domingo, 12 de abril de 2020

A SOBERANIA NACIONAL ESTÁ EM JOGO?


Os efeitos sobre a soberania nacional

Mais que as guerras, foram as pandemias que causaram redução da população no último milênio e trouxeram consigo o fim de costumes e o aparecimento de outros



A gripe espanhola contagiou, entre 1918 e 1920, cerca de 500 milhões de pessoas, um quarto da população mundial da época. Provocou entre 17 milhões e 50 milhões de óbitos, tornando-se uma das epidemias mais mortais da história da humanidade. Cem anos depois, chega o novo coronavírus.
Mais que as guerras, foram as pandemias que causaram redução da população no último milênio e trouxeram consigo o fim de costumes e o aparecimento de outros. O medo e a morte que atingem em larga escala a população mundial marcaram a história do Renascimento Italiano, que encontrou na peste negra do ano de 1348 um motivo sério para quebrar paradigmas.
O florentino Giovanni Boccaccio escreveu “Decamerão” no contorno da peste em Florência. Apesar de o seu conteúdo ter sido considerado libertino por muitos séculos, ergue-se como uma das maiores inovações literárias de todos os tempos. Nele, Boccaccio coloca o homem comum no papel de protagonista, revelando seus sentimentos, suas experiencias, suas tendências, enquanto deixa heróis e mitos fora da cena. Deu-se início na literatura aos temas normais, da beleza, da natureza, dos relacionamentos, da arte de viver.
Não se pode, evidentemente, afirmar que a pandemia foi a única responsável por essa fase áurea florentina, embora fique claro o contributo que deu para quebrar o gelo, abrir a visão e iluminar, depois de mil anos de era medieval e escritura de ordem épica ou teológica.
Boccaccio descreve a permanência em isolamento, atual nestes dias, de sete moças e três moços de famílias abastadas numa rica casa de campo. Em alternância, a cada dia um dos “isolados” conta uma história de sua autoria, sem economia de amores, experiências e percepções que nunca teriam lugar na normalidade medieval. A catástrofe na cidade descongelou os sentimentos.
Florência regrediu de 130 mil para 30 mil habitantes. Aplicando o resultado em idênticas proporções a Belo Horizonte, a capital perderia, em alguns meses, 1,9 milhão de seus atuais habitantes. Os números assustam.
A Covid-19 é o primeiro fenômeno pandêmico em era de conectividade global. Nesse contexto, a China, de onde partiu o vírus que provoca milhares de mortes e paralisa as economias de meio mundo, paradoxalmente já se mostra como país mais beneficiado. Saiu do surto e ainda aparece como única alternativa de suprimentos de insumos e equipamentos hospitalares. Os demais países abdicaram dessa produção pela competitividade da manufatura chinesa que saiu de uma estratégia de adiamento de direitos trabalhistas e sociais, comuns no ocidente. A China monopoliza, na atualidade, diferentes setores de produção.
No caso dos insumos hospitalares, são vendidos por preços de dez até 20 vezes maiores do que se cobrava no começo do ano. Mesmo assim, é preciso pagar antecipado para entrar numa fila incerta e sem prazo garantido de entrega.
A guerra para comprar produtos chineses, deixando alguns países gravemente vulneráveis, deve mudar o comportamento de outras potências econômicas. O que ocorre com os produtos da linha de saúde pode acontecer para outros setores.
Está em curso a desvalorização e a falência de empresas ocidentais, que surgem como bons negócios para quem está capitalizado, exatamente na medida das corporações chinesas que estão adquirindo o que aparece pela frente.
Os benefícios sociais do governo brasileiro, distribuídos nesses primeiros momentos de isolamento e paralisação das atividades, poderão brevemente levar à desagregação econômica nacional, que assiste à queda da arrecadação de impostos. O momento é delicado.
A China ensina aos demais países a importância de se recuperar a soberania sobre a produção industrial que se segue da perda da capacidade tecnológica. A Covid-19 coloca os países ocidentais em alerta total.
Por outro lado, nos círculos intelectuais, a discussão levanta a teoria – ridicularizada até alguns anos atrás – da desaceleração econômica “feliz”. Quer dizer, queda dos consumos, especialmente os supérfluos. Novos modelos de melhoria das condições de vida sem aumentar o consumo de bens, mas aprimorando as relações sociais, os serviços coletivos e a qualidade ambiental.
Mais pobres, mas felizes. Parece até utopia uma construção de equilíbrios que siga movimentos coordenados no nível mundial com o objetivo comum de mudar o paradigma dominante do consumismo como fonte de bem-estar.


