sábado, 4 de abril de 2020

BOLSONARO ANDA FRITANDO O SEU EXCELENTE MINISTRO DA SAÚDE


Respaldado pelo Congresso, Mandetta não vai confrontar Bolsonaro para seguir à frente da Saúde
Por Lisandra Paraguassu e Ricardo Brito 





© Reuters/Adriano Machado .
Por Lisandra Paraguassu e Ricardo Brito


BRASÍLIA (Reuters) - O ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, evitará confrontar diretamente o presidente Jair Bolsonaro para seguir à frente da pasta ao menos durante a crise decorrente do avanço do novo coronavírus no país, ainda mais após ter recebido respaldo da cúpula do Congresso e sua gestão estar bem avaliada pela opinião pública, mas deu sinais de que poderá sair do governo depois.
Essa avaliação foi feita à Reuters por fontes ligadas ao ministro na pasta e no Legislativo nesta sexta-feira. Mandetta tem sido o principal rosto do governo Bolsonaro durante a pandemia e tomado decisões que contrariam o próprio chefe.
Na véspera, o presidente afirmou numa entrevista à Rádio Jovem Pan que não pretendia demitir Mandetta durante a "guerra". Mas admitiu que está se "bicando" com ele há algum tempo, dizendo que o titular da Saúde em algum momento "extrapolou" e tem faltado "humildade" a ele.
O presidente tem defendido o relaxamento de medidas de contenção social adotada por governos estaduais e municipais e minimizado os efeitos do vírus, com o argumento de que os efeitos econômicos da pandemia --desemprego e até convulsão social-- podem ser maiores do que a pandemia em si.
Mandetta, por sua vez, tem avalizado as decisões dos governadores e prefeitos, valendo-se de dados técnicos. Defende a manutenção dessas medidas para evitar a elevação expressiva do número de infectados, o que poderia levar a um colapso do sistema de saúde brasileiro.
No ministério, segundo uma fonte, Mandetta continua dizendo que não sai e não vai responder ao presidente, mantendo a linha de atuação da pasta. Mesmo estando cansado de ser alvo de ataques, ele não vai se contrapor.
“Quanto a eu deixar o governo por minha vontade, tenho uma coisa que aprendi com meus mestres: médico não abandona paciente”, disse Mandetta nesta sexta em entrevista coletiva no Palácio do Planalto após ser questionado sobre se cogita deixar por agora o cargo diante dos atritos com o presidente. "Foco é no trabalho."
Na noite de quinta, pouco depois da entrevista de Bolsonaro à Jovem Pan, Mandetta reuniu-se em um jantar com os presidentes da Câmara, Rodrigo Maia, e do Senado, Davi Alcolumbre. Recebeu deles --os três são do DEM-- apoio na sua atuação frente à pandemia, disse uma fonte.
O ministro, um médico ortopedista de 55 anos e ex-deputado, chegou ao cargo com o respaldo da frente parlamentar da saúde e de representantes das Santas Casas. Era uma figura secundária no governo, mas ganhou projeção na crise e respaldo do Congresso e também de integrantes do governo, como o ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro.
"Ele (Mandetta) não está isolado, nós temos dado total apoio", disse uma liderança do Congresso, que preferiu falar sob o anominato.
De qualquer modo, a avaliação é que Mandetta não pode "provocar mais" Bolsonaro, sob risco de criar um pretexto para ser demitido.
O próprio presidente, em entrevista na véspera, fez questão de ressaltar que é ele quem tem a "caneta".
PRETENSÕES
Na coletiva desta sexta, Mandetta não quis polemizar em relação ao resultado da pesquisa Datafolha, divulgado mais cedo, que mostrou uma aprovação da sua pasta na gestão da pandemia o dobro da do presidente.
Mandetta tem dito em entrevistas que o pior da crise ainda vai chegar. Avalia que o pico da doença chegará na segunda quinzena de abril ou em maio. O Brasil registrou nesta sexta 9.056 casos confirmados de coronavírus e as mortes chegaram a 359.
A liderança do Congresso ouvida pela Reuters disse que o momento de maior tensão na relação Bolsonaro e Mandetta já passou. Disse que o pior foi no sábado passado, quando houve uma reunião tensa reunião no Palácio da Alvorada em que o ministro afirmou ao presidente e a ministros que iria defender o isolamento e pediu a ele que não minimizasse a pandemia.
"O que ele (Mandetta) pediu foi carta branca para poder defender o que ele acredita. Aí foram 48 horas que ele esperou sem saber o que ia acontecer", disse essa fonte, resumindo que a situação ficou definida de "cada um no seu quadrado".
Esse parlamentar disse que se chegou a uma espécie de "trégua" entre eles durante a pandemia. "Não tem problema, Mandetta não tem ambição de ficar depois", disse essa fonte.
O titular da Saúde deu a deixa da porta de saída na entrevista de sexta ao dizer que "talvez" poderia ser melhor para ele ir discutir o sistema de saúde em razão do Covid-19 em outro lugar depois.

