R$ 674 milhões, de acordo com o Orçamento
aprovado pelo Congresso —, a Abin adota pouca transparência em seus gastos. No
momento, o diretor-geral do órgão, Alexandre Ramagem, está no centro de
uma polêmica envolvendo a troca de comando na Polícia Federal. Ele chegou a ser
nomeado para o cargo na corporação, mas foi impedido de assumir por ordem do
Supremo Tribunal Federal (STF). Hoje, Bolsonaro deve escolher outro nome para a
PF. Ele pretende escolher alguém próximo a Ramagem.
Atualmente,
pelo menos três revelações polêmicas têm a agência como personagem principal.
No começo do mês passado, a revista Veja apontou que um grupo de espiões da
Abin foi utilizado para monitorar o então ministro da Saúde, Luiz Henrique
Mandetta. A intenção seria encontrar falhas para afundar a reputação dele, que
ganhava popularidade em meio à pandemia de coronavírus e de embates com o
presidente Jair Bolsonaro. O alvo seriam contratos firmados por dois auxiliares
de Mandetta, que seriam adicionados a um dossiê contra o então ministro. Em um
deles, teria sido identificado um problema na compra de respiradores para
Manaus, que estariam com defeito. Mandetta deixou o governo sem que nenhuma
revelação do tipo viesse à tona.
Em
outra situação, a Carta Capital revelou que um agente foi alocado como
segurança na Universidade de Brasília (UnB) para vigiar de perto professores e
estudantes. A notícia causou grande preocupação na reitoria da instituição, que
afastou o vigilante e abriu investigação interna. De acordo com a lei que a
criou, a Abin serve como órgão de assessoramento do presidente da República e
integra o Sistema Brasileiro de Inteligência, instituído em 1999 para preservar
a “soberania nacional, a defesa do Estado democrático de direito e a dignidade
da pessoa humana” por meio da “análise e disseminação de conhecimentos dentro e
fora do território nacional sobre fatos e situações de imediata ou potencial
influência sobre o processo decisório e a ação governamental e sobre a
salvaguarda e a segurança da sociedade e do Estado”.
Espiões
Em
2018, o Correio recebeu a informação, por meio de uma fonte que cuidava
da segurança do então procurador-geral da República, Rodrigo Janot, de que ele
era acompanhado de perto por espiões da agência. De acordo com informações
obtidas pela reportagem, as suspeitas eram de monitoramento tanto no local de
trabalho de Janot quanto na residência. Na ocasião, a Abin chegou a entrar em
contato com a reportagem para saber detalhes do caso, mas não quis se
manifestar sobre o assunto. Procurada outra vez para comentar os episódios recentes,
a Abin não respondeu ao contato. O Planalto também não quis se posicionar.
Caso
Alexandre Ramagem deixasse a Abin, quem assumiria no lugar dele seria o atual
diretor adjunto da agência, Frank Márcio de Oliveira. De acordo com uma fonte
no órgão, a gestão do amigo da família Bolsonaro deixa a desejar. “O Ramagem
não é da carreira (da Abin). Todo órgão quer ser dirigido por alguém da
carreira, traz mais independência. Existe um desconforto com a interferência do
Gabinete de Segurança Institucional (GSI) nos trabalhos. As orientações e
decisões mudam a todo momento, não tem estratégia”, disse. Ainda de acordo com
a mesma fonte, Frank de Oliveira teria maior aceitação. “Ele é da carreira, tem
mais de 20 anos de casa, é extremamente ético, qualificado.”
EstopimAlexandre Ramagem, que tem proximidade com a
família de Bolsonaro, foi indicado pelo chefe do Executivo para o cargo de
diretor-geral da Polícia Federal, no lugar do delegado Maurício Valeixo. A
troca foi o estopim para o pedido de demissão do então ministro da Justiça,
Sergio Moro.
Atribuições da
agência
» Planejar, executar, coordenar, supervisionar e
controlar as atividades de Inteligência do país
» Executar a Política Nacional de Inteligência e as
ações dela decorrentes
» Avaliar as ameaças internas e externas à ordem
constitucional
» Assessorar o presidente da República nos assuntos
de inteligência
» Desenvolver suas atividades com observância dos
direitos e das garantias individuais, e com fidelidade às instituições
Nenhum comentário:
Postar um comentário