sábado, 11 de abril de 2020

500 MILHÕES DE PESSOAS PODEM FICAR POBRES DEVIDO AO COVID-19


Covid pode levar 500 milhões à pobreza
Marciano Menezes
Hoje em Dia - Belo Horizonte
Oxfam diz que situação no Brasil é preocupante devido às moradias precárias e à falta de saneamento básico
Da Redação
      


A crise econômica provocada pela pandemia de coronavírus pode levar mais de 500 milhões de pessoas para a pobreza, a menos que ações urgentes sejam tomadas para ajudar países em desenvolvimento. O alerta é da Oxfam, entidade da sociedade civil que atua em cerca de 90 países com campanhas, programas e ajuda humanitária.
A organização pede que os líderes mundiais aprovem um plano emergencial de resgate econômico para impedir que países e comunidades pobres afundem. Para a Oxfam, isso pode acontecer já na próxima semana, quando está prevista reunião entre ministros de Economia dos países do G20 (o grupo dos 20 países mais desenvolvidos), o Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional (FMI).
De acordo com a entidade, os US$ 2,5 trilhões que as Nações Unidas estimam ser necessários para apoiar os países em desenvolvimento durante a crise do coronavírus vai requerer um adicional de US$ 500 bilhões em ajuda externa, incluindo o financiamento dos sistemas públicos de saúde dos países pobres. “Impostos emergenciais de solidariedade, como taxas sobre lucros excessivos e pessoas muito ricas, poderiam mobilizar recursos adicionais”, avalia a Oxfam, em nota.
Para a entidade, apesar de urgentes e necessárias, as medidas de distanciamento social e de restrição do funcionamento das cidades agravam a situação dos trabalhadores, com demissões, suspensão de pagamento de salários ou inviabilidade do trabalho informal.
O novo relatório da Oxfam, “Dignidade, não Indigência”, mostra que entre 6% e 8% da população global, cerca de 500 milhões de pessoas, poderão entrar na pobreza conforme os governos fecham suas economias para impedir que o coronavírus se espalhe em seus países. “Isso pode representar um retrocesso de uma década na luta contra a pobreza. Em algumas regiões, como a África subsaariana, o norte da África e Oriente Médio, essa luta pode retroceder em até 30 anos. Mais da metade da população global poderão estar na pobreza depois da pandemia”, destacou a entidade.
O relatório utiliza estimativas elaboradas pelo Instituto Mundial para a Pesquisa de Desenvolvimento Econômico, da Universidade das Nações Unidas, liderada por pesquisadores do King’s College de Londres e da Universidade Nacional da Austrália.
Com Agência Brasil
No Brasil, desemprego deve atingir mais 2 milhões
No Brasil, para a Oxfam, a situação é ainda mais preocupante devido às moradias precárias, à falta de saneamento básico e de água e aos desafios no acesso a serviços essenciais para os mais pobres. O Brasil tem cerca de 40 milhões de trabalhadores sem carteira assinada e cerca de 12 milhões de desempregados. A estimativa é que a crise econômica provocada pelo coronavírus adicione, ao menos, mais 2 milhões de pessoas entre os desempregados.
“O coronavírus coloca o Brasil diante de uma dura e cruel realidade, ao combinar os piores indicadores sociais em um mesmo local e na mesma hora. E é neste momento que o Estado tem papel fundamental para reduzir esse impacto e cumprir sua responsabilidade constitucional tanto na redução da pobreza e das desigualdades quanto na garantia à vida da população”, afirma Katia Maia, diretora executiva da Oxfam Brasil, em comunicado.
Para a entidade, a renda básica emergencial de R$ 600, por três meses, para trabalhadores informais não será suficiente para amenizar o impacto, e o governo deverá, entre outras medidas, ampliar o número de pessoas atendidas e estender o período de concessão.
Mulheres
De acordo com a Oxfam, as mulheres precisam de atenção especial, pois estão na linha de frente do combate ao coronavírus e sofrerão o impacto mais pesado da crise econômica. “As mulheres representam 70% da força de trabalho em saúde pelo mundo e fazem 75% do trabalho de cuidado não remunerado, atendendo a crianças, doentes e idosos. As mulheres também são maioria nos empregos mais precários”, diz a entidade.