CANETADA DE BOLSONARO ESTÁ SUJEITA A 99,9% DE CONTROLES


Canetada? 99,9% dos poderes de Bolsonaro são controláveis, diz professor
Rafael Moraes Moura e Jussara Soares


BRASÍLIA - O presidente Jair Bolsonaro afirmou que pretende liberar o funcionamento do comércio, fechado na maior parte do País por causa do coronavírus, com uma “canetada”. Não foi a primeira vez que o presidente usa a expressão para se gabar do poder de sua caneta. Na avaliação de especialistas, porém, a esmagadora maioria dos atos do chefe do Executivo – como a edição de decretos e medidas provisórias – está sujeita a controles.


© Dida Sampaio/Estadão Jair Bolsonaro no Palácio de Alvorada
A contenção de medidas adotadas pelo Palácio do Planalto faz parte do sistema de “freios e contrapesos”, que serve para impor limites e impedir abusos cometidos pelos Poderes.
Segundo o professor de direito penal Davi Tangerino, da FGV São Paulo, um decreto de Bolsonaro liberando as atividades do comércio teria poucos efeitos práticos. “O impacto na prática ia ser baixo, porque quase todos os Estados e municípios já criaram decretos. Hoje é mais bravata e jogar para o grupo de apoiadores fanáticos, do que uma possibilidade de alteração jurídica importante”, disse.
Tangerino também observa que uma medida nesse sentido poderia ser revertida pelo STF ou pelo Congresso, que pode anular decretos presidenciais. “99,9% dos poderes do presidente são controláveis ou pelo Congresso ou pelo STF, se desobedecer a lei”, disse Tangerino. “O poder do presidente não é um poder absoluto”, complementou o professor da FGV Roberto Dias.
Apesar de dizer que pode definir com “uma canetada” o fim do isolamento social, Bolsonaro ainda quer fazer uma última tentativa de articular a medida com o Congresso e o STF. O esforço, segundo integrantes do governo, é para evitar que ele seja enquadrado em crime de responsabilidade. Nos bastidores, o presidente tem repetido que há em curso um plano para iniciar um processo de impeachment e diz que precisa se cercar de cuidados para não dar pretexto aos adversários.

sexta-feira, 3 de abril de 2020

PESQUISA INÉDITA VAI ANALISAR A PRESENÇA DE CORONAVÍRUS PELAS FEZES DOS ESGOTOS


Inédita no Brasil, pesquisa da UFMG vai identificar regiões com maior presença de coronavírus em BH

