sábado, 11 de abril de 2020

HIDROXICLOROQUINA É EFICAZ CONTRA O CORONAVÍRUS OU NÃO?


por Fernando Duarte
Foto: Divulgação





Depois do embate sobre o isolamento social, o grande campo de batalha ideológica no Brasil é o uso de hidroxicloroquina para combater a Covid-19. De um lado, o presidente da República, Jair Bolsonaro, que defende o uso da substância desde que começou a tratar da pandemia como algo mais grave do que uma simples “gripezinha”. Do outro, uma comunidade científica cética, mas que começa a ceder sobre a utilização controlada dela, combinada com a azitromicina. No meio do fogo cruzado, um sem número de especialistas de redes sociais, que promove uma disputa que está a quilômetros da racionalidade.

Há um problema de ordem prática dessa discussão: quem deve orientar o uso de qualquer droga é a ciência e não achismos ou apostas. No entanto, ao longo das últimas semanas, o que vimos foi a descredibilização acelerada de quem questiona a utilização sem estudos que a comunidade internacional considere palpáveis. Os resultados até aqui foram promissores, porém não são garantia de efetividade. Por isso é preciso seguir com ressalvas quanto às promessas de que a cura milagrosa bate à porta.

A hidroxicloroquina não é a luz do mito da caverna de Platão. Não é algo que, por orientação divina, alguém enxergou como o ponto da virada no combate ao novo coronavírus. Por mais que haja indícios de que a substância funciona, também há modelagens que sugerem que o índice de efetividade é similar ao não uso dela. É claro que o fato de nomes como Roberto Kalil Filho e David Uip, médicos renomados, terem usado a combinação da hidroxicloroquina com azitromicina é uma sinalização de que pode funcionar. Porém Uip, que é infectologista, foi cauteloso ao tratar do remédio como salvação da lavoura. Sequer admitiu publicamente seu uso.

Há até o debate sobre a politização do caso do coordenador do Centro de Contingência de Coronavírus de São Paulo. O governador João Doria, adversário de Bolsonaro, teria orientado a não divulgar que Uip fez uso das drogas combinadas. O médico, no fim, preferiu cautela ao invés de incensar uma solução mágica para uma doença que assusta o mundo.

A hidroxicloroquina é uma chance contra o novo coronavírus? Talvez. Assim como outras frentes, como a ivermectina, por exemplo. Tenha certeza que todo o mundo está correndo atrás de um jeito de livrar a população da ameaça da Covid-19. E precisamos manter a racionalidade diante de um inimigo invisível como o novo coronavírus. Como diria São Tomé, para acreditar nesse milagre, talvez seja preciso ver.

Este texto integra o comentário desta quinta-feira (9) para a RBN Digital, veiculado às 7h e às 12h30, e para as rádios Irecê Líder FM, Clube FM, RB FM, Valença FM e Alternativa FM Nazaré.

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