HIDROXICLOROQUINA É EFICAZ CONTRA O CORONAVÍRUS OU NÃO?


por Fernando Duarte
Foto: Divulgação





Depois do embate sobre o isolamento social, o grande campo de batalha ideológica no Brasil é o uso de hidroxicloroquina para combater a Covid-19. De um lado, o presidente da República, Jair Bolsonaro, que defende o uso da substância desde que começou a tratar da pandemia como algo mais grave do que uma simples “gripezinha”. Do outro, uma comunidade científica cética, mas que começa a ceder sobre a utilização controlada dela, combinada com a azitromicina. No meio do fogo cruzado, um sem número de especialistas de redes sociais, que promove uma disputa que está a quilômetros da racionalidade.

Há um problema de ordem prática dessa discussão: quem deve orientar o uso de qualquer droga é a ciência e não achismos ou apostas. No entanto, ao longo das últimas semanas, o que vimos foi a descredibilização acelerada de quem questiona a utilização sem estudos que a comunidade internacional considere palpáveis. Os resultados até aqui foram promissores, porém não são garantia de efetividade. Por isso é preciso seguir com ressalvas quanto às promessas de que a cura milagrosa bate à porta.

A hidroxicloroquina não é a luz do mito da caverna de Platão. Não é algo que, por orientação divina, alguém enxergou como o ponto da virada no combate ao novo coronavírus. Por mais que haja indícios de que a substância funciona, também há modelagens que sugerem que o índice de efetividade é similar ao não uso dela. É claro que o fato de nomes como Roberto Kalil Filho e David Uip, médicos renomados, terem usado a combinação da hidroxicloroquina com azitromicina é uma sinalização de que pode funcionar. Porém Uip, que é infectologista, foi cauteloso ao tratar do remédio como salvação da lavoura. Sequer admitiu publicamente seu uso.

Há até o debate sobre a politização do caso do coordenador do Centro de Contingência de Coronavírus de São Paulo. O governador João Doria, adversário de Bolsonaro, teria orientado a não divulgar que Uip fez uso das drogas combinadas. O médico, no fim, preferiu cautela ao invés de incensar uma solução mágica para uma doença que assusta o mundo.

A hidroxicloroquina é uma chance contra o novo coronavírus? Talvez. Assim como outras frentes, como a ivermectina, por exemplo. Tenha certeza que todo o mundo está correndo atrás de um jeito de livrar a população da ameaça da Covid-19. E precisamos manter a racionalidade diante de um inimigo invisível como o novo coronavírus. Como diria São Tomé, para acreditar nesse milagre, talvez seja preciso ver.

Este texto integra o comentário desta quinta-feira (9) para a RBN Digital, veiculado às 7h e às 12h30, e para as rádios Irecê Líder FM, Clube FM, RB FM, Valença FM e Alternativa FM Nazaré.

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