Anderson Rocha







Análises serão feitas semanalmente até o fim do ano
Uma pesquisa inédita no Brasil, executada por 11 pesquisadores da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), vai ajudar a mapear de forma indireta a concentração de coronavírus em Belo Horizonte e Região Metropolitana a partir da sua presença na rede de esgoto. O estudo terá início em 10 dias e seguirá, semanalmente, até o fim deste ano, sinalizando o poder público sobre ações para a prevenção e o combate à Covid-19.
A inciativa é do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia (INCT) ETEs Sustentáveis, sediado na UFMG e especializado em pesquisas sobre o tratamento de esgoto. De acordo com Carlos Chernicharo, coordenador do INCT, serão 22 pontos de coleta do material, entre os ribeirões do Onça, no Barreiro, e do Arrudas, em Santa Efigênia (Leste), além da Pampulha.
Segundo o especialista, os pontos de coleta foram escolhidos a partir de critérios como a proximidade de hospitais e o índice socioeconômico dos bairros ao longo da rede de esgoto da Companhia de Saneamento de Minas Gerais (Copasa). A empresa, aliás, está terminando de avaliar os pontos onde ocorrerá o estudo.
"Esperamos mapear a mobilidade do Sars-CoV-2 em diferentes pontos da região a partir da análise das fezes presentes no esgoto. É um acompanhamento espacial e temporal da distribuição e das variações de concentração do coronavírus na nossa região", explicou Chernicharo que, juntamente com César Rossas Mota e Juliana Calábria, coordenam o estudo.
Além deles, oito pesquisadores - entre mestrandos, doutorandos e pós-doutorandos - do Programa de Pós-Graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG participam da pesquisa, que é financiada pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPQ) e pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (FAPEMIG).
Finalidade prática
Com a informação de quais regiões concentram as maiores proporções de coronavírus no esgoto, os pesquisadores acreditam que poderão apoiar a tomada de decisão por parte do poder público em relação às medidas de controle da disseminação da doença. Segundo Chernicharo, o estudo permitirá uma "indicação indireta dos portadores assintomáticos" ou da quantidade de pessoas que, mesmo doentes, não fizeram exames de comprovação da Covid-19.
O estudo feito na UFMG reproduz em BH uma pesquisa realizada na Holanda, que detectou a presença do coronavírus em amostras de esgoto. No caso europeu, o Sars-CoV-2 foi encontrado na rede de rejeitos do aeroporto de Schiphol, além de estações de tratamento das cidades de Kaatsheuvel e de Tilburg.
Riscos aos rios
Embora não seja foco desta pesquisa mineira, Chernicharo relembra a importância de que pessoas que trabalham com o esgoto ou que, de alguma maneira, tenham hábitos de nadar em rios, se cuidem.
"Os profissionais que atuam na área de esgotamento sanitário, como os que operam as redes coletoras e estações de tratamento, e os pesquisadores que manuseiam amostras de esgoto, não podem abrir mão de medidas como a utilização de equipamentos de proteção individual, a fim de evitar a ingestão inadvertida de esgoto, ainda que por meio da ingestão de aerossóis (partículas finíssimas, sólidas ou líquidas, suspensas no ar), para evitar a contaminação", finalizou.
Uma nota técnica publicada na última semana pelo Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia (INCT) ETEs Sustentáveis - sediado na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) - e que se dedica a pesquisas e ações relacionadas ao tratamento de esgoto, alerta para a presença do coronavírus na rede de escoamento de dejetos.
O texto do INCT faz referência a um estudo divulgado pela revista britânica The Lancet Gastroenterol Hepatol, em que pacientes com a covid-19 apresentaram em suas fezes o RNA do Sars-CoV-2, o novo coronavírus, causador da doença.
As análises também constataram em cerca de metade dos pacientes investigados, que a detecção do RNA viral se deu por cerca de 11 dias após as amostras do trato respiratório testarem negativo.
De acordo com a publicação, tal situação indica a replicação ativa do vírus no sistema gastrointestinal e a possibilidade da transmissão via feco-oral ocorrer mesmo após o trato respiratório estar livre do vírus.
O estudo da revista britânica afirma que também há evidências da presença de outros coronavírus (como o Sars-CoV e o Mers-CoV) nas fezes e de sua capacidade de permanecerem viáveis em condições que facilitariam a transmissão via feco-oral.
Cuidados
Coordenador do INCT, o professor Carlos Chernicharo destaca a necessidade de cuidado pelos trabalhadores e pesquisadores do setor para evitar a contaminação.
“Os profissionais que atuam na área de esgotamento sanitário, como os que operam as redes coletoras e estações de tratamento, e os pesquisadores que manuseiam amostras de esgoto, não podem abrir mão de medidas como a utilização de equipamentos de proteção individual, a fim de evitar a ingestão inadvertida de esgoto, ainda que por meio da ingestão de aerossóis (partículas finíssimas, sólidas ou líquidas, suspensas no ar), para evitar a contaminação”, completa Chernicharo,
Ainda segundo a nota técnica, medidas de segurança ocupacional, já adotadas como padrão, são eficazes na proteção contra o coronavírus e outros patógenos presentes no esgoto.
Covid-19 nos rios
Outra preocupação dos pesquisadores da UFMG é a possibilidade de uma grande carga viral estar sendo despejada nos rios neste momento de pandemia.
"Como consequência, poderá aumentar a disseminação do Sars-CoV-2 no ambiente e a infecção da parcela mais vulnerável da população, que não tem acesso a infraestrutura adequada de saneamento básico”, afirma a nota técnica, que é assinada por Carlos Chernicharo e pelos colegas de INCT César Mota e Juliana Araújo, também professores da UFMG.
O texto recomenda ações coordenadas urgentes dos profissionais das áreas de saúde, saneamento, universidades e governos no cenário atual de emergência de saúde pública.
A publicação ressalta que cerca de 100 milhões de brasileiros não têm acesso a serviços de coleta de esgoto e 35 milhões não usam água tratada, também segundo o SNIS 2018. O INCT ETEs Sustentáveis afirma que já foi procurado pelo governo estadual para discutir o assunto.

TRUMP ACABA COM A CENSURA NOS ESTADOS UNIDOS

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