por Fernando Duarte
Foto: Divulgação
Depois do embate sobre o isolamento social, o grande campo de batalha
ideológica no Brasil é o uso de hidroxicloroquina para combater a Covid-19. De
um lado, o presidente da República, Jair Bolsonaro, que defende o uso da
substância desde que começou a tratar da pandemia como algo mais grave do que
uma simples “gripezinha”. Do outro, uma comunidade científica cética, mas que
começa a ceder sobre a utilização controlada dela, combinada com a azitromicina.
No meio do fogo cruzado, um sem número de especialistas de redes sociais, que
promove uma disputa que está a quilômetros da racionalidade.
Há um problema de ordem prática dessa discussão: quem deve orientar o
uso de qualquer droga é a ciência e não achismos ou apostas. No entanto, ao
longo das últimas semanas, o que vimos foi a descredibilização acelerada de
quem questiona a utilização sem estudos que a comunidade internacional
considere palpáveis. Os resultados até aqui foram promissores, porém não são garantia
de efetividade. Por isso é preciso seguir com ressalvas quanto às promessas de
que a cura milagrosa bate à porta.
A hidroxicloroquina não é a luz do mito da caverna de Platão. Não é algo
que, por orientação divina, alguém enxergou como o ponto da virada no combate
ao novo coronavírus. Por mais que haja indícios de que a substância funciona,
também há modelagens que sugerem que o índice de efetividade é similar ao não
uso dela. É claro que o fato de nomes como Roberto Kalil Filho e David Uip, médicos
renomados, terem usado a combinação da hidroxicloroquina com azitromicina é uma
sinalização de que pode funcionar. Porém Uip, que é infectologista, foi
cauteloso ao tratar do remédio como salvação da lavoura. Sequer admitiu
publicamente seu uso.
Há até o debate sobre a politização do caso do coordenador do Centro de
Contingência de Coronavírus de São Paulo. O governador João Doria, adversário
de Bolsonaro, teria orientado a não divulgar que Uip fez uso das drogas
combinadas. O médico, no fim, preferiu cautela ao invés de incensar uma solução
mágica para uma doença que assusta o mundo.
A hidroxicloroquina é uma chance contra o novo coronavírus? Talvez.
Assim como outras frentes, como a ivermectina, por exemplo. Tenha certeza que
todo o mundo está correndo atrás de um jeito de livrar a população da ameaça da
Covid-19. E precisamos manter a racionalidade diante de um inimigo invisível
como o novo coronavírus. Como diria São Tomé, para acreditar nesse milagre,
talvez seja preciso ver.
Este texto integra o comentário desta quinta-feira (9) para a RBN
Digital, veiculado às 7h e às 12h30, e para as rádios Irecê Líder
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